Hoje era a festa. Uma parte de mim estava elétrica para ir à festa, mas a outra tinha medo. Lembrei do que Catarina me disse no terraço, sobre Leo ir embora com seu pai adotivo. Aquilo martelava na minha cabeça, e fazia meu coração ficar apertado como o banheiro da minha casa. Isso não tem muito sentido com o que estou dizendo agora, mas o banheiro da minha casa é um cubículo.

Acordei hoje de manhã e olhei meu vestido em cima da tábua de passar. Quando cheguei à escola, os estudantes estavam todos ansiosos pela festa. Até Lúcia, que saltava de alegria. Lembrei-me que ela e Kaio estavam ficando ou namorando, então acho melhor desmarcar com ele na festa. Peguei meu celular e mandei uma mensagem para ele: "Eu acho melhor eu não ir com você, vai com a Lúcia. Eu já estou sabendo viu garotinho!". Podia parecer alegre na mensagem, mas na realidade, eu estava triste, péssima.

Andei pelo corredor do colégio e todos me davam "parabéns pela organização" ou coisa do tipo. Estava cabisbaixa, a única coisa que eu mais queria agora era um abraço, ou um olhar apaixonado de Leo. Até eu vê-lo. Andei até ele e falei:

—Ansioso para a festa?

—Não muito. E você e Kaio? Vão juntos?— disse Leo, sem olhar pra mim

—Na verdade não.

—Eu vou embora depois da festa. Sair do país talvez.

Parei. Fiquei em estado de choque. Quer dizer que eu não irei vê-lo depois da festa? Nem... nunca mais? Meus olhos pesaram, como se um dilúvio viesse logo depois que me visse sozinha. Leo parou e me olhou por um tempo. Seus olhos azuis pareciam descobrir os meus segredos mais profundos. Segurei o colar de cadarço e abaixei a cabeça. Leo sacudiu a cabeça e continuou andando, me deixando sozinha no corredor. Lúcia veio até mim e disse entre sorrisos:

—Monalisa, eu tenho que falar uma coisa. Estou namorando Kaio!

—Eu sei.— sorri— Vocês vão juntos não é?

—É!

Fico feliz por Lúcia, normalmente, a sua única paixão era algodão-doce. Kaio tinha parado um pouco de fumar, e isso era bom. Beber já é outra história. Entrei com Lúcia na sala de aula e ela rugiu para Catarina:

—Espero que seu vestido rasgue.

—Ah é?— riu ela— Não importa se o meu vestido irá rasgar, eu tenho o melhor acompanhante do mundo.— Catarina lançou um olhar perverso para mim— E além do mais, a escola terá uma surpresa hoje à noite...

Passei minha mão na testa. Eu tinha que resolver minha vida. Precisava fazer Leo se lembrar de mim antes de partir para sempre da minha vida. Precisava impedir Catarina de mostrar o vídeo para a escola. Saí da sala e procurei Leo. O achei perto dos bebedouros. Fiz ele olhar para mim.

—O que está fazendo?— perguntou Leo

—Não! Agora você vai me ouvir!— respirei— Eu sou a Lisa... A garota da cachoeira, a que você prometeu amar a vida inteira. Eu te dei a aliança da cadarço que você carrega no bolso.— silêncio— Não vai dizer nada?! Eu acabei de abrir meu coração pra você!— senti as lágrimas escorrendo no meu rosto

—Acabou? Você já me disse isso. Quer saber?— ele deu um sorriso de canto de boca— estou feliz por ir embora. Preciso de paz na minha vida!

Leo deu as costas para mim, mas eu segurei seu pulso, o impedindo de dar mais um passo se quer.

—Leo, você não vai. Não posso deixá-lo ir.— falei

—Que droga Monalisa!— ele gritou e se soltou de mim—Eu... sou completamente apaixonado por você e você não me deixa ir embora?!

Franzi a testa. Leo tinha um rosto de alívio, como se quisesse falar isso à muito tempo, e finalmente explodiu. Leo pôs a mão no meu rosto e me puxou em um beijo. Foi silencioso. Era como se o mundo tivesse parado de girar por um momento. Eu queria poder congelar esse momento e vivê-lo para sempre. Leo beijou meu pescoço, me fazendo gelar. A sensação era tão boa, e logo ia se espalhando por todo meu corpo. Ele me soltou e ficou olhando para os meus lábios e eu a mesma coisa. Sentia sua respiração agitada saindo pela boca bater no meu rosto. Seu cheiro era muito bom. Não era perfume, era o cheiro Leo mesmo. Ele me deu um beijo rápido e disse:

—Eu precisava fazer isso antes de ir.

Ainda estava em choque, então não disse nada. Leo saiu pelo corredor como se nada tivesse acontecido. Me apoiei na parede, eu acabei de derreter como um sorvete. Não podia deixá-lo ir. Não podia ficar sem mais beijos dele.

Quando as aulas acabaram, fui para casa com Lúcia e dei os últimos toques no meu vestido. Kaio estava com Lúcia, conversando como dois moleques apaixonados, e era isso literalmente. Kaio acendeu um cigarro e Lúcia o olho feio e ele apagou o cigarro. Franzi a testa e sorri. Aquilo foi a prova de que milagres existem. Mas o milagre que eu necessitava agora era que Leo desistisse de ir embora.

Kaio e Lúcia almoçaram comigo, o que foi bem legal, detestava ficar sozinha. Kaio achava que eu não percebia, mas ele estava usando um grampo para segurar sua franja emo, já que ele queria dar uma "boa impressão" para Lúcia. Na real, eu amava o cabelo dele, já fiz umas tranças de brincadeira.

Mais tarde, eu já estava me arrumando para a festa dos anos 60. A saia do meu vestido era até o joelho, o tecido era azul claro com bolinhas brancas. O busto do vestido era do mesmo tecido (claro!) e era meio frouxo, um cinto preto para descontrair e um par de sapatilhas. Kaio colocou seu paletó novo e ficou até charmoso. Lúcia colocou um vestido balão jeans. Lúcia colocou um batom bem vermelho em mim e sorriu:

—Leo vai se arrepender de não ter ficado com você!

—Acho que não...— abaixei a cabeça e Kaio a levantou

—Fala sério Mona... Você está linda.— disse ele

Sorri. Eu agradeço todos os dias por eles existirem. E lá iria eu para a festa dos anos 60 no colégio.