Entretenha-me escrita por Beilschmidt


Capítulo 1
Entretenha-me, Sebastian


Notas iniciais do capítulo

Passei três dias sem ir ao cursinho, sem net, apenas estudando alemão e revendo italiano, o resto do dia eu era a escrava branca de casa o3ó, mas ontem passei o dia sem fazer nada e resolvi escrever essa fanfic, mesmo sabendo que tinha de atualizar duas de Hetalia ~se mataEra apenas isso, boa leitura. ♥



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Entretenha-me

— Sebastian. — murmurou. O quarto estava silencioso e escuro, as pesadas cortinas impediam a luz lunar de iluminar seu rosto sonolento; sentia sede — Venha.

O mordomo adentrou pela porta segurando o candelabro, seus passos quase não faziam barulho no piso de mármore do quarto; tinha a leve impressão de ele estar flutuando tamanha a leveza.

— Chamaste-me jovem mestre? Desejas algo?

— Tenho sede, traga-me algo para beber. — sentou-se apoiando as costas nos travesseiros, puxou mais ainda os lençóis cobrindo sua boca.

— Sim. — afastou-se lentamente quase que se fundindo com as sombras.

Esperou cinco minutos até seu retorno; trazia uma bandeja de prata com um copo e um jarro de água, ofereceu o mestre. Bebeu devagar, de soslaio olhava para as mãos enluvadas do mordomo, será que nem mesmo de noite ele retirava aquela roupa? Pousou o copo na bandeja, e antes que ele se virasse para sair do quarto, o garoto levantou a mão em um pequeno sinal para que ele continuasse a permanecer ali.

— Sebastian, tu não trocas de roupa? Estamos na madrugada e tu ainda usas fraque.

— Um mordomo precisa estar sempre impecável para seu mestre. — sorriu — Mais alguma coisa ou posso retirar-me?

— Fique me fazendo companhia, acabei por perder o sono.

— Desculpe-me se o fiz perder o sono, não era minha intenção.

— Não foi culpa sua, apenas não consigo dormir. Entretenha-me.

Pousou o candelabro na mesinha assim como a bandeja, posicionou-se ao lado do garoto e ficou a lhe observar.

— Falei para entreter-me.

— Entretê-lo como?

— Isso eu não sei.

— Vejamos… — levou o dedo indicador ao lábio inferior, pensou em algo — Eu poderia lhe contar uma história e…

— Eu não mais uma criança para ouvir histórias de ninar. — falou aborrecido — E não me conte piadas, não gosto de rir.

— Então o jovem mestre sugere algo?

— Hm… faça o que quiser. — virou-se. Afundando o rosto no travesseiro, a fofura lhe era agradável.

O mordomo retirou as luvas e o fraque, dobrou as mangas da camisa branca até a metade do antebraço. Sentou-se na beira da cama, afrouxou a gravata preta, suas mechas de cabelo lhe caíam pelo rosto. O garoto sentiu a presença próxima a sua e se atreveu a olhar; os olhos vermelhos do demônio brilhavam.

— Desculpe-me.

Esperou um sermão de Ciel pela repentina aproximação, que não veio; então ele aceitava sua forma de entreter. Seus braços passaram pela cintura fina do outro o puxando para perto, enfiou-se nos lençóis rapidamente. As bochechas pareciam pelar de tão quente que estavam, mas ficou quieto, queria apenas ter algo para lhe entreter, mas não sabia que era “isso”. Iria virar para se afastar um pouco, afinal, podia sentir os músculos do abdômen de Sebastian, o que lhe incomodava um tanto.

— Apenas fique quieto e tente dormir. — a mão que estava livre foi até o rosto do jovem e lhe acariciou a face, sentia a maciez que a comparou a uma pata felina. Seus olhos brilharam; então passou a apertar a bochecha levemente — Igual a uma pata de gato.

— Mais o que… — tentou entender aquelas palavras — O que parece pata de gato?

— Sua pele, é macia como a pata de um gato.

— O que tu viste em gatos para gostares tanto deles? — era a pergunta que tanto vagou em seus pensamentos e se roía para fazê-la.

— A fofura, gatos são fofos e carinhosos. Suas patas são macias e apertáveis. Eles conseguem me transmitir… algo que nem eu consigo explicar. São criaturas dóceis e que não existem em meu mundo.

— Tu ficaste falador.

Continuaram a conversar sobre assuntos banais, desde doces até sobre os lucros da empresa. Ciel ficou mais confortável com o contato e até mesmo se atrevera a tocar em seu braço, mas nada de sono.

