Papercuts escrita por Gaia


Capítulo 8
VII - Haru




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“Como sempre, Uchiha estava errado. Eu estava acostumada com festas e eventos sociais em geral até demais. Bom, vamos dizer que eu tinha uma reputação e que tive que parar, mas isso não é relevante.

E ele também estava errado ao achar que eu estava caindo de amores por ele por querer jogar outra partida de beer pong com ele. A verdade era que ele só ganhou porque tinha começado e não porque era realmente melhor que eu. Eu sou uma pessoa um tanto competitiva, então se fosse um macaco do outro lado da mesa, eu não me importaria. Uchiha não estava tendo nenhum impacto sobre mim, se não repulsa toda vez que ele bebia cerveja deixando derramar um pouco sobre o seu maxilar e na sua camisa branca, que cada vez ficava mais molhada, mostrando seus...

De qualquer forma, depois de algumas rodadas do jogo, eu comecei a ficar levemente afetada, porque apesar de ter bastante resistência ao álcool, adquirida depois de muitos anos, eu ainda era humana.

Eu estava um pouco tonta e já não estava contando os pontos. Não lembro muito bem de como a festa acabou ou o que eu fiz o resto da noite, mas eu lembro de ter me divertido bastante e até dançado com Uchiha em alguns momentos de fraqueza.

Diferente do que os senhores acham, eu não me joguei nos braços daquele ser vil e desprezível e, mesmo se eu tivesse algum interesse nele -o que era impossível- ele era namorado da minha amiga e nunca tinha me passado na cabeça que ele estava mentindo pra ela, apesar de tudo.

Depois do fim de semana de festas, eu tive que retomar minha vida e isso significava estudos. Minha vida baseava-se em ir na biblioteca, tomar café, conversar com Naruto e tentar convencer Ino que a jaqueta de couro dela não era de couro de verdade, porque dizia “100% Poliéster” na etiqueta.

Como vocês podem perceber, o meu ultimo interesse era me envolver com qualquer coisa que me tirasse da minha zona de conforto, me levasse para uma delegacia e me fizesse ter que depor. Eu sei que pareço insistente, mas é isso o que eu estou tentando ser mesmo, devo insistir que sou inocente.

Mas, como tudo na minha vida, o problema me procurava e eu o abraçava com saudades.

Inocentemente, eu estava lendo os meus livros de sempre, quando vi que o meu comentário tinha sido respondido novamente. Dizia: “Liberdade de expressão: ser livre para se expressar. Não é tão difícil. E eu mantenho a minha ideia com o acréscimo de: você não contribuiu em nada com o seu primeiro comentário, por favor esclareça o que está de errado na passagem para que seja util. Os usuários do livro agradecem."

Bufei, sem acreditar. Que cara chato. Uma parte de mim queria apenas ignorar e não escrever mais nada, deixando-o no completo vácuo para ver se ele se tocava do quando estava sendo patético, mas a outra parte queria ganhar aquela discussão até que ele parasse de escrever.

Obviamente, a parte competitiva e orgulhosa venceu e eu respondi:

Aparentemente eu contribui para que idiotas como você se questionassem o que há de errado com a frase e refletissem sobre ela sozinhos. Isso é o máximo que eu posso fazer por sua pobre alma.”

O que, agora em retrocesso, percebo que não foi a melhor resposta que eu poderia ter dado, mas eu estava um com muita cafeína em meu organismo, então eu me perdoo.

A essa altura, eu estava convencida que o meu correspondente de livros era Rock Lee, então resolvi encontrá-lo. Eu não me importava muito com o que falavam sobre ele, que ele era esquisito e tudo o mais. Quer dizer, o conceito de esquisitice de Naruto e de Ino era no mínimo duvidoso e fazer “Artes do Corpo” talvez fosse boêmio e legal e não completamente bizarro.

Eu tive exatamente um dia de folga das aulas, no qual pude fazer as minhas coisas. Era um sábado e Ino tinha voltado para as casas dos pais, me deixando sozinha em um campus relativamente vazio. Fui para o prédio de Artes e sentei no gramado da frente, apenas observando. Eu já tinha feito as minhas pesquisas, com a ajuda de redes sociais, eu sabia como Lee parecia e com quem ele andava, além de descobrir que ele ficaria na UKo naquele sábado.

Talvez vocês devessem me dar um emprego como investigadora, porque eu realmente sei encontrar pessoas e descobrir traições apenas pela internet. Eu seria de grande ajuda para aquelas investigações inúteis de madames que contratam vocês para... Ah, ok, foco.

