Papercuts escrita por Gaia


Capítulo 9
VIII - Uchiha




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“Bom, ainda bem que ninguém se importa com o seus problemas.

Voltando para o que interessa, Ino realmente ficou afetada com tudo o que Haru falou para ela depois que voltou de viagem, porque a primeira coisa que fez depois da briga foi ir para a Taka e desabafar, enquanto chorava exageradamente.

– Então ela disse que eu estava sendo muito machista porque assumi que ela precisasse de um acompanhante, mas não fui eu quem decidiu isso! Estava no convite, eu não posso fazer nada! – exclamou e continuou chorando no meu ombro, enquanto eu tentava em vão fazer com que as lágrimas não caíssem no novo forro do sofá.

– O que eu deveria ter feito? Tudo o que ela faz é estudar, ela não tem amigos! Eu estava fazendo uma boa ação! Você entende, não é? – Ino continuou e eu acenava com a cabeça, apesar de não concordar.

Foi por isso que eu fui falar com Haru para começo de conversar, porque não concordava com a ideia ridícula dela. Não que eu achasse que Haru fosse capaz de achar um par, porque é claro que eu não achava, mas também acreditava ser um tanto invasivo eu ter que fazer isso por ela.

Mas resolvi não discutir, afinal, esse evento beneficente seria o fim do meu relacionamento com Ino, assim que eu descobrisse tudo sobre a sua família.

– Você está certa. – murmurei sem vontade e Ino continuou a falar sobre a briga, de como Haru foi grossa e irreflexiva, mas tudo o que eu conseguia imaginar era Ino dando argumentos estúpidos e Haru revirando os olhos, enquanto tentava convencê-la de que estava errada.

– Eu espero mesmo que ela ainda vá, porque eu sei que ela se comportaria, ela é a minha única amiga respeitável, os meus pais... – soluçou e eu comecei a prestar atenção, mas ela parou. - Ela tem que ir! – completou por fim.

– Por que você não tenta pedir desculpas? – perguntei, sem querer soar como zombaria, mas soando mesmo assim.

Ino enxugou os olhos azuis e me encarou com uma expressão estranhamente feliz que me fez pensar que eu tinha cometido um grande erro ao ter perguntado aquilo. Porque de repente eu soube exatamente o que ela iria dizer.

– Ela não vai me ouvir. – começou e era tarde demais para eu intervir. – Você não poderia falar com ela por mim?

Tentei não mostrar o absoluto desprezo que eu sentia na minha expressão, mas não sei se consegui. Ela continuou me encarando com seus olhos marejados e eu sentia que seria tão fácil simplesmente recusar e inventar uma desculpa, mas a verdade é que eu também queria que Haru fosse naquele evento. Não sei dizer porque, talvez eu achasse que se ela fosse, eu teria alguma coisa para fazer além de sorrir e fingir ser alguém que eu não era. Poderia me divertir irritando-a e fazendo-a me olhar com sua expressão favorita de desdém que ela usava tanto.

Era divertido irritar Haru afinal e esse era o único motivo que eu tinha para querê-la naquela festa, eu não estava em nenhum momento tentando fazê-la entrar na minha missão de descobrir informações sobre Ino. Ambos não sabíamos o que Itachi realmente queria, então não podem considerá-la como cúmplice de fato. Ela estava tão alheia a situação quanto eu. Bom, talvez não quanto eu... Mas os senhores entenderam.

Quando me dei por mim, eu já estava de volta na porta do 301 pensando no que exatamente diria para ela. Ela me odiava e eu não poderia oferecer absolutamente nada que Ino não pudesse. Revirei os olhos, aquela tinha sido uma péssima ideia. Quando finalmente bati e ela abriu, não consegui conter um sorriso.

Haru estava com os cabelos jogados de qualquer jeito para cima, seus olhos verdes estavam acompanhados por grandes olheiras e em suas mãos estava uma caneca de café que tinha alguns desenhos de quadrinhos. Fitei-a de cima a baixo e percebi que além do seu grande moletom que dizia “NO STRESS porra nenhuma!”, ela não estava vestindo nada.

Suas pernas nuas estavam cruzadas e seus pés cobertos com uma meia de bolinhas que era pateticamente infantil. Fiquei um tempo encarando as suas coxas e tentei imaginar como um moletom podia ser tão curto, mas tão comprido ao mesmo tempo. Eu conseguia imaginar o movimento que faria com que ele subisse para que eu pudesse ver sua calcinha, que provavelmente seria de algodão e estampada.

