Fullmetal Alchemist: After All escrita por Paulo Yah


Capítulo 10
#09 - O Corpo da Verdade




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/56506/chapter/10

A situação foi avisada a todos na base e espalhada para toda a central, mandando mais soldados.

Os blindados resgataram todos os feridos para serem atendidos no hospital da central. Winry deu graças por Paninya e a família de Dominic terem se mudado de lá. Estava voltando para a central sem Edward, o que ainda assim lhe dava certo medo.

Roy avistou o carro branco, logo o reconheceu e tremeu engolindo em seco.

A freada foi brusca; Ling, Armstrong e Ciel desceram.

 

- Marechal, senhor! – disse Armstrong batendo continência.

 

- Vamos, temos uma bomba para desarmar. – Disse Roy imediatamente, e assim viu Riza atrás do carro pegando do porta-malas uma maleta com seu rifle.

 

- Tem algum plano Marechal Mustang? – Perguntou Ling, olhando a máquina que ainda vasculhava a área.

 

- Armstrong e Ciel têm conhecimentos sobre alquimia. Ao meu sinal vocês prendem a máquina pelos pés e pelos braços, de forma que ela não caia no chão. – Explicou. – Ling, você vai distraí-lo junto de Riza. Sei que ainda guarda aquele truque em sua manga.

 

- OK. – Disse Ling.

 

Riza manteve-se em silencio cumprindo apenas a sua parte, seu olhar frio para o Marechal indicava que  ela estava realmente muito furiosa.

Mustang explicou que as coordenadas viriam da base, o ponto de posição de cada um ali.

Fuery passou as ordens e eles começaram a executar... Riza assumiu posição no único prédio ainda em pé; por mais arriscado que fosse, a vida de milhões de pessoas de Amestris estava em risco se o gás radiativo se alastrasse. Mirou para o ponto e esperou.

 - Hawkeye em posição. – Anunciou.

 Armstrong se colocou em posição, em uma quadra próxima do prédio, enquanto Ciel ficava do lado oposto. Ling era o mais distante deles e o mais próximo da máquina.

 - Fullmetal, não saia daí. Os reforços chegaram. – Anunciou Roy.

 - Certo. – Afirmou Edward. – Faltam cinqüenta minutos, Marechal. Apressem-se!

...

 

Ling estava de trás para a bomba nuclear ambulante. Havia em seu rosto uma feição distraída, tentando extinguir seu nervosismo. Respirou fundo e ergueu a mão com uma pedra, acertando a lataria do disco da cabine.

 - Yo! Lata-de-lixo-nuclear-san! – Acenou se mexendo freneticamente como se dançasse alguma dança de sua terra. – Vamos brincar!

 A máquina virou-se para o rapaz e abriu novamente seu arsenal de armas sortidas. Ling voltou para a sua postura normal e uma carapaça negra lhe envolveu todo o corpo. Tinha o olhar rubro e audacioso, não era mais o mesmo Ling de antes.

 - Vou deixar o resto com você, Greed. – Disse o rapaz antes de perder toda a consciência.

O homúnculo sobrevivente acordou, observou a máquina gigante à sua frente, não se mostrou surpreso, não se moveu de lá, seu olhar era uma mistura de pena, ironia e auto-confiança.  

- Ah! Olha só o que temos aqui. – Greed colocou as mãos na cintura analisando o arsenal que estava sendo apontado pra ele. – Sua caixa de brinquedos imprestável!

 Os tiros começaram a ser disparados, mas nenhum deles abalava o escudo supremo de Greed, que apenas gargalhava da situação.

 - NADA COMO UMA BOA MASSAGEM PRA COMEÇAR O DIA! – Virou de costas e passou a correr, guiando a máquina para o caminho da armadilha. – Senhores, se preparem. O bichinho ficou bravo.

