Que a sorte esteja sempre a seu favor escrita por Glória San


Capítulo 1
Capítulo único




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Capítulo único

Isso não lhe parecia certo. Midorima olhou novamente para o celular em sua mão e suspirou. Como diabos câncer estava em sétimo? Seis a frente significa sorte. Mas, seis atrás? Era melhor ficar em casa, deitado e quieto, ou corria o sério risco de quebrar um osso... Então, como diz o ditado: “o seguro morreu de velho”. E o seguro com certeza tinha sempre em mãos uma cópia do jornal do dia aberto na sessão do horóscopo Oha Asa. Logicamente.

Olhou novamente para o pequeno aparelho eletrônico. Podia dizer para sua mãe que estava doente e ela certamente lhe deixaria ficar em casa, mas... Não. Midorima era um cara orgulhoso. Jamais fugiria de algum problema.

...

A bicicleta quebrou. Que lindo. Agora nenhum dos dois poderia ganhar ou perder no jo-ken-po. O que, para o rapaz de óculos, só significava uma coisa: azar, azar, azar. Tratou de avisar o moreno com uma simples mensagem, mas, como não poderia perder o posto de criatura mais irritante do universo, ele respondeu com alguma gracinha. E Midorima quis rir. Com certeza...

Mesmo que não precisasse, Takao veio para lhe acompanhar até a escola. E Midorima não sabia mesmo o que dizer. Pois assim que pôs o pé para fora de casa, pisou em um presentinho deixado para trás por algum cachorro de uma estúpida pessoa. Que. Nojo. Takao gargalhou um pouco antes de receber um bom cascudo.

– Shin-chan, não me culpe se alguém é tão desatento... – ele balbuciou enquanto massageava o lugar atingido. Mesmo assim, Takao parecia sentir algum prazer doentio com todo seu azar. Então o rapaz de cabelos verdes não sentiu remorso (ou talvez ele estivesse virando um velho paranoico).

Voltou para dentro e com a calma que lhe restava, trocou o calçado e voltou para a companhia de Kazunari. Que ainda ria de seu infortúnio.

– É, teremos que ir andando, hum?

– Você vai repetir isso quantas vezes? – Midorima estava ficando seriamente impaciente. A verdade é que Takao jogava o fato em sua cara pela décima vez. Ou quase isso.

– Até que se grave em sua mente. – E riu-se, deliciado pelo desprazer do outro. Grande amigo és tu, oh, Takao.

– Com sua voz irritante, isso já foi o suficiente.

– Ah, Shin-chan, quem vê até pensa que você não gosta de mim de verdade.

– Cale a boca... – Midorima murmurou enquanto arrumava os óculos, que insistiam em escorregar.

– Hei, Shin-chan, qual o seu item da sorte hoje?

– Pra que quer saber? – perguntou com desconfiança.

– Curiosidade... – Takao respondeu com naturalidade.

– Isso. – Mostrou para o outro seu chaveiro de madeira, em formato de um urso segurando três salmões. Takao apenas riu e – mesmo que o mais alto não tenha ouvido – disse como era de extremo mau gosto.

O resto do caminho foi como sempre, apesar de temperado com as provocações baratas de Takao e com Midorima caindo feito um patinho. Sempre. O que era perigoso, já que o moreno estava prestes a levar um soco. Não que ele ligasse, ele era muito despreocupado. Estava incrivelmente quente, o dia estava muito claro e logo no primeiro tempo de aula teria uma prova da matéria que o lançador da Shutoku menos gostava. Ou se dava bem.

Mas, estava mais confiante dessa vez. Tinha o seu The rolling pencil. Ele lhe ajudaria, pois Midorima confiava totalmente em si mesmo. Com certeza. A prova iniciou-se... E de alguma forma, Shintarou marcou cinco questões com a mesma alternativa, o que sempre queria dizer uma coisa: armadilha. Não queria mesmo usar o lápis agora, mas era totalmente necessário...

Abriu o estojo para encontrar um solitário bilhete com a caligrafia ridícula de Takao carregando os dizeres "peguei emprestado. Espero que não se importe!". Midorima deixou o choque e a raiva vir. Sério, como sairia dessa cilada agora? Aquele idiota estava brincando com a sorte, literalmente!

Olhou para frente, onde sempre sentava o ala do time e quase teve um infarto. Seu The rolling pencil, preciosidade, nas mãos de outra pessoa. Ele também não poderia chegar e quebrar a cara da desgraça, ainda estavam em aula... E Takao sorria como um idiota, segurando seu tesouro, todo descuidado... Isso só pode dizer uma coisa: azar, azar, azar.

...

O dia, que estava quente e agradável para uns – e esse "uns" inclui Kazunari. O sol e o calor, o clima morno e agradável, tudo combinava com seu bom humor – de repente escureceu. Midorima até ficaria feliz, mas não trouxe guarda-chuva. Grande piada... Takao fazia uma expressão engraçada enquanto caminhava até onde estava o rapaz de óculos com o guarda-chuva em mãos.

