Capitulo V

– Stiles -

Quando dizem que o mundo dá voltas e que em questão de segundo alguém pode ser atingido pelo caos eminente... Sim, está afirmação é verdadeira! Eu estava à beira do caos. Uma fera gigantesca estava à solta pela cidade. Derek era um lobisomem e estava longe de mim. Scott estava louco e tinha me dado um beijo. O que mais faltava acontecer?

Tentei tirar todos aqueles pensamentos da cabeça, a preocupação com meu pai dando uma de caçador atrás do “urso raivoso”, e a irritação com Scott. Eu só queria me focar em uma única coisa naquele dia: Derek. Não me importava com mais nada! Eu só queria resolver logo as coisas com ele, por mais que aquilo significasse entrar em um mundo completamente oposto do meu. Eu precisava daquilo.

A manhã na escola passou estranhamente normal. Lydia parecia ter esquecido os fatos de sábado à noite, e Allison sorria como se a ideia de apenas um urso fosse mais convincente do que nunca. Porém, Scott estava tenso e me encarava o tempo todo, mas tinha algo de diferente naquele olhar que eu não fazia ideia do que era.

Ele não conversou comigo a aula inteira, o que eu não achei de todo ruim depois daquela idiotice da noite anterior. Então, quando o sinal tocou ele veio até mim.

– Podemos conversar? – Ele perguntou enquanto todos os alunos saiam da sala. – Só conversar.

– O que você quer dessa vez Scott? – Eu retruquei meio na defensiva, não queria brigar com ele novamente, e muito menos correr o risco dele me beijar novamente.

– Quero pedir desculpas por ontem, eu fui um pouco... Exagerado.

– Louco – completei. – Sério Scott... O que está acontecendo com você? Tá, tudo bem, talvez você tenha razão... Ainda é muito cedo para afirmar com tanta convicção de que gosto do Derek, mas eu quero conhece-lo melhor e não quero me envolver com ninguém antes de saber se vale ou não a pena algo com ele. E mesmo que eu não estivesse gostando dele, eu não ficaria com você. Poxa! Não sei de onde você tirou essa ideia louca!

– Stiles... – Ele começou a falar, entretanto eu sabia que não sairia nada de bom daquela conversa. Eu queria o Derek e ponto final!

– Desculpa Scott, mas eu tenho que ir... Tenho assuntos a resolver!

– Você quer dizer assuntos com o Derek! – Ele gritou ofensivamente.

– E o que você tem haver com isso? Sou livre! – Rebati.

– Tudo bem... Faça o que quiser!

– Okay!

Sai o mais rápido que pude daquela sala. Não queria olhar para o rosto de Scott por um bom tempo. Minha mente estava toda em Derek. Mesmo que não desse nada além de amizade, eu queria estar perto dele, ajuda-lo e ser realmente o amigo que disse que seria... Pelo menos!

Entrei no meu jipe e fui rumo à casa queimada da família Hale. Se meu pai estivesse certo, e eu torcia para que estivesse certo, ele deveria estar lá e era minha única esperança!

♦♦♦

– Derek –

Meu corpo todo doía... A cicatrização e a regeneração da ferida estavam mais lentas do que eu pensava, e imaginar Stiles sofrendo por minha causa não era nada agradável. Eu queria ter ficado lá, abraçado ele e pedido desculpas pelo menos. Mas aqueles sentimentos mexiam comigo... A atração inexplicável, aquela duvida se ele era apenas um amigo, ou se ele realmente gostava de mim como algo a mais.

Parte de mim queria negar tudo aquilo e esquece-lo para não joga-lo no lado sombrio do mundo, mas não ia adiantar de nada. Mesmo que eu estivesse longe dele, agora ele já sabia o que acontecia por trás da “vida real” e provavelmente iria querer saber mais sobre tudo aquilo. E eu preferia estar do lado dele quando ele fizesse isso.

Mas e se eu não conseguisse protege-lo? Era tão difícil imaginar aquilo. Fazia pouco tempo que eu e Stiles realmente conversávamos. Talvez uma semana, ou um pouco menos, mas a verdade é que já tínhamos trocado algumas palavras, afinal ele sabia quem eu era desde o começo, e eu sabia quem ele era.