 Riza colocou o olho sobre a mira, Armstrong preparou as luvas, Ciel bateu as palmas de suas mãos. Sentiam o chão tremer, devido aos tiros.

Greed passou pela quadra onde a armadilha se localizava, Ciel apareceu por trás já preparada.

 - General Armstrong, o intervalo de recarga das armas é de trinta segundos, ao meu sinal vocês transmutam! – disse Falman pelo comunicador. – Coronel, existe um dispositivo na parte esquerda do disco da cabine, sete metros depois do centro, vinte graus à direita. É um botão pequeno de emergência, está protegido, mas não é imune ao tiro de rifle, atire lá após a transmutação, num tempo de sessenta segundos.

 A máquina passou no ponto certo, o sinal foi dado, Armstrong apareceu em frente a ela e transmutou duas paredes de  pedra, que prenderam os braços metálicos. E Ciel conseguiu prender as pernas ao solo, enterrando-as.

Riza atirou na lataria chamando a atenção da máquina. Esta, já carregada, virou o disco de armas mirando para o Coronel. Hawkeye carregou o rifle, procurando o dispositivo, e, guiada pela informação de Falman, encontrou-o rapidamente, acertando duas vezes.

A parte das armas foi desativada com sucesso e então Roy entrou em cena, saindo de uma das ruas que cruzava com aquela. Escalou a perna esquerda da máquina, pulando pra escada e subindo para a cabine.

 - Cheguei! – Anunciou para Edward.

 - Está atrasado, faltam quarenta e cinco minutos. – Disse, observando os fios, com um alicate transmutado na mão. – Temos que cortar os fios, é o único jeito.

 - Espere, Fullmetal. – Roy começou a analisar a caixa. – Vamos com calma.

 Roy analisou o dispositivo com calma, respirou fundo e viu que ao lado do painel havia uma fechadura pra chave. Arrancou a caixa de metal, de forma brutal, mostrando o dispositivo completo fixo ao chão da cabine.

Os fios de ignição eram duplos e vinham para o explosivo ao lado da fechadura, enquanto outros dois iam para a própria. Os fios vermelhos vinham todos para o console da chave.

 - Se cortarmos os fios vermelhos, teremos o contato da bomba desativado e isso significa a morte. – Disse Roy pensativo. Estendeu a mão para Edward e este lhe deu o alicate de corte. – Temos que cortar o cabo azul então... Mas a carga elétrica é constante, se cortarmos todos eles de uma vez a carga final será mandada e explodirá do mesmo jeito ... Droga e agora?

 Edward não entendia como desarmar uma bomba, mas levou em consideração a lógica exposta por Roy.

 - Arrisca cortar o vermelho e o azul juntos, Marechal. – Dizia Edward. – Vai cortar o contato e juntamente a carga elétrica, isso vai desligar a bomba em segurança.

 - Ainda não é o certo a se fazer... O certo seria transmutar uma chave de contato pra desligar a ignição. – Disse Roy.

- Não temos tempo pra decifrar o segredo da chave, Marechal! – Protestou Edward. – Faça o que eu falei, é a única coisa que podemos fazer em quarenta minutos.

Roy sabia que Edward tinha razão ao seu lado, então foi induzido a tentar. Colocou o alicate entre os dois fios, vermelho e azul, mas hesitou novamente.

 - Fullmetal, transmute mais um alicate. – Disse. – Pra garantir, vamos cortar as duas extremidades do cabo azul ao mesmo tempo, assim, podemos garantir que a corrente elétrica não entre na cápsula.

 Edward achou coerente e realmente mais seguro.  Transmutou outro alicate a partir da lataria da máquina.

 Lá fora a tensão era total... Riza estava se decompondo em desespero, Armstrong limpava a testa com um lenço, tirando o excesso de suor. Ciel não desviava os olhos da saída da máquina.

 Edward... Fique vivo. – Pedia a garota pensando em Hohenheim e na sua vontade de rever o filho que havia sobrevivido.

