O último dia no castelo havia amanhecido agitado, ninguém tinha dormido aquela noite, todos estavam preocupados demais para ver o que ocorreria após o sol aparecer no céu.

Gordon olhava com atenção o campo vazio em frente ao castelo, onde haviam acontecido as batalhas anteriores. Ao horizonte, observamos um cavalo correndo com muita velocidade e se aproximando da fortaleza. O homem fez sinal pra que o animal parasse com a corrida e sua posição era próxima e ao mesmo tempo longe do portão. Próxima o suficiente para que ouvíssemos sua voz e longe para que nenhuma flecha ou lança o alcançasse.

Meu amado ao ver a pessoa se aproximar, encaminhou-se para a plataforma acima do portão, puxando-me pela sua mão. O homem ao ver-nos pronunciou palavras que não consegui compreender, mas Gordon as ouviu perfeitamente, pois respondeu gritando:

- Deixe o meu povo ir... E depois eu e minha mulher sairemos do castelo.

Desta vez, pude ouvir a resposta do soldado:

- O senhor e sua senhora primeiramente junto com o seu povo a espreita.

Gordon discorda com uma careta, mas não protesta. Pois ele não estava em uma posição de negociação.

O moreno se vira e ficamos frente a frente, sem palavras estampa um sorriso no rosto e beija minha testa como sempre faz. Novamente, ele se vira agora ficando ao meu lado. Ele estende sua mão direita para que eu apoiasse ao descer as escadas, sorrio pra ele, retribuindo o gesto anterior. Mesmo assim eu sabia que aquele era o pior dia de nossas vidas. Naquele momento, esqueço totalmente a notícia que tenho pra dá-lo.

Atravessamos o portão de mãos dadas e fomos em direção ao soldado. A ordem para os demais era que contassem 100 passos nossos e assim saíssem da fortaleza e nos acompanhariam nossa caminhada, rumo a derrota.

Após os 98 passos que demos, olhei para trás esperando que eles saíssem do castelo assim que completássemos os dois passos que restavam. Mas ao progredimos com os passos que restavam, Gordon parou e não entendi o seu movimento, apenas fixei seu olhos e fiz um movimento de cabeça para que continuássemos, pois faltava uma grande distância a ser percorrida.

Olhei para trás novamente e as pessoas já haviam atravessado o portão e caminhavam em nossa direção. E assim a distancia entre nós era encurtada.

Meu marido continuava me encarando sem desviar os olhos um minuto.

- Elaine... – ele pronuncia.

Continuo esperando que ele volte a andar até o inimigo, mas em vez disso ele me segura pelas duas mãos e se ajoelha e todos os outros que vinham em nossa direção param com a caminhada. Então, ele diz com lágrimas nos olhos:

- Eu não queria esse futuro para nosso filho.

Estampo uma expressão assustada no rosto. Aliás, como ele sabia que eu estava grávida?

- Como...? – perguntei, sem conseguir pronunciar mais palavras.

- É claro que eu sabia que minha mulher está grávida – diz ele com um sorriso – A luz que seu rosto transmite mesmo com toda essa guerra. Esse... Esse foi o sinal!

Pedi carinhosamente para que se levantar. Então, beijo-o como se aquele momento fosse o último de nossas vidas. Eu amava e eu sabia que o sentimento era recíproco.

Assim continuamos nossa caminhada, junto com os demais. A caminhada para um futuro incerto.

FIM