Querida Serena,

Você, que passou a fazer parte dos momentos mais felizes da minha vida (ou talvez tenha passado a ser a causa deles), presenciou algo que quase me derrubou. Quase me fez cair do penhasco em direção ao abismo no qual você, tempos depois, caiu também.

Eu te pergunto, Serena, como alguém é capaz de abandonar a própria família? Sempre considerei família um laço muito estreito, ao qual você deve fidelidade até o fim, mas ele ignorou tudo isso. Algumas madeixas loiras e um par de olhos azuis foram o suficiente para que meu pai fechasse a porta atrás de si, sem olhar para trás. Sem olhar para sua esposa, com a qual tinha um casamento estável há 17 anos. Sem olhar para seus dois filhos, um deles de quatro anos. Dāvis nunca entendeu o porquê de não poder entregar seu cartão de dia dos pais.

Meu mundo desabou, Serena. Eu estava na ponta do precipício, com a escuridão do abismo me chamando, mas você estava lá. Mesmo com toda a distância, você estava lá. Foram suas palavras doces, seu olhar preocupado e a ternura em sua voz que me fizeram voltar. 

Estar perto não é físico.

Queria poder ter feito o mesmo por você. Queria ser para você como você era para mim. Me perdoe por não ter conseguido.

Com ternura,

Andris.