 Na base todos ficaram em silêncio deixando que os dois agissem, era uma prova de respeito a sabedoria de seu superior e ao conhecimento de Edward. Eles não iriam interferir, visando confiar suas vidas naqueles dois.

Então o tempo voou, condenando todos a uma morte rápida; faltava dez minutos, cinco... Dez segundos, nove...

 - Oito... Sete. – Falman fechou os olhos enquanto contava. – Seis... Cinco... Quatro.

 Edward desceu primeiro da cabine, limpou o suor de seu rosto e respirou o ar puro novamente.

 - Atenção base... Bomba desarmada. – Anunciou Roy ainda lá dentro. – Mandem a equipe científica tirar essa merda de metal daqui.

 Urros de alegria e alívio vieram da base, eles se abraçavam eufóricos... Havoc ascendeu um cigarro, tenso e ainda não acreditando que estava vivo.

Logo encaminharam pro local onde estavam os outros, para congratular ao superior que, mais uma vez, havia salvado a vida de todos.

 - É... No fim das contas nós continuamos os mesmos em ação. – Comentou Roy após descer.

 - Por um momento me senti quatro anos mais jovem. – Disse Edward em um suspiro de cansaço e alívio.

- Esse comentário foi digno de um velho enferrujado. – Roy satirizou.

 - Ah... Pense como quiser. – Disse Edward em tom de desânimo. – Estamos vivos e isso é o que interessa, lutamos até o fim.

 Logo eles voltariam para Amestris, precisavam de descanso e, acima de tudo, descobrir qual o propósito daquele ataque. Riza não falou com Roy durante toda a viagem de volta e nem durante o tempo em que estavam no quartel.

O homem se sentiu um pouco mal... Reconhecera seu erro. Por mais que aquilo fosse raro, Roy Mustang perdera por um tempo seu orgulho.

Após tomar um banho livrando-se daquele suor que o impregnava, ele saiu a procura dela.

Procurou em todos os lugares do quartel e no fim descobriu que a mesma havia voltado pra casa mais cedo.

Em menos de cinco minutos se viu parado frente a porta do apartamento de Riza.

Bateu na porta umas duas vezes, sem sucesso algum, e, na terceira tentativa, ao estender a mão, a porta abriu.

Lá estava ela e, ao ver quem batia à porta, mudou três vezes sua expressão facial; primeiro a surpresa, depois a descoberta e logo em seguida, a decepção.

 - Marechal... – Bateu uma leve continência, mantendo sua feição séria e fria. – O que veio fazer aqui?

 Pelo cheiro, havia acabado de tomar banho. Não só por isso, mas pelas roupas também. A calça de moletom cinza, pantufas nos pés e uma camiseta de seda a envolvendo da cintura pra cima.

Havia sentido o estômago revirar, não estava nada apresentável, mas Roy nem ligava muito.

 - Eu vim... Eu vim me desculpar por não ter te avisado. – Disse com dificuldade, mas ainda assim vencendo seu orgulho.

 A raiva de Riza já não o perdoaria com palavras... Ela desviou o olhar para ele e logo o olhou espelhando seu verdadeiro sentimento momentâneo. Aproximou-se do homem e deu um tapa em sua face, fazendo-o inclinar a cabeça.

Ela no fim estava certa, pois Roy havia deixado Riza preocupada, ela tinha todo o direito e por mais que Roy fosse orgulhoso, ele era honesto, com ela e consigo mesmo.

Voltou a olhar para Riza, esperando a resposta, mas tudo que viu foram as lágrimas que caíam de seu rosto.

 - Me deixou preocupada! – gritou. – Muito preocupada!

 Quem desviou o olhar dessa vez foi Roy. Colocou a mão sobre a própria testa e afagou a franja, desacorçoado.

 - Ah... Poderia ter sido pior, não é? – Perguntou para a mulher. – E você me trata como se eu fosse um garotinho, sempre querendo me proteger demais!

