APOCALIPSE escrita por Thaís Carolayne


Capítulo 1
A Bruxa


Notas iniciais do capítulo

Eu publico essa mesma história no site Spirit e no Wattpad. Eu não tinha a intenção de continuar, mas meu coração pede para que eu não pare de escrever. Tenho uma responsabilidade com os meus personagens.
É uma história mais longa do que eu previa, lamento que não consiga fazer algo mais curto.
Se alguém ficar motivado a ler mesmo assim, fico grata. ^_^



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Don não estava muito de bom humor no final daquela tarde. Como de costume tinha treinado com o seu mestre Zero, o melhor guerreiro do vale nomeado pelo próprio lorde Jio Andalusian, e mais uma vez Zero tinha pegado muito pesado com ele.
        Muitos dos jovens implicavam com Don, pelo pai dele ser um forasteiro de fora da vale. Forasteiros não são bem vindos naquele tempo, em lugar nenhum. Além do pai dele ser de fora, já foi rapidamente acolhido pelo grande lorde, ganhando lugar de honra como um zaraki, o mais alto escalão de guerreiros que trabalhavam para os lordes das redondezas e também se casara com a mulher mais linda de todo o norte, Kátia Albuquerque, de nascimento humilde, ainda assim cobiçada por muitos. Assim Ronaldo Walles conseguiu se tornar o homem mais odiado do vale Mallakai.
        Com cinco anos de idade Don perdera a mãe, faleceu de forma misteriosa. Um dia ao amanhecer, a jovem mulher apenas não abriu mais os olhos. Seu pai, Ronaldo Walles sofreu de forma muda. Foi forte o suficiente para continuar seguindo a vida e cuidar de seu pequeno filho. Com sete anos Don começou a treinar com Zero, também zaraki do lorde Andalusian e melhor amigo de Ronaldo.
        Nesse mesmo ano, um dia Don se dirigindo para o treinamento matinal que teria com seu mestre, passava por uma pequena mata que ficava a caminho de sua casa, quando escutou um som estranho entre as árvores. Saiu da trilha e caminhou alguns metros até achar uma arapuca. Nela estava preso um estranho cachorro de tamanho médio, de pelagem roxa. O animal tinha apenas um toco de rabo e um pequeno par de chifres que se projetavam para trás de sua cabeça. Don o soltou e desde então o animal que nunca fora visto naquela área passou a acompanhar o menino por todos os lugares. O que causou grande confusão, porque as pessoas temiam tudo que vinha de fora. Mesmo assim ninguém conseguiu amedrontar o menino que se afeiçoara muito ao pequeno bicho e acabou o nomeando de Genin.

Quando Don fez quinze anos seu pai desapareceu misteriosamente deixando apenas a sua espada de metal negro Apocalypse. Ele não a havia deixado como herança para o filho. Pelo contrário. Uma noite Don sonhou com uma bela mulher de olhos puxados que o conduziu até a cozinha e mostrou a ele a espada escondida debaixo de uma taboa solta. Ao acordar Don fez o mesmo percurso e a arma estava lá, escondida.
        Os sonhos com a misteriosa mulher de cabelos negros continuaram por várias noites. Ela o convidava a sair da vila, a viajar e procurar pelo pai. Don até tentou, mas o mestre Zero e lorde Andalusian pediram pra que ele ficasse, para que antes ele ganhasse o título de zaraki. Só assim seus responsáveis teriam confiança o suficiente para deixar o jovem adorado partir em viajem para o desconhecido.
        Passou-se apenas um ano e faltava pouco para que ele ganhasse o título de zaraki. O zaraki mais novo de toda a história. Graças ao treino intensivo do mestre Zero e pelo talento nato de Don.
        Voltando ao evento da tarde, mais uma vez havia sido desafiado para um duelo. Claro, que ele como um aprendiz não poderia aceitar sem a permissão e supervisão de seu mestre, mas fugir das regras também era uma forma de aprendizado, certo? E também, uma luta fácil no final da tarde era tudo que precisava para relaxar os nervos.
        Don foi para uma velha construção com cerca de ferro um pouco afastada da vila. Era uma construção com alguns andares e vários objetos de metal. Tudo estava velho, caindo aos pedaços, nas janelas não havia mais nenhum vidro, e todo o metal da construção estava enferrujado. Provavelmente algo da civilização antiga daquele lugar, pessoas que viveram ali há umas centenas de anos atrás. Era dito que pelo mundo há várias dessas construções esparramadas por ai e ninguém sabe ao certo o que aconteceu com a civilização deles.

