APOCALIPSE escrita por Thaís Carolayne


Capítulo 5
Perdidos




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Don e o restante do grupo levaram dois dias para atravessarem o Deserto Alto. Uma área de pasto a perder de vista em todas as direções. Cercava grande parte do vale Mallakai. Do lado oposto era o mar. E mais para o norte eram as Terras Devastadas, cobertas por neve e gelo todos os dias. Não havia outra estação além do inverno para aquelas bandas.

Conseguiram achar comida. Os cavalos tinham pasto, Genin uma vez ou outra achava um coelho ou um rato, mas era evidente que aquilo não era o suficiente para manter aquele corpo grande. Os suprimentos de comida e água estava quase acabando. O sol os castigava durante o dia e as noites eram frias. Numa manhã Catelyn pediu para que parassem para descansar. Saltou do cavalo, com pressa de se afastar do lombo do animal. Esticou-se e se jogou no chão, procurando relaxar.

— Eu não suporto esse vestido. Não consigo me equilibrar bem no cavalo.
Agustina se aproximou do lado dela, arrancou uma pequena faca que estava enfiada do lado de dentro de sua bota.

— O que está fazendo?
Sem responder Agustina puxou o tecido e cortou. Catelyn soltou um grito.

— O que é? Achei que não estava gostando do vestido.

— Ele incomodava, mas era tão bonito. - Disse Catelyn dengosa.
Agustina riu.

— Ficou mais bonita assim.

Kann se sentou do lado delas e esticou a pernas. Don se juntou a eles.

— Estamos ficando sem nada. Já não tem água pra dar para os animais. Vamos ter problemas se continuar assim.

Don suspirou. Apertou o punho de Apocalipse como que a procura de uma resposta, que não veio.

— Vamos descansar um pouco, depois continuamos. - Ele se jogou de costas, e mais rápido do que esperava adormeceu. Ao abrir os olhos estava de volta a sua pequena casa, no seu quarto. Olhou pela janela, mas tudo pro lado de fora era negro, sem poder ver nada. Saiu, foi em direção à cozinha. Já sabia quem encontraria ali.

— Apocalipse. - Cumprimentou ao ver a bela mulher de olhos puxados sentada a mesa.

Ela sorriu.

— Estou feliz, Don. Que você tenha mesmo vindo em viajem. Todos os espíritos esperavam por você.

— Eu não ligo. Eu quero apenas encontrar meu pai, mas não vou colocar a vida dos meus amigos em risco. Se continuarmos nesse deserto vamos todos morrer de sede. Vou voltar.

— Se voltar será morto. Acusado de sequestrar dois lordes.

— Serei morto, mas meus amigos serão salvos.

Apocalipse o fuzilou com o olhar. E não há como não sentir calafrios quando a própria morte te joga um olhar intimidador.

— Não se preocupe. Se mantiver o ritmo amanhã ao amanhecer vão alcançar a floresta Tsubame. - Ela revelou um sorriso suspeito. - Vai ficar tudo bem.

Don voltou a acordar sentindo o cheiro de batatas cozidas no ar. Levantou-se a procura da origem do cheiro. Agustina tinha preparado um cozido e todos comiam com os últimos pães que tinham.

— Vamos comer. - Disse ela. - Ainda tem pra você.

Don se sentou com todos e preparou seu pão.

— Vamos continuar a viagem depois de comer. Acredito que até amanhã vamos encontrar algo.

— Como você chegou ao vale Agustina? - Perguntou Catelyn.

— Eu passei por esses mesmos campos. Não sei por quantos dias eu caminhei, mas tinha água e comida o suficiente.

— Entendo. - Disse Kann. - Como somos um grupo grande gastamos ainda mais dos nossos suprimentos. E eu vim sem nada. Me desculpem.

— Não diga bobagens, Kann. Não estamos te cobrando nada. ― Disse Agustina.

Kann concordou, ainda se sentindo culpado por ser mais uma boca para aquele grupo alimentar. Foi um ato impensado segui-los. Só trouxe problemas. Mesmo se sentindo assim nenhum deles o acusava. Eram realmente pessoas boas.

— Vai ficar tudo bem. - Disse Don soprando uma batata cozida.
Depois que comeram, seguiram viagem pelo resto da tarde. Também caminharam por boa parte da noite, já que a lua estava cheia e clareava bem o caminho deles. Quando o sol nasceu no outro dia recomeçaram a sua jornada. Antes que pudessem avistar qualquer coisa no horizonte Genin saiu correndo com todas as forças que tinha nas pernas.

— O que aconteceu com ele? - Perguntou Catelyn.

— Ele deve estar caçando. - Bocejou Don.

Logo avistaram o topo de grandes árvores secas. Eram tão altas quanto a igreja da vila Geiger. Os troncos e galhos eram retorcidos, secos e escuros. Parecia morta, mas podiam sentir olhos os observando de todos os cantos. Animais e criaturas... Esperavam que fossem animais normais ao menos. Se comparar com o tamanho das árvores, não seriam.

— Realmente teremos que passar por aqui? - Choramingou Catelyn.

