Amnesia escrita por Lolla


Capítulo 1
Amnesia




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/565493/chapter/1

I wish that I could wake up with amnesia. Forget about the stupid little things. Like the way it felt to fall asleep next to you. And the memories I never can escape. 'Cause I'm not fine at all.

- Dr. Jackson, comparecer a emergência imediatamente. Dr. Jackson, comparecer a emergência imediatamente.

Foi assim que as primeiras horas do meu turno começaram. Sai da minha sala as pressas, colocando meu jaleco e o abotoando com a maior rapidez do mundo enquanto corria para a ala das emergências.

Não era sempre que um neurologista era chamado para a emergência. Dentro do elevador era possível ouvir a locutora do hospital chamar outros médicos para diferentes áreas e, novamente, chamar ao meu nome.

Ainda eram seis horas da manhã, eu teria um turno de quarenta e oito horas e o meu dia já havia começado na emergência. Dependendo do caso, ficaria preso a ele por horas.

- O que houve? - questionei quando Juniper agarrou meu braço e começou a me puxar para o lado oposto da emergência.

- Uma fotógrafa, ela escorregou em uma passarela de um desfile que ia acontecer hoje e bateu com a cabeça. É o único neurologista de plantão no momento - ela respondeu me soltando de frente a paciente. Não demorei a reconhecer aquelas feições angelicais.

Seus olhos estavam fechados, mas eu sabia que eles ainda tinham uma tonalidade intensa de cinza. Seus lábios cheios estavam cortados, provavelmente porquê ela mordeu ele quando bateu a cabeça. Seus fios cor-de-ouro não eram mais longos, ela havia cortado eles na altura do ombro e estavam lisos, enquanto a sua pele pálida continha alguns traços de tatuagens no pulso, dedos e no interior do braço.

Eu ainda me lembrava da primeira tatuagem que Annabeth Chase havia feito.

Balancei a minha cabeça e comecei a trabalhar. Peguei a lanterna no bolso do meu jaleco e abri os olhos dela, vendo suas pupilas contraídas na imensidão cinza, repeti o processo com o outro, tendo o mesmo resultado.

Passei então a ouvir seu coração, batendo devagar, mas forte. Examinei seus lábios para ter certeza que não havia nada mais de errado e olhei para Juniper.

- Preciso de uma radiografia do cérebro dela urgente, ela pode ter tido algum traumatismo ou uma hemorragia. - ela concordou rapidamente com a cabeça, então saiu andando na direção da sala de radiografia.

Olhei para ela mais uma vez, procurando pela fratura na sua cabeça. Não havia sangue, então ela não havia cortado por fora, mas se eu achasse o ponto da batida poderia chegar as minhas próprias conclusões mais rapidamente e acelerar o processo.

Não podia deixá-la morrer, não nessas circunstâncias. Eu devia muito a ela, principalmente minhas desculpas.

Um gemido chamou a minha atenção e eu voltei meus dedos para o lugar onde havia precionado, ouvindo ela gemer mais uma vez e algumas lágrimas escorrerem pelas suas bochechas. Ela piscou e abriu os olhos, olhando pras tudo ao seu redor e depois gemendo outra vez.

- Não se mexa - pedi tirando meus dedos do seu couro cabeludo e olhando para ela. A mesma me encarou por alguns minutos, com o cenho franzido e, por fim, deu um sorriso fraco.

- Percy? Meu deus, você está tão diferente! - ela disse animada, então gemeu outra vez, passando seu olhar por mim. - O que estou fazendo aqui? Que horas são?

- Olá, Annabeth. - falei com o cenho franzido. - São seis e vinte, agora e...

- Meu deus! Eu vou me atrasar para a faculdade - ela tentou se levantar, mas eu segurei seus ombros, mantendo ela deitada na maca - O que você está fazendo? Nós vamos nos atrasar! Para de brincar de Dr. Jackson, porque se você ficar brincando nunca vai se tornar um...

- Annabeth, já nos formamos na faculdade - ela me olhou confusa e eu cheguei a minha linha de raciocínio. - Em que ano estamos?

- Estamos em novembro de dois mil e sete, não? Percy, pare de brincar, nós vamos nos atrasar e a culpa não vai ser minha desta vez.

Olhei para cima, soltando os ombros dela e procurando alguma anestesia fraca, eu sabia o que ela tinha, mas ainda precisava dos exames para ter um conhecimento maior.

Juniper apareceu com Atena no momento em que eu colocava a agulha no braço da Annabeth, na esperança de fazê-la relaxar. Ela me olhou, sorrindo e abriu a boca para dizer algo, mas acabou piscando.

