O Guarda-Chuva Vermelho escrita por Selenis


Capítulo 5
Capítulo 5




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/565162/chapter/5

Hiyori

O que relatarei a seguir, foi o que aconteceu no dia anterior... Quando Yato e eu brigamos.

Acordei ontem, bastante feliz.

Minhas bochechas ainda estavam enrubescidas pelo beijo que Yato me deu há duas semanas. Apesar dele ter desaparecido nesse intervalo de tempo, não me incomodei; pois estava tão feliz por ele ter me beijado... que suspirava pelos cantos da casa a todo instante. E por falar nisso, Yukine também não deu as caras. Onde meus amigos estavam? Confesso que me senti ofendida por eles não terem aparecido durante o tempo em que eu me encontrava enferma.

Liguei várias vezes para Yato, mas seu número só dava fora de área. Quis desesperadamente falar com ele, saber se estava bem. Yukine também não me respondia. Minha caixa de e-mail fora atualizada por dez minutos seguidos, mas nada de diferente acontecia. Senti uma pontada forte no ventre, como se algo o rasgasse. Então corri em direção ao banheiro, me ajoelhei perante ao vaso sanitário, e ali vomitei sangue. Melei o queixo e as vestes de vermelho, e comecei a chorar, assustada. Meu estômago se contraiu, empurrando o acumulo de sangue que jazia dentro de mim. Excretei violentamente; dessa vez lambuzando o piso e a privada do líquido rubro.

Meu corpo tremeu, enfraquecido. Olhei para minhas palmas, sujas. Então me deleitei em lágrimas. Sinceramente, não fazia ideia do que poderia estar acontecendo comigo.

***

Fiquei deitada por um bom tempo, e minha mãe, daquele seu jeito histérico, ao saber do ocorrido de hoje mais cedo, chamou o médico que cuidara de mim. Ele me avaliou, medindo a pressão e apertando minha barriga. Estranhamente afirmei que não sentia nada, pois nem no período menstrual eu estava. Quando ele foi embora e minha mãe me obrigou a tomar uns comprimidos, resolvi me aquietar um pouco e cochilar.

De fato, deu certo. O sono foi tranquilo, pois não sonhei com ele e sim com o cheiro dele. Aquele delicioso cheiro... Esse sonho me prendeu tanto, que minha alma persistiu em ficar no corpo, para não fugir daquela sensação extasial.

Acordei. O meu celular vibrou, e então a luz branca quase cegou-me. Com os olhos semicerrados, peguei o aparelho e deslizei o dedo pela tela. Uma mensagem de Yato! Exaltei-me, sentando na cama. A mensagem dizia assim:

Ei, Hiyori.

Pode me encontrar no parque hj? É importante.

– Deus Yato.

Um sorriso alargou-se em minha boca. Saltei da cama e corri para o guarda-roupa. Vesti o meu casaco e envolvi meu pescoço com o cachecol. Calcei as botas e pus as luvas. Fazia bastante frio; a neve impiedosa. Peguei meu guarda-chuva. Olhei de relance para a janela, ultrapassando o vidro congelado e vendo a árvore desprovida de folhagens; com aquele seu ar morto de inverno; os galhos tortos nus. Tive a ligeira impressão de ter visto alguém ali...

Havia um problema. Eu estava proibida de sair. Mas a vontade de encontrar Yato era mais forte, então enviei uma resposta a ele:

Claro! Estou indo.

– H. ♥

Quando percebi o quão ridículo foi digitar um coraçãozinho, já havia enviado. Fiquei envergonhada e me achando uma idiota. Mas enfim... Não se pode voltar ao passado, não é?

Meus pais estavam lá embaixo, então sair pela porta de entrada era uma péssima ideia. A única alternativa seria pular a janela. Será? Tenho medo... Mas engoli o temor e abri a janela; o vento gélido bateu em minhas bochechas, gelando-as. Tremi de frio, engoli um seco quando me deparei com a altura. Mas lá embaixo havia um amontoado de neve, que certamente amorteceria a minha queda. Fechei os olhos, e comprovei a minha hipótese.

Pulei; e logo estava envolta de gelo. A neve me cobria, e fiz esforço para conseguir levantar. Abri o guarda-chuva, protegendo-me dos flocos cristalinos que caiam. Fui dando pulos, as botas afundando nos amontados infinitos de friagens.

Quando cheguei à praça, me deparei com um enorme vazio. Além de mim, não havia ninguém. Onde estava Yato?

– Hiyori.

Olhei para trás, e o vi. Ele estava usando aquele seu moletom de sempre. A expressão era séria, e o sorriso que eu estava acostumada a ver em seu rosto desapareceu. Alguma coisa estava errada.

– O que foi, Yato? Por que me chamou aqui? - hesitei um pouco em falar, envergonhada - É sobre aquele dia, lá no desfile?

– É. - respondeu ele friamente.

Yato se aproximou de mim, e pousando a mão em meu ombro, disse:

– Hiyori, eu peço desculpas. Mas acho que não deveríamos mais nos ver.

Fiquei surpresa com o seu pedido.

– Por quê? Yato, por quê?

Ele não respondeu. E em vez disso, ficou olhando para o chão à sua direita.

– Eu... Não consigo...

– Não quero mais você do meu lado, é isso. - disse ele finalmente.

Alguma coisa dentro de mim quebrou. Talvez fosse o meu coração, sei lá...

Fiquei chocada; incrédula. Como ele poderia ser tão grosseiro assim?! Então o Yato tirou algo de dentro dos bolsos. Foi o que seria um mini templo todo quebrado. Era o templo que eu havia dado a ele; o que fiz com tanto amor e carinho. E agora o meu trabalho estava em ruínas. Ele me entregou os restos, e minhas mãos trêmulas largaram o guarda-chuva para segurar os fragmentos do templo. Meus olhos doeram e arderam como nunca. Na garganta, um nó formou-se. Doía segurar o choro. muito...

– Yato... - disse eu com uma voz grave, abafada pelos soluços.

– Não irei voltar a te ver, Hiyori.

Essas foram as suas últimas palavras daquele dia. Quando ergui a cabeça, não o vi mais. Yato havia me deixado, sozinha, desolada, chorando em meio a um mar de branco.

De uma coisa eu tinha certeza. O inverno não poderia estar mais gelado que o coração de Yato naquele momento.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Guarda-Chuva Vermelho" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.