 Ela não disse nada, esperou que ele continuasse...

 - Eu devo te agradecer de novo por se preocupar comigo? – perguntou Roy olhando-a agora.

 Ela não resistia ao negro intenso dos olhos de Mustang. E agora eles estavam da forma que ela mais gostava de contemplar. Ainda assim uma mistura de alivio em vê-lo vivo e uma vontade insana de querer matá-lo lhe invadiu. Mas a única coisa que ela foi capaz de fazer, foi encostar a cabeça no peito do Marechal e terminar de chorar o seu alívio.

 - Nunca mais faça isso de novo... – Disse Hawkeye aos soluços. – Nunca... Nunca...

 - No fim das contas... – Ele disse conclusivo. – Somos duas crianças aprendendo a viver, não é?

 Roy achava estranhamente belo, a maneira sincera de Hawkeye se expressar, mas parecia que algo ainda lhe impedia de confirmar seu verdadeiro sentimento por aquela que guardava a sua vida e seu coração.

 ...

 Winry sentia uma necessidade imensa de um maço de cigarros... Mas estava decidida a parar, por Edward. Ele estava lutando para encarar o passado tão bem, que ela devia começar a lutar contra o vicio genético e psicológico.

A nicotina lhe fazia falta, uma abstinência total... Lembrava de Pinako quando lhe faltava fumo, e o estado de estresse que ficava, mas não ia recorrer à droga lícita; iria fazer o possível para se concentrar sem precisar daquilo. A incerteza de Edward estar vivo ou morto naquele momento lhe deixava aflita, ansiosa e nervosa de uma forma que jamais ficou.

Mas lembrou da promessa que fizeram e isso pôde aliviar um pouco... Ela se encontrava na frente do hospital central, sentada no banco da praça que antecedia o mesmo.

Estava perdia em pensamentos, com o olhar direcionado ao chão, além de Edward não ter voltado, ela havia deixado cinco pacientes morrerem, e aquilo foi um impacto.

 - Hei... Eu demorei muito?

 Tomou um susto, quando o viu na sua frente... Cabelos soltos ao vento, limpo de toda sujeira do treino e da missão.

Seus olhos lacrimejaram ao ver o rapaz ali, vivo e sorrindo para ela. O agarrou como se nunca mais fosse soltá-lo.

 - He...Hei, calma. – Disse meio desconcertado. – Eu voltei.

 Abraçou-lhe carinhosamente, não acreditando que estava ali, junto a ela depois de um dia como aquele.

Ela não tinha nem mesmo condição de falar, mas foi como se todas as suas preocupações tivessem ido embora de uma vez por todas. O alívio lhe surgiu como um conforto indescritível em seu ver.

 - Você não sabe como eu sofri só de pensar que tudo poderia ter dado errado. – Disse por fim, a menina.

 - Você tem sempre esse costume de pensar sempre no pior. – Respondeu Edward. – Eu te amo... E por isso eu não vou te deixar. Não agora, pelo menos.

 Ela olhou para ele, ainda com lágrimas nos olhos. Edward sentiu o corpo dela tremer, estava pálida e fria. Teve certeza que a menina não estava acreditando que ele estava ali, e como uma prova mais que concreta, ele tomou os lábios dela pra si.

Saciando a sua vontade e dando para Winry a prova de que aquilo não era uma ilusão.

 ...

 - Tudo pronto Stones, vamos realizar o plano. – Disse Hohenheim, para o companheiro.

 Os dois estavam no quarto do alquimista. Este colocou o mapa que havia feito do quartel subterrâneo e das redondezas da cidade subterrânea sobre a mesa. Colocou os pontos mais fáceis de fuga e as áreas mais movimentadas.

Stones observava as plantas e mapas estudando sua estratégia de fuga e distração do exército. Sabia que seria arriscado, mas era a única forma.