Eu confesso que tinha ido a casa dele na noite anterior... E vi-o com Scott... Assisti aquela discussão louca até a cena do beijo, depois forcei meu corpo a ir embora e senti tudo se estraçalhar dentro de mim. Será que eu o tinha perdido? Será que minhas chances com ele tinham acabado? Meu Deus! Que loucura, eu não conseguia parar de me sentir triste com aquilo, magoado! Mas a culpa era minha!

Meus pensamentos foram puxados para a Terra quando ouvi o barulho de um carro estacionando na frente da minha casa... Era o jipe do Stiles! Ele estava ali. Provavelmente estava me procurando, e tive certeza disso quando ele bateu na porta e me chamou pelo nome. Corri logo para atender... Estava louco para vê-lo.

♦♦♦

– Stiles -

Cheguei à casa de Derek e bati na porta.

– Derek! – O chamei.

Estava muito nervoso com aquele momento e queria muito vê-lo. Meu coração disparou quando ele abriu a porta com aqueles olhos azuis, naturais, e todo o seu jeito estranho e charmoso, mas ele estava pálido, o que não me agradou nem um pouco.

– Stiles... – Ele disse. – Entre.

Entrei meio acanhado e notei que ele forçava muito o corpo para fazer cada movimento. O encarei preocupado e ele deu um sorriso muito forçado. Reparei a casa aos destroços, tinha apenas um sofá com uma mesinha ao lado. Não pude deixar de notar uma bacia com água e pano.

– Derek você está bem? – Perguntei extremamente preocupado, e acho que ele deve ter percebido aquilo.

– Para dizer a verdade... Não. – Ele afirmou com um meio sorriso. – A ferida não terminou de se curar, o que é estranho...

– Por que não cicatrizou ainda?

– Provavelmente porque aquele lobisomem era um alfa... Se você não percebeu seus olhos eram vermelhos e os meus azuis!

É de fato eu tinha percebido, mas só quando ele falou que pareceu tão idiota eu ter deixado de comparar aqueles pequenos detalhes.

Quando ele tomou fôlego para falar de novo ele cambaleou e quase caiu. Corri até ele e o segurei com toda a força que tinha. Ele me olhou nos olhos, sua camisa marrom estava encharcada de sangue. Seu sangramento não parava! Sua pele suava fria e intensamente como se a febre estivesse domando seu corpo.

– Meu Deus, Derek! – Falei quase que em um grito de agonia. – Você precisa dar um jeito nisso!

– É mais fácil falar do que fazer quando se está sozinho – ele retrucou sarcasticamente.

– Você deveria ter me chamado, sabia? – Rebati em um tom de xingamento. – Venha, vou por você no sofá e pegar o kit de primeiro socorros no meu jipe.

Com muito custo chegamos ao sofá e ele deitou. Corri até o carro e peguei a pequena maleta de primeiro socorros que ficava no porta-luvas. Quando voltei ele estava estirado lá, o que me fez lembrar a batalha contra a fera duas noites atrás.

– Por que você não me chamou? – Questionei mesmo sabendo a resposta.

– Eu estava com medo do que você poderia estar pensando de mim...

– Não é a coisa mais normal do mundo – admiti. – Não é todo dia que você vê pessoas virando lobisomens e lutando contra feras de quase dois metros de altura para te salvar, e... Tira a camisa!

– O que? – Ele perguntou abismado.

– Derek, tira a camisa para que eu possa cuidar dos ferimentos!

Ele tirou a camisa e eu tomei fôlego para continuar falando.

– Como eu ia dizendo... Mesmo que essa coisa muito normal tenha acontecido há duas noites, eu não me importo com mais nada, só quero te ajudar porque, poxa, esse ferimento seu está horrível Derek! E ver você nesse estado lastimável é uma das coisas menos agradáveis sabia? Sinceramente...

– Stiles! – Ele gritou me chamando a atenção. – Eu já tirei a camisa e você não para de falar!

Quando meus olhos caíram sobre aquele peitoral nu, meu coração quase saiu do peito. Seu corpo era bem definido e musculoso, tirando o fato da marca de garras e da pele pálida, ele tinha um peitoral perfeito, com poucos pelos, quase que liso... Tentei voltar a me concentrar na tarefa de ajuda-lo a se curar.

