Política da Boa Vizinhança escrita por BlackLady


Capítulo 6
Amada Toalha Branca...


Notas iniciais do capítulo

Quanto tempo!!! Demorei, não é...
Então, vamos ler?



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Será que ela vai passar o dia inteiro na janela?, pensei, observando Renata na janela da minha casa. Ela entrara na minha casa e se instalara ali, vendo aquela barra doce ambulante andar de um lado para o outro só de toalha, parecendo estar preocupado e aborrecido ao telefone.

Uma gracinha.

Como as casas eram vizinhas, podíamos ver da janela a varanda da casa de Dona Helena. E, naquele momento, foi a melhor coisa que poderia acontecer: ter acesso visual àquela varanda. O cheiro de carne assada de forno encheu a casa e, mesmo com aquela distração ambulante ao telefone, meu estômago roncou.

– Estão com fome? – perguntou mamãe, entrando na sala enxugando as mãos num guardanapo.

– Morrendo de fome – declarei me pondo de pé – Você não vem, Renata?

– Claro – respondeu, ainda olhando para a janela, mas me acompanhando até a cozinha.

Aconchegamo-nos nas cadeiras, as panelas fumegando um cheiro delicioso. Meus amigos sempre diziam que eu cozinhava bem, mas quando provavam a comida da minha mãe, esqueciam qualquer talento culinário que tinha. Renata enchia seu prato, quase babando.

– Laís – chamou-me minha mãe – Vá até a Dona Helena e compre um refrigerante. Não temos nada para beber além de água.

Suspirei, chateada com a mania da minha mãe me mandar fazer as coisas nos momentos mais inoportunos. Apoiei-me para me levantar, pegando trocados no pano da geladeira e caminhando para a porta. O sol forte me irritou os olhos e eu me perguntei como Renata conseguiu ficar olhando direto para fora com aquela luz. Não pude nem erguer a cabeça para pegar um relance do vizinho.

Entrei na quitanda quase sem enxergar. Fui até o refrigerador, pegando uma garrafa tão gelada que incomodava minha mão e andando rápido até o balcão do caixa. Mas não tinha ninguém ali.

– Dona Helena? – chamei, mas não houve resposta – Dona Helena?

Movi-me até a porta discreta que, eu sabia, levava até a casa de Dona Helena. Chamei por ela, mas nada. Tentei de novo e de novo. Nada. Dei de ombros, já fazendo o caminho para guardar o refrigerante quando ouvi passos descendo as escadas que levavam a casa de Dona Helena. Voltei ao meu lugar perto do caixa, tirando o dinheiro do bolso, esperando Dona Helena.

Esperando Dona Helena. Que erro.

­Ao invés dela, Otávio apareceu enraivecido ao telefone, com apenas uma toalha branca e água cobrindo seu corpo moreno. Não dourado, moreno. Interrompeu uma frase assim que me viu e sua ira amenizou na sua expressão. Gostei de pensar que foi por minha causa. Ele desligou a ligação sem parar de olhar para mim e sem se despedir de quem quer que estivesse falando com ele. Subitamente, me senti sem graça. Na verdade, eu odeio me sentir sem graça porque, quando isso acontece, eu mais gaguejo do que falo. Só não é pior do que ficar nervosa, porque quando eu fico nervosa, eu sorrio. Bem estranho.

– Eu estava... Eu queria... A Dona Helena... – deixei a garrafa na mesa do caixa e deu um passo atrás – Eu vou embora.

Virei-me e quase corri, mas ele me impediu – Espera – ele disse e eu olhei-o – A minha mãe saiu e pediu para eu cuidar da quitanda, mas... eu fui tomar um banho e houve um problema...

– Não tem problema – cortei-o – Eu volto outra hora.

– Não, eu atendo você – ele foi para trás do balcão e me esperou.