Ao entrar por um buraco na cerca enferrujada Don já avistou logo o rapaz grande de ombros largos o esperando, parecendo querer intimidá-lo com seu grande corpo. Em comparação a ele Don era franzino, e isso não o incomodava de forma alguma.
        — Walles! Você não vai passar de hoje! — Gritou Claude com seu piercing na boca reluzindo com o brilho do sol poente.
        Don sacou sua espada, que não era Apocalypse. Essa ele manteve escondida no mesmo lugar. Sentiu que se a usasse teria problemas.
        — Então está esperando o quê? — Sorriu confiante.
        O rapaz foi pra cima com tudo com os próprios punhos. Don apenas desviou impressionado com a força do amigo. Era verdade que Claude sempre o desafiava para duelos e os dois sempre brigavam assim que se viam, mas isso acontecia desde a infância, e de alguma forma a rivalidade deles era sadia e com o tempo laços de amizade os cercaram, mesmo que nenhum admitisse isso.
        — Você está mais forte do que nunca, Claude! — Riu Don.
        Era óbvio que Don era mais rápido.
        — Seu macaco loiro!
        Don preparou a espada.
        — Não um macaco. Eu sou um leão. — Disse o garoto confiante.
        Sua lâmina começou a brilhar de forma intensa. Don usava um artefato.         Armas mágicas muito raras que foram construídas na época da antiga civilização. Don conseguira aquela de presente de sua melhor amiga Catelyn no seu aniversário de quatorze anos. A magia que a espada continha era a luz do espírito celestial Ershin. Ele era representado no templo como um grande leão dourado.
        Com força Don desferiu um golpe de baixo pra cima e uma luz prolongou o corte a metros de distância, fazendo um talho no próprio solo. Claude se jogou no chão para desviar. Rapidamente se pôs de pé, e quando Don o percebeu já estava perto dele.
        — Eu não vou cair no mesmo truque duas vezes! — Riu o amigo/inimigo que preparava para capturá-lo com um abraço quando Don saltou desviando mais uma vez do amigo lento e já caiu com o cabo da espada acertando a nuca do rival, desabando-o no chão fazendo o se sentir desnorteado.
        — Caralho... — Disse Claude tonto ainda no chão. — Isso é jogo sujo.
        — Isso não é jogo sujo. Prever os movimentos do inimigo é o básico para empunhar uma espada.
        — Eu te pego na próxima com certeza. — Claude lhe mostrou o dedo do meio.
        — Se você me vencer eu te pago o que você quiser. Pode ser? — Don se levantou e foi indo embora deixando o amigo ainda no chão. Como esperado, já se sentia bem melhor.
        — Então semana que vem eu te encontro aqui de novo!
        A vila estava movimentada naquele fim de tarde. Os feirantes estavam vendendo suas frutas e verduras nas ruas principais e as pessoas iam e viam para todos os lados, crianças corriam despreocupadas em suas brincadeiras. A casa de Zero era de frente a uma dessas feiras, e por isso era sempre barulhento durante o dia e até o começo da noite. Como de costume Don entrou sem bater.
        — Ei, velho. — Cumprimentou Don.
        — Don. Seja bem-vindo. — Sorriu Zero.
        Apesar de Don chamá-lo de velho, Zero ainda era jovem. Nunca tinha perguntado a idade dele, mas o seu cabelo longo e preto preso em um rabo de cavalo demonstrava apenas alguns fios grisalhos que começaram a aparecer recentemente. O que o fazia parecer mais velho era a barba que sempre usava de forma desleixada.
        Os dois jantavam juntos quando Zero abaixou seus hashi*¹.
        — Don. Você usou Ershin hoje pra brigar.
        Don fez uma careta estranha. Não esperava que fosse ser descoberto tão facilmente.
        — Estou errado? — Perguntou Zero erguendo uma sobrancelha.
        — Eu precisava dela! Eu fui desafiado! Eu sou um guerreiro, então...
        Don sentiu a aura de seu mestre enegrecer.
        — Uma espada não é um brinquedo. Principalmente quando se trata de um artefato.
        Don não concordava com a seriedade com que seu mestre tratava desse assunto, mas discutir não era uma opção. Se curvou humildemente e pediu desculpas.
        *Hashi: O hashi ou fachi ou ainda em tradução livre pauzinhos são as varetas utilizadas como talheres em parte dos países do Extremo Oriente, como a China, o Japão, o Vietnã e a Coreia.
 