— Pelo menos eu não tive problemas quando atravessei. - Observou Agustina.

Adentraram a floresta. Rapidamente Genin saiu correndo na frente animado, como estivesse se sentindo em casa. As árvores eram de tamanho gigantesco. Nenhum som que se espera ouvir de uma floresta vinha das profundezas da mata. Até os pequenos espaços que se via do céu parecia acinzentado.

— Para onde vamos a partir de agora? - Perguntou Kann.

— Agustina? - Perguntou Don.

— Quando eu vim eu fui guiada por uns moradores da floresta. Não sei como encontrá-los agora. A floresta é realmente parecida não importa pra que lado vá.
Por intuição Don teve uma ideia. Sacou Apocalipse de sua bainha. Nunca antes havia se comunicado com o espírito se não em sonhos. Duvidava de que ela o responderia daquela forma, mas tinha de tentar.

— Se sabe o caminho, nos guie. - Falou para a espada. Não houve resposta.

Agustina o observou e riu.

— Por que está falando com a espada? - Perguntou Kann.

Don ficou um pouco sem graça.

— Essa espada guarda o espírito da morte. Ela conversa comigo às vezes. E foi ela que me pediu para que saísse em viajem.

— Então você não fugiu para salvar a Catelyn?

— Apenas me veio à ideia na cabeça de trazer Catelyn junto.

— Que irresponsável.

— Dizer nesse tom faz parecer que não tenho valor nenhum. - Catelyn fez bico.

Agustina desceu do seu cavalo. O amarrou em uma raiz que se desprendia da terra negra. Amarrou também o cavalo que carregava a carga do grupo. Os outros amigos pensando que teriam um minuto para descansar desceram de seus animais também e sentaram em círculo. Agustina estendeu a mão a Don.

— Me empreste a Apocalipse.

— Pra que você a quer?

— Você disse que ela saberia onde deveríamos ir certo? Vamos perguntar.

— Eu preciso dormir para poder falar com ela.

— Não seja idiota. Ela aparece nos seus sonhos quando ela quer, não quando você pede. Por sorte eu sou uma bruxa. Talvez dê pra fazer algo.

Don franziu as sobrancelhas.

— Certo, certo. - Don desamarrou a bainha do cinto e entregou para a amiga.

— Escutem. O espírito da morte é um espírito muito antigo e muito poderoso. Formar a sua imagem pode me deixar bastante fraca. - Agustina o encarou com aqueles grandes olhos castanhos com intensidade. - Estou contando com você.

O rapaz engoliu em seco.

— Entendi.

Catelyn desviou o olhar parecendo cabisbaixa. Ao ver dela os dois se tornavam cada vez mais próximos. Kann a observou em silêncio.

Agustina segurou a bainha nas duas mãos e fechou os olhos.

Enquanto Agustina se concentrava todos sentiram a atmosfera ao redor mudar. Como se sentissem algum tipo de presença no local, algo poderoso, que não podiam explicar de onde vinha. O ar começou a ficar agitado e a movimentar em torno da bruxa e de suas mãos. Ao final do encanto, uma luz arroxeada brilhou na espada negra, uma fumaça se levantou da bainha e formou o esbelto corpo da mulher de olhos puxados. A morte, Apocalipse.

— Você! - Don exclamou ficando de pé.

— Oras, mas que surpresa. Eu não achei que você seria capaz de invocar a minha imagem, jovem bruxa.

— O- Olá. - Agustina sorriu ofegante.

— O que é isso? - Perguntou Kann com os olhos esbugalhados.

— Então, vocês querem que eu os indique o caminho para atravessar a floresta Tsubame.

— Sim. - Disse Don se recompondo.

— Eu poderia indicar o caminho, mas vocês se perderiam rapidamente. A floresta é traiçoeira.

— Então nos guie! - Pediu Catelyn.

— Não posso. A bruxa não me manterá invocada por muito mais tempo.

Olharam para Agustina. Ela respirava com dificuldades e suor brotava de sua testa. Manter a imagem do espírito mágico consumia muito as suas energias.

— Então o que faremos? - Perguntou Kann coçando o queixo.

— Chamem o manue de Don. O animal viveu aqui antes e sabe onde deve ir por simples instinto. ― Disse a morte.

— Genin não é tão treinado. - Observou Don. Apocalipse riu.

— Usem mais uma vez os poderes da bruxa. Não é pra isso que ela serve?

Don não gostou do tom de voz da mulher e ia respondê-la, mas antes que pudesse sua imagem se dissipou diante de seus olhos e Agustina foi caindo pra trás virando os olhos. Don a segurou antes que ela se chocasse contra o chão.

— Agustina!

Catelyn correu até ela.

— Tina! Você está bem?

A moça respirava forte, suor frio lhe escorria pela testa. Don chamava por ela, e não tinha nenhuma resposta. Enquanto Kann os observava escutou algo se mover na floresta. Os cavalos relincharam estressados. Por instinto levou a mão a uma das espadas que carregava na cintura.

— Hey, Don. Aqui não é seguro.


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