— Sebastian, traga-me um bolo.

— Comer bolo de madrugada não faz bem…

— Sebastian. — seu tom de voz aumentou um pouco, autoritário.

— Sim, jovem mestre. — levantou-se devagar.

Assim que se viu sozinho novamente, Ciel, virou-se para o travesseiro o apertou, queria continuar com aquele contato, estava bom. Mas será se o mordomo voltar ele vai lhe abraçar de novo? Suspirou. Deveria ter ficado quieto e calado. Sebastian apareceu com a bandeja e nela um prato com um pedaço de torta de frutas vermelhas com chocolate.

— Preparaste agora?

— Não, já tinha feito antes para seu desjejum desta manhã. — estendeu-lhe a bandeja e os talheres — Espero que esteja ao seu agrado.

— Está. — resmungou ao provar o doce — Sente-se. — bateu no espaço ao seu lado, o moreno assim o fez; ficou olhando para o nada. Alguns minutos depois, o garoto terminou de comer e deixou o prato em cima da cama, fitou o mordomo que continuava pensativo — O que ouve?

— Nada, só estava pensando em uma coisa, não tem com o que se preocupares. — pegou o prato e a bandeja, sumiu em seguida.

Não demorou a retornar, Ciel achou que ele sentaria novamente, mas não, o demônio ficou em pé o observando. Estava o incomodando; puxou a ponta de seu fraque o fazendo se aproximar mais até sentar ao seu lado.

— Ainda tens de cumprir a ordem de entreter-me, demônio.

Sem mais o que dizer, teve de cumpri-la; deitou-se como antes e o abraçou pela cintura, desta vez, o garoto não estava de costas para si. As pequenas mãos dele lhe agarraram pela camisa de botões, sentiu uma pequena pressão dos dedos dele em sua pele, o arrepio foi inevitável. O mordomo sorriu e apertou mais o abraço, trazendo assim, a face do seu mestre até seu ombro, os cabelos macios e perfumados lhe atraiu.

— O que significa…

— Apenas durma, não são horas para uma criança estar acordada. — levou um beliscão, como se ele sentisse dor…

— Quantas vezes eu terei de repetir que eu não sou mais uma criança?

— Perdoe-me, jovem mestre.

Olhou para a camisa do outro e se perdeu nas dobras das mangas, não queria fitar o rosto dele, pretendia evitar ficar corado o que o denunciaria. Ciel só não sabia que o demônio estava lhe fitando, cada movimento, cada suspirar, podia apenas concluir de tudo aquilo uma coisa: Seu mestre parecia ter algo a lhe dizer.

— Conte-me.

— O que?

— Sei que queres me dizer algo. Conte-me, estou aqui para ouvi-lo.

— Mas eu não… — o olhar dele sobre si o deixou mais confortável com a situação. Mas não sabia era como entrar no assunto — Sebastian, o que tu achas que uma pessoa deve fazer ou agir quando está gostando de alguém?

Os olhos vermelhos perderam seu brilho tão intenso, chegou até mesmo a ficarem amarronzados e opacos. Que raio de pergunta era aquela? Ciel estava gostando de alguém? Quem seria? Torturaria até a morte.

— Bem, isso eu não posso lhe explicar corretamente, eu sou um demônio, e demônios não sentem esse tipo de… como vós chamais; amor. — ele pareceu sentir o menino se encolher em seus braços. O que tinha dito de errado? — Algum problema, jovem mestre?

— Não, apenas… queria saber. Tem uma pessoa que eu gosto, mas parece que não sente nada por mim, eu só queria saber como agir perto dela, para que me note e sabia do que sinto. O que achas que devo mudar?

— Nada, para essa pessoa lhe notar seja apenas tu mesmo, não adianta mudar seu “eu” por ela, pois vai que nem lhe merece. — virou o rosto — Perdoe-me o intrometimento, mas eu poderia saber de quem se trata?

O garoto engoliu a seco, preferiu apenas negar com um sinal mínimo e esconder seu rosto no peito do mordomo, agarrando-lhe pela camisa, dessa vez mais forte.

— Apenas queria que essa pessoa me notasse e que me amasse do jeito que a amo. — sua voz embargada denunciava um início de choro — Mas vejo que será impossível.

— E por que, jovem mestre? — seus dedos afastaram os fios que teimavam em cair pelo seu rosto.

— Porque, pelo que me parece, os demônios não possuem sentimentos.

