Dois é demais escrita por Mortífera


Capítulo 3
Capítulo 3




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Eu poderia ter acordado com a luz do sol, com o alarme ou qualquer coisa do tipo, mas ao invés disso a manhã me acolheu de uma forma bem mais...dolorosa.

– Seu peste! - Urrei quando senti o garoto pular em minhas costelas.

– Levanta logo seu esquisitão, o papai pediu pra eu te chamar - Caio disse me chacoalhando. Apesar de seus sete ou oito anos ele era bem pesado, eu quase não conseguia respirar.

– Ok eu estou indo, agora saia de cima de mim - Levantei rápido pegando meus óculos na escrivaninha ao lado derrubando Caio no chão e ri ao vê-lo saindo do quarto praguejando sobre como eu era idiota.

Peguei o uniforme que Isabel já havia colocado em meu guarda roupa e o analisei. Era apenas uma blusa branca com uma árvore no peito, símbolo da escola. O resto era opcional então eu coloquei uma calça jeans, tênis e meu habitual casaco cinza.

Bernardo estava tomando café com o ícaro e Isabel havia ido ao mercado pelo que entendi. Sim, eu ainda não me acostumei a chama-lo de pai e acho que isso vai levar um tempinho já que eu não lido com mudanças muito bem.

Puxei uma cadeira e pus suco de laranja no copo dando goles uma vez ou outra.

– Ei, Edu - Bernardo se pronunciou com a boca cheia de pão.

– Sim?

– Nosso primo vai vir aqui hoje. Ele é meio irritante as vezes, mas é um cara legal. Tudo bem pra você né?

– Ah, claro. Vai ser legal conhecer pessoas novas.

Depois disso eu fiz algumas perguntas sobre a escola e Bernardo me disse apenas o básico. Era bem grande, tinha um campus(coisa que eu adorei saber) e vez ou outra festas aconteciam para arrecadação de dinheiro. Com sorte eu me acostumaria rápido.

ícaro iria nos levar para escola. Eu não conheço absolutamente de carros então não sabia qual era aquele, mas era vermelho e muito bonito. No caminho Caio ficou importunando Bernardo enquanto Ícaro os mandava parar. Eu não ouvia nada além do som alto que tocava em meus fones e meus ouvidos doíam, uma dor costumeira já que eu ouvia música quase vinte e quatro horas por dia. Esse era meu jeito de escapar dos problemas, música. E naquele momento eu precisava dela mais do que tudo.

O carro parou e Bernardo abriu a porta. Minha barriga revirou de tal forma que eu pensei que ia vomitar a qualquer momento. Senti a mão do garoto tocar meu ombro.

– Vamos logo, você não quer chegar atrasado no primeiro dia quer?

Como resposta tirei os fones e pulei para fora do carro. Caio era de outra escola então ele não desceu com a gente. Logo que dei uma olhada naquele prédio de três andares percebi que Bernardo não havia exagerado quando enfatizou que era bem grande pintado em tons de verde e laranja.

– Eu vou encontrar com meus amigos, você quer vir? depois eu aproveito pra te mostrar sua sala - Perguntou querendo ser gentil.

– Não obrigada Bernardo. Eu vou procurar minha sala sozinho, assim já memorizo o caminho e aproveito para explorar por aí.

– Ok, nos vemos na saída então - Se despediu e foi sentar no gramado junto com alguns jovens.

Bernardo era somente dois anos mais novo que eu. Foi ele o motivo de meu pai fugir com Isabel, ela estava grávida. Eu pensei que iria odiá-lo com todas as minhas forças depois que fiquei sabendo quando Ícaro em contou por telefone, mas eu simplesmente não conseguia.

Ele era do nono ano e nossos horários eram diferentes então nós só nos veríamos na saída.

Ao andar pelos corredores eu percebi uma coisa. Mesmo que inconscientemente, haviam grupos divididos em características e coisas do tipo.

Haviam os tímidos que se escondiam nos corredores mais distantes, os idiotas que falavam besteiras sem sentido e pregavam peças nos outros, as vadias que se esfregavam no primeiro cara que viam, os valentões que todos tinham medo, os rebeldes que matavam aula e se achavam descolados.

Como nos filmes de colegial, os populares estavam no topo. Se destacavam por ter parentes trabalhando na escola, por ser melhores em alguma coisa ou qualquer outra merda que eu não tinha interesse, pelo menos não mais. Ao longe havia um grupo como esse, rindo e falando besteiras.

