O vento soprou com força maior, espalhando o acúmulo de folhas anteriormente varridas por um dos empregados do palácio e elevando tantas outras, antecipando aos persentes com o cair da temperatura uma suposta chuva de primavera a caminho. Lucy recolheu alguns fios loiros de cabelo revoltos para detrás da orelhada, recuando consideráveis passos.

Repreendeu-se mentalmente pelo nervosismo interno inquietante, motivado pela figura do Dragon Slayer defronte, que involuntariamente desencadeava lembranças calorosas da amizade em que um dia tivera. O analisou de alto a baixo, percebendo acréscimos do tempo em seu semblante, o que poderia pontuar em desfavor, acentuando ainda mais os belos traços somados ao exalar da maturidade. A maga estelar enrubesceu quando, em silêncio incomum, os olhos esverdeados a triavam de mesmo modo.

Aquele idiota ainda a afetava. Concluiu com pesar, banindo a remota hipótese de cura da sua influência sobre ela.

— O que faz aqui? – Vociferou, frustrada, substituindo a vergonha pela raiva.

— Luce... – Natsu tentou outra abordagem, ignorando a pergunta carregada de uma irá exagerada, porém compreensiva. – Precisamos conversar...

— Não ouse me chamar assim! É Heartfilia para você. – Interrompeu com a voz exaltada, pouco se importando com os olhares curiosos ao redor. – Não temos NADA a tratar um com o outro!

De posse das chaves, retirou uma em especial do pequeno estojo de couro, abrindo o portal e invocando o espírito celestial do leão. Loke surgiu em meio ao casal, endireitando os óculos na face risonha devido a ironia da situação - preste a lutar contra um antigo colega de guilda de forma nada amigável pela postura de sua mestra.

Havia um diferencial na magia da loira que chamou a atenção do Dragneel para a repentina mudança nos seus trajes. Assim como a Erza, Lucy agora interagia com o poder das estrelas que revestia seu corpo como uma armadura - insegura na concepção do rosado - para o dado confronto.

— No que está pensando? – Indagou na defensiva, reparando de soslaio na aproximação além dos que caminhavam pelo local, o da guarda imperial. – Me recuso a lutar contra você.

— Luxii... – Happy sussurrou o nome da amiga, incrédulo com sua recepção agressiva.

— Afaste-se para não se machucar, Happy! – Ela o avisou, recebendo também um aceno positivo de cabeça do companheiro ao lado em concordância. Serei breve. Assegurou Natsu numa conversa muda entre eles.

— Loke! – Ordenou a loira, e com agilidade nos golpes, o ruivo atacava continuamente o oponente.

Recuando com os impactos, Natsu se surpreendia com a evolução da força adversária, sendo confirmada num súbito chute na nuca, fazendo-o rolar metros de distância pelo gramado esverdeado. O público recuava, dando espaço suficiente para o conflito, sem deixar o ambiente e bastante interessados no seu desfecho ou em simplesmente saber quem mais apanharia.

Cuspindo o acúmulo de terra da boca, estreitou a vista, focado na bela mulher em seu vestido negro e no quanto sua fúria o excitava. Merda! Era insuportável a falta que sentia dela em sua vida. Suspirou derrotado pela fraqueza dos sentimentos.

Voltando a disputa, examinou as circunstâncias, certo de que os bloqueios em nada adiantaria que tão somente tardar os seus objetivos. Esquivando das investidas seguintes do leonino, acertou-lhe o meio do estômago com um firme soco flamejante, encostando no ouvido alheio para um singelo pedido de desculpas antes do nocaute com um gancho de direita instantes depois.

Imóvel, Loke despencou no chão, desacordado, tendo aos poucos o corpo dissipado com o retorno da magia para o mundo celestial de onde viera.

Apesar da plena convicção na diferença dos níveis de poder entre eles, Lucy escancarou os orbes caramelos, espantada com a derrota, mordendo o lábio inferior na sequência com o avanço do Dragneel em sua direção. Não o deteve quando ultrapassou os limites da aproximação, mantendo-a prisioneira da sedução que compreendia toda a imagem masculina a frente. Vencida pela segunda vez, permitiu-se envolver, persuadida pela carência de anos sem nenhum tipo de envolvimento físico. Droga! Praguejou, desarmada.