- Consegui isso aqui pra facilitar o plano. – Hohenheim colocou uma pistola na mesa e empurrou em direção de Stones e logo depois alguns pentes com mais balas. – Mas só use se necessário.

 Stones pegou as balas e colocou no bolso, deixando a arma na mesa por enquanto, ainda prestando atenção no plano do parceiro.

 - É o seguinte. – Começou o Alquimista loiro. – Estamos situados mais ou menos ao norte da base. Ao leste, não muito longe daqui, existe uma garagem com os carros do Exército.

 Outra vez Hohenheim colocou um objeto na mesa, e este era uma chave para abrir portas. Jogou para Stones e este analisou por um tempo.

 - Não consegui a chave do carro, mas antes da garagem existe uma sala onde estão guardadas varias chaves. – Informou. – Usando esta, vá até a vaga quarenta e cinco, pegue a chave de lá e use no carro do mesmo numero. Ao lado esquerdo da garagem existe uma saída. De lá fuja para Briggs o mais rápido possível.

 - Os portões da fortaleza estarão abertos? – Perguntou Stones.

 - Sim, avisei Olivier de sua chegada, o código é o mesmo.

 Os dois se levantaram e se cumprimentaram com um aperto de mão.

 - Chegue vivo em Amestris, Stones. – Pediu Hohenheim.

 - Não digo diferente pra você, Ho-san. – Stones pegou a pistola e um silenciador que já estava com ele. 

 Este saiu primeiro, virou para a direita e seguiu o corredor. Seus olhos baixos e o caminhar tranqüilo disfarçavam completamente a sua fuga.

Rumando para a área leste do quartel, se deparou com uma placa escrita: “Entrada restrita.”

Olhou para os lados e para trás, o corredor naquele horário estava deserto. Pegou a arma, colocou em seu cano o silenciador e começou a andar mais depressa, com a arma apontada para cima, empunhada com as duas mãos.

Virou à esquerda como tinha visto no mapa, vendo uma seqüência de portas e varias vozes. Guardou a arma novamente no coldre e começou a caminhar normalmente.

Uma das portas se abriu e vários homens vestidos em trajes sociais de inverno saíram conversando.

- A guerra irá demorar para estourar de verdade. – Disse um deles. – Essa é a melhor parte, pois assim lucramos com desenvolvimentos e... Hei! Você.

 Stones engoliu em seco ao ouvir a voz direcionada para ele e virou-se para o homem.

 - O que está fazendo aqui? É uma área restrita para militares durante este período. – Disse o mesmo homem, um gordo de olhos pequenos, careca e semblante convencido.

 - Mudamos o horário da limpeza, senhor. – Informou mentirosamente.

 - Sei... – Disse o homem. – Em todo caso, bom trabalho serviçal. Trabalhe direito, ou não terá seu salário.

 Os homens passaram voltando a conversar, enquanto Stones estava parado ali. Deixou que os mesmos virassem para o outro corredor olhando assim para o nome da sala acima da porta. Aquilo lhe interessou e muito, se tratava da sala de reunião dos estrategistas e estava aberta por descuido daquele homem gordo.

Não hesitou em entrar lá para investigar, era uma sala com uma mesa redonda, seis cadeiras, vários papeis e gavetas com arquivos contendo muitas informações.

 - Ho-san não havia me dito sobre isso... – Disse sorrindo ironicamente. – Mamãe vai gostar desses papéis.

 Stones abriu várias gavetas, pegou vários molhos de chaves para abri-las e foi procurando pelas palavras-chaves que lhe vinham na cabeça. Não tinha tempo para ler, então foi guardando tudo na sua bolsa semi-vazia.

 - Planos de Espionagem, Estrutura de Drachma, Arquivo de Guerra, Estrutura de armamentos, posicionamento de soldados. – Ele dizia enquanto conferia os arquivos.