Eu realmente queria ir. A última coisa que eu precisava era ficar ansiosa na frente desse homem e passar vergonha, mas eu instruí a mim mesmo que eu não devia me deixar levar por qualquer sentimento. Eu sempre fui tranquila, calma e jamais me abati por homem nenhum. Aquela não seria uma primeira vez. Puxei a nota do bolso e entreguei a ele, que sorriu, me desarmando. Recordei-me do que disse Lucinda Riley:

“Não sou louca. Apesar de que, recentemente, tenho pensado muito sobre o que é loucura”.

Quase desisti.

– Com quantos anos está?

– Dezesseis, mas faço dezessete em alguns meses.

– Eu me lembro de você – disse ele, tentando abrir a caixa registradora ultrapassada – Era só uma menina quando eu fui embora. Costumava brincar só com garotos.

– Era porque só havia garotos na vizinhança.

– Bem, disso eu não lembrava – ele ainda tentava abrir a caixa registradora – O que eu lembro é que você entendia de videogames e motos como nenhum outro moleque por aqui – ergueu a cabeça, ainda sorrindo – Eu tenho certeza de que sabe o modelo e os cavalos da minha moto só de olhar.

– CBR 250 – respondi automaticamente – Uma bela moto.

– O amor da minha vida – ele olhou para a máquina que o desafiava e desistiu – Isso é de que século? – resmungou baixinho para si mesmo. Andei até ele e apertei o botão responsável pela abertura do caixa. Dona helena nunca gostou de senhas, e não as botava nem na caixa registradora. Ele voltou a atenção para mim e abriu ainda mais seu sorriso, quase me fazendo ofegar – Eu nunca me entendi com esse troço do milênio passado.

Ele juntou as notas responsáveis pelo meu troco e pareceu relutante em me dar. Procurei não pensar que era por mim, para que eu não fosse embora. O fato de que ele estava atrás do balcão me ajudou a controlar o meu cérebro quase derretido pelo traje brilhantemente indevido dele, mas ele resolveu acabar com a minha sã mentalidade e saiu de lá, vindo me dar a sacola com a garrafa gelada e o troco. Se eu pusesse uma régua entre a distância que descansava entre nós, tinha certeza de que daria menos de vinte centímetros.

Isso antes de ele diminuí-la para dez.

– Você – começou ele – cresceu. E ficou muito bonita, devo dizer. Uma linda mulher – ele entregou-me ambas as coisas em suas mãos e chegou o rosto ainda mais perto – Foi muito bom rever você, Laís.

Não sei se como não enlouqueci com o fato de ele ter dito meu nome com aquela voz tão limpa ou de ter depositado um beijo estalado na minha bochecha. Não, eu não fechei os olhos quando ele o fez, pelo contrário, os arregalei em surpresa.

Mas como eu sou uma zoada pelo destino...

– Otávio, você viu aquela camiseta azul que eu ganhei da sua mãe? – perguntou uma voz nasalada infantil vindo da escada. Sr. Chocolate virou a atenção para lá, assim que uma perna coberta por uma calça de malhar preta perfeitamente dividida e logo após um belo balançar loiro de uma cabeça abaixada, olhando com cuidado onde botava o salto azul escuro nos degraus finos. Assim que a mulher saiu pela porta, me senti mal arrumada. Ela tinha uma toalha enrolada jogada sobre os ombros, cobrindo vagamente o sutiã preto de bojo e renda que ela vestia. Porque ela estava só de sutiã. E quando ela levantou o rosto, me mostrou detalhes pueris e bem maquiados. Ela me notou e veio até nós, com o rosto sorridente sem graça – Olá.

– Oi – cumprimentei dando um passo atrás.

– Você é nossa vizinha, não é? Pelo lindo cabelo, deve ser a Laís. Dona Helena é apaixonada pelos seus cachos – ri sem graça, abaixando a cabeça – Eu sou Amanda – ela beijou minhas duas bochechas, num gesto completamente gentil, sorrindo – Noiva de Otávio.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Quero comentários!
Beijos.
BL.



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