Os olhos de Sakura pesaram, sua mão tocou a parede do banheiro, ela já estava lá a tanto tempo que Sasuke perdera a conta, quando o homem bateu duas vezes na porta recebeu um resmungo, misturado com um gemido, como resposta.

– Vamos logo Sakura. – Ele clamou pela quinta vez.

– Da para esperar? A casa do Naruto não vai fugir. – Ela gritou abrindo a porta, sua face estava mais pálida que o normal.

Sasuke enfiou as mãos dentro do casaco e passou pela sala pegando o da rosada que já estava lá fora, com um bico formado nos lábios, o vento batendo contra seus cabelos e seus olhos verdes esmeralda brilhavam a luz da lua.

– Esqueceu isso. – Ele sorriu ironicamente estendendo a ela o agasalho, mas a mulher apenas saiu andando na frente, ela suava um pouco frio.

O caminho foi silencioso, Sasuke via a face expressiva de Sakura, apesar da raiva temporária dela seu rosto demonstrava mais preocupação, o que o preocupou por alguns instantes, não sabia o que a deixava assim, talvez algum assunto de trabalho, é, só poderia.

Foi Hinata que abriu a porta, ela estava com um sorriso no rosto, abraçou Sakura e cumprimentou Sasuke, Naruto por sua vez tirou os amigos do chão com um abraço forte, o Uchiha reclamou, a Haruno sentiu um mal estar momentâneo com o perfume do Uzumaki, o que foi estranho, vendo que nunca sentira problema com aquele aroma.

– Vamos jantar. – Naruto exclamou erguendo os braços, a face rubra de Hinata concordou com ele.

Os quatro conversaram boa parte da noite, quando o último prato chegou apenas Naruto e Sasuke conseguiram comê-lo, uma torta de amoras, Hinata estava o evitando, amoras não estavam fazendo bem a ela em seus dois meses de gravidez, Sakura não teve tempo de comer, só de correr pro banheiro e passar o jantar todo pra fora.

– Sakura? Tudo bem? – Sasuke encostou a destra na porta do banheiro, atrás dele tinha Hinata e Naruto, ambos preocupados.

– Sim, sim. Estou apenas com um mal estar estomacal. – Ela disse lá de dentro, limpou os lábios, encheu a boca de água para tirar o gosto de vômito e depois cuspiu na pia. – Melhor agora.

Quando abriu a porta seus olhos se depararam com três olhares assustados, o primeiro foi o de Sasuke, tinha também um olhar de desaprovação no meio. Depois tinha Naruto, ela via o quão o amigo estava preocupado com sua saúde. Por último Hinata, não queria preocupá-la, ela estava grávida.

– Sakura-chan, está bem? – As palavras saíram da boca de Hinata, mas Sakura sabia que os dois homens a olhando também se perguntavam aquilo.

– Só preciso ver Tsunade-Sama. – Ela disse passando as mãos pelos cabelos róseos os jogando um tanto para trás. – Naruto, Hinata, obrigado pelo jantar maravilhoso, me acompanha, Sasuke?

O homem apenas balançou a cabeça, ele abraçou Naruto e apertou as mãos de Hinata saindo atrás da rosada que parecia mais apressada do que o normal, apesar de longe um passo de Sasuke dava dois, até três, em relação aos de Sakura.

Sasuke agarrou-a por seu braço, obrigando-a a parar, ela parecia tão irritada, era algo além de sua saúde que deixava sua face pálida, a preocupação e tristeza nos olhos de Sakura era visível. Ela puxou o braço, mas ainda parada no meio da rua.

– Ei, o que está acontecendo com você? – A voz de Sasuke saiu baixa, ele puxou a esposa para perto passando a mão por sua cintura.

– Nada, só estou me sentindo desconfortável e você vai embora de novo, sete meses é muita coisa. – Sakura deixou escapar em voz baixa, sentia a respiração quente de Sasuke entre os seus cabelos.

– Vou tentar me comunicar sempre, mas eu tenho coisas a resolver, acha que eu quero deixar minha esposa só por tanto tempo? – Ele exibiu um fraco sorriso, tocou o indicador na testa dela e olhou-a nos olhos. – Venha, vamos ver Tsunade.

