Hogwarts, aparentemente normal. Majestosa e maravilhosa, tanto quanto uma noite natalina onde crianças brincam fazendo bonecos de neve. Os ilustres portões já tinham sido abertos para iniciar mais um ano, aceitando também novos alunos. Notando que os primeiranistas não eram o foco do ano, e sim o torneio tribruxo que a escola sediaria no segundo semestre, Lílian atravessava mais uma vez a estrada que ligava a entrada da propriedade ao lago negro para finalmente rumar ao castelo. Bufava algumas coisas inaudíveis e obviamente eram reclamações por ter perdido tanto tempo na estação durante à tarde. O céu estava fosco, estranhamente sem brilho, e algumas pequenas estrelas apareciam em sua extremidade. Estava livre de sua bagagem, mas não de livros em seus braços. As madeixas ruivas deixavam a desejar enquanto abordavam as curvas dos ombros estreitos da mesma. Lilian segurava entre os dedos pálidos um exemplar de história da magia, onde se perdia instantaneamente nas palavras subentendidas. Seus passos eram rápidos o suficiente para chegar à tempo de embarcar nos pequenos barquinhos que asseguravam a chegada sã dos demais. Os lábios vermelhos aparentavam além de um brilho extremo, alguns machucados, devido à mania insana da ruiva de mordê-lo de minuto em minuto. Os barquinhos de madeira dividiam os alunos em classes: casa e ano. Já os novatos, aqueles que não foram selecionados, ficavam do lado esquerdo. — Vance, Emmeline. — Uma voz costumeira de um duende se pronunciou. Uma garota meio loira caminhou ao primeiro barquinho da Grifinória. — Black, Sirius. — O duende tossiu em meio ao sobrenome do rapaz. Lilian batia o pé esquerdo com uma certa frequência no gramado. Sinal que demonstrava toda a sua impaciência. — P... Pewert, Gideon. — Ele examinava o papel outra vez para ver se tinha chamado a pessoa certa. Gideon saía do meio da multidão vestida de preto, um rapaz muito bonito, alto e inteligente. Um grifano do sétimo ano, e monitor de sua casa no ano passado. — Gideon Prewet, Meladriel. Estou aqui há sete anos e o senhor ainda não gravou... por Merlin! — O moreno reclamou. — Me perdoe, Gideon, me perdoe. Mas vá, ande logo, ou perderá a vaga. — Implicou o Meladriel, o duende que no momento se arrastava com dificuldade devido à uma perna machucada. Prewet sem mais reclamações ou objetividades, caminhou até o barco ao lado do que estava Black e Vance. — McKinnon, Marlene. — Disse Meladriel sem cerimônias. A morena saiu também do meio de um grupinho de amigos da lufa-lufa e entrou no mesmo barco que os outros dois quintanistas. Sentou-se ao lado de Sirius fechando a cara e cruzando os braços. Muitos dizem que é amor, outros dizem que é ódio. Talvez uma mistura dos dois. — Evans, Lílian. — Finalmente lembraram-se de chamar a ruiva explosiva. Os passos da mesma agora se tornaram mais apressados e largos, saía de um local excluído dos demais, se estivesse perto de muita gente, seria impossível ler o exemplar tão amado. Passou perto de três garotos também de grifinória. Feições mais do que conhecidas. Entretanto, uma delas era repudiável. Potter. O tão famoso, senhor das garotas, James Potter. A ruiva revirou as íris em um ângulo de quase 360º. O garoto de óculos se afastou dos outros dois amigos para atrapalhar a vida de Lilian. Maldita hora em que fora chamada. — Ora, ora, olha quem está aqui, Evans... Meu lírio. — Ele falou deixando os cabelos caírem sobre os olhos. Lilian continuou seu caminho tentando ignorar a traquinagem do rapaz. — Não me ignore, Lily. — A ruiva se virou e seus cabelos caíram ferozmente em seus ombros. O exemplar de história da magia escapou de seus dedos, o que a fez se abaixar para pegar. — Me deixe em paz, Potter. — Ela reclamou dando as costas para James após recuperar o livro caído. Era outra tentativa em vão. — Eu falei para não me ignorar, Evans. — Potter riu irônico. — E se tentar fazer isso de novo, ao invés de parar e me escutar agora, farei de seu ano um inferno. O quinto e pior ano em Hogwarts. — Ele prometeu vendo toda a pressão imposta nas costas da mesma. Puxou-a pelo braço, meio que forçando-a à olhar em seus olhos. —O que é que você quer, James? — Perguntou cansada e por fim, suspendeu os olhos fitando-o intensamente. — Que você saia comigo, Lilian. — Respondeu de imediato. Como ele era persistente, não é? Cinco anos inteiros correndo atrás da mesma pessoa. Talvez porque Evans fosse a única garota de Hogwarts que resistia ao seu charme infindo. — Eu jamais sairei com um cara da sua laia. — Retrucou. Lilian deu um sorriso entreaberto assim que percebeu o efeito que causara em Potter. Satisfeita, desvencilhou-se dos braços do rapaz e caminhou até o barco ao qual pertencia, sentando no meio de Emmeline e Sirius. — Nossa, Lene, você já está aqui... Sirius, quanto tempo. Como foi de férias? — Indagou curiosa lançando olhares de Sirius para Marlene e vice-versa. — Oi para você também, Lily. — Reclamou Emmeline encolhida em um canto mas Lilian apenas sorriu para a garota. — Que cara é essa, Lily? Parece mais que viu um fantasma. — Black perguntou curvando os ombros e dando um tapa de leve na cabeça da ruiva. — Porque obviamente eu vi.— Falou emburrada. — Já teve um daqueles encontros maravilhosos com Potter, né danada? — Marlene disse rindo. Sempre com um ás na manga. — Cala a boca, Marlene. Você mal chegou e já está ai colada no Sirius. Ainda acha que isso se compara ao Potter me enchendo o saco?— A ruiva deu de ombros e se calou ao ouvir o nome de James ser chamado pelo duende. "James Potter", sua mente vociferava o tempo inteiro, como as batidas de um coração de dragão. O moreno de óculos rachado, entrou no barco também, sentando-se ao lado de Emmeline e passando o braço esquerdo em volta do corpo da mesma. As vezes lançava olhares inquietantes à Lilian que parecia ignorá-lo. Exatamente como ele havia pedido para que ela não fizesse. — O que houve com seu óculos, Pontas? — Sirius perguntou fixando os olhos na rachadura. Mas era óbvio, James tinha mesmo aquele dom de se meter onde não era chamado. — Problemas técnicos. — Respondeu James com um riso. Por fim, os barcos foram ficando lotados e finalmente rumavam ao castelo esplendoroso. Alguns professores ensinavam aos novatos o hino de Hogwarts, e outras embarcações acompanhavam cantando. Já no barco dos marotos, a conversa rolava solta e saltitante, férias, férias e mais férias. Provavelmente a maioria estava feliz em retornar, já o resto, infeliz pelo final das tão amadas semanas sem aula. As luzes do local já podiam ser vistas de longe. Lilian encarava Emmeline com uma expressão diferente, talvez de raiva, mas após isso, afundava novamente o rosto no livro. Marcava com o dedo indicador a frase que estava lendo, pois seu pensamento estava disperso o suficiente para confundi-la a todo instante.