 Após fechar a bolsa e colocar nas costas novamente, se aproximou da porta para sair, mas neste momento percebeu que havia gente do outro lado. Tirou a arma do coldre e deixou que abrissem, ficando esgueirado atrás da porta.

Era novamente o gordo e mais um dos estrategistas que saíram do local, ele fechou a porta rapidamente, e com o susto os dois se viraram. Antes que pudessem reagir, foram baleados na cabeça por Stones, que saiu logo em seguida sem mesmo observar os dois cadáveres no chão.

Guardou a arma do bolso e passou a andar normalmente de novo, esgueirando-se no fim dos corredores, observando cuidadosamente o terreno.

Chegou finalmente em um local onde havia uma  porta dupla e ao lado o chaveiro. Lá havia um soldado dormindo e, por descuido, novamente a porta estava entreaberta.

Stones entrou sem fazer barulho, foi até o chaveiro e procurou pela vaga quarenta e cinco que Hohenheim havia falado. Achou o mais rápido possível, mas antes que pudesse se virar sentiu o cano da arma em sua nuca. Se arrependeu de não ter neutralizado o soldado quando pôde.

- Paradinho aí parceiro. – Disse o homem. – Mãos na nuca.

 Stones obedeceu e assim o homem engatilhou a arma. No mesmo momento, por impulso, ele acertou um chute baixo diretamente no joelho do soldado, fraturando expostamente o seu fêmur, fazendo-o atirar pra cima e lançar um grito de dor logo em seguida.

Achou o dispositivo que abria a porta de saída da garagem e correu pra fora da sala já avistando outros tantos guardas correndo em sua direção. O alarme foi disparado quando ele entrou na garagem, procurando pelo carro do mesmo número que a chave.

Os tiros começaram a ser disparados, ele pulou para um pilar se encostando ao mesmo. Contou até dez, olhando o outro pilar, pegou a arma e correu de um lado pro outro, acertando dois guardas a caminho, um no peito e outro no pescoço. Havia pelo menos cinco soldados recém-chegados e mais sete que já estavam por ali. O homem entrou por baixo de um carro e se arrastou até o outro lado; o setor 20-30. Viu os pés dos guardas correndo a sua procura.

Saiu de baixo do carro e rastejou até o outro. Por sorte ninguém o viu. Naquele momento avistava o corredor do setor 30-40. Estava na vaga trinta e um, mudou sua rota para a lateral e contou mais quatro carros a frente, voltando a olhar a direção que o levava até a vaga quarenta e cinco.

Havia dois guardas passando por aquela via, um de cada lado. Ele esperou que eles passassem e finalmente saiu de baixo dos carros encontrando o automóvel blindado, quatro por quatro com pneus adaptados para a neve. Entrou rapidamente assumindo o volante e trancando a porta, chaveou o carro e deu a partida, pisando fundo.

 - Hey! AUTO! – os guardas atiravam inutilmente e gastavam suas vozes.

 

Stones fugia de Drachma, rumava para Amestris são e salvo, com muita coisa pra contar ao Marechal.

 - Ho-san... Espero que volte em segurança. – Disse o homem enquanto rumava para Briggs.

...

 Hohenheim se encontrava de frente para uma porta dupla de ferro. Haviam dois corpos jogados no chão ao lado dele. Mas seus pensamentos estavam desviados para aquilo que ele encontrava ali.

Achou estranho o fato de não ter aparecido mais ninguém até aquele momento e graças a esse receio se apressou a abrir a porta. Era um salão pintado com um branco impecável, que chegava a arder os olhos. Mas não foi nisso que a atenção de Hohenheim se direcionou. Havia um portão de pedra gigante na sua frente.

 - Não posso acreditar. – Murmurou o homem ao ver os símbolos alquímicos gravados ali. – A porta da verdade, recriada...

 Hohenheim se aproximou da porta, observando as escrituras, e, ao tocar na porta como se fosse uma ação inevitável por não acreditar no que estava vendo, ela se abriu.

