Promessas escrita por Whatever


Capítulo 8
Um céu cheio de estrelas.


Notas iniciais do capítulo

Porque em um céu cheio de estrelas, eu acho que te vi.
"A sky full of stars - Coldplay"



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(Mangle)

“Posso me ver no espelho agora?” Perguntei ansiosa.

“Ainda não, primeiro deixe-me testar sua coordenação motora!” Juliet pegou minha mão.

“Ah, Douglas já fez isso milhões de vezes! Não precisa mais!”

“Tá bom! Então ande e pegue o espelho aqui na minha mão!” Ela sorri “Vamos ver se fizeram um bom trabalho!”.

Era agora. Poderia finalmente caminhar sozinha. Juliet se afastou para dificultar minha vitória, deixando-me um pouco nervosa com o desafio. Essa menina era bem carrasca, mas sabia muito bem o que estava fazendo. Se eu me esborrachar no chão, teria que me levantar sem ajuda. Como fora ela que projetara meu novo corpo, com certeza sabia muito bem do que eu era capaz.

Eu estava sentada na mesa. Apoiei minhas duas mãos sobre a superfície e escorreguei devagarinho até sentir o chão. Tremi um pouco, mas tenti me manter estável. Passo por passo, deixando os braços um pouco estendidos para manter o equilíbrio, eu fui me aproximando. A japonesa não parou de sorrir, seu projeto estava indo como planejado.

“Estenda a mão como você sempre fez para chegar ao telhado...”

E eu peguei o espelho em sua mão, sem tremer ou deixá-lo cair.

Ao me olhar pela primeira vez, vi beleza em meu corpo de máquina.

Minha pele metálica tornou-se inteiramente branca. A maquiagem infantil fora apagada e substítuida por uma tatuagem estilo indiana feita com stencil e spray rosa escuro. Em minha testa uma mandala, e no peito várias flores até o fim da cintura. Contorci o pesçoco para ver as costas, onde havia uma continuação da tatuagem florida.

Minha caixa de voz fora trocada, não havia mais chiados agudos ou interferências. Estava falando normalmente, sem gaguejar. Estava tão feliz. Tão animada...

Eu abracei Juliet com toda minha força, dizendo mil obrigados, não sabendo como agradecê-la. A japonesa me respondeu de forma terna, dizendo que não era necessário nada. Só de ver pela primeira vez um sofrido ganhar felicidade, isso já valia a pena. Fará isso com todos os outros que estão defeituosos, pouco a pouco.

Ela foi abrir a porta e avisar a todos que eu estava pronta.

“Bom, pessoal... Eis aqui a nova Mangle! Mandy! Roxy! Toy Foxy! Seja lá do que vocês querem chamá-la!” Juliet disse e logo em seguida saí para que todos pudessem me ver.

A mandíbula de Golden caiu no chão(Não estou brincando, caiu mesmo) e a de Foxy ficou aberta até as juntas estalarem.

“VOCÊ ESTÁ LINDA!” Toy Chica gritou desesperada, vindo correndo na minha direção.

“Linda é pouco! Magnífica!” Toy Bonnie bateu palmas.

“Parece uma arte de milhões!” Toy Freddy pegou minha mão e me girou como uma bailarina.

O que me surpreendeu foi Marionette vir a minha frente e ficar sem expressão.

“O que houve?” Perguntei.

Um sorriso brotou em seu rosto, logo veio a melhor frase que ele já dissera para mim.

“Você está linda. Não tenho palavras para descrevê-la. Acho que Golden já disse tudo”.

Golden tentava encaixar a mandíbula de volta, mas levantou o polegar de forma positiva, concordando.

“Agora... Cadê o Foxy? Ele não virá falar comigo não?” Eu disse brincando, sabia que ele estava atrás de mim.

“Eu, eu, eu, eu, eu...”

“Eu?”

“Tá difícil de falar, to com vontade de chorar, mas não posso por motivos claros...”

