Aprendendo a Amar escrita por Agridoce


Capítulo 23
Abaixando as Armas


Notas iniciais do capítulo

Genteeeee!
Bom, o capítulo está bem grandinho. Este me superei. ashuass
Fiz isto porque até a entrega do meu TCC (torçam por mim), neste mês ainda, não conseguirei voltar por aqui.
Mas aguardo o feedback de vocês, espero que continuem acompanhando.



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Capítulo:

Era quase 12h de sexta-feira e Rodrigo estava organizando as coisas para o almoço com sua mãe. Conversavam sobre amenidades enquanto o pai não chegava. O loiro sorriu ao comentar com a mãe do apreço que o outro tinha em relação ao trabalho, mesmo sendo o próprio chefe.

– Ele continua no mesmo ritmo. De segunda a sexta, no mesmo horário ele está lá naquele escritório. – a mãe se referia a peça, dentro das terras deles que o pai havia algum tempo estruturado para organizar os assuntos das plantações.

– Ele fica feliz em fazer isto – O mais novo disse sorrindo enquanto sentava no sofá e olhava pela centésima vez o celular.

Houve um momento de silêncio, onde o loiro percebeu que a mãe o analisava. Ele sempre teve uma ótima relação com os pais, seria utopia pensar que não iriam perceber que havia algo de errado. Ainda mais depois de sua chegada tempestiva na noite anterior.

– Mas e você, meu filho? Como anda a faculdade? Está feliz? Fiquei surpresa com tua chegada ontem.

A mãe sempre foi muito boa em fazer estas perguntas estratégicas. Mentir seria deixar ela mais preocupada. Mas não sabia o que dizer.

– Está tudo bem com o curso, mãe. Apenas às vezes preciso vir pra cá, pra lembrar de quem eu sou. As coisas acontecem tão rápidas por lá que parece que estou bem distante dessa calmaria, quando na verdade estou bem pertinho. E vocês nem me visitam tanto...

– Ah filho, já conversamos sobre isto. É só que... – o loiro mais uma vez sorriu. Os pais eram acostumados a viver ali. Eles preferem o silêncio, assim como ele, do que a correria urbana.

– Eu sei, mãe. Tudo bem. Eu mesmo, se pudesse, continuava morando aqui com vocês. – Rodrigo tentava não parecer tão nostálgico, mas claro que a mãe mais uma vez percebeu.

– Rodrigo, aconteceu alguma coisa? Tu estás parecendo tão quieto, mais que o normal.

– Não é nada não, mãe. Apenas problemas no estágio. – Ele não queria perturbar a mãe. Sabia que se contasse estar passando por um problema na vida pessoal ela iria querer ajudá-lo a resolver. E no momento precisava na verdade esquecer os últimos ocorridos.

– Tu achas que me enganas, guri? Mas tudo bem, quando tu te sentires mais a vontade, e quiseres conversar com a tua mãe aqui, podes falar, ok?

O loiro apenas assentiu e acabou dando um abraço na mãe. Em seguida o pai chegou e eles puderam compartilhar, como a tempos não o faziam, uma refeição. Rodrigo estava um pouco aéreo, e os pais perceberam, mas acabavam sempre o chamando para que desse palpite nas conversas que compartilhavam.

Na noite de domingo, ainda na casa dos pais, o loiro guardava algumas coisas na mochila. Sempre que vinha acrescentava algum objeto que havia deixado ali aos seus pertences. Gostava de ter coisas que o lembrasse de casa junto consigo. Foi então que a mãe bateu na porta.

– Está conseguindo guardar tudo direitinho? Se quiser posso fazer isto...

– Não precisa, mãe. Olha, já acabei.

Rodrigo disse sorrindo, mas a mãe percebia que apesar dele estar um pouco melhor do que quando chegou ali, ainda sim, estava reservado.

– Tu sabes que podes sempre me falar sobre tudo, não é? Estou te achando tão calado...será que meu filhote está apaixonado e não quer me contar?