No passado eu me esforcei muito para fazer parte desse grupo em minha antiga escola. Depois de muito tempo, eu consegui algo parecido com isso. Eu não tinha muitos amigos, talvez dois ou três. Todos me conheciam, todos me cumprimentavam e sorriam para mim. Mas não passava de alguns segundos de conversa, quando eles não tinham com quem conversar ou por que viam que eu estava sozinho. Os três amigos se afastarem depois que eu perdi minha ''popularidade'' e eu soube que eles eram colegas disfarçados de amigos.

O sinal bateu e eu me desesperei. A multidão começou a tumultuar nos corredores e eu só via cabeças e moletons de todas as cores. Depois de uns cinco minutos, estava sozinho. Não havia nada nas salas que indicasse o ano. Eu devia ter aceito a ajuda de Bernardo, assim não estaria nessa situação.

Eu estava cogitando a hipótese de procurar a secretaria quando ouvi uma voz desconhecida e exaltada.

– Oi! ta perdido? - Levei o maior susto, mas tentei não demonstrar. Me virei e lá estava uma garota de pele queimada, olhos castanhos brilhantes e cabelos da mesma cor que os olhos, cumpridos e presos em uma trança.

– Sim, esse é meu primeiro dia. Pode me dizer onde fica a sala do segundo ano?

– Claro, você é meu colega de sala. Qual seu nome?

– Cadu, e o seu?

– Mariana e esses são Sócrates e Michelangelo - Dois garotos se aproximaram dela. Os dois tinham cabelos loiros e olhos castanho claros. Eles eram gêmeos idênticos e até suas roupas eram iguais.

– Bem vindo ao colégio Spot - Disse um deles sorrindo.

Nós entramos na sala de aula e imediatamente o professor parou a aula para nos olhar, junto com todos os outros alunos. Senti vergonha por me atrasar logo no primeiro dia. O homem ergueu os olhos por cima dos óculos e pegou um caderninho anotando o que parecia ser nossos nomes.

– Senhorita Anderson, os gêmeos Ribeiro e senhor... - Seus olhos se espremeram me analisando.

– Carlos Eduardo Mendes - Respondi.

– Ah sim. O aluno novo, está entrando no segundo bimestre. Bem vindo ao colégio Spot Mendes, eu sou o professor Marcos de Física e sugiro que não chegue mais atrasado, a não ser que queira fazer amizade com o diretor - Alguns alunos riram e eu me senti envergonhado.

– Vamos, sentem logo seus moleques! eu não tenho o dia todo para dar aula.

Me sentei perto de Mariana e os gêmeos. Eles me perguntavam como era Pinhal e vez ou outra nos comentávamos sobre como o professor era rabugento.

Tentei ao máximo prestar atenção nas aulas. Demorou até demais, mas era hora do recreio e eu prometi aos meus novos amigos, ou pelo menos futuros amigos, que os encontraria na cantina.

Entrei no primeiro banheiro que vi e fui para uma cabine, estava muito apertado. Enquanto estava ali ouvi passos e risadas, mas não estava preocupado com isso. Aquilo era uma escola, certamente pessoas entravam e saíam o tempo inteiro do banheiro.

Já estava saindo quando senti alguém agarrando meu colarinho e como em todas as situações que me sentia nervoso eu perdi a capacidade de raciocínio. Não conseguia me mexer nem protestar para que me me soltassem. Eram quatro garotos e era o maior deles que me erguia fora do chão. Ele me prensou na parede e eu bati a cabeça com força.

– Os novatos daqui sempre levam uma surra de boas vindas - O garoto que me segurava disse com um sorriso maldoso no rosto.

– Vocês vão acabar sendo expulsos - Disse em um fio de voz.

– Expulsos que nada. O diretor não está nem aí para o que os alunos fazem, se brigam, se morrem. Pode se preparar para o pior garotinha.

Ele ergueu o punho e eu fechei os olhos para receber um belo soco no nariz, mas ele não veio. Mais passos adentraram no banheiro e eu fui largado no chão. Minha visão estava embaçada e eu não ouvia direito. Só pude perceber que eles estavam brigando com alguém que era bem mais alto que o líder.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? muito curto? o que falta na história? deixem suas opiniões nos comentários e se tiverem alguma ideia por favor deixem também a opinião de vocês é muito importante para mim. Até o próximo capítulo
Obs: eu mudei o sobrenome dos gêmeos.