Kaos - A Lenda de Asay escrita por PaulaRodrigues


Capítulo 11
"Acidentes ocorrem o tempo todo em alto mar"


Notas iniciais do capítulo

Kaos está com grandes dificuldades para dormir e decide passear pelo navio e acaba descobrindo o que aconteceu no Embaixador durante a sua ausência.



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— Kaos! Por favor, não me deixe aqui! Por favor!

Eu não parava de ouvir os gritos de desespero da minha mãe, aquele grito sofrido, implorando por salvação, aqueles gritos ecoavam na minha mente. O pior deles era aquele que ela fez quando o dragão esmagou a cabeça dela. O rugido do dragão ainda fazia meus tímpanos latejarem e eu lembrava do bafo quente dele em minha pele e principalmente do seu olhar mortal e seus milhões de dentes afiados. A ferida feita por ele começando a pulsar e doer ao lembrar de quando ele pegou minha perna com suas enormes garras. E o pior de todos eles, eu não parava de ver o olhos verdes brilhantes do tal Killian. Acordei de repente para que Killian sumisse da minha mente. Eu poderia aguentar as outras coisas com bastante facilidade, pois sabia que não era real, era perturbador, mas não era real, agora Killian, eu não fazia a menor ideia e seu olhar me deixava constrangida. Fiquei ofegante virando de um lado a outro na minha cama, eu não queria fechar os olhos e encontrar os olhos daquele tal de Killian de novo. Olhei para Jack e dei um sorrisinho, ele provavelmente estava em seu quinto sonho. Como eu queria ter paz para dormir novamente, era tão fácil dormir e acordar preparada para mais um dia de muitas aventuras. Mas não... eram vozes, visões e a imensa dor na minha perna que me atrapalhavam a noite. E isso me deixava tão exausta!

Decidi me levantar da cama, não aguentava mais ficar olhando para a janela, para Jack e para o teto da cabine repetidas vezes. Me levantei facilmente, mas quando coloquei os pés no chão, a minha perna machucada doeu ainda mais. Fui mancando lentamente para o lado de fora. Jack dormia feito uma pedra e não acordou com o barulho da porta. Fiquei observando ele por um tempo, ele era tão bonito, parecia que estava tão em paz naquele momento. Dei uma risadinha e fiquei feliz por não incomodar o sono dele com esses problemas noturnos, pois eu sabia que era temporário, iria passar um dia e eu não precisava preocupar ninguém com isso. Fui andando até o timão, onde estava Kyle, o navio estava com poucos marujos, eles se revezavam durante a noite e Kyle revezava comigo a noite e a manhã.

Quando eu ia começar a subir as escadas ele veio me ajudar e eu o repreendi levantando as mãos e fazendo uma cara brava. Eu queria e eu conseguia subir sozinha. Ele me olhou com repreensão e me deixou com a minha teimosia. Nossa, como era difícil subir uma porcaria de escada, minha perna doía tanto quando ficava apenas em cima dela. Segurei no corrimão o mais forte que eu conseguia para não precisar apoiar meu pé no chão, demorei muito mais que imaginei para subir, pois a dor era muito grande, muito difícil de descrever e quando olhei para trás, percebi que subi apenas quatro degraus e já estava exausta. Fiquei nervosa, olhei para o mar e respirei pesadamente com tanta raiva que fiquei por não conseguir subir escadas. Agora eu queria ajuda, mas não queria pedir, queria mostrar que não sou uma mocinha frágil e continuei olhando para o mar, com raiva.

— Kaos... Chega de teimosia? - Kyle perguntou como se lesse meus pensamentos e como se já soubesse que eu não iria conseguir. Olhei novamente para os quatro degraus com raiva, respirei fundo mais uma vez e olhei para Kyle.

— Tá bom... Mas não conta pra ninguém. Eu não sou uma mocinha frágil, ok? - eu estava com isso na cabeça mais do que o necessário. Provavelmente porque não quero ser comparada com Elizabeth ou Laura, as donzelas que precisam de ajuda.

