Her Puppet escrita por Miss Vanderwaal


Capítulo 4
É você mesmo?


Notas iniciais do capítulo

https://www.youtube.com/watch?v=QPct8O4m8GU

A cena que inspirou o capítulo começa a partir dos 14:43, mas peguei um pouco da "vibe" dos 19:44. Essas duas cenas (sem contar, é claro, a do primeiro beijo e a do episódio 100, porque né) são as mais maravilhosas da história de Emison, pra mim. São tão intensas e tão bem feitas que... sei lá! Não tenho palavras pra descrever o que eu sinto e o que eu capto delas quando assisto! Bom, e o que eu consigo captar eu transcrevi aqui :D



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Desde que Maya (minha atual vizinha), a garota que ficara com a antiga casa de Alison, fizera a “doação de garagem” com o que restara das coisas dela, eu ficara com o diário.

Nunca conseguiria imaginar Alison escrevendo em um diário. Pensava eu que diários eram uma espécie de auxílio que psicólogos recomendavam à crianças cujos pais acabaram de se divorciar, isto é, funcionava como uma válvula de escape, onde você poderia colocar para fora todas as suas inseguranças. Até antão, não sabia que Ali estava sujeita a sofrer com inseguranças.

Mantinha-o escondido dentro da fronha de um dos travesseiros, tomando absoluto cuidado para que minha mãe não o visse quando fosse trocar os lençóis, isto cronologicamente uma vez a cada semana.

À noite, me enfiei debaixo das cobertas com a cadernetinha em mãos. Pela, talvez, quadragésima vez, reli os pensamentos de Ali a respeito do beijo na biblioteca.

(...) foi confortável e familiar. Ela fez tudo parecer uma demonstração de afeto natural, porém foi preciso coragem. Eu me orgulho dela. E se eu não tivesse deixado ela me beijar, talvez ela nunca fosse ser capaz de admitir para si mesma o que ela realmente é.

Aquelas linhas eram, talvez, a coisa mais linda que Ali já dissera (ainda que indiretamente) para mim. E também a mais dura.

Se eu não tivesse deixado ela me beijar...

Senti as pálpebras pesarem. Soltei o diário na cama, sem a lembrança de tê-lo fechado. Não tinha a lembrança de ter fechado também os olhos.

Acordei sem razão aparente por volta da uma da manhã. Me sentia cansada, porém despertei ainda com os olhos fechados. Sentia... alguém a me observar. Virei-me na direção da janela, que estava aberta (tampouco me lembrava de tê-la aberto) e, em seguida, foi como se me tivessem sugado o oxigênio dos pulmões. Ainda que estivesse congelada por dentro, consegui recuar um pouco no colchão.

– Alison? – meus lábios faziam o contorno para o nome dela porém não saía de mim voz alguma.

– Emily – disse ela, sorrindo, como se entendesse o quão perplexa eu estava. Parecia aliviada em me ver. – Minha doce Emily.

Eu a encarava, incapaz de reagir. Meus músculos não obedeciam aos meus comandos cerebrais.

– É você mesmo? – consegui balbuciar, com grande quantidade de ar ainda fora de mim.

Ela não replicou de imediato. Estava ao pé da minha cama e caminhiou cautelosamente até ela antes de sentar. Olhou para o colo, em seguida para mim.

– Você não faz ideia do quanto eu senti sua falta.

– Minha falta? – consegui recuperar um tom de voz próximo ao natural – Eu estive aqui o tempo todo. Você é que foi embora.

– Por favor, não fique brava.

Um pouco tarde demais para pedir isso, não acha?, pensei.

– Você escolheu isso - eu disse, como se soubesse de uma verdade que Alison ainda não havia confessado - Para você, para nós. Por quê? Seria tão mais fácil voltar para casa. Parar de fugir, de mentir.

– Eu sei que você está chateada.

Decepcionada, a corrigi mentalmente.

– Também sei que você foi a quem eu mais magoei. – ela continuou, os olhos úmidos – Mas eu quero explicar.

