POV. Charlotte

Se eu disser que minha vida é uma mentira seria uma hipérbole? Um exagero de expressão a fim de transmitir drama?

Bem, se você pensou que eu sou nerd, você acertou. Não aquela nerd que não perde um episódio da serie favorita. Sou aquela que tira as notas mais altas, mesmo sem estudar.

Meu nome é Charlotte Agatha Rossetti Grimaldi. Um pouco longo, eu sei. Meus amigos me chamam de Charlie.

Quando eu estudava no pré escolar, ficava escondida em um canto, não queria que ninguém me visse, isso eu tinha 4 anos, eu era meio antissocial. Não falava com as outras crianças, em parte porque não tinha motivos, e também eu tinha cabelos brancos.

Não, não eram loiros claros, eram brancos como a neve. Isso não era muito normal para uma não-fada, ou até mesmo para uma fada. Elas geralmente tem cabelos berrantes.

Eu vivo em Gillian, uma terra mágica. Moro na nação de Eléia. A maior e mais poderosa, claro que tem muitos inimigos, mas nada que a família real não de conta.

Atualmente tenho vinte anos, então desde em que comecei a falar com as pessoas já se passaram dezesseis anos. Tudo isso por culpa da Molly.

Ela é minha melhor amiga, quase minha irmã. Ela passa mais tempo na minha casa que na dela. Me lembro exatamente do dia em que viramos amigas.

__ Oi.__ ela disse para mim, ninguém falava comigo,

__ Oi,__ eu respondi meio gaguejando

__ Qual o seu nome?__ realmente a sensação de alguém falando comigo era estranha.

__ Charlotte.__ eu respondi,

__ Charlotte é muito chato, vou te chamar de Charlie.__ ela me abraçou, outra coisa estranha.

__Tudo bem.__ minha voz era tão baixinha que quase não dava pra escutar.

__ Seu cabelo é bonito.__ ela elogiou pegando uma mecha.

Assim começou a minha amizade. Estranho não?

Se você acha que eu era a nerd sem amigos, errou. E se acha que eu era a popular que escondia ser nerd errou também. Todos sabiam que eu era, ainda sou, um pouco admito, nerd

Eu não era aquela nerd sem amigas, claro que eu só tinha a Molly, mas não ligo mesmo. E também não era a mais popular, todos me adoravam, mas não era mesmo a mais popular. Molly era.

Agora comemoramos dezesseis anos de amizade. Molly fez faculdade de administração e trabalha na Central de Registros Mágicos. Eu fiz Teoria e Pratica da Magia, Historia da Magia. Sou professora.

A turma em que eu dou aula é a pior da escola. Quando eu estudava, minha turma também era a pior, me identifiquei. O terceiro ano do colegial. Incrivelmente, eu sou a única que consegue mantê-los sob controle.

__ Aggy, o príncipe vai vir para Whitechapel.__ minha mãe, assim como todos na minha família, me chama de Agatha.

Minha mãe é Consulesa. O mais alto patamar que um bruxo pode chegar. Existe o Conselho. Nele se juntam, uma fada, uma sereia, um metamorfo, um bruxo, um elfo e um lobisomem. Esse conselho toma as decisões abaixo do rei e da rainha, são eles os responsáveis de manter a paz entre as espécies.

A representante dos bruxos é minha mãe. Luna. Ela tem cabelos negros como a noite e olhos negros como a escuridão. Se eu disser que ela é a pessoa mais linda do mundo, não estaria mentindo.

E meu pai se chama Carter, ele é a melhor pessoa do mundo, não ocupa nenhuma posição importante em Eléia, não de acordo com a população. Para o rei e a rainha ele é importante, ele cuida para que minha mãe não enlouqueça, e sem falar que o rei adora ele, eles são amigos. E para mim ele é o homem mais importante da minha vida.

Mesmo que mamãe tenha que viajar por longos períodos de vez em quando, ela adora trabalhar, e eu adoro o trabalho dela. Eu bem que queria ser Consulesa.

__ O que me importa mãe?__ eu perguntei.

__ Você podia cuidar para que a escola não exploda.__ ela disse sentando na minha frente.

__ Como assim Dona Luna?__ eu perguntei me levantando do sofá.

__ Ora, se você fosse na sala dos professores enquanto você está na escola saberia__ ela disse me olhando de cima a baixo.