— Eu não disse que era uma mocinha frágil, disse? - ele se aproximou de mim e me carregou com facilidade em seus braços.

Ele me colocou sentada na sacada perto do timão, de frente pra ele.

— Eu posso ficar de pé... - comecei a descer, ele segurou minha cintura para que eu parasse e me repreendeu com o olhar. - Tá bom... Eu fico aqui, mas só porque a vista é boa.

Ele riu de mim e eu me senti uma criança mimada.

— Por que tanta teimosia? Achei que se importasse com você mesma - ele perguntou ainda rindo.

— Ah, foi só um machucadinho que vai passar com o tempo e agora tenho que ficar nessa frescura de não conseguir andar direito - eu estava bem irritada, deve ser a minha falta de sono.

— Machucadinho? Kaos, você foi pega por um dragão! Você tem noção de que isso, definitivamente, não é apenas um machucadinho?

— Pra mim, é.

— Kaos, não brinque com isso. Não vá encerrar suas aventuras por causa de apenas alguns dias de repouso e descanso. 

Algo que eu definitivamente não estava conseguindo fazer também.

— Mas eu não aguento mais Kyle, eu preciso correr, subir pelas cordas, andar normalmente pelo meu navio, ameaçar outros navios, trazer o caos...

— Você vai poder fazer tudo isso de novo quando melhorar esse ferimento - revirei os olhos. Que coisa chata. - Ou você quer virar uma pirata com perna de pau?

— Isso seria bem interessante, não é? - me imaginei com uma perna de pau.

— Claro que não, são poucos piratas que conseguem ótimas aventuras e tem perna de pau - ele riu. - Se você quer fazer todas essas coisas que disse antes, você não pode ter uma perna de pau.

— Tem razão... Então o melhor é esperar, não é?

— Isso mesmo, alguns dias de descanso para o resto da vida de aventuras, acho que vale o sacrifício - paramos de falar e aproveitei o silêncio para observar as águas tranquilas do mar. - Kaos, por que não está descansando? - ele perguntou quebrando o silêncio e parecendo preocupado.

— Não consigo dormir - suspirei. - Eu fico ouvindo, vendo e sentindo as coisas da caverna. Aquelas coisas são terríveis...

— Quer falar sobre o que aconteceu lá?

— Não sei - continuei olhando para o mar e depois olhei para Kyle, será que devia compartilhar com ele? Não, eu não estava pronta para dizer em voz alta o que aconteceu lá. - Mas me conte você, quem teve a brilhante ideia de não me deixar para trás? Afinal, me disseram que fiquei lá por dois dias.

— Ninguém ia te deixar pra trás, sua maluca - ele deu um tapinha na minha testa e eu ri. - Mas Jack foi o primeiro a querer ir atrás de você.

— É mesmo? - me surpreendi. Afinal, sem mim ele poderia simplesmente levar o Embaixador até o Pérola. Se bem que Kyle e Rato jamais permitiriam.

— No final do segundo dia ele não conseguia dormir mais, ficou preocupado com você, perambulando pelo convés, pegando a luneta e olhando na direção da ilha, antes ele fazia apenas durante o dia, mas nesse dia ele ficou a noite inteira desse jeito. Falei com ele para descansar, mas ele não quis. Assim que amanheceu ele decidiu ir até lá resgatar você. Mario quis ir com ele também, mas Jack o impediu, colocando uma arma na cabeça dele e pela primeira vez vi ele falando em tom sério e bravo com alguém.