A frase foi quase como um golpe certeiro em seu peito. Será? Será mesmo possível Ciel estar apaixonado por… por Claude? Aquele demônio de quinta categoria e cópia malfeita sua? Apenas suspirou derrotado, tanto por não saber como acalma-lo como por ter perdido o coração do pequeno. Sentou-se e olhou para a mão do contrato, aquele símbolo o prendia a Ciel Phantomhive apenas em corpo, não em coração.

— Devo me retirar, jovem mestre. Acabei deixando a conversa se prolongar demais, perdoe-me. Retornarei aos meus aposentos. Boa madrugada. — sem mesmo esperar por qualquer outra ordem ele saiu com o candelabro, deixando o garoto sozinho com seus pensamentos confusos. O que foi aquilo?

Tentou ir atrás dele, mas assim que seus pés tocaram o mármore gelado ele parou, avistou o fraque e as luvas que o outro esquecera; apertou os dedos em sua camisa de dormir.

.x.

Assim que entrou em seu quarto, Sebastian tratou de abrir o armário e retirar dali uma gata, esta ronronou pelo contato com seu “dono”.

— O que devo fazer? Ele gosta de outro, por vezes achei que era por minha pessoa. — seus dedos acarinharam os pelos negros, os olhos cor de caramelo olhavam para os seus vermelhos — Eu gostaria de quebrar o contrato, mas isso iria contra os meus princípios.

.x.

Pela manhã, já com os servos focados em seus trabalhos matinais, Sebastian encaminhou-se até a porta do quarto de Ciel; segurava a bandeja com o desjejum. Com três leves toques adentrou o quarto e foi até a enorme janela; a prataria foi deixada na mesinha para que pudesse abrir as cortinas.

— Hora de acordar, jovem mestre. — virou-se e viu o garoto dormindo de costas para ele. Aproximou-se mais, ele viu os braços pequenos agarrados ao seu fraque; as luvas brancas no meio da cama. Sorriu.

— Não quero levantar.

— Mas temos muito a fazer, sua noiva está vindo lhe visitar esta manhã.

— Não quero vê-la.

— Precisa se alimentar, ou vai ficar doente.

— Não quero comer. — encolheu-se — Apenas saia, deixe-me sozinho. É uma ordem.

Assustou-se com o seu tom de voz, parecia sofrer com algo. Será que era pelo Claude? Se as coisas ficarem desse jeito a ordem da mansão desandaria, mas não podia desobedecer a ordem de seu mestre.

— Sim… jovem mestre. — saiu, mas a bandeja ficou.

.x.

Foi um custo tirar o garoto de dentro do quarto, mas uma hora se deu conta de que não podia descontar em tudo e todos pelo seu sofrimento amoroso. Apenas falou o mínimo possível, contato com Sebastian foi quase nulo. Elizabeth acabou por cancelar sua vinda à mansão, já que tinha saído sem avisar sua mãe, e claro, esta descobrira e mandou o cocheiro dar meia volta quando já estavam na metade do caminho.

Pela noite começou a chover forte, e logo o céu escureceu mais ainda por causa das pesadas nuvens cinzentas. Como não havia mais serviços a se fazer, o mordomo dispensou os servos, cada um foi para seu quarto aproveitar a chuva para descansar ou dormir. Sebastian foi até o escritório de o jovem mestre e ver se precisava de alguma coisa, mesmo sabendo da provável resposta negativa. Ficou ali, parado, esperando o garoto terminar de ver os papéis sobre os preços dos novos produtos que pretendia lançar ainda naquela semana.

— Jovem mestre, está tudo bem?

— Já disse que sim.

Era a quinta vez seguida que faz a mesma pergunta ao jovem, e a conversa morria ali.

— Deixe-me sozinho Sebastian.

— Mas…

— Quer que eu recorra a isto? — irritado, ameaçou tirar o tapa olho.

Cansado do gelo que recebia Sebastian o pegou pelos ombros, sua aura emanava e os olhos avermelharam-se, um frio percorreu sua espinha. O papel caiu na mesa.

— Teu mau humor está lhe isolando, está sofrendo sozinho. O que diabos tu viste no Claude para ama-lo tanto?

O olhar do pequeno estava cheio de pontos de interrogações invisíveis.

— O que? O que Claude tem a ver comigo?

—Hm? Não era pelo Claude que sentias amor? — confuso.

— Não. — as bochechas coraram — De onde tiraste isso?