– Não pode mais.

– Posso. Eu preciso. Eu devo isso a você. – pude perceber que ela sentiu-se constrangida depois de tentar segurar minha mão e ver eu não permitir.

Olhou para o colo mais uma vez e em seguida para mim

– Eu passei por tanta coisa nesses últimos tempos, você não é capaz de imaginar - continuou, num sussurro, como se ela falasse aquilo para si mesma.

– Tem razão! – gritei – Eu não imagino! E você não imagina por tudo o que nós passamos!

O olhar baixo de Ali mostrava que ela estava no mínimo arrependida.

– Você fez de nossas vidas um inferno! - continuei, no mesmo tom de voz - Nós paramos de nos falar por sua causa, paramos de nos conhecer por sua causa! Você nos destruiu! Nos fez pensar que você estivesse morta!– meus olhos brilhavam com as lágrimas que cismavam em não descer. Agora, eu olhava para minhas mãos que estavam apoiadas no colchão - Isso acabou comigo, Alison.

Fitei-a novamente. Ela parecia não saber o que responder, estava pálida e envergonhada.

– Não estou morta - ela disse, a voz fraca - Não está feliz por eu não estar?

Ela realmente parecia preocupada com a possibilidade de eu dizer que não. A verdade era que eu precisava de um tempo para pensar no que responder. Alison estando viva... queria dizer que tudo voltaria a ser como era antes? Tudo?

Vendo que eu não lhe dava resposta, Ali desviou o olhar. Pegou o diário. Sorriu, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha.

– Lembro do dia que escrevi isto – tomou alguns segundos para passar os olhos pelas linhas. Fechou o diário e colocou-o onde o havia encontrado – Aposto que você já se perguntou qual das duas era real: essa que está de frente para você agora ou... a que escrevera aquilo.

Sim, ainda me pergunto, para ser sincera, pensei.

– Deus! Eu fui capaz de mentir sobre meus sentimentos em relação a você até para um diário - ela sorriu, como se aquilo fosse irônico demais para se acreditar - Acho que eu me considerava esperta, passando uma chave por estas páginas. Mas eles tiraram tudo de mim assim mesmo, não é?

Deixei o orgulho de lado e mostrei preocupação finalmente.

– “Eles” quem, Ali? Quem tirou tudo de você?

– Eu não sei – ela levantou o olhar, lágrimas escorriam agora por seu rosto – Eu só quero que esse pesadelo acabe. Eu quero voltar para casa. Eu... quero voltar para você. Você não faz ideia do quanto eu me arrependo de ter te magoado. Acredite em mim, Emily, se eu tivesse outra chance as coisas seriam muito diferentes.

Havia um certo desespero naquele choro, algo que me desesperava também, e pela primeira vez em muito tempo, eu enxergava uma completa transparência naqueles olhos azuis.

– Você não precisa me provar nada, está bem? – Eu disse, gentilmente, agora mais próxima a ela, secando com os dedos algumas de suas lágrimas – Eu sei disso agora.

Beijei-a demoradamente na testa, escutando-a respirar praticamente o mesmo ar que eu.

– Me abrace – pedi, quase que em uma prece silenciosa, ainda com os lábios em sua testa, sem esperanças de que ela fosse realmente me ouvir - Por favor, me abrace. Me deixe te tocar.

Alison enganchou os braços ao meu redor. Fiz o mesmo, e levei alguns bons segundos para acreditar que aquilo estivesse mesmo acontecendo.

– Não me deixe de novo, Ali, por favor – eu agora soluçava – Eu preciso de você, sempre precisei.

Ali não respondia, apenas me apertava mais contra si. Eu acariciava suas costas. Estávamos tão coladas que eu não sabia onde meu corpo terminava e o dela começava.

A energia que aquele momento me proporcionou foi sem tamanho. Me eletrizou dos pés à cabeça, e pela primeira vez na vida, eu soube o que era se sentir completa.


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