- Eu vou adorar ser cuidada por você quando se formar, será o melhor médico neurologista que New York já teve. - ela disse e piscou mais uma vez, soltando o aperto do meu pulso e caindo na inconsciência.

- A sala já está pronta, Dr. Jackson, posso levá-la para os exames? - concordei com a cabeça, olhando para Atena e indicando a saída da emergência.

Li mais uma vez os exames, vendo a garota ainda inconsciente pela morfina ao meu lado e olhando para a sua mãe que, impaciente, batia os saltos ritmicamente no chão.

- Ela bateu o Lobo Temporal, responsável pelo gerenciamento da memória e, por isso, ela teve uma amnésia global transitória... A pancada não foi forte o suficiente para causar algum dano maior, não fraturou o crânio e não teve uma hemorragia, mas o impacto da pancada vez o Lobo Temporal se lesionar - soltei um suspiro, passando os olhos pelos vários exames. - A passarela estava molhada?

- Haviam acabado de limpá-la, Annabeth insistiu para caminhar por ela para ver o melhor ângulo para pegar as modelos - Atena soltou um suspiro, olhando para a filha que recebia soro. - Amnésia... Quanto tempo irá durar?

- Algumas horas, normalmente não passa de um dia, mas vou mantê-la em observação, ela teve uma pancada forte, o galo que se formou na sua cabeça não é pequeno - dei um sorriso sem humor. - Ela não perdeu a memória completa, apenas alguns episódios da vida dela, eles irão voltar aos poucos através das horas, mas é melhor explicar a verdade o quanto antes, se ela se forçar muito irá acabar causando dor de cabeça.

Ela concordou e acariciou a bochecha da filha. Eu analisei os exames e me perguntei em que momento ele iria acordar, mesmo assustado por ela ter acordado em 2007, em novembro de dois mil e sete... Eu havia terminado com ela dois meses depois, havia conseguido um estágio em um grande hospital de Seattle, havia transferido tudo para lá e deixado ela aqui.

Eu queria me tornar um grande médico e ela queria se formar em moda, apesar de hoje trabalhar com fotógrafa e não estilista.

08 de novembro de 2007

Annabeth estava com os olhos, ou com os olhos mecânicos da câmera, presos em um grupo de crianças que brincavam no Central Park, esperando o momento certo para capturar o momento.

Eu tinha um livro da faculdade nas minhas pernas, estava estudando para as provas finais que logo chegariam. Não podia me dar o luxo de vacilar em meu penúltimo semestre, semestre que já estava acabando.

Me avisaram que seria difícil me tornar médico, médico neurologista, mas eu aceitei o desafio e hoje, eu estava quase terminando a residência. Depois me faltava dois anos para me especializar na área e finalmente poderia trabalhar com isso. Não gastei treze anos da minha vida a toa na faculdade, ao contrário, eu havia produzido esses treze anos da maneira que eu mais adorava.

- Sabe, eu quero ter vários filhos com você. - Annabeth disse abaixando a câmera e analisando a foto que havia acabado de tirar. - Nós namoramos a quatro anos, agora que você está prestes a se formar, com apenas mais semestre, acho que já pode pedir a minha mão em casamento, aos meus pais.

- Hm... Annie, eu vou me formar na residência, depois tem a especialização e por fim, eu vou ser um neurologista. Você ainda é nova, não precisa ter pressa, meu amor - beijei a sua cabeça, dando um sorriso largo.

- Nova? Percy, eu tenho vinte e nove anos, não sou mais tão nova assim - ela revirou os olhos. - Meus pais ainda não apoiam a minha ideia ter de abandonado o curso de psicologia pelo de moda, mesmo já fazendo tanto tempo que mudei.

- Você não tem apego as coisas, eles deveriam entender isso - falei lendo o texto sobre o sistema nervoso central.

- Eu tenho apego a você - ela falou colocando a câmera na frente dos olhos mais uma vez e batendo uma foto, que eu percebi ser minha. - Isso já é o suficiente… Eu acho que nos deveríamos fugir para Las Vegas e casar em uma capela, com o juiz vestido de Elvis Presley sabe?

- Sim, você estaria vestida de Marilyn Monroe - olhei para ela sorrindo, vendo a mesma bater mais uma foto minha.