"Mario ficou paralisado e disse que Jack não teria coragem de atirar nele e Jack disse exatamente essas palavras: 'nao duvide de mim, garoto. Eu não sou tão bonzinho como os marujos que você está acostumado, eu sou um Capitão Pirata, Capitão Jack Sparrow, não consegui esse respeito e fama por ser bonzinho'. E Mário enfrentou ele dizendo 'voce não pode me matar, haha, Kaos quer me manter vivo e se você me matar, ela irá odiá-lo para sempre'. Jack começou a rir, abaixou a arma, pegou o colarinho da roupa de Mário e puxou o garoto para perto dele, ele voltou a arma para a cabeça dele: 'Voce acha mesmo que a Kaos também é boazinha? Você não faz ideia de quem ela é, garoto. E nem imagina do que ela é capaz. Ela te mantém vivo em respeito ao pai dela, por você ser filho do melhor amigo dele. Mas quer saber, garoto, eu posso te matar sim, afinal, acidentes ocorrem o tempo todo em alto mar, não é mesmo? Ora vamos, você vive velejando em missões bobinhas para o seu reino, não é possível que nunca aconteceu nenhum acidentezinho com sua tripulação' e Mário engoliu seco e disse tentando esconder o medo: 'eu sou um bom Capitão, não perco minha tripulação ou a coloco em problemas'. Confesso que nessa hora eu ri também, junto com todos que escutavam a conversa dos dois. De repente Jack parou de rir e nós outros paramos também e Jack disse: 'nem pense em sair desse navio, bebezão, se eu ver você atrás de mim eu nem vou pensar duas vezes antes de estourar seus miolos, se você preza pela sua vida, você vai ficar quietinho aqui no Embaixador, com todos os seus amiguinhos, enquanto eu vou buscar a Kaos'.

"Jack começou a andar até o bote e Mário o enfrentou indo atrás dele. Jack virou de repente e então deu um tiro na direção da cabeça dele, mas com intuito de errar, passando de raspão. Mario fechou os olhos e começou a respirar fora de ritmo. Quando Mário percebeu que ainda estava vivo, seus olhos ficaram arregalados. Jack então deu o aviso final: 'não pense que eu estou brincando, seu garoto estúpido'. Mario então ficou quietinho aqui e Jack foi atrás de você"

— Isso explica a cara de assustado de Mario quando cheguei aqui - eu ri e Kyle me acompanhou.

Confesso que fiquei feliz ao saber que Jack havia pensado em me salvar por vontade própria. E também por todas as coisas que ele pensa de mim. ELe sabe que sou perigosa, que não sou uma mulher frágil e isso de certa forma, me confortou bastante. 

— Acho que alguém ficou feliz com o ocorrido - disse Kyle me olhando com um sorriso suspeito.

— Claro que fiquei - eu sorri. Fiquei realmente feliz. - Então, quanto tempo até Tárcia?

— Devemos chegar pelo final da tarde do próximo dia.

— Será que minha perna aguenta até lá? - me permiti ficar preocupada, já que eles sabiam quem eu realmente era.

— Aguenta sim, se você obedecer às regras - ele me olhou com olhar de repreensão, assim como Constance fazia comigo às vezes.

— Vou tentar - eu disse rindo. - Não vejo a hora de encontrar o Vovô Túlio e entregar essa encomenda indesejada.

— Eu imagino... Kaos e os ovos, conseguiu encontrar?

E agora? Será que devo contar que montei um ninho de água para o ovo de dragão logo abaixo e conectado ao Embaixador? Seria muita negatividade e medo em cima do meu filhote. Além disso, alguém pode dar com a língua nos dentes e ele pode ser raptado de alguma forma.

— Não encontrei - respondi fazendo uma cara triste, mas na verdade estava muito preocupada.

— Poxa, eu sinto muito. Você se arriscou tanto para não encontrar nada - ele disse meio desapontado.

— Bom, essa é a vida de um pirata, não é mesmo? - dei de ombros tentando parecer chateada.

Kyle colocou a mão sobre meu ombro para me consolar e coloquei a minha mãe em cima da dele. Ele voltou a navegar e eu fiquei olhando-o, observando os movimentos dele, ele ainda se preocupava comigo, devia me ver como a pequena Kaos ainda. Me desculpe por não contar sobre o ovo, Kyle, mas acredito que quanto menos pessoas souberem sobre meu filhote de dragão, melhor será para todos nós e aí, realmente, minha aventura não será em vão.


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