Rodrigo no mesmo instante levantou os olhos para a mãe. Como elas conseguiam ler a nossa mente assim? Tentando responder esta pergunta internamente o loiro ficou em silêncio, o que foi entendido pela mãe como um sim

– Filho, depois da Mariana tu nunca mais namorou ninguém... mas parece que agora isto aconteceu. Não queres falar sobre isto?

– É complicado, mãe... – Rodrigo precisava falar sobre o que estava sentindo, mas nem ele mesmo conseguia saber o que era.

– Por quê? – A mãe se aproximou e tocou em seus cabelos, fazendo carinho.

– É alguém que me deixa confuso, eu nunca sei o que fazer, o que dizer. Parece que nunca é o suficiente... Muito diferente do relacionamento que tive com a Mariana.

Ao ouvir aquilo a mais vela sorriu. O filho estava amando!

– Filho, você acabou de descrever o sentimento de alguém que está amando. – E neste momento ela recebeu o olhar do filho, que parecia assustado ao ter ouvido isto. – Eu me sentia exatamente assim há 30 anos atrás, quando conheci seu pai. E ainda me sinto.

O loiro abriu um sorriso. O que a mãe dizia era tão assustador, mas ao mesmo tempo reconfortante. Acabou sorrindo. E a mãe seguiu falando.

– Quando tu namoravas a Mariana eu sentia que faltava esta mágica, que agora enxergo no teu olhar. Amar é não ter certeza nenhuma. E sempre estar em dúvida, mas ter a certeza daquilo que se quer. É se permitir! Não sei o que está acontecendo, mas não deixe esta chance escapar, filho. Conversar é sempre a melhor saída. Quando tu chegou aqui eu estranhei tua vinda repentina. E agora imagino que estavas tentando ter um tempo pra pensar. Espero que tenhas conseguido isto e que não deixes pra depois. Quero tanto te ver feliz, sabendo que tens alguém perto de ti que te ama... a gente fica aqui um pouco longe, sem puder estar sempre contigo. Fico feliz que tenhas encontrado alguém que seja pra você tão importante quanto tu és para nós. Pode ter certeza, falo pelo teu pai também.

Neste momento, como se tivesse ouvindo a conversa, o pai do loiro entrou no quarto.

– Posso saber o que tanto vocês dois conversam por aqui? Me deixaram na sala sozinho com aquele controle da televisão. Nunca consigo achar os canais certos.

Rodrigo e a sua mãe acabaram rindo, e o loiro viu nos olhos da mãe aquilo que ela havia dito. O amor.

– Nada não, pai. A mãe que estava aqui me aconselhado.

– É, nosso filho esta apaixonado!

– Mãe...!

– É mesmo, filho? Quando vamos conhecer? Podia ter trazido pra passar estes dias com a gente, sua mãe ia adorar pelo jeito. Ela vive dizendo que tu ficas tão sozinho por lá.

O loiro sorriu mais uma vez. Os seus pais eram os melhores do mundo!

– Outra hora eu trago... na verdade a gente ainda não está namorando. – Rodrigo falava isto e seu coração já disparava. Despois de 3 dias já estava com muita saudade do moreno, que não havia ligado nenhuma vez. Mesmo tendo dito que queria ter um tempo, não imaginava que ele obedeceria.

– Os jovens e estes relacionamentos confusos. Como assim não sabe se está namorando? – O pai de Rodrigo era sempre muito direto, e simples.

– É complicado... – o loiro não pensava muito sobre o que seus pais diriam quando soubessem que na verdade estava falando de outro homem. Ainda não se sentia preparado em comentar isto, mas sabia que eles o apoiariam. Ao menos imaginava que sim. – Na verdade nem sei o que vocês achariam se conhecessem agora...

– Filho, se te fizer feliz, como percebo que sim, receberemos de braços aberto. Seja quem for! – Era a mãe de Rodrigo, mais uma vez, acalentando seus medos.