- Obviamente e você seria um rei do rock. Com certeza não teria uma despedida de solteiro em um cassino, não confio nas prostitutas, mas não importa, nós iriamos nos casar escondido e voltar para a casa... Meus pais iriam ficar bravos com nós dois, seus pais iriam rir e achar fofo, e nós... - ela se aproximou de mim, deitando a sua cabeça no meu peito. - Nós seriamos felizes para sempre.

- Amnésia? Você ainda insiste nisso, querido? Nós estamos em dois mil e sete, não em dois mil e quatorze, não posso ter perdido sete anos da minha vida só porque bati a cabeça - Annabeth revirou os olhos. Ela havia acabado de acordar e a sua mãe havia ido resolver problemas a cerca de meia hora.

Juniper me chamou imediatamente e, enquanto fazia a verificação, tentei explicar para ela tudo o que havia acontecido.

Felizmente ou infelizmente, ela ainda havia acordado com a ideia de que estava em dois mil e sete, o que tornava as coisas mais simples para mim. Se ela tivesse acordado depois disso, eu não iria conseguir trabalhar com uma loira raivosa e orgulhosa.

Passei o dedo sobre o galo, na esperança de que o gelo que a Juniper havia colocado tivesse diminuído ele. Ela gemeu, se encolhendo, mas eu sorri satisfeito, vendo que a minha ideia havia funcionado.

- Estamos em dois mil e quatorze, Annabeth, e você não perdeu, você esqueceu momentaneamente, logo irá se lembrar de tudo o que viveu nesses últimos sete anos - respondi sério, anotando tudo no prontuário dela.

- Pelo visto nós não casamos - ela falou olhando para a mão, com melancolia. - E, sabe, eu tive um sonho estranho. - ela franziu o cenho. - Meu pai havia tido um ataque cardíaco e, quando ele foi internado, cruzei com você nesse mesmo hospital, parecia que eu te odiava.

- Você me odeia. - soltei um suspiro, procurando os comprimidos para dor de cabeça.

- Por que?

- Você irá se lembrar - estendi tanto o remédio quanto um copo d'água que Juniper havia trago para o quarto a meu pedido. - Vai melhorar a dor de cabeça.

- Tudo bem - ela pegou e bebeu, então me olhou mais um vez, com a sobrancelha arqueada. - Por que não me conta invés de esperar que a lembranças volte?

Dei de ombros, deixando a caixa de remédio e o copo vazio de água sobre o criado mudo que tinha no quarto. Olhei para o exame de raios-X, era outro exame, que havia sido feito logo que ela acordou, assim como os outros exames do seu cérebro. Estava tudo em ordem.

- Feche os olhos e relaxe, Annabeth, ajuda a trazer as memórias de volta - disse caminhando para a porta e deixando ela ali, sozinha.

Eu não respondo porque eu não quero me lembrar da dor que isso causou a você, de dor que causou em mim e do seu olhar assassino quando me encontrou nesse hospital, Annabeth, seu pai teve um ataque cardíaco bem no dia em que eu havia começado a trabalhar aqui. - pensei caminhando pelo corredor e indo ver meus outros pacientes, pacientes que tinham muito mais do que uma amnésia momentânea.

12 de Janeiro de 2008

Cruzei meus braços, mantendo a aparência seria e indiferente enquanto Annabeth tagarelava sobre os pais dela só pensarem no ego deles e não se importarem com o que a filha gostava, ou queria fazer.

- Eles se esqueceram que eu já sou de maior, que eu tomo as decisões da minha e que nem moro mais junto com eles! Eles se esqueceram que eu gosto mais de moda e fotografia do que de psicologia... E dai que eu abandonei o curso no último semestre? O problema é totalmente meu! - ela jogou as mãos para o alto, me encarando. Seu cenho se franziu e ela arqueou uma sobrancelha. - O que houve? Eu estou falando dos meus problemas e estou me esquecendo de você...

- Não é nada demais, Annie - puxei ela para perto de mim. - Lembra daquele estágio que eu me inscrevi?

- Lógico que lembro, você estudou feito maluco para ele! Você conseguiu?

- Sim - soltei um suspiro, fechando a minha expressão. - Em Seattle.

Ela arregalou os olhos, deu dois passos para trás e cruzou os braços, séria. Eu a conhecia o suficiente para saber que ela fazia contas, pensava na distância de Seattle para New York e o quanto seria complicado ir e voltar para lá todo final de semana, ou só dois deles. Eu havia feito o mesmo e provavelmente havia chegado a mesma conclusão que ela.

Pegar um voo sábado de manhã para voltar domingo pela noite, todos ou apenas dois finais de semana de um mês, era caro e complicado. A vida de um médico era desregulada, não existia horários fixos e eles na tinham folgas todos os fins de semanas, dois dias seguidos.