Depois de algumas horas, nas quais eu gastei prazerosamente lendo um livro que não estava incluso em nenhuma das minhas bibliografias, Rock Lee apareceu saindo do prédio. Ele era ainda mais patético ao vivo. Usava um estilo de cabelo ridículo que eu poderia apenas descrever como “’tigela” e roupas apertadas demais para o seu corpo. Mas tenho que admitir que o que mais se destacava em seu rosto eram suas enormes sobrancelhas, que eu conseguia enxergar mesmo de onde eu estava.

Fiquei imaginando como raios alguém como ele podia ser tão insolente, arrogante e sarcástico, mas talvez eu julgasse muito pelas aparências. Afinal, eu tinha feito isso com Ino e ela se tornou relativamente diferente do que eu imaginava, de uma forma boa, é claro.

Com isso em mente, resolvi me aproximar, afinal, o que eu podia perder? Eu não sei exatamente porque queria conhecer Rock Lee. Talvez eu estivesse me divertindo com a nossa troca de insultos ou talvez eu só queria acabar com ele pessoalmente e ver sua expressão quando eu fosse a última a falar.


Ele estava andando de um jeito estranho, sozinho e com uns livros em mãos quando eu me aproximei e disse “Oi” de um jeito extremamente patético. Ele me encarou por alguns segundos com os olhos arregalados e eu pensei ter alguma coisa no meu rosto.

– Oi. – ele disse e eu sorri. Apesar de não parecer, eu posso ser simpática quando eu quero e na maioria do tempo eu era, quando a pessoa merecia, obviamente.

– Você é a pessoa que anda conversando comigo com anotações em livros? – perguntei, direta. Porque eu não acredito em conversa mole e joguinhos como certas pessoas que conhecemos.

O rapaz me encarou com ainda mais incredulidade e então abriu um sorriso amplo que me lembrou um pouco o de Naruto, quando ele estava pronto para fazer alguma besteira.

– Sou! – ele exclamou rapidamente e eu ergui as sobrancelhas, porque apesar de ter achado que era ele por esse tempo todo, eu ainda tinha minhas suspeitas. Mas é claro que o mundo mandaria um esquisitão para mim, era ridiculamente óbvio.

– Ah. – soltei, sem a intenção. Não queria soar desapontada, mas era o que estava acontecendo, então...

– Sou Rock Lee! – se apressou e ergueu a mão para me cumprimentar e eu apertei-a. – Mas pode me chamar de Lee!

– Sou Haru. – respondi e vi seu sorriso aumentar.

– Prazer, prazer!

Fiquei o encarando com indiferença, enquanto via seu sorriso crescer a cada segundo. Ele ficava cada mais vez esquisito e eu cada vez mais curiosa para saber como a personalidade do livro se encaixava na personalidade da vida real. Sim, senhores, percebo agora como fui ingênua. Mas a verdade era que eu estava inconscientemente tentando ao máximo não ter que me dar ao trabalho de realmente ter que descobrir quem era o meu correspondente, por puro medo.

É claro que essa percepção veio só com o tempo e só posso dá-la agora, porque na hora, eu simplesmente estava curiosa e intrigada.

– Prazer... – murmurei, apreensiva.

Eu vou pular a parte em que almoçamos juntos e conversamos sobre o que exatamente ele estudava em Artes do Corpo porque além de não ser relevante para o caso, é extremamente maçante.

Quando eu voltei para o meu alojamento naquele fim de tarde -completamente exausta e querendo me matar por ter tido a ideia ingrata de ir atrás do meu correspondente- foi a quarta vez que eu encontrei Uchiha, não que eu estivesse contando.

Ele estava andando em minha direção, vindo do outro lado do corredor, enquanto eu chegava na porta do meu quarto. Percebi, tarde demais, que nossos destinos eram o mesmo, quando ignorei sua presença e trombei de frente com ele.

– Olha por onde anda! – exclamei, porque apesar de ter sido minha culpa, eu sempre podia fazê-lo se sentir mal.

– Você ainda está brava porque perdeu pra mim no beer pong? – Uchiha perguntou com um sorriso divertido no rosto e eu bufei. Nós tínhamos ficados bêbados demais para ter alguma memoria afetiva da nossa ultima partida, era impossível ele afirmar que tinha ganhado, então preferi ignorar a provocação.

– Ino está viajando. – informei. – Se você fosse um terço do bom namorado que ela acha que você é, saberia disso.

– Eu sei que ela está viajando. É com você que eu quero falar. É importante. – ele disse, enquanto me encarava seriamente.

