O Anarquia escrita por Clio Trismegista


Capítulo 3
Capítulo 3 - O Exército de Desesperados




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Cap final: O EXÉRCITO DE DESESPERADOS


“Foram tantos anos de esforço mal empregado...”

Um homem totalmente vestido de vermelho abre uma torneira e começa a lavar as mãos. Esfrega o sabonete azul até que suas mãos estejam cobertas por uma grande camada branca de espuma.

“Por anos eu lutei contra o Estado, contra sua tirania, contra o seu poder, que por sua própria natureza exerce uma influência perniciosa.”

Com uma pequena esponja, ele esfrega as unhas uma por uma.

“Quando você é governado, você é espionado, doutrinado, legislado, censurado, medido, contado, autorizado, rotulado, avaliado, extorquido, monopolizado, pressionado, por seres que não tem ciência ou virtude para tanto. E ao menor sinal de resistência, você é reprimido, desarmado, julgado, condenado, ultrajado, desonrado.”

Ele enxuga as mãos. Elas estão opacas, quase ásperas pelo tratamento.

“Eu nunca duvidei que as instituições fossem a causa do mal que aflige a humanidade. Religião, lei, família, casamento, moral. Tudo isso nos é imposto, somos condicionados, e os poderosos, a minoria dominante, ainda tem a cara de pau de falar em liberdade.”

O homem sai do lavabo e pára no meio de uma sala num formato estranho, oval.

“Na minha adolescência inexperiente, eu pensei que se ensinasse ao povo, a massa dominada, que se eles deixassem de usar as instituições governamentais, perceberiam quão inúteis elas são, quão repressoras. Ilusão.”

A sala está fechada, o silêncio só é quebrado pela respiração arfante de um homem amordaçado que se encontra amarrado a uma cadeira, atrás de uma escrivaninha. 

“Eu próprio fui condicionado pelo Estado. Desde o berço, desde a família, desde a escola, desde as instituições para as quais fui enviado numa tentativa débil de me fazer crer que o povo não estava sendo oprimido. Que tudo era uma questão de talento e oportunidade para a ascensão social. Tolos! Classes sociais são parte do sistema que eu combato!”

Imperturbável, ele ignora os apelos em forma de gemidos do cativo. Digita alguns comandos em um laptop em cima da escrivaninha, uma câmera ao fundo da sala se movimenta e enquadra os dois.

- Essa transmissão está sendo enviada a todos os pontos do globo, via internet, televisão e radiocomunicação. A tradução é simultânea e prioritária. O que significa que todas as outras transmissões foram suprimidas pela minha.
Em todo o planeta, bilhões de pessoas paravam em frente aos seus transmissores para verem ou ouvirem o estranho homem.

“Hoje, eu deixo de ser um em uma luta indiferente, para abrir os olhos de milhões de desesperados.”

- Eu já fui conhecido como o Anarquia, mas esse é apenas um rótulo. Eu sou um ser humano como vocês. Alguém que se cansou de ser controlado, reformado, aprisionado, traído pelo Estado e seus dirigentes!

O Anarquia retirou a máscara dourada e revelou o rosto sardento de um rapaz de no máximo 21 anos.

- Passamos fome e não temos como chegar aos alimentos que nós mesmos produzimos! Ficamos doentes e não temos acesso aos hospitais que construímos! Tudo isso porque nos submetemos ao Estado! Porque nos submetemos a tirania de parasitas que nos oprimem, que oprimem nossos filhos para poderem manter seus privilégios!!! Mas eles não são deuses! Não podem nos impedir de mandarmos em nós mesmos!

Indo um pouco para o lado, ele deixou a câmera focalizar o cativo, o mundo todo viu quem estava lá com ele: o Presidente dos Estados Unidos da América.
Voltando-se para a câmera, o Anarquia continuou:

- Não há força mais poderosa do que união do povo. Estes homens que se dizem nossos superiores, não são nada! Juntem suas forças e exterminem esses exploradores que nada mais fazem do que nos torturar pouco a pouco! Eles não são invencíveis! São apenas humanos como nós! Vulneráveis como nós! E podem ser destruídos junto com suas instituições, pois só assim seremos livres! Exterminando tudo o que nos causa mal, todos os que nos causam mal!

O Anarquia retira uma 9mm de dentro da roupa. A arma brilha pela luz da câmera. Ele se volta lentamente para o presidente.

- Um de seus ícones disse uma vez: Dai a César o que é de César. Eu digo: Morra César!

E assistido pelo mundo todo, o Anarquia matou o presidente da nação considerada o símbolo da democracia-capitalista, dita a mais poderosa do mundo, enquanto ouvia o barulho de pessoas tentando entrar no salão oval.

“Acabou. O seu mundo acabou. Vocês fizeram do povo um exército de desesperados. E agora, eu os fiz perceberem isso.”


FIM

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