Peguei uma pomada e um algodão no kit e comecei a passar delicadamente em suas feridas. Elas já não eram tão profundas quanto no dia em que foram marcadas ali. Algo que era muito bom. Não conseguia deixar de reparar aquele corpo e o olhar dele analisando minha feição enquanto eu bancava a enfermeira pessoal.

– Obrigado – ele finalmente disse algo, quebrando o silêncio. – Eu não sei o que dizer...

– Não tem que agradecer... É mais que obrigação minha te ajudar!

– Por que mais que obrigação? Até agora não entendi por que você está me ajudando.

Aquela pergunta me jogou contra a parede. Eu deveria falar o que sentia por ele de uma vez por todas e ver aonde aquilo iria me levar. O medo começava a me dominar, mas ele voltou a falar antes que eu pudesse dizer algo:

– Eu vi você beijando Scott ontem – ele confessou.

– O que? Derek! – Retruquei. – Ele que me beijou! E você estava me espionando?

Automaticamente larguei o algodão de lado e o encarei bem nos olhos com certa irritação... Ele queria saber alguma coisa.

– Por favor, Stiles, não minta. Se você está com ele tudo bem...

– Tudo bem? – Questionei automaticamente sentindo algo doer dentro de mim. – Então está tudo bem para você eu estar com Scott? Okay!

Levantei-me e guardei as coisas no kit. Mas ele me puxou pelo braço e me fez sentar ao seu lado no sofá. Ele me encarava de um jeito estranho que eu não conseguia entender.

– Por que está tão irritado com isso? – Ele perguntou.

– Como você pode ser tão burro? – Retruquei. Ele me olhava como se realmente não conseguisse entender. – Poxa, Derek!

– Eu não entendo por que você está assim!

Quando dei por conta as lágrimas rolavam pelo meu rosto e ele se aproximou de mim. Senti seu calor. Seus olhos cheios de preocupação me invadir, e sua mão pousar em meu ombro.

– Derek... Eu estou realmente gostando de você! Não sei por que, mas eu não consigo controlar essa atração. Eu quero você perto de mim! Quero te ter para mim e não posso mais esconder esse desejo. Estou quase louco com isso! Foi o Scott que me beijou, eu não quero ele! Acredite em mim, por favor... Mas se para você está tudo bem, o que eu posso...

Antes que eu terminasse de falar ele pôs o dedo indicador na frente dos meus lábios e eu automaticamente me calei.

– Você fala de mais – ele afirmou.

Lentamente seu rosto foi se aproximando do meu... Ele limpou uma lágrima que passava pela minha bochecha e então foi se aproximando mais e mais ao ponto de ficar a poucos centímetros de mim.

– Quer saber? – Ele perguntou ao sussurro. – Eu também estou loucamente gostando de você...

Assim ele me beijou... Seus lábios encostaram-se aos meus. Nossas bocas se movimentaram sozinhas em movimentos sutis e lentos destrinchando um beijo romântico e cheio de vida. Eu senti meu coração acelerar e cada pelo do meu corpo arrepiar como se eu estivesse entrando em um transe... Aquele foi o melhor beijo que alguém poderia ter.

Entre selinhos ele se afastou lentamente de mim...

– Derek... – Eu sussurrei.

– Stiles... – Ele sussurrou de volta.

Ele sorriu e mexeu nos meus cabelos. Sua mão acariciou meu rosto. Levei minha mão a sua nuca e o puxei para outro beijo, ele não hesitou. O beijei com toda a minha vontade e depois repousei meu rosto entre seu pescoço e seu peitoral.

– Seja meu Stiles – Derek falou. – Eu tenho medo de você se machucar com isso, mas pelo visto, você me deixa mais forte do que nunca!

Quando ele falou aquilo automaticamente olhei seu peitoral e notei que os ferimentos tinham se cicatrizado. Sorri intensamente com aquilo e o olhei. Eu não podia acreditar naquilo, meu beijo tinha feito seu corpo se curar mais rápido.

Ele beijou minha testa e levantou meu queixo lentamente.

– Seja meu Derek – Falei por fim. – Tenho medo de que você se machuque e eu não possa estar por perto para te dar forças...