- Você negou, não é? - ela perguntou com o olhar suplicante. Balancei a minha cabeça, negativamente. - Percy, e nós dois? E a vida que iriamos construir juntos? Você vai ficar dois anos lá!

- Eu sei, Annabeth! Eu vou ficar dois anos lá, mas eu vou estar fazendo o que eu gosto! O que eu amo.

- Então você não me ama?

- Amo, mas é a minha carreira que está no jogo, não posso abandonar a chance de ter um estágio com o melhor neurologista dos Estados Unidos, de trabalhar no melhor hospital neurológico do país por você! Você não tem apego a nada, nem as pessoas - respirei fundo, controlando a minha voz. - Nós namoramos por quatro anos, mas até hoje eu acredito que você pode terminar comigo porque cansou. Você brinca com tudo e depois acha ruim os seus pais te repreenderem.

As lágrimas começaram a escorrer pela sua face e logo toda a sua maquiagem estava borrada. Ela não se importava em limpá-las, apenas queria digerir tudo o que eu havia dito a pouco.

Respirei fundo, odiava vê-la chorando, era o meu maior ponto fraco, mas eu tinha que seguir a minha vida e, com essa Annabeth, eu corria o risco de perder todas as minhas oportunidades.

- É assim que você pensa, então? Parabéns, Percy, vá amar a neurologia, quem sabe os sentimentos dela sejam recíprocos por você - ela deu um sorriso sarcástico, pegando as coisas dela. - Porque, no momento, eu só sou capaz de odiar você. Nunca ninguém vai te amar como eu te amo, afinal, pelo o que parece, nada do que vivemos foi real para você.

14 de fevereiro de 2009

- Você ligou para Percy Jackson, no momento eu não estou disponível, deixe seu recado que eu retorno assim que possível.

Sorri sem humor, olhando para o telefone e esperando a mensagem começar. Eu já sabia de quem era, mas eu não tinha forças para deletar sem ouvir.

Eu descobri que é verdade, você só dá valor a aquilo que tem quando perde. Eu queria ter coragem de procurá-la nos feriados, como o de hoje, pedir perdão por ter feito com ela o que eu fiz e trazê-la comigo para Seattle.

Não podia, desde o início eu não podia. Annabeth ainda era refém dos pais dela, se fizesse ela deixar a Columbia para vir para Seattle, os pais dela iriam deserdar-lá, abandonar ela, como haviam dito quando ela comentou que queria fazer um curso de artes gráficas a cerca de três anos atrás.

- Hoje eu fui no Central Park, naquela ponte com o rio congelado por causa do frio e me lembrei que foi lá que você me pediu em namoro, da maneira mais idiota possível, mas foi lá e eu aceitei como uma idiota apaixonada... Pensei no nosso ultimo beijo, que não foi naquela noite, mas foi incrível passar a noite com você, como sempre fora incrível passar toda as noites dos últimos anos com você, Perseu Jackson. Sou uma idiota de te ligar, mas eu cheguei a seguinte conclusão, primeiramente você precisar mudar esse receptor de chamada, porque você nunca retorna as chamadas, sei que não é ta ocupado assim para passar o resto da vida sem poder retornar uma chamada. A outra é que essa é a última vez que eu te ligo. - ela soltou um suspiro satisfeito. - Sei que você está bem, sei que você seguiu em frente e que está saindo com uma garota, então eu acho que guardar na minha mente o momento em que você volta para mim, sorrindo e formado, me pedindo em casamento, é coisa de adolescente. Eu vou passar uns tempos em Paris, meus pais concordaram que é melhor para mim e bem, para a minha carreira. Espero que você se sinta só, que sinta a minha falta, porque a partir de agora, eu deixei de sentir a sua falta. Vou ter uma amnésia de você, esquecer que participou da minha vida, dos últimos anos, só vou guardar os momentos sem você. Adeus, Perseu.

Olhei para os últimos exames da Annabeth, vendo que, como os anteriores, estavam todos ótimos. Eu sabia essa queda poderia vir a causar algo no futuro, como uma nova amnésia, talvez uma amnésia mais forte, então expliquei tudo da melhor maneira possível para ela.

A mesma não dizia muito, ela apenas fez algumas perguntas e ouviu todas as minhas respostas atentamente. Não sabia se a memória dela havia voltado, ela não dizia nada, mas não tinha aquela expressão confusa de antes.

