O Guarda-Chuva Vermelho escrita por Selenis


Capítulo 7
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Música: C.h.a.o.s - One Ok Rock.



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Yukine

Claro que não poderia ter deixado de fora essa sua histeria banhada em lágrimas (como sempre fazia), ao me pedir um favor. Yato veio com um pedido absurdo naquele dia gelado, que por sinal veio a ''congelar'' minha espinha dorsal. Nos últimos dias, ao ver a tristeza estampada no rosto de Hiyori, tive ma vontade imensa de esbofeteá-lo - e fiz isso. Entretanto, o estrago já estava feito.

E ao me falar sobre a grande cagada que fizera, não me contive. Berrei diversos xingamentos, dando uma bronca como nunca a ele. A mais doce lembrança que tive de nós três juntos, foi quando visitamos o desfile e - não acredito que direi isso - Pampyland.

Éramos normais, apesar de ninguém notar nossa presença. Hiyori fora minha primeira amiga, e de fato queria poder dar-lhe tudo o que merecia. Ela simplesmente não se incomodara com meus diversos defeitos humanos, já que esta era uma e sabia exatamente do que estou falando. A necessidade de sentir-se visto pelos outros, os sentimentos depreciantes que vêm a corroer o âmago de qualquer um que possua a carne fraca... Mesmo que a pessoa possua uma arrogância causada pelos diversos machucados que o coração tenha, basta apenas um gesto carinhoso para curá-lo. Às vezes precisamos de simples atitudes humanas para reconfortar as mágoas e esvaí-las.

Ikki Hiyori era assim. Como não se apaixonar por alguém assim?! Que te aceita como é?! Yato era um cara sortudo por tê-la como amiga. E eu também.

Primeiramente, voltar ao passado pareceu-me uma ideia absurda. Mas ao perceber que o que estava em jogo era a vida de Hiyori, assenti. Engoli o orgulho e resolvi ajudar Yato em sua jornada, apesar de querer a todo momento batê-lo até sangrar.

***

Yatogami

Ainda temendo, resolvi seguir as normas daquela velha profetiza. Juntei tudo o que ela ordenara: o guarda-chuva e Yukine. Disse-me para fazer um ritual macabro, se quisesse voltar o passado. Esse ritual requeria uma quantidade absurda de concentração, vontade, determinação, coragem e, principalmente, sangue.

Era sob um noite enluarada. Yukine e eu reunimo-nos à margem de um lago, vendo o disco lunar refletido nas águas pacíficas e enegrecidas. Com o guarda-chuva de Hiyori em mãos, minha regalia fitando-me intensamente, tomei decisão. Estendi o braço à frente de Yukine e gritei com atitude:

– Sekki!

A runa dele começara a brilhar, despregando-se da pele e envolvendo-o em feixes de luz fantasmagórica. Log uma espada finíssima voou para minha mão e fechei os dedos em volta do cabo. Observei meu rosto desprovido de emoções refletido na lâmina, e, por um breve momento, pude visualizar o sorriso de Hiyori. Seus olhos lustrosos, transmitindo-me as mais neutras e relaxantes sensações. Então foi naquele momento em que minha hesitação foi enfim derrota pelo desesperado desejo de salvá-la.

Apertando as pálpebras, trincando os dentes, empunhei a arma com as duas mãos; apontando-a para meu estômago. E ali a cravei, sentindo uma dor fina rasgar minhas entranhas. Retirei-a, vendo sua ponta coberta de sangue. Resfolegando, ouvi os gritos de Yukine:

– Seu idiota! Por que fez isso? Poderia ter morrido, Yato! Quase acertou o coração!

– Pior que morrer assim, Yukie - disse eu, arfando -, seria morrer com o pensamento de ter sido esquecido.

Passei o sangue no guarda-chuva fechado, e em seguida, em minha bochecha. Levantei a cabeça para os céus, fechando os olhos cansados e tentando inutilmente me concentrar em um ponto de meu passado em que pudesse voltar. Então...Não sei como poderei explicar isso, mas não consegui pensar em mais nada a não ser no sorriso dela...Sorri também. Até mesmo em pensamento, a Hiyori conseguia me causar felicidade.

Foi como estar num sonho. A leve sensação de estar levitando... Quando acordei, vi-me perdido em um mar de alpes. A temperatura era mais fria, apesar de estar no verão.

Foi então que percebi que o ritual dera certo. Aquela criança maltrapilha, descalça, coberta de sujeira.. A inocência em seu olhar ainda persistente em habitá-lo com sua eterna moradia...


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