Neste momento o loiro não resistiu e deu um abraço duplo nos pais. Os três sempre tiveram apenas um ao outro e isto havia feito com que conversassem sobre tudo. Quando namorava Mariana os pais viviam conversando com ele sobre os dois. Nunca viu problema nisto, achava até bom.

Após terminarem de arrumar ali foram pra sala, assistiram um pouco de TV e depois foram dormir. Na manhã seguinte já era segunda-feira e o loiro acordaria cedo. Até a cidade eram 2h de estrada e precisava chegar na ora no estágio. Talvez fosse direto.

Enquanto se aprontava pra dormir, pensava mais uma vez no moreno. Sair da casa de Lucas, sabendo que ele estava mal pelo que havia ocorrido, foi mais doloroso do que ele imaginou. Sabia que sentia algo especial pelo moreno, mas o sentimento que o atravessou em pensar deixá-lo nestes dias foi mais forte que o esperado. Mesmo sabendo que estava fazendo aquilo que era certo, ao menos naquele momento. Esperava apenas que tudo estivesse bem com o outro, que estranhamente ainda não havia entrado em contato.

****

Diferente de Rodrigo, os últimos 3 dias não foram muito fáceis para certo moreno. Já era sábado e Lucas abria os olhos apenas pra percebe que o frio que sentia estava combinando com o dia que estava nublado. Olhando o relógio percebeu que era quase 8h da manhã, mas não conseguia continuar deitado. As duas últimas noites haviam sido um inferno. Parecia até pior que as outras que passou. Como já era de se esperar, Rodrigo protagonizava todos seus pesadelos, a cena dele fechando a porta há dois dias parecia se repetir em sua cabeça. Assim que ele saiu pela porta pensou em ir atrás, ou fazer alguma bobagem. Mas pensando melhor, resolveu que seria mais maduro e esperaria ele voltar na próxima semana para eles conversarem. Estava até mesmo evitando telefonar para ele. Mas isto não era nada fácil. A todo o instante tentava imaginar o que o mais novo estava fazendo. Ainda mais quando lembrava que a primeira namorada do loiro devia provavelmente estar por perto. Perto das 10h ouviu baterem na porta. Já sabia quem era.

– Oi, Solange. Desculpa, esqueci de avisar. Não precisa fazer limpeza esta semana, eu dou um jeito por aqui. – O moreno cogitou em não abrir a porta, mas sabia que não adiantaria, ela tinha a chave.

Com seu jeito costumeiro, sem pedir licença, ela entrou em sua casa colocando um prato em cima do balcão. Com certeza trouxe mais um de seus pratos especiais.

– Não mesmo, tu parece estar acabado. Está tudo bem? Estou te achando pálido, acho melhor voltar pra cama.

– Estou bem sim. Por favor, eu preciso ficar sozinho. Durante a semana a gente combina um dia pra você vir aqui, pode ser?

Ele voltou abrir a porta, não se importando em ser indelicado com ela. Não adiantava, quando estava deste jeito não conseguia ser uma boa pessoa. Não que em algum momento ele realmente fosse...

Ignorando o que ele disse ela foi até a estante de remédios, procurou algum e lhe deu. Já tinha visto que ele tinha todo o tipo em casa. Uma vez questionado, Lucas respondeu que não gostava de sentir dor.

– Toma isto e toma um banho – se aproximando tocou sua testa. – Mas tu estás ardendo em febre! Vai agora, vou fazer algo pra ti comer.

Ouvindo Solange falar assim Lucas automaticamente lembrou da avó e do quanto ela fazia falta.

Desde sempre algo que ainda não conseguia deixar de fazer era se punir quando sabia estar errado. Nestes dois dias não havia nem mesmo colocado o dedo pra fora da janela. As horas passavam devagar enquanto ele ficava dentro do quarto na maioria das vezes. Sentia uma saudade tremenda do loiro e não conseguia deixar de pensar que poderiam estar juntos, não fosse o papel ridículo que havia feito na noite da festa. Sabia que estava errado, não deveria ter bebido e muito menos duvidado daquilo que Rodrigo tinha lhe dito. Tinha consciência de que o mais novo estava se esforçando para fazer com que desse certo a relação de ambos, ele que era o problema Pareceu e foi injusto duvidar dele, assim como, deixá-lo ir sozinho para casa, àquela hora.