- Você irá passar a noite em observação, só por precaução mesmo - respondi fechando o prontuário dela e vendo meus outros horários.

Eu estava "livre" por uma hora e meia. Não tinha pacientes, mas as vezes, como hoje, acontecia casos na emergência e era muito pouco tempo para descansar, poderia fazer isso mais de madrugada, quando teria cerca de três horas livres.

- Ontem... Ontem foi dia três de dezembro, não? - ela franziu as sobrancelha, me parando na porta.

- Foi. - respondi, me virando em meia-lua para ela.

- Eu sei, só queria saber se você se lembrava do que era ontem - ela me olhou, com o olhar magoado. - Eu me lembrei durante a tarde de tudo, mas sabe quando você lembra de tudo como se estivesse vendo isso passar como um filme? Foi assim que eu me lembrei dos últimos cinco anos.

Encostei a porta, incomodado, e me aproximei da sua cama. Ela se ajeitou e bateu no espaço ao seu lado, pedindo para que eu me sentasse, mas não podia fazer isso, era etiqueta médica.

Mas eu me sentei, mesmo assim.

- O que quer dizer? - puxei seu prontuário e peguei a minha caneta, anotando que a memória dela havia voltado após dezoito horas.

- Sua letra ainda é horrível! - ela sorriu olhando para o prontuário, colocando a ponta dos dedos sobre a minha caligrafia. - Eu vi tudo com outros... Olhos. É, é essa a palavra que se encaixa no momento. Eu vi tudo de maneira diferente e acabei tomando isso, essa queda e essa amnésia, como uma lição de vida por ter sido tão egoísta com você.

- Não foi egoísta, Annabeth, você me deixou ir. - fechei o prontuário, dando de ombros para isso. Era perda de tempo eu ouvir o que já sabia.

- Não. Eu te deixei ir, mas eu fiquei te torturando com fotos e ligações, ligações que você nunca retornava, por mais de um ano... Eu queria que vocês sofresse e se quebrasse como eu sofri e me quebrei, mas ai a sua mãe me contou sobre aquela garota, Calipso, que você estava saindo com ela e na hora eu quis te matar por isso... - ela foi diminuindo o tom de voz. - Eu não queria te ver com mais ninguém, queria você só para mim, mas também não queria desculpar você por ter me deixado. Até esquecer de tudo isso hoje, sentir aquele vazio, aquele vácuo dentro de mim e, então me lembrar.

- Annabeth, estão me chamando na emergência, desculpe. Mas tarde venho ver como está - falei desativando o bipe, as pressas novamente.

Deixei o prontuário dela e peguei minha prancheta, caminhando para a porta e ouvindo o bipe mais uma vez.

- Percy - ela me chamou quando estava prestes a fechar a porta, olhei para ela rapidamente, vendo suas bochechas vermelhas. - Eu ainda te amo.

22 de Maio de 2011

Ela caminhava de um lado para o outro na sala de espera. Ele estava atendendo um caso de emergência, nunca esperando o que podia vir a acontecer assim que ele saísse da cirurgia que fazia.

Não podia ficar nervoso, não era a sua primeira cirurgia, mas era a primeira cirurgia que ele fazia sem Quíron, e era a partir dela que ele iria recomeçar a sua vida em New York, como médico cirurgião neurologista.

Ela estava desesperada, queria notícias o mais rápido possível, queria saber se seu pai estava bem ou não, se ele havia sobrevivido o ataque cardíaco ou se o pior tinha acontecido.

Ela queria acreditar que não, que ele estava bem e que os médicos estavam apenas se certificando disso. Perder o pai, a essa altura do campeonato? Tudo bem, ele nunca aceitou as decisões da filha, mas ainda assim ela o amava, assim como amava a mãe, que mantinha a aparência tranquila em um canto, mas por dentro ela explodia de desespero.

Ela cansou de andar de um lado para o outro, isso era ridículo, mas ela também não conseguiria ficar sentada. Decidiu caminhar pelos corredores, ele havia dado entrada a meia hora e o que ela fez em meia hora foi irritar todos da sala de espera com a sua agitação.

Ignorou o elevador e subiu pelas escadas, sempre fazia isso no seu prédio quando estava agitada ou irritada. Subiu dois lances e viu que estava em um área mais restrita e séria, de um lado para o outro circulava enfermeiros com macas totalmente cobertas, mas com o contorno de um corpo por baixo.

Achou estar no necrotério, mas ai viu um grupo de enfermeiros sair de uma sala com uma pessoa totalmente encubada, cheia de agulhas e com um medidor cardíaco ao seu lado. Demorou para ela perceber que o homem tinha um curativo razoavelmente grande na cabeça.