– Shin-chan, cadê o seu? – Shintarou cerrou os dentes perante a pergunta. Azar, azar, azar.

– Esqueci. – E mal terminou de falar quando a chuva caiu, como se algum imbecil tivesse virado um balde de água fria em cima deles, de repente. Em cima de Shintarou, na verdade. Takao abriu o guarda-chuva antes.

Que dia maravilhoso...!

...

Dividir o guarda-chuva com Takao provavelmente não foi uma boa ideia. Certo, o moreno insistiu muito, então achou melhor ceder de uma vez. Até porque ajudaria a si mesmo. Você deve pensar: "bela desculpa", não é? Porém, Midorima não é do tipo que dá desculpas esfarrapadas. Ele realmente iria voltar pra casa na chuva. Não que fosse inteligente, mas é o orgulho que fala mais alto.

Chegaram ao consenso de que o primeiro a ser deixado em casa seria Midorima, já que o dono do objeto cobiçado por que estava na chuva era Takao.

– Ah, Shin-chan,... você me deixou todo molhado! – Shintarou corou com a frase de duplo sentido. Fazer o quê? O tom de Takao era duvidoso. E como Kazunari ficou com isso? Ora, foi bizarro se sentir bem ao fazer um cara com quase dois metros corar. Deve ser retardado... –Posso entrar só um minutinho?

– Pode... – Arrumou os óculos no nariz e abriu a porta. Não era a primeira vez que o rapaz com olhos de falcão iria ali, não sei pra que tanta cerimônia... Tiraram os sapatos na entrada e adentraram. Midorima praticamente correu para seu quarto a fim de não molhar a habitação.

Takao o acompanhava no momento que chegaram ao seu quarto. Correu para o banheiro e o moreno sentou-se em uma cadeira. Nesse momento, ficou mais preocupado consigo mesmo. Se ficasse doente, não poderia jogar e com certeza não queria isso... Livrou-se das roupas molhadas e entrou debaixo do chuveiro. A água estava ridiculamente gelada e, quando tentou mudar a temperatura, a porcaria não queria colaborar. Quanto azar para uma pessoa só, credo.

O jeito era tomar banho ali mesmo.

...

Quando entrou no quarto, viu Takao com um jornal em mãos. Provavelmente o do dia de hoje.

– Shin-chan, câncer está em sétimo? – Indagou inocentemente. Mas Midorima odiava sequer lembrar-se disso.

– É.

– E escorpião em primeiro?

– Sim. Não que adiante alguma coisa. – completou. – Você não liga para itens da sorte ou sorte. O que é um ato idiota.

– Certo... – Ele se levantou e caminhou até estar de frente para o outro. Os bons vinte centímetros que diferenciavam suas alturas não pareciam muito agora. Ele se aproximou um pouco demais. Demais mesmo. Midorima sentia a respiração morna em seu rosto e não sabia dizer se desgostava ou não. Um clima - climão, climão mesmo! - se instalou no cômodo e o ás da Shutoku não sabia nem o que falar. – Shin-chan, alguém já falou que você tem cílios de menina? –... Quê? Sério que ele disse isso com aquela expressão séria e grave (você é ótimo em quebrar climas, Takao!)? Agora, Midorima calculava de qual ângulo o soco doeria mais. – E que é irritantemente sexy quando você fala "nanodayo"? – E agora Midorima estava sem ação. Que conversa medonha era essa? – E que quando enfaixa seus dedos você fica seriamente atraente?

Antes que pudesse processar o ocorrido e as frases esquisitas, seus lábios estavam pressionados contra os lábios de Takao, que suspirou. Seus olhos se fecharam praticamente contra a sua vontade e seu coração batia tão forte que temia que ele parasse. Mesmo que fosse um medo muito idiota. O sangue fugiu todo para suas bochechas e, se ele abrisse os olhos, veria que Takao não estava diferente. A mão tímida subia por seu peito e parou em seus cabelos úmidos pelo banho, puxando de leve. Foi a sua vez de suspirar.

Por que ele não empurrava o outro e parava com isso? Porque não queria. Simples assim. Midorima não tinha muita experiência com beijos ou garotas ou garotos, mas aquilo era diferente. Um diferente bom.

Quando se separaram, ofegantes e ainda vermelhos, olharam-se e incrivelmente Takao não trazia estranhamento, asco, nojo ou algo que Midorima acharia encontrar no rosto.

– Eu estou indo, Shin-chan. Não avisei minha mãe que chegaria tarde e a chuva já passou. – Ele apontou em um gesto displicente para a janela transparente, de onde entravam raios de luz solar. – Até amanhã. – disse lentamente (nesse momento, o garoto de cabelos verdes se sentiu paralisado ao observar o movimento dos lábios), piscou, sorriu e foi embora, sem esperar que o outro o acompanhasse até a porta ou algo assim.

É... pelo o visto, o dia não foi apenas de azar.


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