Cansado de se blindar, o moreno foi em direção ao banheiro, tomou um banho, o remédio e voltou a deitar. Acabou pegando no sono enquanto Solange aparecia por vezes para ver como estava ou para mandar ele ir ao médico. Num destes momentos ela lhe ofereceu um pouco de sopa, que ele não conseguiu manter no estômago, indo até o banheiro vomitar. Provavelmente tinha pego uma virose.

Na tarde de domingo ele já conseguiu se alimentar melhor, a dor de cabeça havia melhorado um pouco, mas ainda não conseguia permanecer por muito tempo acordado. Até mesmo por causa dos remédios. Era até bom, assim não tinha tempo de lembrar de certo loiro que continuava fazendo falta ali ao seu lado.

***

Rodrigo chegou no campus por volta das 18h30 na segunda-feira. Naquele dia havia ficado à tarde também no estágio. Finalmente Daniel havia lhe dado a chance que tanto esperava, começaria a fotografar também. Então ficou acompanhando o trabalho dos colegas para ver como era.

Havia chegado da casa dos pais naquela manhã mesmo, tendo dado tempo de ir em casa apenas após sair do estágio, para deixar suas coisas e ir pra aula. Neste dia eles tinham trabalho supervisionado pelo moreno na aula de fotojornalismo, e sabia que ele não deixava ninguém chegar após o horário. Durante o almoço, que foi sozinho já que Clarissa não havia ido trabalhar naquele dia, enviou msg para Lucas através do aplicativo, mas percebeu que ela não chegou. Telefonou para o celular dele, mas dizia estar desligado. Como não teria tempo de ir até a casa do moreno, esperou até à noite. Mas começou a sentir uma sensação estranha ao perceber que os colegas estavam em frente a porta da sala, que ainda estava fechada. Estranho, quando Lucas sempre chegava super cedo para organizar todo o material.

– Imagina se ele não vem? Tomara, não estudei quase nada das funcionalidades da máquina. Acho que não conseguiria fazer a atividade.

Sim, sempre a Maiara.

– E aí, tudo bem? Milagre a sala estar fechada... – disse o loiro, conferindo e confirmando que não tinha recebido resposta alguma no celular.

– Pois é, passamos no colegiado e a Cláudia disse que Lucas não avisou nada. Temos que esperar então. Até às 19h15, se ele não chegar, temos o direito de ir embora. – disse um dos colegas sorrindo, enquanto o loiro ficava mais preocupado. Relutava em telefonar para o telefone fixo dele, esperaria.

Quando foi perto das 19h30 a turma começou a se dispersar feliz por poder voltar e fazer qualquer outra coisa que não ter aula. Enquanto isto, o loiro seguiu sem pestanejar até a casa do moreno. Após a conversa com seus pais não tinha dúvida. Precisava fazer com que aquilo desse certo. E faria.

Era a 5° vez que Rodrigo batia na porta sem receber resposta alguma. Ia tocar mais uma vez quando viu Solange sair de sua casa.

– Oi, é você. Como vai? O teimoso do Lucas não quer abrir a porta?

Rodrigo sorriu por um momento. A senhora era invasiva, mas percebia-se que tinha um bom coração.

– Sim, estou batendo faz um tempo, mas ele não abre. A senhora sabe se aconteceu alguma coisa com ele? Era pra gente ter aula hoje, mas ele não foi...

– Hum, então tu és aluno daquele teimoso? Coitado...

O loiro mais uma vez sorriu, mas pareceu ansioso e Solange percebeu na mesma hora. Tinha estranhado ele não ter aparecido antes, os dois pareciam tão próximos nas últimas semanas.