– É... Oi? – ela disse e meu olhar voltou para os seus olhos. Então me ocorreu o quão ridícula era parecia ali toda desleixada, abrindo a porta para que qualquer um visse o quão cansada ela estava. Era como se gritasse “olhem pra mim, eu não me importo com o que ninguém acha, sou inteligente e sexy ao mesmo tempo”.

Não que eu a achasse sexy, apenas acho que era essa a imagem que ela queria passar...

– Vai ficar ai parado sem falar nada? – Haru perguntou e eu notei que estava em silêncio, apenas a encarando como um idiota. Eu não tinha o que falar, estava concentrado demais em não encarar as suas coxas novamente.

– Ino quer que você vá no evento beneficente. – disse, rápido demais e ela franziu a testa.

– Francamente... – respondeu, antes de fechar a porta na minha cara. Aquilo me fez acordar para a realidade. Aquela era Haru, a menina arrogante e mal agradecida, que não aceitava perder e tinha complexo de superioridade. Eu a menosprezava, não a admirava. Eu estava sob o controle da situação, não ela. Quem ligava para as suas coxas?

Bati novamente na porta, dessa vez de forma mais firme e frenética, até ela abrir.

– Pelo amor de...

– Só porque Ino assumiu que você não conseguiria achar um par por si mesma, não quer dizer que ela pense menos de você. – não acreditei nas palavras saindo da minha boca, eu realmente estava defendendo Ino? – Na verdade, ela quer tanto que você vá porque você é a amiga mais respeitável que ela tem, apesar de eu discordar completamente. Talvez ela só estivesse preocupada que você não tivesse tempo o suficiente para se preocupar com uma coisa tão banal quanto um evento beneficente, porque estaria ocupada demais estudando, ela achou que estava fazendo-lhe um favor te livrando desse fardo.

Eu tinha um ponto, mesmo sabendo ser mentira. Ino nunca pensaria nisso e, percebi pela expressão que me encarou de volta, que Haru sabia disso, ela não estava engolindo nada do que eu estava falando.

– Não seja idiota. – foi tudo o que ela respondeu e eu franzi a testa. – Eu sei que você não acredita no que está dizendo, consigo ver nos seus olhos.

Pisquei algumas vezes, que porra era essa?

– Se Ino quer que eu vá tanto nesse troço a ponto de te fazer vir aqui, diga a ela que eu vou. Eu sei que ela deve ter feito alguma loucura para te convencer a vir falar comigo. – Haru concluiu e eu continuei fitando-a, agora com a minha habitual expressão de indiferença. Ela já tinha percebido a minha atuação, não adiantava mais bancar o namorado preocupado.

Quis dizer que Ino não tinha feito absolutamente nada além de simplesmente me pedir, mas percebi que não havia vantagem nisso, então dei de ombros e sai.

Eu não sei como Haru conseguiu de fato um par no fim, mas lá estava ela, alguns dias depois, com um sujeito magrela e branco demais ao seu lado. Ele tinha um cabelo preto ridículo que colava em sua cabeça de forma ainda mais ridícula e parecia doente de tão pálido. Tentei conter meu riso quando os vi vindo em nossa direção para irmos juntos, mas não consegui. Ino teve que me dar uma cotovelada para que eu parasse, o que foi bem efetivo.

Então, finalmente encarei Haru. Eu nunca tinha a visto tão arrumada, já estava acostumado com seus cabelos presos para cima e com suas roupas desleixadas. Mas Ino tinha me contado que passara o dia arrumando-a como se fosse um projeto. Eu imaginei, é claro, que se fosse assim, Haru sairia ridiculamente parecida com uma Barbie.

Não poderia estar mais errado.

Ino podia não ser muitas coisas, mas tenho que admitir que tinha um talento para a moda, de fato. Seu projeto estava usando um vestido verde daqueles sem alça que simplesmente ficavam no lugar por causa de seus peitos, o que foi uma das melhores invenções do mundo da moda, se me perguntarem.

O vestido terminava no meio de suas coxas, de forma que não a fazia parecer como uma vagabunda, como Ino parecia, com seu vestido apertado e vulgar.

Os cabelos rosas dela estavam soltos sobre seus ombros nus e eu finalmente pude ver o cumprimento deles. Eram lisos e compridos, chegando quase no meio das suas costas. Seus olhos estavam bem maquiados e já não era possível ver suas olheiras.

Ousei pensar que se ela se vestisse assim todos os dias, iria atrair muita atenção, mas o pensamento durou exatamente dois segundos, até ela abrir a boca para falar.

– Você parece um palhaço com essa gravata borboleta vermelha. – disse e eu revirei os olhos, me arrependendo imediatamente de ter pensado coisas remotamente boas sobre ela.