        — Eu realmente espero que isso não volte a acontecer. Um zaraki carrega consigo a responsabilidade de manter a paz e também de usar suas armas para o bem das pessoas.
        — Sim, sim.
        O mestre franziu as sobrancelhas. Sabia que falar aquilo para seu discípulo não traria efeito nenhum.


 ***


        Agustina chegou naquela vila longe de tudo ao anoitecer. As ruas estavam bagunçadas com lixo das barracas que antes estiveram abertas. Agora só alguns comércios de bebida e comida estavam abertas e haviam poucas pessoas nas ruas. Assim que ia passando pela estrada principal as pessoas a olhavam curiosas. A maioria daquelas pessoas tinham os cabelos claros quase brancos, e olhos claros. A similaridade entre elas devia indicar que não havia muitos viajantes por lá. Não era de se surpreender. Em um lugar tão escondido do resto do mundo.
        — Quem é ela? — Escutou alguém dizer ao longe.
     — Ela é muito bonita. — Escutou um homem aparentemente bêbado dizendo. O mesmo homem a chamou, e ela acabou voltando à atenção pra ele. — Você não deve ser dessas bandas. — Riu o homem cambaleante. — O que acha de eu te acompanhar, heim? Talvez você esteja precisando de um lugar pra dormir.
        Agustina o encarou com grandes olhos castanhos cheio de inocência.
        — Não precisa. — Ela sorriu. — Eu sei onde quero ir.
        — Levou um fora! — Riu os outros dois amigos do primeiro.
        — Não faz mal! — O homem pareceu não escutá-la, a agarrou pela mão e saiu puxando. — Eu te empresto a minha cama! — Riu ele como se tivesse contado a piada mais engraçada do mundo.
        — Hei! Você está machucando a minha mão! ― Gritou a garota.
        No mesmo instante um enorme cachorro um pouco maior do que um cavalo de pelagem roxa caiu sobre o homem rosnando, lhe mostrando os enormes dentes. Agora Genin além de ter crescido de forma absurda, os chifres que mostravam apenas as pontas quando era um filhote, se mostravam grandes e afiados, projetados para trás. Agustina deixou um grito sair de susto. Don a puxou para trás de si.
  — Está tudo bem, ele não vai te machucar. — A garota de cabelo laranja o olhou ainda confusa. — Que feio Reginaldo. Eu achei que você não gostava de forasteiros. Por que está incomodando a garota?
        Reginaldo era um dos moradores da vila Geiger que não se seguravam em admitir o ódio que tinha da família Walles, fora assim desde sempre.
        — Walles... — Sibilou o homem se afastando do enorme cachorro. — Afaste esse animal que eu vou te mostrar o que é bom pra tosse.
        — Genin. — Pediu Don. — Afasta.
        Obedientemente a fera se sentou calmamente e ficou apenas observando. Os três homens foram pra cima de Don. Ele pensou em sacar sua espada, mas lembrando do sermão de seu mestre agora mais cedo não o fez, e entrou na briga apenas com os punhos. Don recebera treinamento de luta desde a infância e ainda por cima os seus oponentes estavam todos alterados devido à noite de bebedeira que tiveram antes. No final tudo que restou foram os três homens desmaiados no chão e ferimentos nas mãos de Don devido aos socos.
        — Muito obrigada por me salvar. — Disse a doce menina se curvando suavemente.
        — Não foi nada. — Sorriu ele massageando as próprias mãos.
