Another day in paradise escrita por Vanessa Hoffmann


Capítulo 9
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente, me desculpem por ter deixando ainda em suspense o que a Hinata tem, mas agora aqui está o capítulo da graaande revelação skssksp. Não é tão grande assim, pois é um assunto clichê, entretanto, o clichê sempre ganha algo especial quando tratado de forma diferente e é esse meu objetivo nessa fic.



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We've made

Nós fizemos
All from the sum of none

Tudo uma soma de nada
All that we have become

Tudo o que nos tornamos
Lift me up my soul's so hollow

Levante-me, minha alma está tão vazia
Lift me up my soul's so hollow

Levante-me, minha alma está tão vazia

Flash back

Vinte horas antes

Sakura parou no meio do caminho, com a bandeja em mãos, confusa entre o desejo de voltar e sentar-se com Naruto ou continuar indo para bem longe daquele lugar. Também tinha o desejo de voltar lá e caminhar até a mesa de Sasuke para, quem sabe, tentar terminar aquela conversa que havia sido interrompida dias atrás. Não que alimentasse esperanças de que Sasuke fosse dar alguma resposta positiva aos seus sentimentos, queria apenas poder tirar todo aquele peso de seu coração de uma vez e saber se poderia começar a tentar esquecê-lo ou ainda poderia esperar até o dia em que ele resolvesse ser direto com ela.

Sacudindo a cabeça para mudar o foco dos pensamentos, ela torceu a boca ao ver o moreno observar sem nenhuma cerimônia aquela esquisita que se mantinha sentada junto Kiba, Shino e uma garota que desconhecia.

Olhando para ela com um pouco de atenção, não entendia como eles conseguiam estar com elas sem serem contagiados por aquela tristeza que parecia ser a única emoção que ela conseguia exibir. Também não entendia um monte de outras coisas sobre aquela garota, mas a maior delas era como um ser tão insignificante quando como ela conseguia arrancar aquele tipo de olhar de Sasuke. Do seu Sasuke. Enquanto ela, que o conhecia desde criança, que esteve ao seu lado em todos os momentos, que o amava com extrema devoção, só conseguia ser chamada de amiga.

Sentindo o amargor tomar conta de si, lançou um último olhar para Naruto, vendo-o se levantar da mesa e caminhar até a estranha que agora estava somente com a desconhecida. Imediatamente, teve vontade de retornar lá, puxar o loiro pelas orelhas e encher-lhe de cascudos. Será que agora ela iria roubar seu amigo também?

Irritada, recomeçou a andar, deixando a bandeja no balcão e indo em direção ao banheiro. Chegando lá, entrou em um dos boxes, abaixou a tampa do aparelho sanitário, sentou-se em cima e afundou a cabeça nos braços. Queria chorar, mas chorar pelo quê? Por alguém apático, que não parecia viver, se importar, sentir, reagir ao meio, alguém que não fazia absolutamente nada? Aquilo não fazia o menor sentido.

Apertou os olhos evitando que as lágrimas caíssem, ela saiu do box e caminhou até o espelho, disposta a lavar o rosto, esquecer aquela garota múmia esquisita e tentar, mais um vez, fazer com que Sasuke deixasse de enxergá-la apenas como uma amiga de infância, uma irmãzinha.

Abriu a torneira e fez uma concha com as mãos, encharcando o rosto com água fria e soltando um suspiro de alívio. Aquilo era bom. Muito bom. Tão bom que teve vontade de estar em casa para tomar um banho de banheira bem demorado.

Molhou o rosto mais uma vez, fechou a torneira, se ergueu e estava procurando o papel toalha para secar-se quando viu pelo reflexo do espelho alguém irromper no banheiro, tropeçando nos próprios pés, as mãos cobrindo a região do nariz e da boca, deixando apenas um par de olhos perolados cheios de pânico.

Sakura virou-se assustada para a garota que veio em sua direção.

– O que foi que aconteceu? – perguntou assustada.

Foi ignorada enquanto ela continuava tateando o suporte de papel toalha.

– Ei, estra... Hinata – corrigiu-se antes de terminar de falar – o que está acontecendo?

Hinata puxou várias folhas com uma das mãos e levou em direção ao rosto, puxando fortemente o ar pela boca e tossido com violência. Afobada, Sakura se aproximou mais da garota, vendo quando ela abriu a torneira e enfiou as mãos sujas debaixo da água corrente.

Mãos sujas de sangue.

oOo

Quando ele era criança uma das coisas que mais gostava em Konoha era a neve que caia farta nos meses de inverno. Gostava quando aquele manto branco e gelado se estendia pelas ruas, cheio de majestade. Porém, o que realmente gostava no inverno eram as manhãs de Natal, quando toda a família Uzumaki se agasalhava e saia de casa após o café para brincar na neve.