No meio daquela imensidão branca, que não era mais a tinta do salão anterior, Hohenheim avistou algo que jamais havia visto naquele lugar; uma Árvore.

 

- Ela nunca esteve aqui... – disse o homem observando.

 - Existem vários lugares na imensidão deste lugar... – A voz veio de trás. Hohenheim se virou e avistou dez humanos encapuzados, todos olhando pra ele. – Depois de muito tempo procurando, eu encontrei e comprovei sua existência. A Árvore da vida... Genesis.

 Sem demonstrar muita surpresa, Hohenheim ajeitou o óculos e voltou a examinar aquela árvore gigante.

 - Existe um mito de que Deus privou esta arvore de dois humanos que desfrutaram da Árvore do conhecimento, tal qual flui em nós humanos até hoje.

 - Mitos são mitos... Não existe Árvore do Conhecimento, ela e Genesis são as mesmas. – A voz ecoou novamente.

 - Então, Homunculus deixou sua oitava criação longe de tudo? – Perguntou o homem.

 - O seu maior erro foi ter me criado. O mesmo erro que você cometeu ao deixar que ele se fizesse a partir da sua imagem e semelhança. Mas não o culpo... Segundo a crença das pessoas, Deus fez os humanos a partir de sua imagem e semelhança, e até hoje foi o maior erro deste Deus.

 O oitavo homúnculo apareceu diante de seus dez subordinados, uma nuvem negra com um olho vermelho e um sorriso curvo.

 - Até mesmo na voz... Vocês são idênticos. – Comentou Hohenheim sarcasticamente.

 

- Mas isso não vem ao caso, Von Hohenheim. Gostaria de te agradecer por ter seguido corretamente os meus planos. Como recompensa lhe direi toda a verdade sobre Ciel e sobre tudo, assim como pouparei a sua vida também. Te darei a chance de defender aquilo que você preza e ama. As chances de conseguir tudo isso são poucas, não se engane.

 - Quando quiser...

 - Ciel não foi criada para atuar na guerra, como ela mesma pensava. Sim, ela poderia muito bem ser usada para esse fim. Mas desde o começo eu queria que você viesse. Teria que existir algum motivo pra isso. Então você se apegou a Ciel e ela se apegou a você. – Contou o Homúnculo. – Ela, assim como estes meus dez subordinados, faz parte do projeto que rotulei como Ragnarok. Ela foi a primeira Valquíria criada, o melhoramento dos meus dez Enheinrars*. Ela na verdade nem sabe da minha real existência, ela pode me sentir, mas não sabe quem sou.
“Meu propósito foi trazer você para cá justamente para abrir o portão de Asgard na hora certa. Eu fico realmente grato por ter vindo aqui justamente na hora em que havia previsto, mas há um porém, Von Hohenheim... Não se sabe o que acontece quando se abre este portão sem o auxílio da pedra filosofal, o que torna as coisas ainda mais interessantes, dificultando ainda mais a possibilidade de vocês humanos atrapalharem os meus planos.”

 - No fim das contas, viraram o tabuleiro. – Comentou Hohenheim pesaroso. – Ótimo...

 

- Você ainda não viu nada, caro Hohenheim! – Disse o Homúnculo, e o Einheinrar apontou para a árvore mais uma vez.

 As cascas da árvore se abriram e algo começou a tomar forma humana. O corpo nu de uma mulher de aparentemente trinta anos apareceu preso ao tronco. Tinha o cabelo castanho e a pele clara, era muito bela, tanto de rosto como de corpo. Hohenheim estremeceu ao ver aquilo, ele realmente não imaginava e nem sabia sobre o porque do corpo de Trisha estar ali.

 - Mas o que é isso...? – Apressou-se a dizer desesperadamente.

