_ Marcelo?_ sorri e ele também.

_ Eu mesmo._ respondeu abrindo os braços e largando as malas no chão_ Sentiu saudades?...

Sorri para o garoto á minha frente e fui até ele e o abracei. Rapidamente senti seus braços circulando a minha cintura e seu queixo sendo encostado no topo da minha cabeça. Por mais agitado que tenha sido esse mes sem o Marcelo, senti saudades dele.

_ E ai, não vai responder a minha pergunta?_ ele disse depois que me soltou e sorriu de lado.

_ Ah é- disse depois de uma risada- Sei que só vai aumentar o seu ego, mas sim. Eu senti saudades sua_ confessei e vi Marcelo soltar uma longa gargalhada.

_ Fico feliz com isso. Mas fique sabendo voce loirinha, que eu também senti muitas suas_ ele diz e fica me olhando. Sorrio e olho para as malas. Marcelo acompanha meu olhar.

_ É, acho melhor levar as malas para o meu quarto._ disse ele e pegou as duas malas do chão.

_ Eu levo essa_ disse me refirindo á uma mochila que tinha sobrado, mas antes que eu pudesse sequer encostar na mochila Marcelo largou uma das malas, pegou a mochila e jogou sobre o ombro, para depois voltar á pegar a mala e poder levar tudo sozinho.

_ Ei!_ reclamei_ Marcelo isso não é justo. Deixa eu te ajudar. Vai, me dá a mochila que eu levo

_ Não Julia. É sério tá leve, se não estivesse eu te falava e te pedia pra voce me ajudar._ Marcelo argumenta e eu cruzo os braços_ Vai Ju, eu levo. Mas vem comigo que eu quero te contar como foi e o motivo por eu ter saido as pressas.

Ele me olhava com uma cara fofa e fazia biquinho. E como eu não sou hipócrita tenho que admitir, Marcelo é MUITO lindo. Ele é do tipo de cara que faz qualquer garota suspirar. E reparando na camisa regata branca que ele usava com uma bermuda jeans escura e um tenis vans, minha pulsação acelerou um pouco, não muito mas um pouco.
Depois que sai do meu transe, percebi que Marcelo ainda esperava pela minha resposta sobre ir com ele e eu mordi discretamente o meu lábio inferior. Não sei por que, mas algo me diz que não vai prestar se eu for com ele, mas...

_ Tá legal. Vamos lá_ respondi e ele abriu um sorriso lindo.

_ Vamos_ ele disse e começamos a caminhar em direçãos aos domitórios._ E então,o que eu perdi esse mes fora?_ e continua depois que viramos o corredor e eu o olho de relance já que estava ao seu lado.
O que voce poderia ter perdido esse mes fora Marcelo? Nada de mais não, só o que aconteceu foi que meu pai quase me arrasta de volta para o Canadá, descobri que aqui no colégio existe uma banda secreta que é formada por pessoas que eu e voce conhecemos muito bem, que a Laura é apaixonada pelo Tomás, que eu ando tendo sonhos sem cabimento com o Vicente, que a professora maluca e legal de música passou um maldito trabalho e que eu o tenho que fazer com o Vicente e que o diretor me mostrou um jardim incrivel... Fora isso, voce não perdeu nada_ Era o discurso que a minha mente ordenava todo instante para que eu dissesse, mas muitas coisas estavam em risco se eu contasse. Então, a única coisa que eu disse foi:

_ Nada de mais_ e em troca, recebi um olhar de peixe morto do garoto ao meu lado ( Marcelo, não Vicente. Não confundam só porque o Marcelo teve esse olhar só uma vez enquanto o ''Vicente'' tem direto).

_ Sério? Nada mesmo. Uau, isso é quase inacreditável. E eu pensando que tinha perdido muitos acontecimentos_ Disse Marcelo sorrindo para mim e eu sorri também.
''E como voce perdeu, e como''...

_Pois é. Mas me fala sobre voce e da sua ''inesperada viagem''. Para onde voce foi e por que?_ perguntei prendendo meu cabelo em um rabo de cavalo bagunçado.

_ Ahh é. Sobre isso, eu fui para o Paraná._ ele responde e quando eu abro minha boca para responder ele continua_ E por que, bom porque a minha familia teve que ir lá visitar o meu avo que faleceu_ Marcelo explica e sorri fraco.