__ Tanto faz. Vai me dizer ou não__ eu perguntei, fingindo desinteresse.

__ Ele vai ficar dando aulas em uma das salas, __ eu fiz um gesto com a mão para “continue”.__ E ele escolheu a sala mais bagunceira.

Oh, não. Minha sala, meus alunos, meus amigos. Coitado do Will.

Como vou explicar?

Como minha mãe é Consulesa, então por natureza, somos convidados para todas as festas do Castelo. Como Consulesa, minha mãe trabalha muito perto da Rainha [do rei também, mas esses assuntos geralmente se remetem a rainha], elas são amigas.

Então, como consequência, ela é convidada para absolutamente tudo, e como outra consequência, eu também.

Não me leve a mal, eu adoro a rainha Lívia. Ela tem cabelos castanhos claros e olhos castanhos. Ela me convida para absolutamente todas as festas, cerimônias, comemorações, celebrações, eventos, tudo o que tem de importante em Angeles, a capital.

O problema é o filho dela. O idiota do filho dela. O Willian. Willian Collin Clark.

Se você pensa que ele tem doze anos e é o tipo que fica atrás dos mais velhos, se enganou perdidamente.

O idiota do Willian tem vinte e dois anos, faz o que quer e não gosta muito de seguir regras. Ele cede quando necessário, mas raramente é necessário. Ele também é o maior galinha. Quando está namorando, fica apenas com ela, mas ele namorou duas vezes.

E o pior não é isso. O canalha é lindo. Tem olhos da cor do céu e cabelos como a noite. Eu não vou admitir isso nunca, mas, como todos que podem enxergar, acho ele lindo.

Ele seria a pessoa perfeita, se, e existe um grande se, ele fosse um pouco menos chato, cínico, cretino, descarado, desprezível, dissimulado, energúmeno, exibido, falso, grosso, hipócrita, idiota, insolente, leviano, libertino, mal-educado, mandão, manipulador, metido, néscio, orgulhoso, presunçoso, pretensioso.

Meu vocabulário é bem grande e variado.

__ Mãe. Eu realmente tenho muita pena do Will, ele não consegue dar conta do segundo ano.

__ E você vai ajuda-lo. __ não sei por que, pode ser porque eu e Willian não nos damos bem na maioria das vezes, mas eu ri desse comentário.

__ Como se eu e ele pudéssemos ficar na mesma sala por mais de cinco minutos sem brigar__ eu disse sínica.

__ Você vai e ponto.__ ela disse por fim.

__ Vamos fazer assim. Quando ele não estiver mais dando conta, eu ajudo. Quero ver até onde ele vai.__ eu disse me levantando.__ Acho que ele não vai querer ficar aqui. Quando ele chega?

__ Ele estará aqui para a primeira aula amanhã. __ ela disse.

__ Tudo bem, faço um esforço para levantar cedo.__ eu subi para o meu quarto, não vou ajuda-lo. Nem que me paguem.

POV. Willian.

O que eu estou fazendo em Whitechapel? Eu poderia ter ficado em Angeles, seria mais legal em Angeles. Mas não. Eu estou a caminho do segundo ano do colegial, não para estudar, mas para dar aula.

Eu decidi assim, se dou conta de uma turma de baderneiros, dou conta de um reino.

Mais ainda sim a pergunta prevalece. Porque Whitechapel?

Eu poderia ter ido a tantas outras vilas. Tem vinte e duas em Eléia. Whitechapel sempre me atraiu, nem tanto pelas maravilhosas praias, ou pelas montanhas lindas, ou até pelos campos e campinas. Quando eu tinha doze anos passei minhas férias aqui. Conheci todos esses lugares.

Andrew estava aqui comigo nessas férias, ele fez de Molly sua grande inimiga. Não sei o motivo, mas sei que teve uma aposta que ele perdeu, e se tem algo que Andrew odeia é perder.

Andrew Tayler Green. Conheço ele há mais de vinte anos, nossos pais são amigos. Ele é meu melhor amigo. Mas se tempo tornasse alguém amigo, eu e Lottie seriamos quase irmãos, conheço ela há mais de vinte anos também.

Lottie. Minha pequena Flor de Lótus. Eu chamo ela assim quando penso na Lottie. Ela não é tão pequena quanto eu digo, mas também não é grande. Tem no máximo um metro e setenta.