Ele sorriu... O sorriso mais lindo do mundo! E então me beijou novamente. Aconcheguei-me em seu abraço e fiquei ali sentindo seu calor e seus braços em volta de mim. Era a melhor sensação do mundo. Ele me transmitia algo bom que eu não podia explicar, e, julgando por seu sorriso, ele estava tão feliz com aquilo quanto eu.

– Stiles! – Ouvi alguém gritar do lado de fora.

Continuei aconchegado no peitoral de Derek, mas o encarei pedindo respostas. Ele olhava para a porta, meio irritado, o que me preocupou bastante.

– O que foi isso? – Perguntei.

– Isso não... O certo seria quem... – Ele me corrigiu. – E esse alguém se chama Scott.

Ai meu Deus! Era só o que me faltava agora... O que Scott estava fazendo ali me gritando igual um louco. Tentei me levantar, mas Derek me prensou com força ao seu corpo e balançou a cabeça negativamente. Ele queria me manter ali onde teria certeza de que ninguém me tocaria e que eu realmente era dele. Talvez fosse alguma coisa louca de lobo, porém aquela sensação era ótima!

Scott abriu a porta vorazmente como se estivesse prestes a matar alguém, e, julgando pelo seu olhar, eu não estava muito errado. Ele arregalou os olhos quando me viu ali deitado sobre o peitoral de Derek enquanto ele acariciava meus cabelos lentamente e segurava minha mão.

– Stiles? O que está fazendo ai? – Scott questionou em um tom imperativo.

– Ele está comigo – Derek respondeu antes que eu tivesse tempo para alguma coisa. – O que você quer Scott?

– Só queria saber como estava o meu melhor amigo! Por quê? Não posso fazer isso?

– Não seja idiota Scott – Derek rosnou. – Eu sei bem que você veio saber se ele estava mesmo ou não comigo. Seus batimentos entregam sua mentira!

Scott cerrou os dentes e apertou os punhos como se estivesse próximo de dar um golpe em Derek. E foi o que ele fez! Correu na nossa direção e estava preste a dar um soco nele. O lobisomem interior de Derek reagiu. Rapidamente ele tirou-me de seu peitoral e saltou por cima de Scott. Desviando de seu soco, e atingindo ele com outro.

Quando dei por conta, Derek estava em cima de Scott que se encontrava estirado no chão com a respiração ofegante.

– Derek! – Gritei. – Solte-o.

Então tirando suas mãos de cima de Scott, ele o deixou livre para se levantar. O soco não tinha sido muito forte, mas ele parecia atordoado depois que se levantou. Scott segurou-se na parede e me encarou friamente como se me odiasse do fundo de seu coração.

– Por que Stiles? – Ele me perguntou.

– Saia daqui Scott... Por favor.

Ele chegou a tomar fôlego para responder, mas meu olhar furioso e o de Derek sobre ele o fizeram desistir. Lentamente ele saiu da casa me lançando um olhar triste da porta logo se pondo a correr para longe dali. Eu tinha medo do que poderia acontecer, mas Scott estava completamente louco, e me meter com ele não era uma das coisas que atingiam o topo da minha lista naquele momento.

– Me desculpe – Derek falou me abraçando. – Não tive como controlar aquela reação.

– Tudo bem, grandão – respondi.

Ele me encarou perplexo.

– Grandão?

– O que foi? Eu não posso te dar um apelido? – Retruquei. – Quem sabe Ursinho não fique melhor?

Ele me puxou pela cintura e colocou meu corpo no dele tirando todo o meu ar. O sorriso estampado em sua face era safado e provocante que me fazia estremecer. Ele passou a mão pela minha nuca, enquanto a outra continuava pressionando-me contra seu corpo.

– Você é péssimo com apelidos sabia? – Ele disse sussurrando.

– Acho que você já pode começar minha lista de defeitos com isso... – Respondi quase que sem voz.

Seus lábios foram se aproximando dos meus lentamente.

– Quem sabe eu não faça uma lista das qualidades também... Começando pelo seu beijo...

– Ah é? – Questionei em um tom provocativo.

Minhas mãos subiram para sua nuca e o puxaram para um beijo. Foi um beijo cheio de paixão e desejo terminado com um abraço caloroso... Passei horas ali com ele, até que começou a entardecer e ele decidiu me levar em casa.