Respirou fundo e se virou, se arrependendo logo em seguida.

Ele estava ali, com um paletó branco e um sorriso largo no rosto, tirava luvas ensanguentadas das mãos e conversava com uma garota. Ele jogou as luvas no lixo e lavou a mão, concordando com a cabeça sobre algo e então saiu da sala com vidro transparente.

Ela quis sair correndo, ou então cavar sua cova ali mesmo, mas não sabia aonde havia ido parar a sua razão e os seus movimentos, estava congelada no lugar. E ele vinha, sem querer, na direção dela.

Respirou fundo e viu ele analisar uma prancheta enquanto caminhava, distraído, lendo alguma coisa e passando e voltando folha. Ela deu um passo para o lado, para que ele não esbarrasse nela, mas o mesmo levantou a cabeça bem na hora em que ela iria se afastar.

Ele não estava muito diferente da última vez, o mesmo cabelo preto, os mesmos olhos verdes e a mesma pele pálida. Seus lábios se franziram e ela levantou o queixo, soltando um suspiro indiferente.

- Olá - ele falou querendo passar por ela, mas a mesma se colocou na frente.

- Sou uma estranha agora? Ah, espere, sua nova namorada não deve gostar que você fale com outras mulheres não é? Principalmente com a sua ex-namorada.

- Desculpe, Annabeth, mas eu acabei de fazer uma cirurgia complicada e preciso me certificar de que meu paciente está bem. - ele deu de ombros, passando por ela.

- Sempre colocando o trabalho acima de tudo. Continue assim e acabará com a única coisa que te importa: trabalho, mas até ele acaba um dia - ela cruzou os braços, após bater palmas de desdém.

- Isso é problema meu, não?

- Ah, sim, é...

- Então - ele deu um sorriso amarelo. - Foi bom te rever, Annabeth.

- Não posso dizer o mesmo, Perseu. - ela sorriu com ironia.

- Quer algum calmante? - Juniper me perguntou e eu neguei com a cabeça. Já estava cansada de remédios.

- O Dr. Jackson está ocupado?

- Sim, ele está fazendo uma cirurgia de emergência - ela respondeu arrumando o cobertor nas minhas pernas. - Já faz quase duas horas.

- Cirurgias cerebrais são complicadas?

- São, o nosso cérebro é o membro mais importante do corpo, se alguma coisa acontece com ele, você perde tudo. - Juniper respondeu, se afastando para a porta. Ela era a enfermeira mais gentil que havia passado pelo meu quarto hoje. - Você deveria descansar, o Dr. Jackson não irá te dar alta amanhã se não estiver realmente bem e, para você que teve amnésia, é essencial.

- Como ele é? O Dr. Jackson.

- Um ótimo médico, dedicado, dentro dos horários, sempre se aperfeiçoando e dando atenção a todos os seus pacientes. Ele não se acha melhor que ninguém nesse hospital, mesmo tento um dos melhores currículos. - ela respondeu orgulhosa - Trabalho com ele desde que entrei aqui. Quem se casar com esse homem será muito sortuda, ele é um ótimo homem.

A mesma começou a mexer em um anel no dedo, percebi ser uma aliança de noivado e todos os meus hormônios explodiram dentro de mim. Ele estava noivo dela? Poderia, eles trabalhavam juntos todos os dias, com diversas pessoas, nada mais justo.

Mas eu ainda amava ele, estava disposta a qualquer coisa por ele. Teria quantas amnésia fossem possíveis, necessárias, de propósito.

Eu teria ele novamente, seria egoísta mais mil vezes, mas ela o amava do maneira doentia.

- Juniper a minha cabeça! - levei as mãos a cabeça, forjando lágrimas e soltei um grito. - A minha cabeça parece que vai explodir!

A mesma fez alguma coisa que eu não percebi e logo apareceu com uma agulha, pronta para colocá-la no meu soro, quando gritei:

- Não quero morfina, quero o Dr. Jackson! - joguei meu corpo para frente, deixando algumas lágrimas caírem.

- Só um minuto, Srta. Chase - ela saiu correndo e me deixou ali, sozinha. Sorri, percebendo que havia funcionado com ela, mas tinha que fazer algo em relação ao Percy.

Olhei ao meu redor, procurando algo. Não existia nada de pontudo no quarto, mas dentro da minha bolsa, provavelmente sim. Atenta a qualquer barulho dele, me estiquei e peguei, abrindo ela rapidamente a procura de algo.