Eu posso chama-la de Flor de Lótus, mas não ficamos mais que quinze minutos em um cômodo sem brigar. Ela é tão perfeitinha, e eu digo isso em sentido negativo. Ela é o exemplo vivo de todas as patricinhas que você já viu na televisão.

Mas que mulher linda. Os olhos azuis escuros são minha perdição. Isso sem falar nos cabelos loiros, que ela teima em tentar alisar, mas não sabe o quanto ficam lindos cacheados, eles descem até a cintura fina dela.

Ela consegue me tirar do sério. Acho que já passamos da fase em que nos provocamos com puxões de cabelo e mostrar o dedo. Mas recaídas acontecem.

__ Bora Will. __ Andrew chamou. Ele teima que se chegarmos logo, vamos voltar logo.

__ Só vamos voltar em um mês. __ eu disse pela milésima vez.

__ Não ligo. Amanhã eu vou trabalhar sabia? __ arregalei os olhos. Andrew não é o tipo que trabalha__ Seu pai conseguiu um emprego para mim por um mês na CR.

__ Não sei se ele estava pensando direito. Eu nunca deixaria você sozinho perto de um computador, ou de uma pasta com registros. Agora você em uma Central de Registros? __ eu disse irritando o Andrew.

__ Sim. Vou ficar um mês no comando de lá. Manda Chuva. __ ele disse

­­Entramos no avião. Chego lá em menos de cinco horas. Dá tempo de eu jantar.

...

__ Cada dia mais linda.__ Andrew disse, assim que chegamos. Estava escuro, mas a Lua iluminava bastante,.

__ Sem duvida. Vamos logo__ eu chamei

Decidimos jantar fora. Fomos a uma lanchonete, era quase no centro da cidade.

Pedimos os lanches e eu vi.

Ela estava sentada na mesa do canto da lanchonete. Reconheci pelo cabelo. Essa mulher tem mesmo que mudar, acho que o cabelo dela está igual há uns dois anos. Eu posso afirmar que não mudou uma única vez, porque todo mês ela passa pelo menos um fim de semana em Angeles.

__ O que você está encarando?__ Andrew sussurrou.

__ Ela está aqui__ sussurrei de volta.

__ Você tem que parar de ter medo dela__ ele disse ainda sussurrando.

__ Porque estamos sussurrando?__ eu perguntei sussurrando.

__ Não sei.__ ele respondeu sussurrando.

Como amigos podem ser idiotas às vezes.

Ela virou o rosto na direção dos meus olhos, que ainda estavam cravados nela. Desviei rapidamente.

__ Acho que ela me viu__ eu ergui o cardápio para cobrir meu rosto.

__ Vamos sair logo. Vai que elas resolvem vir.

Nos levantamos para ir embora. Ela não deu sinal que me viu. Que sorte.

Fui dormir cedo e acordei mais cedo ainda.

Me arrumei para ir trabalhar. Terno, gravata preta. Esse é o uniforme.

A escola era um prédio tão grande. As únicas vezes em que vim aqui, foi para buscar Lottie.

A diretora Palmer veio me acompanhar. Ela tem uns quarenta e poucos anos.

__ Príncipe Willian. Me acompanhe por favor.__ ela pediu.

Ela me mostrou todo o campus, que por sinal, era gigante.

__ Essa é a ultima chance.__ ela disse.

__ Não vou trocar de sala. Eu dou conta.__ eu disse, acho que pela milésima vez.

Ela suspirou e me acompanhou para a sala.

Não era muito numerosa, tinha uns quinze alunos. E eles não pareciam com nado do que ela disse,

__ Alunos, esse é o príncipe Willian, ele vai dar aulas para vocês nas próximas semanas__ ela apresentou.

Nenhuma reação dos alunos, isso é bom, eu acho.

__ Boa sorte__ ela saiu da sala.

__ Oi. Eu sou Willian e gostaria que me chamassem de senhor Clark. __ eles assentiram__ Podem se apresentar?

Bem, a sala tinha dez alunos. Eu anotei todos os nomes.

Aislynn, Breese, Lauren, Nyxie, Christina, Scott, Joshua, Peter, Victor, Thomas.

__ Bem vamos começar,

Não pode ser tão difícil assim. São apenas crianças, nada que você não possa dar conta Willian.