– Bom, vou falar aqui porque se ele me ver falando é capaz de brigar comigo. Eu não me importo, mas vou evitar. – Ela disse isto pegando sua chave. – Vou abrir a porta pra ti, porque sei que ele não vai vir. O Lucas passou o fim de semana inteiro doente. Eu cuidei até onde consegui, já que é muito difícil alcança-lo, tu deves saber.

– Como assim, ele está bem agora? – o coração de Rodrigo já batia descompassado. E arrependido.

– Sim, a febre esta controlada, ele está bem melhor, apesar de ainda passar grande parte do tempo deitado. Pior que criança aquela lá.

Dizendo isto ela acabou de abrir a porta para o loiro.

– Já que tu chegou não vou ir lá. Podes conferir a febre e lembrá-lo de tomar o remédio daqui a pouco? Ele parece não querer melhorar, esquece os remédios a todo momento.

Rodrigo entrava no apartamento lembrando do rosto do moreno no último dia que se viram. Ele já parecia não estar muito bem. E ele ainda o deixou estes dias todos sozinho! Se não fosse a Solange...

– Ok, eu lembro sim. E não precisa se preocupar... eu vou ficar aqui com ele essa noite. Obrigado.

A senhora o olhou com o olhar compreensivo, fechou a porta e foi pra casa.

Ainda era inverso, escurecia muito rápido. As luzes estavam todas acesas, já que Lucas não ficava no escuro à noite. Rodrigo caminhava até o quarto do moreno, o encontrando na cama, encolhido sob as cobertas. Se aproximando tocou sua testa, que não parecia tão quente assim. Ficou fazendo isto durante uns 5 min., com o coração aos pulos, como se tivesse medo de ser pego. Foi quando o moreno abriu os olhos de forma inesperada, como se tivesse tido algum sonho ruim. Claro, os pesadelos. Havia esquecido disto.

E neste momento se sentiu o mais idiota do mundo. Não era pra ter ficado afastado tanto tempo, não mesmo.

– Rodrigo, o que... ele dizia isto coçando os olhos. Foi quando pareceu perceber algo e olhou o relógio. – Droga, eu perdi a hora! Eu tinha que ir dar aula pra vocês hoje. Eu vou ir, acho que ainda dá tempo...

Vendo ele levantar, Rodrigo com alegria percebeu que, apesar de parecer debilitado, ele parecia estar melhor.

– Se tu fores pra lá agora apenas vai perder a viagem. A turma já foi dispensada.

Neste momento Lucas pareceu se tocar do que ocorria e ficou parado, olhando o loiro com um olhar questionador. Percebendo isto o mais novo, que não conseguia tirar os olhos dele, resolveu responder aquilo que ele perguntava sem palavras.

– Eu te liguei, tu não me atendeu. Cheguei no campus, tu não estavas... resolvi aparecer pra ver o que aconteceu. – Não conseguindo se conter, e sem pensar se a pergunta pareceria insana completou. – Por que não me ligou durante o fim de semana?

Lucas olhava o loiro com o olhar triste e costumeiro.

– Achei que fosse o que tu querias...

Ouvir aquilo doeu no peito de Rodrigo, que percebia, o moreno já massageava como costumeiramente o seu.

– Me desculpa? – Rodrigo levantava da cama onde estava sentado enquanto se aproximava mais um pouco. Sentia o Lucas distante – Eu fui infantil. Não deveria ter fugido assim, mesmo não tendo gostado do que aconteceu naquela noite. Deveria ter ficado pra conversar.

Lucas não sabia o que responder. O mais novo não tinha nada que se preocupar com isto. Ele havia agido errado. Ele era o culpado.

– A Solange me disse que tu estavas doente. Está se sentindo melhor? – Rodrigo se aproximava devagar. Lucas tinha o olhar de um menino com medo. Droga, tinha agido sem pensar. A confiança que tinha conquistado parecia ter evaporado.

Apesar de tê-lo acusado do contrário, ele sabia que Lucas havia baixado a guarda nos últimos dias. Mas agora... parecia ter erguido o muro novamente.