Aquilo foi tão fofo que eu nem hesitei em dar um forte abraço nele e um beijo no focinho.

“Hey, tive uma ideia Douglas!” Juliet diz animada.

“O que?”

“Abre a porta, liga as luzes externas. Deixe eles desbravarem a noite”.

“Tem certeza?”

“Algum dia eu estive errada?”

“Solte logo eles, assim eu posso pegar no sono sem me preocupar com nada...” Erick resmunga.

Quando ouvi a porta sendo destrancada, minha cauda balançou rapidamente, como nunca fizera antes. Eu estava me sentindo feliz, e todos estavam sendo contagiados pela mesma felicidade.

Douglas abriu uma caixa de força ao lado da porta e apertou um botão, fazendo com que várias lamparinas presas nos galhos das árvores se acendessem. Foxy pegou minha mão e saiu correndo, me deixando desesperada pois não conseguia acompanhar sua velocidade. Estava correndo com a perna toda aberta, toda desengonçada.

“PARE DE CORRER FEITO UM AVESTRUZ!” Freddy gritou.

Nem senti ódio do urso, a animação do pirata estava me distraindo de tudo a minha volta. Pareciamos duas crianças! Foi uma ótima forma de ver se eu era realmente resistente.

Corremos em meio aos dentes de leão, rolamos pela grama, corremos em círculos pelas árvores um tentando pegar o outro. Ele sempre se jogava em cima de mim e rolava pela terra me prendendo aos braços. Os outros aniamtronics resolveram deitar sobre a grama úmida para olhar o véu de noiva sobre nossas cabeças, coisa que na cidade ficava quase invisível.

“Foxy...” Nós dois ficamos deitados no chão.

“Diga!”

“Aquilo que você me falou ainda está de pé?”

“IH! VAMOS ZAPAR, MARUJO!! É O MOMENTO PERFEITO!” Ele se levantou me puxando junto, e logo corremos bosque a dentro.

Passou pela minha cabeça pedir permissão ao Douglas, mas... Nós sabiamos voltar, então tudo bem.

Ao chegarmos na beira do morro, nos deparamos com uma vista linda. Por causa da pouca iluminação, havia mais estrelas do que nossos olhos podiam identificar. Jurei até ter visto uma estrela cadente!

A raposa sentou-se encostada na solitária árvore próxima a beirada e me convidou a se unir a ele.

“E então? O que está achando do novo corpo Mandy?”

“Uma maravilha! Olhe para mim! Pareço uma peça de arte! Aquele robô de criança desapareceu totalmente! Eles fizeram um ótimo trabalho! Eu...Eu! Eu nem sei o que dizer! Eu voltei a falar normalmente! Não pareço um rádio com interferência!” Eu não conseguia parar de rir “Foxy, eu acho que deixei de ser um monstro”.

“Você nunca foi um monstro para mim, pare de se denominar assim!”

Eu abaixei as orelhas e olhei para minhas próprias mãos, não conseguindo encarar os elogios que Foxy dizia para mim. A quem queria enganar? Mesmo sentindo-me bela e atraindo a atenção de todos a minha volta, eu continuava sendo uma assombração. Foxy sempre ignorou esse fato, sempre tentou passar por cima do ocorrido, mas as coisas que eu vi na pizzaria...

O pirata esfregou o focinho em meu rosto, dando-me um pouco de carinho. Talvez ele imaginasse o que tanto estava me aflingindo naquele momento.

“Pare de lamuriar, sua vagabunda mimada”. Ele cochichou e depois riu de deitar no chão.

“EU NÃO ESTOU LAMURIANDO!”

“Nãaaaao, só está choramingando por causa das coisas que via na pizzaria!” Foxy se senta “Garota! Návio novo, mares novos, tudo a nosso favor para nossas próximas aventuras! Arrr!”

“Eu sei, mas...”