        Agustina se aproximou e pegou as mãos dele nas dela.
        — Por favor, me deixe fazer algo pra você.
        — Não, não precisa se preocupar. — Estranhamente Don começou a sentir um formigamento nas mãos.
        — Meu nome é Agustina Peters. Pode me chamar só de Agustina.
        Don a encarou por um tempo, a menina o soltou e sorriu constrangida.
        — Alguma coisa errada? ― Perguntou ela ao perceber que estava sendo reparada.
        — Não, não. É que... Você me pegou de surpresa. — Ele coçou a cabeça. Então de repente parou chocado, encarando suas próprias mãos. Não havia mais nenhum ferimento. Olhou para a garota, espantado. Ela poderia portar algum artefato de cura? Não tinha nenhuma arma com ela, nem mesmo joias.
        — Estranho? — Perguntou ela.
      — S- Sim. — Gaguejou Don ainda sem conseguir entender o que havia acontecido ali.
        — Eu sou uma bruxa. Eu posso usar os poderes dos espíritos celestiais sem a ajuda de artefatos.
        — Isso é incrível. Eu uso um artefato, essa espada! — Ele apontou Ershin.         — Ah, me desculpe. Eu ainda não me apresentei. Meu nome é Don Walles.
        — É um prazer conhecê-lo Don.
        Houve um minuto de silêncio que pareceu constrangedor a Don, mas não pareceu incomodar a pequena bruxa de roupas verdes.
        — Bem, eu vou indo pra casa. Boa sorte pra você. E tome cuidado, as pessoas daqui não gostam muito de desconhecidos. — Don montou nas costas de Genin e ambos se preparavam para ir.
        — Ah, eu não tenho lugar pra dormir.
        Don parou. Aquilo significava problema.
        ― Isso... É ruim. — Mais um momento de silêncio. Sabia que nenhuma pensão a aceitaria pelo simples fato dela não ser da vila. — Então, vamos pra minha casa. — Don estendeu a mãe e ajudou a garota a subir no seu cachorro.

 

 

MAIS NOTAS: Minhas histórias estão em constante mudança. Porque eu sempre as releeio e as mudo. No meu tumblr você pode acompanhar a história com ilustrações. Seu suporte é muito importante para me manter motivada. Beijooos :*

[edit 2]: A espada negra de Don será renomeada para Apocalipse, em português, porque hoje em dia acho importante enaltecer a língua portuguesa.

[editado em: 17/03/18]


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Notas finais do capítulo

E começa a aventura de Don Walles o/
Os personagens principais dessa história foram criados em 2011, assim como o enredo principal dessa história, mas só comecei a escrever realmente no fim do ano passado.
Eu já apaguei e reescrevi essa mesma história várias vezes, e isso me faz perceber que meu dom não é escrever. Mesmo assim sinto a obrigação de continuar e não posso desistir dessa vez. Vou continuar me esforçando pra trazer vida a esses personagens que criei tanto carinho a medida que escrevia.

A personagem Agustina era inicialmente uma personagem secundária com uma participação muito importante, mas graças ao comentário de um amigo ela acabou se tornando uma personagem muito querida por mim, e talvez acabe se tornando ainda mais importante com o decorrer da história.

A história só vai melhorar daqui pra frente. Espero que gostem.



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