Eu achei um alicate de unha, o que eu poderia usar para furar meu nariz e fingir que uma veia havia estourado. Fechei meus olhos e assim fiz, gemendo por causa da picada, então senti o líquido quente escorrer e joguei o alicate de volta na minha bolsa, colocando ela no lugar.

Soltei um grito por mexer o braço com a agulha do soro, então engoli em seco e voltei a forjar lágrimas de dor, dando soluços e abraçando a minha cabeça enquanto sangue pingava no lençol azul claro do hospital.

A porta foi aberta rapidamente e eu não fiz questão de olhar, gritei quando as mãos de Percy tocaram o ponto da batida e joguei a minha cabeça passa trás, olhando para ele assustada.

- Preciso limpar isso - ele se virou para pegar algodão e passou em alguma coisa, para então começar a limpar o meu nariz ensanguentado. Ele parecia não se importar com a minha dor de cabeça, que não existia. - Juniper, verifica para mim se a Rose não teve nenhum outro ataque de epilepsia, por favor.

- E ela, Dr?

- Eu cuido dela - ele respondeu ainda limpando o meu nariz. Juniper concordou com a cabeça e saiu, fechando a porta em um baque surdo.

Ele não disse nada, apenas terminou de limpar o sangue do meu nariz e, inclinando a minha cabeça para trás, pingou algo que fez arder demais o local onde havia o corte.

Ele juntou tudo o que usou e jogou no lixo do banheiro, não se importando em verificar ou me mandar para mais uma radiografia, como fez o dia todo. Quando voltou percebi que ele estava com o olhar cansado, seu jaleco estava aberto com o seu nome bordado com azul claro.

- Francamente, Annabeth, fingir? - ele soltou um suspiro e pegou um algodão, precionando ele no meu nariz, novamente. - Se você estivesse tendo algo, a dor seria bem mais insuportável, você iria desmaiar. Além do mais, o hematoma que se formou no lugar do golpe teria inchado novamente, Juniper acreditou, mas eu não. Seus exames foram feitos a algumas horas atrás, se você tivesse com uma hemorragia já teria começado a aparecer.

- Eu queria ver você, e a sua enfermeira queria me colocar para dormir. Não terminamos de conversar - falei com uma voz estranha, mas ele não pareceu achar isso.

- Estou trabalhando.

- Eu quis, Percy, eu quis ter uma amnésia de verdade porque ontem ia fazer nove anos de namoro, se não tivéssemos terminado. - ele tirou o algodão do meu nariz e deitou a minha cabeça para trás de novo, pingando o mesmo negócio. - Eu acho mais fácil esquecer que te amei do que suportar a dor que até hoje eu sinto por não te ter.

- Escorregou de propósito?

- Não, mas acho que as palavras têm poder - murmurei abaixando o olhar. Ele soltou o meu queixo, se virando para a bandeja com alguns copinho e começou a olhar eles. - Já estou farta de remédios.

- Está em um hospital.

- Estou realizando meu sonho de ter você cuidando de mim - me sentei no momento em que ele se virou, com um copinho e outro com água. - Não irei tomar remédio.

- Eu posso colocar ele em você através do soro.

- Também não preciso mais do soro.

- Teimosa - ele resmungou deixando os dois copos de lado. - Tudo bem, Annabeth, faça o que quiser.

- É um prazer - falei tirando a agulha do soro do meu braço e soltando ela, peguei um algodão e precionei ali por uns minutos, então tirei grata por ter sangrado pouco e me levantei da cama, cambaleando.

Ele me segurou antes que eu desse de cara com o chão.

Respirei fundo, me levantando, mas mesmo assim ele não me soltou. Nossos corpos estavam próximos e eu melhor me apoiei segurando seus bíceps, olhando para ele e vendo a imensidão esverdeada dos seus olhos me fitarem curiosos, e eu conhecia toda aquela curiosidade melhor do que ninguém.

Eu vi a minha vida dentro daqueles olhos, vi tudo o que nós vivemos juntos e vi todos os planos que havíamos planejado anos atrás. Era como se ele fizesse parte de mim, um pedaço meu que a muito tempo eu havia perdido e, apenas agora, depois de anos, reencontrado.

Não poderia viver sem ele mais uma vez, eu sabia exatamente como eu seria. Eu havia provado do doce e do amargo, havia convivido com as suas palavras sobre eu não ter apego, por que eu não tinha apego a ele.

Eu o amava, e amo até hoje, porque ele era uma parte minha e viver sem ele é simplesmente não viver.