— Outro demônio? — seus olhos pareciam querer carbonizar Ciel — Apareceu outro demônio por aqui?

— Sebastian! — elevou a voz — Estou tentando falar que o amor que sinto é por ti. Que outro demônio eu poderia amar? Claude está fora de cogitação, por favor! — tentou controlar o nervosismo, em vão; as bochechas coraram.

Levou uma tapa de realidade com o que fora dito. Então… era ele? Sempre fora ele?

— Perdoe-me pela minha ação impulsiva. — curvou-se.

— Bom mesmo. — cruzou os braços.

— Irei me retirar, com sua licença. — virou-se, mas fora parado bruscamente ao sentir o toque do menino — Achei que me queria fora de seus aposentos.

— Não, fique. Já que esse mal entendido fora resolvido… fique.

— Não, a chuva está aumentando e terás que tomar um banho mais cedo. — fez gestos para que andasse até a porta, sem reclamar ele obedeceu.

.x.

Após um breve banho e já vestido para dormir, Ciel sentou-se na cama; tímido, chamou o mordomo que vestia o fraque, fora tirado para evitar molhar.

— Fique até eu dormir.

— Sim, jovem mestre. — deitou o jovem e o embrulhou nos lençóis.

— Entretenha-me. — bateu no espaço ao seu lado. O mordomo entendeu e retirou o fraque, as luvas, que acabara de por também, e sentou. Foi deitando-se lentamente e o abraçou como na madrugada anterior, desta vez ele estava mais alegre, os olhos brilhavam como nunca. As mãos de Ciel agarraram o seu colarinho, assim, aproximando seu rosto ao dele; o seu nariz encostou-se ao dele. Sua mão foi até o pescoço do moreno e o abraçou — Fique aqui comigo, fique aqui para sempre.

Sorrindo o mordomo apertou a cintura do outro, sua mão acarinhava os cabelos do menino; sorriu feliz.

— Estarei ao seu lado para sempre.

A mão escorregou-lhe dos cabelos até a bochecha direita. Os lábios se encontraram em um rápido selinho. Olharam-se, sorriram, para logo em seguida começar uma longa sessão de selinhos, um atrás do outro. Ciel sorriu, agarrou-se mais a ele deitando sobre seu peitoral, os dedos do mordomo lhe afagavam os cabelos.

— Parece um gato. — apertou-lhe as bochechas — Fofo e adorável.

— Gostas deste gato? — perguntou receoso pela resposta, tinha medo de que ele tenha o beijado apenas por conta do contrato, satisfazê-lo de seus desejos — Tu realmente gostas de mim? Ou foi pelo contrato?

— Não ligo para o contrato, ele foi feito apenas para eu prender meu corpo a dispor de seus desejos, servi-lo da melhor forma, e não o que os humanos chamam de coração. — beijou-lhe a testa — Estou preso a ti através desse sentimento que nem mesmo eu sabia que tinha, e não é por causa de contrato algum.

Ciel apertou ainda mais a camisa do outro; era recíproco.

— Mas, ainda continuas com vontade de devorar minha alma?

Sebastian sentiu uma mão invisível apertar sua garganta. Sentia sim, sentia vontade de devorar sua alma, mas acima disso ele sentia vontade de amar também, então preferiu ficar com a segunda opção. Descobrir que estava amando estava se tornando deveras delicioso de se experimentar.

— Amar-te agora será minha prioridade neste momento. Prometi-lhe ficar ao teu lado para sempre, eu ficarei, nem que para isso eu tenha de lhe transformar em um demônio; isso se tiver seu consentimento, óbvio.

— Se esse for o caso, tens minha permissão.

Mais feliz que isso, só se Sebastian for deixado em uma ilha deserta cheia de gatos e nenhum Grell para lhe atormentar, além de ter seu pequeno mestre à hora que bem entender.

O amor é imprevisível, não se escolhe lugar nem hora, pessoa, sexo, cor, religião e muito menos seres. Sebastian é sim um demônio, que ama gatos, mas acima disso, seu jovem mestre; este, um humano, um pré-adolescente que ainda está aflorando seu sentimento.

— Amo-te.

Ainda chovia muito quando o garoto mostrou sinais de sono; as mãos estavam agarradas aos ombros firmes do mordomo, que lhe rodeava a cintura de forma possessiva e/ou proteção. Deu-lhe um último beijo antes do outro adormecer de vez.

— Amo-te também. Boa noite, jovem mestre.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenhas gostado, caro leitor.