Índigo escrita por Jéssica Sanz


Capítulo 4
Capítulo 4




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– Bom dia, caros alunos. É um prazer enorme retornar à minha querida faculdade onde passei tanto tempo... É, se acham que já passaram tempo demais aqui, podem se preparar. Mas vale à pena. Essa é uma grande vantagem. Bom, o mais incrível de retornar aqui é que vou falar sobre as Crianças Índigo, um assunto que tenho estudado muito. Não há como provar a existência de tais crianças, porque elas vão muito além do que a ciência pode dizer. Primeiro, quero fazer a vocês a seguinte pergunta... Vocês sabem o que é “índigo”?
Deixei a pergunta no ar, esperando que eles respondessem. Eu já tinha feito palestras antes, e sabia como era demorar a receber uma resposta e até mesmo não recebê-las. Mas, para minha surpresa, alguns segundos depois, um menino se levantou, lá no fundo.
Na hora, tive certeza de que ele não era um aluno. Parecia mais um adolescente, uns 17, 18 anos. Ele vestia uma blusa preta como seus cabelos ondulados e ajeitados. E por algum motivo, ele chamou minha atenção.
– Índigo – disse ele – é uma cor. Um tom de azul.
– Perfeito – eu disse, e ele se sentou. - Um tom de azul. Então estou apresentando para vocês uma teoria sobre crianças “azuis”. Mas espere... Já vimos por aí muitos tons de pele. Mas você já viu alguma criança azul.
– Só o avatar – gritou alguém lá no meio, desencadeando risadas.
– Muito engraçadinho, senhor. Tem razão ao dizer que o avatar é azul, um belo sinal de que não é dautônico. Mas tirando avatares, smurfs e outras criaturas azuis vindas de outro planeta ou dimensão, duvido que tenham visto, aqui na terra, um ser humano que fosse originalmente azul, e não pintado por causa da arrecadação de dinheiro para a formatura, coisa que eu tenho certeza que alguns de vocês já fizeram. Então, que teoria é essa, afinal?
Acontece que a palavra “Índigo” nessa teoria quer realmente dizer uma cor, mas não da pele, e sim da aura. Essa é uma teoria sobre crianças com aura azulada, de tom índigo, que seriam psicologicamente mais desenvolvidas do que as crianças normais, com aura “cristal”. Mas como assim desenvolvidas? Elas apresentam algumas características especiais, como a maior facilidade de aprender e entender as coisas, maiores inteligência e agilidade, espírito revolucionário, sensibilidade, simpatia... Enfim, seus valores se apresentam com maior facilidade. Elas são classificadas em quatro tipos: humanista, artista, interdimensional e conceitual.
As humanistas são sociáveis. Elas são altamente simpáticas, ou seja, são aquelas crianças que conversam com todo mundo, não são tímidas. Elas realmente gostam de se relacionar com qualquer coisa, sejam humanos, animais, até mesmo seus objetos, como os brinquedos.
As artistas são criativas. Elas desenham, pintam, inventam histórias. Geralmente são boas intérpretes, dedicadas às atividades para as quais apresentam interesse, mas não gostam que critiquem suas ideias e seus trabalhos. Também são sentimentais. Se zangam com facilidade, mas voltam à originalidade com a mesma facilidade.
As interdimensionais acham que estão à frente do seu tempo. Elas são altamente maduras, se acham superiores, mais fortes, inteligentes. Acham tudo obsoleto. Também são curiosas. Questionam o porquê das coisas, e não aceitam “sim” ou “não” como resposta. Querem ouvir longas e detalhadas explicações, que as façam realmente entender.
As conceituais são inteligentes. Captam informações com facilidade, e sabem resolver problemas de maneira calma e concentrada. São ágeis, mas fazem tudo de forma calculada. Pensam bem antes de tomar decisões, mas sabem não demorar demais. Ou seja, elas lidam bem com o tempo. São sicronizadas como um relógio.
Mas de onde surgiram essas tais crianças tão especiais? Não podem haver adultos índigo? Bom, não. Não podem haver adultos índigo, porque as teorias que apontam o surgimento das índigo só funcionam com os nascimentos mais recentes. Mas pode haver jovens, de 18 até 24, aproximadamente. E eu vou contar para vocês as teorias, mas antes, como elas foram descobertas.
Nancy Ann Tape diagnosticou que 80% das crianças nascidas após a Segunda Guerra apresentavam as características que já mencionei... Mais fortes, confiantes, inteligentes... Mais desenvolvidas. Elas acreditava na aura, e enxergou nessas crianças uma aura de tom índigo. A partir daí, a teoria explodiu como uma bomba. Especialistas tentaram comprovar que era verdade, comprovar que era mentira, até comprovar que elas estavam relacionadas ao fim do mundo. Então começaram a surgir teorias para o surgimento delas.
A primeira é a que eu chamo de “Teoria Espiritual”. Segundo Doreen Virtue, a estrela Alcyone, da nebulosa de Plêiades, estaria gerando espíritos azuis, que viajariam para a terra e se instalariam nas crianças. Ou seja, as auras azuis são espíritos que vieram de uma estrela.
A segunda teoria, fundamentada com base na primeira, é a “Teoria Física”. Essa teoria diz que a mesma estrela da primeira, Alcyone, teria gerado ao seu redor um anel de partículas de energia eletromágnetica, e com sua aproximação, teria “contaminado” algumas crianças.
A terceira é a “Teoria Cósmica”. Segundo Irène Andrieu, as gestações na verdade foram afetadas pelo alinhamento inédito dos planetas entre duas constelações.
E finalmente, a quarta, “Teoria Química”, indica a contaminação por Estrôncio-90, substância liberada pelas bombas atômicas. As guerras e o acidente nuclear de Chernobyl teriam inluenciado.
Eu, particularmente, gosto mais da primeira. Mas vai saber, não é? Agora, sobre o fim do mundo, eu não acho que seja verdade. Mas tem gente que acha, principalmente no oriente. Há muitas seitas querendo destruir as índigo, porque acham que elas representam o fim do mundo. Ou seja, as índigo orientais sofrem muitas perseguições. Creio que as das Américas estejam protegidas aqui, mas a maioria nem sabe que é especial. Elas nem sabem sobre a existência de uma teoria sobre Crianças Índigo. E talvez por isso estejam em perigo.
Ainda há uma teoria que diz que as índigo não são apenas mais inteligentes ou mais desenvolvidas. Elas realmente são diferentes das cristais por apresentar dons paranormais. Ou seja, telecinese, clarividência, telepatia, essas coisas. Mas eu não acredito muito nessa parte.
Estatísticas indicam que de cada mil crianças, cinquenta têm inteligência acima da média, vinte são brilhantes e uma é propensa a se tornar um prodígio.