O mais velho continuava calado e Rodrigo pensava numa forma de fazê-lo falar alguma coisa. Mas resolveu esperar. Passados alguns minutos de silêncio, onde Lucas olhava para os lados, piscava, mas não saia do lugar, Rodrigo ouviu, mesmo que num tom baixo, o moreno dizer.

– Achei que não te veria mais aqui.

Esta foi a deixa que o loiro estava esperando. Ainda que devagar se aproximou mais um pouco do moreno.

– Eu nunca quis tanto estar aqui contigo. Juro.

– Não precisa jurar, eu confio em ti. Desculpa se às vezes parece que não...

– Shiii, tudo bem. Quem mandou a gente ir atrás das ideias da Maiara? Éramos pra ter vindo pra casa comer pizza aquele dia, teria sido melhor.

Ambos ficaram se olhando mais uma vez, mas agora com o olhar de quem estava com saudade. E neste caso era muita. O loiro se aproximou, pois sabia que o moreno ainda era travado quanto a tomar uma iniciativa com ele. Isto era algo a conquistar ainda.

– A Solange me disse que era pra ti lembrar do remédio. Que horas que é?

– Sempre intrometida – o moreno acabou sorrindo. – Acho que é agora. Ela anotou em algum lugar, apesar de sempre aparecer aqui na hora dos remédios.

Rodrigo riu também. E seu coração mais uma vez pulou. Os dias passados com os pais, apesar de ter ficado longe de Lucas, foram muito bons. Conseguia enxergar agora de fato o que sentia pelo outro.

Percebeu o moreno indo até a cômoda buscar o remédio. Faltava ainda 10 minutos.

– Ainda falta alguns minutos. Eu vou ir ali no banheiro, já voltou.

– Estás sentindo alguma coisa? Se tiver me fala, a gente pode ir consultar, tu não foi no médico?

– Você e a Solange querendo me empurrar pro hospital. Não precisa, vou apenas tomar um banho pra melhorar este visual, estou parecendo tão péssimo como me sinto?

O loiro sorriu com a pergunta.

– Pra mim parece bonito.

Percebeu que Lucas ficou envergonhado e não disse nada, indo tomar banho com um sorriso.

Enquanto isto, Rodrigo procurava o que tinha para comer, e percebeu que Solange encheu a geladeira dele de frutas, e tinha uma sopa também.

Aproveitou para arrumar o quarto do moreno, trocando a roupa de cama e arejando a peça. Apesar do frio que fazia, deixou a janela um pouco aberta.

Após se arrumar Lucas foi pra sala, sentindo o cheiro da sopa que Solange tentava todos os dias lhe empurrar.

– Essa sopa novamente?

– Tu precisas te alimentar, Lucas. Senta aqui, toma o remédio e depois tentar comer um pouquinho.

O moreno resolveu não questioná-lo. Amava ter Rodrigo assim, apenas para ele, cuidando dele. Parecia egoísta, ele sabia, mas não conseguia evitar. Ainda mais depois destes dias que passou achando que ele não voltaria. Nem acreditava que voltava a compartilhar momentos assim com ele.

– E como foi na casa dos seus pais? Eles devem ter ficado felizes com a tua visita.

Terminando de ouvir a pergunta e servindo ambos, Rodrigo sentou-se ao lado do moreno.

– Sim, eles ficaram. Hum, essa sopa está muito boa. Come, Lucas. – Rodrigo percebia agora o quanto gostava de estar ali cuidando dele. E isto o fez lembrar da relação dos pais. – Eles continuam os mesmos. Toda a vez que eu volto é uma alegria. A gente se dá super bem. Nunca dei trabalho. – Concluiu Rodrigo.

Após observar Lucas fazendo careta ao comer a sopa, nem parecia o senhor de 3oetantos anos que era, Rodrigo não resistiu e começou a fazer carinho no moreno. Passava as mãos em seu cabelo que estava molhado e muito bonito. Sentia necessidade de tocá-lo e mostrar através do gesto o quanto o queria bem.

– Aliás, acho que eles gostariam muito de te conhecer.