“Mas! Mas! Pode parar! Fica resmungando aí! Choramingando pelos cantos! Olhe a sua volta! Sem paredes! Sem aquele maldito ar condicionado! Sem crianças nos irritando e... Bom, sem as chacinas diárias”

“Quem está lamuriando agora?” Eu disse rindo e ele me derrubou no chão.

Ficamos deitados por um tempo, olhando para o céu que nos cercava. Foxy se sentia tão confortável ao observá-las e isso estava atiçando minha curiosidade.

“Foxy, o que você vê nas estrelas?”

“Vejo mundos”.

“Além disso, o que te deixa tão feliz ao observá-las?”

“Talvez a liberdade que elas possuem”.

“Que liberdade? Elas ficam paradas no mesmo lugar todas as noites! Não podem se mexer!”

“Quem disse? O planeta gira, não gira? As estrelas que vemos aqui, um dia poderão estar em outro lugar! Vendo outras pessoas, outras histórias...” Ele sorri “De certa forma estão paradas, mas nunca vendo a mesma coisa. Gosto daquelas que são bem próximas uma das outras, quem sabe elas sejam amigas? Minha mãe me dizia que ao morrermos, nos tornamos estrelas, então se alguém especial acabar morrendo, você o encontrará lá em cima!”.

“Sério...?” Eu fiquei surpresa “Não sabia que as estrelas já foram pessoas... Então todos estão olhando para nós?”.

“Arr! Sim! Estão nos observando todos os dias”.

“Isso é muito bonito, mas continua sendo perturbador”.

Foxy começa a gargalhar, jurei ver morcego fugindo do estardalhaço dele.

“Que isso garota! Acha que alguém vai te dar um esporro? Olha quantas pessoas estão a nossa volta! Eles se distraem com outra coisa! Ninguém precisa ficar olhando só para nós dois!”.

“Legal...” Eu me sentei. Não queria deitar mais, já ficara grande parte da minha vida largada no chão e só de me debruçar sobre ele estava me dando uma certa fobia. Subitamente eu me esquecia de que já deixara de ser quase tetraplégica.

“Mandy, que tal fazermos uma brincadeira?” Foxy perguntou.

“Hum, diga”.

“Vamos tentar encontrar imagens nas estrelas?”

“Como? Isso é um pouquinho ridículo, não acha?”

“Arr! Na verdade é bom para passar o tempo! Olha, estou vendo um gato ali!” Ele apontou para cima.

“Onde?”

“Naquela estrela ali! Aquela um pouco mais roxa, olhe para a lua e siga meu dedo!”

“Tá, achei! E agora?”

“Vai subindo, monte a cabeça de um gato! Que nem ligar os pontos!”

“EU ESTOU VENDO!” Eu comecei a me divertir com tamanha bobagem “Olha! E ali tem um pássaro! Bem acima do gato!”.

“Com as asas abertas?”

“Exatamente!”

E aos poucos fomos desenhando o céu inteiro, criando um verdadeiro zoológico sobre nossas cabeças. De repente a raposa se levantou e ficou agitando a cauda, ansioso.

“O que houve?” Perguntei.

“AHOY! ESTOU VENDO DUAS RAPOSAS!”

“SÉRIO? AONDE?”

“ALI! PRÓXIMO DA LUA!”

“Não consigo ver! Me ajuda!” Mesmo esticando o pescoço e apontando para as estrelas tentando ligar os pontos, eu não conseguia formar a imagem. Foxy olhou para os lados e ergueu as orelhas animado, esbanjando um sorriso carismático.

“Vem! Eu te mostro!” Ele pegou minha mão e me ajudou a levantar. Logo, levou-me a uma trilha que terminava bem próximo do lago. Foi uma grande descida, e como ninguém possui parafusos na cabeça, fomos correndo feito dois cães viralatas. Só faltava ir nas quatro patas!

Ao nos aproximarmos da água, eu o puxei.