Continuei a palestra por mais algum tempo, dando mais alguns detalhes sobre meus estudos. A palestra durou meia hora. O público pareceu satisfeito no final, alguns vieram falar comigo... Mas eu não parava de olhar para aquele garoto de preto. Tinha alguma coisa suspeitamente estranha nele.
Fui para casa e fiz um chocolate quente. Fiquei assistindo a alguns filmes, como Up – Altas Aventuras. Ei, eu disse que ainda era criança, não?
De repente, eu não conseguia mais prestar atenção ao filme. Os olhos castanhos-claro daquele menino de preto na palestra estavam me incomodando. Eles pareciam tão... frios. Intensos. Incomuns.
Comecei a pensar muito na palestra, e em tudo o que havia acontecido antes dela. Eu finalmente tinha me convencido que os pais de THE precisavam de tratamento. Apenas restava saber se eles procurariam Thomas. Pobre THE... Uma criança tão maravilhosa, como pais tão imprudentes. Quem apontaria THE como uma criança problemática?
– Tadinho do THE... - comecei a murmurar sozinha. - Eu não devia tê-lo abandonado. Agora ele está completamente à mercê daqueles dois malucos... Será que eles não enxergam que o filho é uma criança especial? Ele é tão mais maduro que os pais... Parece que está... - Me levantei lentamente, ficando sentada no sofá em vez de deitada. Eu acabava de fazer uma descoberta. - À frente do seu tempo. Interdimensional.
Corri até meu escritório, derrubando no chão a xícara vazia. Não me importei em deixar na sala os cacos, Russel, Carl Fredricksen, Dug e a casa flutuante acima deles. Essa é uma das vantagens de morar sozinha: poder manter sua própria bagunça.
No escritório, revirei minhas pastas de estudos NCC até achar a tese abandonada das Crianças Índigo.
– Interdimensional... Interdimensional... Aqui. “A criança índigo-interdimensional está à frente do seu tempo. Costuma se achar mais forte e madura do que os adultos”. Uau. Uau! Isso é incrível! A descrição bate. Se as índigo realmente existem, THE é um deles.


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