Costumavam fazer competições de bonecos de neve, anjos de neve, guerra de bolas de neve e tudo o que ela permitisse. Todo ano Karin e Kushina ganhavam o concurso de bonecos mais bonitos, os meninos ganhavam os de anjos de neve e a guerra sempre deixava Minato como vencedor – ele tinha uma mira perfeita.

Em alguns natais o resto da família aparecia também. Konan e Nagato, Jiraya, o padrinho dos gêmeos, e sua namorada da vez, tio Yahiko, além dos amigos de infância e escola dos pais, como a família Hyuuga e os Uchiha.

Lembrava com saudade da casa cheia, do cheiro de biscoitos de menta e chocolate e dos gritos irritados de sua mãe, que logo eram sobrepostos pelas risadas de seu pai. Dos narizes vermelhos de neve e dos sorrisos cheios de inocência.

Em suas orações pedia para nada daquilo acabar, embora soubesse que sempre acabaria. Porém, em sua cabeça nunca foi concebida a idéia de que não existiria uma próxima vez, que antes do Natal seus pais lhe seriam arrancados e deixariam para trás apenas um vazio enorme e insuportável.

Nunca havia concebido a possibilidade de morar com os tios ricos, que nunca mais teria aquela cumplicidade com Menma e que Karin ficaria tão apática para a vida. Acabaram os bonecos, acabaram os anjos e as bolas de neve na nuca. Agora só o que lhe restava era estar sentado no meio-fio em frente a boate, observando a neve começar a cair em espirais.

– O que ela tem? – perguntou depois de um longo tempo em silêncio.

– Começou com um tumor no ovário, quando Hinata tinha doze anos. Ela fez tratamento e pareceu que tinha acabado. Que tinha vencido. Mas há dez meses os médicos descobriram que se metastizou e chegou aos pulmões pela corrente sanguínea.

Esticou a língua para fora da boca, aparando um floco de neve e sentindo-o derreter ali. Era um hábito que tinha sempre que começava a nevar: sentir o gosto da neve para saber que era real. Todavia, naquele momento não passava de um gesto para evitar falar algo.

Não sabia o que dizer, para ser sincero consigo mesmo, e o pior de tudo é que agora entendia todos os motivos de seus amigos não quererem que ele se aproximasse dela: Hinata estava ruindo e Naruto também, se os dois se unissem só aceleraria o processo.

Com um riso fraco – mais um no meio de todos aqueles risos deslocados –, pensou que estava com parte do problema resolvido ao final das contas: a garota não lhe dera o mínimo de atenção, mandara devolver o lenço e o único momento em que a vira olhar, interagir, realmente com ele fora quando desmaiara na escola. No momento mais patético da sua vida.

– E ela... – não soube continuar a pergunta, embora soubesse o que queria perguntar.

– Não – Neji balançou a cabeça, voz cansada e olhos distantes demais. – Ela está fazendo tratamento, então não vai... – ele parou de falar e estendeu a mão para um floco que caia a sua frente.

– Você acredita que ela vai ficar boa? – perguntou.

Neji finalmente olhou para o amigo loiro, a face vermelha de frio e os olhos cerrados pelo vento forte.

– Eu sei que vai. Mas do que adianta que eu saiba se ela mesma não acredita? Naruto, aquela Hinata é só uma casca. Minha Hinata, minha prima, está quase morta em vida – respondeu e Naruto sentiu o peso da dor que carregava.

Aquela dor que o Hyuuga sentia era familiar. Dolorosamente familiar. A única diferença é que a dor de Naruto chegara sem avisar, rápida, sorrateira, e a dor de Neji chegara com anúncios escandalosos, com exigências de tratamento e implantando esperanças há mais de cinco anos. Mas tudo era dor, tudo causava sofrimento e, no final, tudo era ruim.

Dor e esperança...

– Vem, a neve está ficando mais forte. Eu te levo para casa – Neji disse por fim, ficando de pé e estendendo a mão para ajudar Naruto.

O loiro a aceitou de bom grado. Estava cansado demais para poder protestar ou reclamar. Perdera totalmente a vontade de voltar para o bar, caçar a ruiva e terminar a conversa dos dois na cama. Queria apenas voltar para casa e ficar em seu quarto.

Ligou para Sasuke avisando que iria embora com Neji e depois de meia hora estava em frente ao luxuoso condomínio onde morava. Entrou sem se importar em ver o outro parte. Quando chegou ao seu apartamento, sacou as chaves do bolso e encontrou a televisão ligada. Karin dormia no sofá e Menma já devia ter ido para o quarto. Foi até a televisão e desligou o filme que agora apresentava os créditos finais, apagou a luz e caminhou até a irmã.