Eu fico em silencio. É estranho isso. Não a morte do avo dele, mas sempre o que vem depois para as pessoas que continuam vivas, e especialmente para as pessoas que NÃO são da familia. Tipo, eu não sei se só é estranho para mim, mas eu nunca sei como agir nessas situações.
Não sei se devo abraçar a pessoa, se devo esperar ela desmoronar e começar á chorar na minha frente- o que eu torço para que não aconteça porque eu não sei o que fazer-, Não sei se devo falar palavras reconfortantes ou se simplesmente ficar quieta e observar a dor da pessoa.
Mas é isso, esse é um dos momentos em que eu me sinto tão estranha quanto algo de outro planeta. Talvez seja porque eu nunca estive nessa situação... Tirando a perda da minha mãe, mas eu não me lembro como me senti, eu era uma bebe.

_ Hum... eu não sei muito bem o que devo fazer mas, bom, voce deveria ficar feliz pelo seu avo Marcelo. Não pela morte dele, mas sim porque ele partiu dessa para melhor. Ele tá melhor agora._ digo e aperto o ombro de Marcelo que me olha por momentos e sorri para mim e ri.

_ Muito obrigado Juli. E é, acho que voce tem razão e tá certa, ele deve estar melhor.

_ É..._ o silencio se instala e continuamos caminhando com o barulho das pessoas á nossa volta mas ai chegamos no dormitório de Marcelo, e olha que tivemos que ter cuidado para nenhum funcionário do internato ver, já que ''Meninas são proibidas no dormitório Masculino e virce- versa''. Mas tá no horário de aula.

_ Pode entrar Juli_ Marcelo diz e me dá passagem e eu entro dentro do quarto dele.
Olho ao redor e percebo a diferença do ''quarto das meninas'' para esse.
Bom, as paredes daqui são pintadas com as cores azul e branco. Tem duas camas de solteiro no quarto, uma na ponta esquerda do quarto e a outra na direita. Também tem um guarda- roupa cinza ao fundo, uma escrivanhia e uma mesa de centro perto da janela e por último, uma porta no fundo do quarto que deve ser o banheiro.

_ Hum... Desculpa a bagunça._ Marcelo disse depois que entrou e largou as malas num canto. E sim, ele se referia a bagunça que eu não descrevi do quarto.

_ Hum- hum, tudo bem. Sei que voces, meninos são meio que bagunceiros_ eu disse apontando para as meias e algumas camisetas espalhadas pelo chão que Marcelo logo fez questão de recolher e jogar num cesto de roupa no canto.

_ Tá bom. Uma bagunceira reclamando de outro bagunceiro_ ele diz sorrindo e coloca as mãos no bolso da calça. Eu rio.

_ É, voce tem razão._ falo_ Mas ei, com quem voce divide o quarto mesmo?.

_ Ah, com o Léo_ ele responde e eu tento me lembrar_ Aquele que gozou com sua cara quando voce chegou aqui_ ele completa e eu me lembro daquele imbecil.

_ Ah tá.

E depois disso um silencio constrangedor permanceceu no quarto. Desviei minha atenção para a janela que dava vista para o pátio do internato.

_ Hein_ viro minha cabeça para Marcelo que me encarava_ Pode se sentar._ Ele diz e eu me sento na cama. E ele fica em pé.

_ Vai se sentar ou tá esperando um convite da rainha da Inglaterra?

_ Só voce mesmo Juli_ ele diz e eu concordo.
Logo Marcelo se senta ao meu lado e eu o encaro. Ele me encara de volta e fica me olhando por minutos e... nada acontece.

_ Ei, Marcelo. Ou, MARCELO!_ grito no ouvido dele e ele se assusta_ Atá voce ainda tá ai_ sorrio amarelo e ele solta uma risada sem graça.

_ Sim Juli. Mas o que eu queria te falar é que...

_ É que?_ o incentivo para terminar de falar.
De repente Marcelo parecia muito nervoso e indeciso se falava ou não. Franzi a testa em frustração. Uma coisa que eu destesto é que as pessoas fiquem enrolando e não me contem logo o que aconteceu.

_ Tá eu falo. Não espera, antes que eu fale eu só queria esclarecer que tudo que eu vou dizer aqui é verdade ok?_ eu assinto com a cabeça meio que assustada.

_ ''Então Juli, não sei se voce percebeu mas desde que voce tropeçou literalmente em mim, eu estou apaixonado por voce. Eu sei que é loucura porque na real somos apenas amigos mas eu tinha que te contar. Eu te amo Julia e quero só voce''_ Marcelo disse e eu fico sem saber o que falar, fazer ou responder.
Mas eu nem tive tempo para pensar, porque logo em seguida senti os lábios de Marcelo colidindo com os meus inesperadamente.