– Obrigado. – respondi com um sorriso encantador, que a fez bufar e revirar os olhos, puxando seu par com ela. Encarei o sujeito novamente, ele tinha olhos negros como os meus, mas infinitamente menos atraentes, é claro.

– Sasuke Uchiha. – cumprimentei, erguendo minha mão.

– Sai. – ele apertou a minha mão, mas eu continuei o encarando. Ele tinha acabado de me mandar sair?

– O que? – perguntei e ele repetiu a mesma coisa. Fiquei o encarando com uma mistura de confusão e ameaça, até que Haru esclareceu que era esse o nome do sujeito mesmo. Sim senhores, o nome dele era Sai.

Eu não consegui conter o meu riso, o que não foi bem visto por Ino e recebido com uma revirada de olhos por Haru, mas eu simplesmente não ligava. Sai pareceu não ligar par ao que eu achava, então por que eu deveria me conter?

Quando chegamos no evento, eu percebi imediatamente o tipo de família que Ino tinha e que ela insistia tanto em esconder. Senhores, aqui, admito, eu percebi as intenções de Itachi. Não completamente, e não em detalhes e, como eu disse, eram só suposições, mas eu não vou mentir e dizer que eu não sabia que tinha alguma coisa errada.

Era um evento extremamente de classe alta, no qual eu conheci diversas figuras públicas, inclusive amigos do meu pai. Havia vários donos de empresas, políticos e socialites, eu sabia exatamente onde estava me metendo, tinha ido a eventos como esse desde os meus dez anos.

Se a família de Ino fosse rica como eu supus que fosse, talvez Itachi queria dinheiro por chantagem, o que não seria uma novidade para os Uchiha. Vocês podem estar perguntando se eu estava pensando em desistir. À essa altura, a única coisa que eu estava pensando era que eu poderia acabar com aquilo logo e me livrar de Itachi e de Ino de uma vez por todas, então não, não estava pensando em desistir.


Novamente, não vou mentir. Eu percebi sim que qualquer coisa que Itachi queria fazer era ilegal, mas mesmo assim procedi com a missão por motivos egoístas e isso eu não nego. Talvez eu seja mesmo culpado.

Depois de sermos designados para uma mesa, que parecia ter apenas jovens da nossa idade, Ino me segurou pelos braços e falou que queria me apresentar ao seu pai. Eu estava pronto para anotar mentalmente tudo o que eu possivelmente teria que lembrar.

– Pai, esse é Sasuke, o meu namorado. – ela disse e eu percebi o orgulho em sua voz, como se eu fosse um prêmio conquistado. Bom, eu realmente era um bom partido, isso eu não posso negar.

– Prazer, Sr. Yamanaka. – cumprimentei-o e ele me encarou de cima a baixo, para depois soltar um sorriso.

– Sasuke Uchiha? – perguntou e eu acenei. – Eu conheço o seu pai, filho. Somos grandes amigos.

– Sim, ele fala bastante do senhor. – menti. Eu não fazia ideia de quem eram os amigos do meu pai e com quem ele se relacionava ou não. A verdade é que eu não podia me importar menos com a os negócios da empresa.

Eu o encarei de cima a baixo e notei os sinais claros. Ele era um político e, se era amigo do meu pai, era provavelmente corrupto. Cada vez mais ficava mais claro o porque Itachi queria saber informações do sujeito. Mil possibilidades passaram pela minha mente. Talvez ele devesse dinheiro a empresa, ou talvez precisavam saber se ele era confiável antes de investir nele....

– Fala? Isso é demais! - Ino sorria radiante do meu lado e eu me esforcei para não afastá-la e conversar com o cara a sós.

– Você precisa dizer para ele aparecer mais, faz um tempo que está recluso na empresa, algumas pessoas estão começando a acreditar que ele está com problemas financeiros. – o pai de Ino comentou e eu mantive meu sorriso, apesar da expressão dele mostrar provocação.

– Você conhece meu pai, ele é viciado em trabalho.

– Verdade, verdade. Mas ainda assim...

– Ah, isso está me entediando, odeio esses papos de negócio! – Ino interviu e eu tentei matá-la com a mente. – Vamos, amor, quero dançar.

Dei uma última olhada para o pai dela, ele apenas acenou com a cabeça para mim com um sorriso falso que eu retribui com outro aceno. Ino me arrastou para a pista de dança e começou a dançar de forma sensual na minha frente. Do outro lado, eu conseguia ver a mesa em que Haru estava. Ela parecia rir com o cara esquisito e eu pensei que ela estava tendo um dia muito melhor que o meu.

Encarei o resto do ambiente e comecei a planejar como extrairia mais informações dos Yamanaka.


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Notas finais do capítulo

Oiiee, cap novo hj pra vocês (:
Gostaram? S2

:*