– Pois eu duvido...

– Exagerado...

Dizendo isto o mais novo se levantou, lavou a louça, mania de organizar, e foi sentar no sofá com o moreno. Deitou a cabeça em seu peito, era sempre muito confortável por ele ser um pouco maior que ele, enquanto lhe fazia carinho.

– Rodrigo?

O loiro levantou a cabeça para olhá-lo. E percebeu que Lucas estava envergonhado.

– Eu confio em ti, eu juro. Só é difícil pra mim dividir alguém que eu esperei tanto na vida, mesmo sem saber. Você é muito melhor que aquilo que eu esperava. Pensar em te perder dói tanto... Além de me fazer ficar feito um adolescente que morre de ciúmes por nada. Desculpa por tudo que aconteceu na festa. E por eu ter bebido. Prometo que não farei mais isto.

Rodrigo, sendo mais ousado do que havia sido até então, sentou-se no colo do outro e o abraçou muito forte. Até não conseguir resistir e o beijar. As sensações que sentia eram conflitantes. Ansiedade, medo, a mais extrema alegria... tudo isto concentrado em apenas uma pessoa, Lucas.

– Tudo bem. Esta não foi a primeira nem a última vez que a gente brigou, não é verdade? Nem todos os caminhos são fáceis. Mas da próxima vez vamos escolher uma festa que a Maiara não esteja presente? Ela é muito chata! E se for pra beber, que seja suco de laranja. Ou se for algo mais forte, aqui em casa. Daí e lido com tua bebedeira sozinha, sem precisar ter que me importar com teus ataques de ciúmes ativados.

Lucas apertava forte o loiro em seus braços. O sentimento de posse era inegável naquele canceriano. E sentir Rodrigo nos seus braços era reconfortante demais.

– Ok, eu concordo. Se eu pudesse expulsava a Maiara de vez das minhas aulas. Mas como não é possível...

– Bobo. Ela simpatiza contigo.

– Aposto que ela simpatiza mais é contigo, isto sim. – O moreno dizia isto beijando o pescoço do loiro.

– Ah, mas isto é fácil. Sou muito mais legal.

O mais novo sorria, enquanto o moreno ficou relativamente sério e tímido de uma hora pra outra.

– Rodrigo... Dorme aqui comigo?

Mais sorrisos...

– E quem te falou que eu ia ir embora, hein? – Rodrigo disse isto roubando mais um beijo. – Mas tu já queres deitar? São apenas 9h30. Nessa hora tu ainda estaria dando aula.

– Pois é, ando com muito sono. E não consegui dormir nestes últimos dias. – No mesmo instante ele voltou a abraçar o loiro de forma apertada.

– Os pesadelos? – O moreno apenas acenou afirmativamente. E já foi se antecipando – Por favor, eu não quero falar sobre isto.

– Tá, calma! Está tudo bem, a gente não fala! – disse o loiro com olhar preocupado. Mas resolveu completar – Mas tu sabes que eu estou aqui, não é? Mesmo após ter me afastado aquele dia, eu estou aqui. E não vou sair mais, não sem me explicar melhor. Tá?

Lucas apenas concordou enquanto recebia um carinho na cabeça. Ambos foram deitar, Rodrigo tomou banho enquanto Lucas lutava contra os olhos pra esperá-lo acordado. Após ele deitar com um pijama emprestado seu, e deixar a luz do abajur acesa como sempre, o mais novo deitou de frente pra ele. Os dois se olhavam enquanto Lucas resistia em fechar os olhos. Não conseguiria aguentar por muito mais tempo, os remédios que tomava pra febre, mais aqueles pra conseguir dormir o deixavam com muito sono. Mas antes de fechá-lo pode ouvir o loiro sussurrar pertinho de si aquilo que nenhum dos dois havia conseguido dizer até aquele dia, mas esperavam ser dito.

– Lucas, quer namorar comigo?


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Notas finais do capítulo

Até o próximo.
Deixe sua opinião, é muito importante.
bejo,
Agridoce.