Fechava lentamente os olhos, entreabrindo a boca ao toque da mão alheia no queixo, erguendo-o. O mago esboçou um sorriso de canto satisfeito, puxando-a pela cintura para outra vez experimentar seu contato corporal. Entretanto, tendo o clima interrompido por uma voz aguda, que roubando a cena, cruzou o campo até os ouvidos da loira, acordando-a para retornar à realidade.

— Mama! – Gritava a jovem de cabelos rosados recém chegada ao lugar, abrindo caminho entre os olheiros. Fora seguida a curta distância pela princesa Hisui, que no reconhecimento do rapaz causador da balburdia, estagnou, estendendo o braço na retenção da tropa de guardas.

Empurrando o corpo adiante para longe do seu, repreendeu o prosseguir da filha. – Nashi, não!

Puxando o máximo de ar possível para dentro de seus pulmões, inflou as bochechas, soltando logo após uma fina labaredas de fogo, que mal chegou a encostar no indivíduo, dispersando com a brisa. Natsu, por sua vez, franziu o cenho, surpreso, enquanto o estômago da mulher ante a ele comprimia ao tamanho de uma laranja.

— Deixe minha mama em paz! – Optou por esmurrá-lo com chamas nos punhos.

— Ue Luxii sua filha também usa magia do fogo? – Apontou o felino, causando um grande arrepio de desespero na amiga.

Ferrou! Aflita, sua pulsação acelerou, chegando quase a sair o coração por intermédio da boca com a pronúncia posterior da menina.

— Igual ao meu pai! – Revelou, orgulhosa, no momento puxando o sobretudo negro no intuito de separá-lo o máximo da mãe. – Fique... longe... dela... – Pedira entre puxões.

— Nossa! Como vocês se parec...

Lucy agarrou o exceed azul, impedindo sua análise. – Calado seu gatinho encrenqueiro. – Adotou a fisionomia de vilã. – Sua opinião não é bem vinda aqui. – Ameaçava, esticando as bochechas do animal.

— Crueeeeeeu... – Choramingou pulando nos braços do companheiro.

Nashi encarou o suposto inimigo, fazendo bico, cansada e desapontada com os vãos esforços, arrancando assim risos do homem, que agachou, afagando seus cabelos.

— Gostei dela, Luce! – Afirmou, fazendo a pequena instantaneamente esfumaçar, encabulada.

Porque será?... Estapeou a testa, agradecida pela permanência de sua demência após anos.

— Me envolvi com outro mago do fogo. – Desconversou, dando de ombros e perdendo de vista o escurecer do rosto do rosado com a menção.

Atentando para mais um detalhe revelado e acrescido a sua lista, Nashi se desvencilhou do toque, decepcionada, pois tinha criado esperanças naquele que poderia ser o seu pai pelos indícios. Contudo, nada seria que apenas mais um cara apaixonado pela beleza de sua mãe. Droga! E eu até gostei do seu cheiro... Murmurou.

— Peço desculpas, Lucy! – Falou a princesa, ordenando aos subordinados a dispersão dos que ainda permaneciam assistindo. – Fui eu quem convocou a presença do Senhor Natsu a Crocus. Ele será o instrutor da Nashi nos ensinamentos da magia do fogo. Como havia lhe prometido. – Finalizou piscando para a jovem.

— Sem me consultar! – Esbravejou, contendo-se segundos depois ao lembrar com quem falara. – Como pode? – Lamentou.

— Nunca pensei que fosse se chatear tanto, afinal, era um dos seus amigos de guilda. Estou certa? –  Questionou inocentemente, buscando um erro sequer na sua decisão.

Pousou a vista no Dragon Slayer abaixado junto a menina, engolindo em seco as palavras sobre a tamanha semelhança entre ambos, resumindo-se ao choque na expressão.

Encobriu os lábios, perplexa com o que fizera. – Essa não... – Voltou-se para uma Loira de lábios comprimidos em desapontamento. – Eu... Eu não pensei que seria... – Titubeava, recordando o quanto sua conselheira trabalhou para evitar esse encontro. Independentemente do que pensara a respeito, sempre considerou suas razões e a apoiava com o que fosse preciso, no entanto, só fora uma vítima do silêncio dela a respeito do pai...

— No que não pensou que seria? – O mago ergueu-se limpando a sujeira de terra das vestes, replicando a frase em forma de questão.