Eu fiquei olhando aquilo enquanto ele tentava me beijar e fiz o mais correto que achei que seria naquela hora. O empurrei e fiquei o encarando.
Não quis falar nada. Na verdade não estava zangada com ele, só um pouquinho.
Ele ficou me olhando decepcionado mas depois suspirou e cobriu a cara com as mãos.

_ Eu não devia ter feito isso.. Eu sou um idiota._ ele dizia com a voz abafada por conta das mãos na boca.
Fiquei olhando para ele. Eu não poderia deixá- lo se martirizando por uma coisa que nem eu dei tanta importancia assim.

_ Marcelo. Marcelo!_ o chamo e retiro delicadamente suas mãos do rosto e levanto seu rosto_ Me escuta por favor.
Não, voce NÃO é um idiota nem um burro. Não, voce só é um cara fofo e lindo que tá apaixonado por uma garota que não merece ter um cara como voce..

_ Não Juli eu- ele ia dizendo mas eu o cortei.

_ Calado e deixa eu terminar_ ele se cala_ Eu não mereço. De verdade, não mereço que voce esteja apaixonado por mim. Voce é um cara tão legal, o sonho de qualquer garota e se apaixonou por mim. Não sei o que voce viu em mim mas fico lisonjeada com isso.
Mas eu não quero magoar seus sentimentos e nem magoar os meus Marcelo. Eu.._ ele me corta e eu o ouço.

_ Voce apenas não sente o mesmo por mim Julia._ ele diz e eu o encaro. Afirmo com a cabeça e deixo escorrer uma lágrima. Marcelo é como um irmão para mim, ele é a pessoa que tem me dado um grande apoio desde que eu cheguei aqui.

_ Desculpa Marcelo._ peço e ele me acolhe em um abraço. Marcelo é forte e eu admiro isso. Além de ter os sentimentos destruidos por mim, ainda me acolhe.

_ Não precisa chorar Juli. Eu não vou deixar de ser seu amigo só por isso._ ele diz e eu o abraço mais forte.

_ Eu sou uma pessoa horrivel._ eu disse ainda abraçada a ele.

_ Não, voce não é. Olha Julia nós não podemos negar o que sentimos para o coração e voce também não pode fazer isso_ Marcelo disse e desvia o olhar. Eu corto o abraço e me sento reta, do que diabos ele está falando?

_ Do que voce tá falando Marcelo?_ pergunto e ele me fita. Seu olhar agora tinha uma pontinha de mágoa, mas logo deu lugar a seriedade.

_ Voce sabe, ou melhor senti sobre o que eu estou falando. E não me pergunte mais sobre isso Julia, voce só ainda não percebeu._ ele diz e o assuto morre.

Engulo aquelas palavras sem querer digeri- las. Não entendi nada do que ele disse. Eu, sentindo oque por quem?

Mas quando eu ia perguntar, o maldito sinal bate o que significa que é hora da aula e como eu já perdi um monte delas, é melhor eu ir.

_ Marcelo._ o chamo e ele me olha. Mas depois sorri e eu suspiro de alivio._ Vamos para a aula?

_ Vamos Juli_ ele responde e sim. Marcelo ainda é meu amigo. E não vai deixar de ser por nada desse mundo.

POV MARCELO

Eu abri meu coração. Falei tudo que eu senti para Juli e até a beijei. Mas não, ela não me ama e eu já deveria ter percebido isso.
Mas como não se apaixonar pela Julia? Tudo bem que ela tem personalidade dificil, mas ela é uma pessoa incrivel e que por mais que as pessoas a achem um '' problema'' na vida, eu não. Julia Lacoste nunca foi Julia Lacoste de verdade, pelo menos não perto de mim ou de outra pessoa.
Ela é fechada, e acho que ela só irá se abrir e se revelar no momento em que se sentir segura ou pelo menos no momento em que achar a pessoa que ela queira ao seu lado... Que não sou eu.
Que não sou eu, mas eu sei quem é.

A Juli pode ainda não ter percebido nada, mas ela está definitivamente APAIXONADA pelo Vicente. Sim, aquele cara sempre no meu caminho. Primeiro foi a Isabella, mas ela preferiu a mim.
Mas o negócio é que eu AMO A JULI, e ela ama o Vicente. Só que não sabe.
Mas enquanto ela não sabe, ele pior. Mas uma hora ele vai perceber e vai magoar a Juli, eu tenho certeza.
Mas por eu não querer que aconteça com a Juli o mesmo que aconteceu com a Isabella, é que eu a deixo seguir seu coração.
E obviamente, a escolha será o Vicente. Mas de uma coisa eu sei bem, eu sempre irei esperar pela Julia Lacoste.