Naruto perguntou-se a quanto tempo não falava direito com ela e a quanto tempo ela não saia de casa para algo além dos passeios com a empregada. Não ia a escola, não visitava as amigas, ignorava os convites de Konan para fazer compras. Apenas permanecia no apartamento assistindo filmes, usando a internet e observando da varanda as pessoas que passavam na rua.

Ajeitou sobre ela o cobertor que havia deslizado e sentou-se ao seu lado. Com cuidado, encaixou seus dedos aos dela, mas não pode evitar ela abrisse os olhos. Confusa, ela piscou para o irmão.

– Naruto?

Ele meneou a cabeça e apertou seus dedos com mais firmeza. Sentia os olhos queimarem

– O que aconteceu? Que horas são?

– São três horas.

Ela abriu a boca espantada, pronta para praguejar por estar dormindo no sofá da sala, mas parou quando, no meio da penumbra, viu o rosto do irmão se contorcer.

– Naruto... – sussurrou quando, em um gesto desesperado, o loiro enfiou sua cabeça no peito da irmã.

Não sabia por quanto tempo permaneceu ali, calado, apenas sentindo o peito de Karin subir e descer nervosamente, enquanto ela acariciava seus cabelos sem jeito e sussurrava que tudo ia ficar bem.

Mas tudo o que?, perguntou a si mesmo, já em seu quarto, fitando as estrelas fluorescentes no teto.

A vida estava se mostrando tão injusta com ele que se perguntou milhares de vezes durante aquela noite se havia realmente aquela história de reencarnação e se, caso existisse, havia feito alguma coisa realmente ruim para a única pessoa que parecia estar no mesmo buraco que ele ser alguém que estava sendo consumida por um câncer.

Porém, tudo aquilo também lhe serviu para não conseguir tirar da cabeça a idéia de como cada pessoa parecia ter uma tragédia pessoal e uma maneira para reagir a ela. Naruto havia escolhido aproveitar os prazeres carnais da vida, sem se importar com que o que sobrara da sua família iria pensar. Hinata, porém, havia escolhido morrer enquanto permanecia em vida.

Sentiu uma onda de raiva florescer no peito quando pensou nisso. Morrer em vida. Como alguém podia ser egoísta aquele ponto? Neji havia dito que a doença estava em tratamento e que progredia bem, então tinha uma esperança. Havia uma esperança na qual se agarrar, então a lógica era lutar para sobreviver, coisa que seus pais não puderam fazer quando confrontados pelo acidente. A morte deles não havia sido anunciada, não oferecera tratamento ou esperança, mas a de Hinata lhe oferecia uma chance e ela ignorava como se tudo estivesse perdido.

Ainda tomado pela raiva, Naruto socou o travesseiro e bufou.

Quem ela pensava que era para mostrar a ele um feixe de esperança e deixar com que esse mesmo feixe se apagasse como se não fosse nada?

Apertou os olhos e respirou fundo, dizendo a si mesmo que iria ensinar aquela garota que não devia brincar com esse tipo de coisa. Acendeu um cigarro e prometeu a si mesmo que, se Hinata não poderia ser a luz que o ajudaria a caminhar por aquela estrada ruim e compreender suas dores, ele mesmo seria a luz e seria uma luz para ela. Compreenderia as dores dela e resgataria Hinata daquele inferno pessoal. Mostraria a ela que existia uma escolha diferente daquela vida apática. E faria isso porque Hinata parecia diferente.

Havia algo naquela garota que o atraia. Havia algo nela que não sabia identificar, mas lhe deixava sedento por sobreviver a tudo. Havia algo ali, naqueles olhos, que refletiam seu intimo e estava sufocado de tanto ver dor e sofrimento. Queria poder refletir luz e algum sentimento bom.

Apagou o último cigarro quando a luz do sol começou a invadir o quarto e colocou-se de pé novamente, decidido a começar a mudar tudo do zero, e a primeira coisa que faria era se redimir com os dois que, apesar do inferno em que havia transformado a vida deles, não se permitiram desistir.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, principalmente do Naruto ter se disposto a tentar ajudar Hinata, mas, pra poder ajudar alguém ele vai ter que se ajudar primeiro, então prevejo reconciliações, cenas dramáticas, tretas, tretas duplas, tretas triplas e cenas do Narutinho se aproximando da Hinata tentando trazer ela de volta a "vida".
Agora, partiu responder os comentários de vocês, seus divosos