Eu quis ter amnésia, esquecer tudo o que passamos juntos, mas eu simplesmente não iria preencher aquele espaço em branco apagando as minhas memórias, eu apenas iria perder o sentido dele estar ali.

O meu sentido esta ali na minha frente e eu me agarrei a pequena ponta de esperança de que restava. É intenso, é nazista e é egoísta, mas eu quero ele para mim.

Deslizei as minhas mãos pelo seu braço, acariciando seus ombros, pescoço e por fim o seu rosto, passando os dedos pelo seu maxilar e por fim nos seus lábios. Ele é o mesmo, apenas mais velho e mais sábio, eu ainda quero ele para mim, mas do que tudo.

Fiquei nas pontas dos pés, fechei meus olhos e encostei de leve meus lábios nos dele. O mesmo ficou imediatamente tenso, mas não se afastou, levei isso como um incentivo e me agarrei mais a ele, mordiscando seu lábio inferior e por fim selando nossos lábios. Pedi passagem, demorou, mas ele cedeu e eu me vi presa na nossa própria bolha particular quando ele correspondeu o beijo.

Seu cheiro amadeirado acariciava o meu olfato, enquanto suas mãos ficavam mais firmes na minha cintura e o beijo se tornava mais intenso, voraz. Não era sem jeito, aquela guerra idiota, era uma sincronia, sabendo perfeitamente o que fazer.

Sua barba rala fez cócegas na minha mão quando deslizei ela pelo seu rosto até a sua nuca, unhando ali de leve. Ele puxou o meu lábio e me beijou de novo, de maneira mais curta, para então morder meu queixo e ir descendo os beijos.

Joguei meu pescoço para trás, dando melhor acesso a ele. Suas mãos desceram pela minha coxa e entraram por baixo da camisola do hospital, dando leves apertos.

A única coisa que nos impediu de ir mais longe com isso foi o seu bipe, que tocou e fez ele se afastar de mim imediatamente.

Respirei fundo, dando dois passos para trás e me apoiando na cama. Percy recuperou seu fôlego e olhou para o bipe, revirando os olhos e o guardando ele no bolso novamente, para então me olhar.

- Não se afasta de mim novamente, eu não suporto viver sem você.

- Por que?

- Porque eu te amo, eu deveria ter ido contra os meus pais e te seguido para Seattle, ficar sem você é perder uma parte de mim e eu não quero ter que esperar mais cinco anos para ver que vai ficando cada vez maior e pior. Eu não te odeio, por o ódio é um sentimento apaixonado e, como todos dizem, o amor e o ódio andam de mãos dadas. Se te odiar significa que eu te amo da maneira mais egoísta, tudo bem, mas me dá uma segunda chance para fazer melhor que a primeira.

- Não irei te dar uma segunda chance. Você ainda tem a primeira, nunca errou, sempre fui eu, sou eu quem tem que te perguntar isso.

- Contanto que você fique comigo, te dou quantas chances quiser.

- Ótimo, Annabeth, não irei deixar você ter amnésia novamente por minha causa. Eu te amo, e ainda aceito fugir com você para Las Vegas e me casar com um juiz vestido de Elvis Presley - ele me abraçou pela cintura, grudando meu corpo ao dele. Sorri, sentindo os lábios dele sobre o meu, então o beijei.

- Isso é um pedido de casamento?

- Se quiser levar como um - ele mordiscou meu lábio. - Eu te amo.

- Idem. Eu te amo com a mesma força e intensidade que você me ama. E sim, eu aceito fugir com você.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Acho que quem lê as minhas fics já teve uma noção de como eu amo essa música e qualquer outra do 5 Seconds Of Summer, não é? Pois bem, eu amo.
Eu queria ter postado ela antes, mas não deu!!! Socorro, ela foi muito complexa em alguns aspectos, eu tive que correr atrás de pesquisas sobre amnesia, neurologia e toda essa coisa de medicina. Pois é, bonitinha mais deu trabalho.
Logo eu irei postar uma nova fic e, no sábado, tenho uma surpresa para vocês, fiquem atentos ao meu perfil viu???
Gostaria de agradecer a Gii (vulgo Maya Scalettine) por ter feito a capa mais linda do mundo! #Partiu fazer inveja nas inimigas e recalcadas.
É, thx Giii!
E se alguém recomendar, como é uma One, sinta que o capítulo foi dedicado a você(s), porque ele foi, a todos vocês.
Beijos e... Até nos comentarios??? Kkk bye cupcakes ♥♥♥