O fitei com incredulidade e por alguns segundos eu realmente acreditei que ele tinha algum assunto importante para falar só comigo. Eu sabia que era impossível, já que não éramos amigos e não tínhamos absolutamente nada sobre o que falar, mas alguma parte de mim esperava por alguma coisa. É estranho pensar nisso agora, porque eu tenho a noção de que eu estava lentamente caindo nas artimanhas de Uchiha e seus olhos negros estavam começando a me afetar de uma forma inexplicável.

– ... O quê? – hesitei em perguntar e ele riu, provando que a faísca que eu tinha sentido era só um efeito colateral do tanto de café que eu tinha tomado e que tinha tornado meu cérebro retardado por alguns infelizes segundos.

Então, ele se aproximou lentamente e sussurrou no meu ouvido, perto demais se me permitem dizer.

– Você é irritante. – foi o que ele disse, enquanto os meus cabelos pintados se mexiam conforme sua respiração. Novamente, ele estava perto demais.

Por alguns milésimos, eu não soube o que responder e me surpreendi comigo mesma por me pegar sem palavras, mas logo a minha língua não me decepcionou ao responder:

– Pelo menos eu não furo fila.

O namorado de Ino começou a rir e eu continuei o encarando com um pouco de irritação e o resto de indiferença. Não podia julgá-lo, vai saber se ele era retardado mental.

– E ai, vai me deixar entrar no meu quarto? – perguntei a certo ponto, quando percebi que ele estava na frente da minha porta.

– Espera, eu realmente vim aqui para falar com você. – Uchiha falou e eu suspirei. – Ino disse que te convidou também para o evento beneficente do pai dela, certo?

Acenei que sim com a cabeça. Ela tinha mencionado algumas vezes como o namorado perfeito dela tinha aceitado ir com ela e como ele era tão altruísta de fazer isso, o que era patético, porque qualquer namorado que se preze aceitaria um pedido desse. Estava tipo no contrato implícito de qualquer namoro de que um tem que acompanhar o outro em eventos chatos de família.

– Então, ela me pediu para achar um par para você, porque é um evento um tanto chique e ela não quer que você vá sozinha. – ele continuou, enquanto eu franzia a testa gradualmente. – Como eu sou um cara legal, vim passar essa responsabilidade para você, não quero ter que estragar a vida de um cara ao pedir uma coisa dessa. Você entende, certo?

Eu fiquei o fitando com incredulidade no meu rosto. Não era possível que Ino faria uma coisa dessas. O sangue começou a subir para o meu rosto e eu me sentia como aqueles personagens de desenho animado com fumacinhas saindo pelas orelhas. Eu não sei que expressão eu estava fazendo, mas Uchiha deve ter compreendido errado, porque fez uma expressão de súbita surpresa e começou a murmurar:

– Ei, eu estava só... Não quis dizer que...

– Não é com você que eu estou decepcionada. – esclareci, antes que ele se expusesse mais ao ridículo. – Eu nunca tive nenhuma expectativas sobre você para me decepcionar em primeiro lugar... Só não acredito que Ino faria uma coisa dessas, eu sou perfeitamente capaz de encontrar um acompanhante sozinha.

Uchiha continuou me olhando e eu percebi um tom de preocupação em sua expressão, ou talvez eu só estivesse alucinando de raiva. Então me ocorreu que talvez isso não fosse verdade. O único amigo que eu tinha era Naruto e ele tinha namorada e é claro que eu não podia contar com Rock Lee. Mas mesmo assim, saber que Ino não se deu ao trabalho nem de me perguntar se eu tinha alguém ou de me deixar tentar por alguns dias mostrava que ela não tinha esperança nenhuma de que eu pudesse arranjar alguém.

– Você é? – ele me perguntou, agora mudando sua expressão para divertida novamente. Como eu não mudei a minha, acho que ele percebeu que eu não estava brincando, que eu estava realmente irritada e simplesmente disse: - Bom, então mostre pra ela.

Pisquei algumas vezes, aquilo era tão não característico dele que me pegou despreparada. Quer dizer, Sasuke Uchiha não era legal, ele era um porco ridículo, não era pra ele me consolar ou dar palavras de incentivo.

Respirei fundo e o empurrei para poder entrar no meu quarto, não antes de ouvir um “se precisar de ajuda, já sabe onde procurar, tenho vários caras que adorariam sair com você em troca de dinheiro!” em um tom de zombaria e revirei os olhos. Sim, era esse o cara que eu conhecia.

Ino iria ouvir muitas quando voltasse da casa dos pais, mas mal sabia eu que isso seria o menor dos meus problemas.


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Notas finais do capítulo

Oiieee, segue mais um cap pra vocês, amados
Daqui a pouco as coisas vão seguir seu caminho natural, hehe
Gostaram? S2

Beijocas :*



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