 - Este, caro Hohenheim... É corpo que a verdade guardou durante um bom tempo. – Disse o oitavo homúnculo. – Esposa da pedra filosofal, geradora dos irmãos que se tornaram o prodígio da alquimia. Existe corpo mais apropriado?

Hohenheim ficou perplexo e ao mesmo tempo não tinha condições de falar mais nada. Apenas observava o corpo da esposa preso no tronco da árvore.

 - Este será o meu corpo de agora em diante! – Anunciou o oitavo Homúnculo.

 Hohenheim tentou impedir, mas ao tentar se mover descobriu que estava paralisado. Mesmo tentando o máximo que podia, ele não conseguia de forma alguma se mover.

Enquanto isso o corpo indefinido daquele ser pensante e racional se movia em direção da árvore.

- Não se preocupe Hohenheim... – Dizia enquanto se direcionava até lá. – É só um corpo, a alma desta mulher repousa em paz; se preocupe agora com o futuro de suas vidas!

 Aos poucos o alquimista ia se sentindo sonolento, ia perdendo a consciência de forma misteriosa. Agora sentia seu corpo novamente, mas era tarde de mais para tentar impedir. Sua visão ia se tornando embaçada e desfocada, e antes que o oitavo homúnculo se unisse àquele corpo, ele pagou.

Algo que estava escondido ali pegou Hohenheim antes que este pudesse cair ao chão e saiu pelo portão, desaparecendo logo em seguida, passando desapercebido.

Uma explosão luminosa ocorreu no momento em que o corpo indefinido se uniu ao corpo de Trisha, e em poucos segundos cessou, revelando uma mulher trajada a um vestido negro muito semelhante ao de Lust. Ainda assim sem muitos exageros, pois o corpo apesar de belo, não era obsceno como a personificação da luxúria.

Os dez indivíduos se curvaram para o novo ser que fora originado daquela união e um sorriso maligno brotou da face – antes pura e serena. – de Trisha.

 - Agora vamos para a segunda fase do plano. – Disse a mulher seguindo para a porta, sendo seguida pelos seus dez subordinados. – Uma nova era irá começar!

 

...

 O Céu da Central ficou nublado de repente, os primeiros trovões começaram a rugir e assim o céu desabou sobre a cidade.

Roy observava o temporal pela janela, seu semblante era tão frio quanto a chuva lá fora, ele sabia que algo estava pra acontecer.

 - Não é comum chover assim nessa época do ano. – Disse preocupado.

 Riza se locomoveu até o lado direito da janela, observando junto ao Marechal. Os trovões rugiam como monstros furiosos e o vento produzia um assobio ensurdecedor.

 - Marechal... – Chamou Hawkeye sem direcionar seus olhos nele.

 - Diga, Coronel.

 - Você acredita em reviravoltas? – Perguntou ainda observando pela janela da sala presidencial

 - Aprendi há quatro anos atrás algo que vou levar pra vida toda, Coronel... – Disse apertando os olhos, para as nuvens que discretamente formavam em tons de cores rubros o círculo de Ouroboros no céu. – O sentindo da palavra impossível... É inexistente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Notas do Autor.
 
Bom, chegamos a mais um fechamento de partes da Fic... Todos os segredos básicos foram revelados. Creio que agora seguiremos com um enredo mais tranqüilo, mas a complexidade só tende a aumentar!
O próximo capítulo ta prontíssimo, mas vou esperar até terminar o décimo primeiro, acho que consigo fazer isso até essa semana.
Sobre esse capítulo; eu achei ele grande de mais, espero que não tenha ficado maçante ou chato de ler, mas eu precisava contar tudo isso aí em detalhes em um capítulo único. De qualquer forma, comentem sobre o que acharam, honestamente! Daqui pra frente quero pedir pra que sejam bem analistas, já que o enredo vai ficar mais difícil de produzir pelo nível de complexidade que quero incluir e tal.
Acho que por hoje é só... Boa semana à todos!