“SEU MALUCO! NÃO PODEMOS ENCOSTAR NA ÁGUA!”

“Não é para meter o focinho na água, sua maluca! Olhe para cima!”

Eu olhei, mas nada encontrei.

“Não viu nada?”

“Não...” Respondi confusa.

“Então olhe para a água”.

“Ainda não vejo nada. Na verdade, piorou ainda mais a situação”.

“Sério? Por mim ficou mais fácil!”

Não dava para identificar nada ali! A única coisa possível era a lua e...

“Cara você é muito idiota. E eu adorei isso” Respondi rindo.

Só dava para ver a lua e nós dois, duas raposas. Como eu sou burra!

“Você gosta de me agradar, viu? Porque tanto carinho assim de repente?”

“Você que falou que estava se sentindo triste e traumatizada! Eu só quero ajudar!”

“FOXY! MANGLE!” Escutamos uma voz ao longe. Só poderia ser Douglas. Era hora de ir.

“ESTAMOS SUBINDO!” Foxy gritou em resposta, e subimos correndo até a beira do morro.

“O QUE VOCÊS DOIS ESTÃO FAZENDO AÍ? SUBITAMENTE VOCÊS SUMIRAM!” Douglas continuou gritando dentro do bosque e eu pude identificar uma luz de lanterna vindo de longe.

“VIEMOS VER AS ESTRELAS!” Foxy gritou.

“EU VOU É FAZER VOCÊ VÊ-LAS BEM DE PERTO SE VOCÊ NÃO VOLTAR AQUI!” Marionette gritou.

“AGRADEÇO A AJUDA! ESTOU AQUI ESPERANDO!”

“VOLTEM LOGO! EU PRECISO DORMIR!” Douglas gritou “NÃO POSSO DEIXAR NINGUÉM DO LADO DE FORA!”.

“ELES FORAM DAR UMAS BITOQUINHAS!” Balloon Boy gritou.

“DA ONDE VOCÊ SAIU?! SEU MANÍACO DESGRAÇADO!!”.

Eu e Foxy ficamos nos entreolhando. Parecia ser bem mais seguro continuar ali brincando na beira do “precipício”.

...

(Douglas)

Antes de nos deitarmos, Juliet nos chamou para uma conversa na sala de robôs. Somente nós três.

“Uma coisa eu vou deixar bem clara aqui: Precisamos botar ordem em nossas vidas, ok?” Juliet disse séria “Estamos há 3 dias, creio eu, cuidando deles! A única coisa que fizemos que realmente nos sustenta é a merda que o Erick fez com Protheus! Gente! O torneio está chegando! Não vamos largar uma de nossas maiores oportunidades!”

“Eu sei Juliet! Mas ainda nem consertamos a Chica!” Eu disse irritado.

“EU SEI, HOMEM! Mas nós temos P-R-I-O-R-I-D-A-D-E-S! E elas devem ser cumpridas! Vamos montar um cronograma a partir de hoje!” Ela pegou o calendário que fica preso na parede esquerda da sala de robôs “Bom, temos exatamente...42 dias até a merda do torneio a partir de amanhã! Ou hoje, melhor dizendo. Já é madrugada”.

“Realmente, temos muita coisa a resolver...” Erick ficou coçando a cabeça.

“Prioridades na frente?”

“Sim, Juliet...” Eu e Erick falamos junto.

“Dividiremos o dia em partes, assim poderemos ser bem produtivos...”

Juliet parece ser carrasca, mas ela é, e muito. Todavia, é a mais organizada no grupo. Graças a essa asiática reclamona, nossos projetos puderam ser concretizados nas datas certas. Essa rigidez que ela impunhe em nós vale muito a pena no final. Por isso que ninguém fica com raiva dela, pois todos sabem que é pelo nosso próprio bem.

Tick tock, tick tock... E assim o tempo começou a passar mais depressa, assim como muitas das minhas preocupações.


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