Querida Serena,

Sinto muito por estar te escrevendo tudo isso apenas agora, quando já é tarde demais. A pergunta que não quer calar: se você soubesse de tudo o que sinto, teria ficado? Teria se esforçado um pouco mais?

Sinto muito por ser tão egoísta também. A verdade é que, desde que você se foi, eu só consigo pensar em como, talvez, eu pudesse ter mudado as coisas.

Se eu tivesse escrito essa carta antes, teria mantido todos aqueles remédios longe de sua boca? Você me disse que adorava cartas, e como odiava o mundo por ter abandonado esse meio de comunicação tão singelo e romântico. Diga-me, Serena, teria esta carta força suficiente para mudar o que você fez?

Suponho que não. Mas não me custa sonhar, o que, aliás, já não é tanta novidade em nosso relacionamento - se é que posso chamar isso de relacionamento, já que só há uma parte dele.

Eu não queria estar chorando agora. Não queria estar molhando as letras dessa folha, e borrando a possibilidade de seu espírito conseguir ler isto - olhe o que estou dizendo, Serena, há um mês eu era ateu!

Você chegou para mudar completamente a minha vida, e o faz até depois de ter partido.

Com saudades,

Andris.