Ele entrelaçou os seus dedos entre os dela e assim eles caminharam devagar na rua que tinha poucas pessoas, Naruto e Hinata não moravam em um ponto muito movimentado da vila, apesar de ainda ser a parte central.

Sakura estava impaciente sentada sobre a maca, não tinha deixado Sasuke entrar, mas ele disse que interrogaria Tsunade caso houvesse omissão de informação, ele não queria deixar de saber como sua rosada estava.

– Então? Não me diga que é gastrite. – Sakura reclamou alisando a barriga, Tsunade sorriu olhando pra ela.

– Sakura, vamos ser francas uma com a outra, você sabe o que tem. – A loira depositou a mão ao lado de Sakura olhando a rosada.

– Como eu vou contar a ele que estou grávida de um mês? – Ela suava um pouco, passou a mão por sua testa pálida, Tsunade atravessou a sala abrindo a janela.

– Quer que eu assine com qual doença? – Ela questionou Sakura com uma caneta e a prancheta em mãos.

– Qual seria mais convincente? – A mais nova passou a mão pelos cabelos, ela estava com frio, mas no segundo seguinte veio aquele calor e o gosto amargo nos lábios. – Coloque infecção alimentar mesmo.

Tsunade assinou a folha no fim e estendeu a Sakura, sabia que a mulher tinha plena consciência do que fazia, ela tinha idade o suficiente para cuidar da própria vida se assim quisesse, então não resolveu dizer nada, só esticou a folha.

– Volte, para cuidar da sua “infecção“. – A loira gesticulou com os dedos, Sakura apenas concordou.

Sakura abriu a porta, Sasuke estava a uns quatro metros a direita no corredor, ele deu alguns passos a envolvendo com os braços, as pernas dela tremeram, estava mentindo para ele e não gostava disso.

– Infecção alimentar, apenas, vamos pra casa, quero passar o maior tempo possível com você. – Ela pediu, Sasuke não disse nada, apenas concordou.

Eles chegaram em casa e deitaram-se juntos na cama, Sakura parecia cansada, dormiu com Sasuke mexendo em seus cabelos, por um segundo, ou mais, ele pensou-se fazendo aquilo com um filho um dia, não demorou muito para que ele também viesse a dormir.

Ao acordar naquela manhã Sakura estava sozinha, chamou por Sasuke, nada, tinha um bilhete sobre a escrivaninha, a letra era dele.

“A cada folha que cair será um dia a menos na contagem para voltar a seus braços, olhe sempre pela janela, chegarei com o inverno.” – Sasuke

Lágrimas se formaram no rosto de Sakura pensando nisso, ela guardou o bilhete na gaveta, ao olhar lá pra fora viu uma árvore, ela tinha folhas rosadas como seu cabelo, então a primeira delas caiu e a Haruno apenas olhou, menos uma folha, menos um dia para ter seu Sasuke de volta.

– Pelo visto somos só você e eu nessa casa por alguns meses. – Sakura falou para o bebê que se formava na sua barriga.

A Haruno deitou-se novamente na cama, olhou pro relógio na parede do outro lado do quarto, ainda faltava algumas horas para o seu plantão, era levantar a cabeça e fazer o que sempre fazia na ausência de Sasuke, sobreviver, mas dessa vez era diferente.

O primeiro mês passou tão rápido que Sakura nem viu, ela contava pelas folhas que caíam perto de sua janela, a cada dia era mais um dia longe dele e menos um para seu retorno. Os enjoos ficaram um pouco mais constantes, mas o segredo ainda era só seu e de Tsunade, foi quando ela resolveu contar a Hinata e Ino, suas melhores amigas á anos.

– Eu me sinto enorme amamentando uma criança. – Reclamou Ino com o pequeno Inojin nos braços, ele tinha quase duas semanas de vida, tinha nascido prematuro de seis meses e meio.

– Vo-Você está ótima, Ino-san. – A voz baixa de Hinata despertou um sorriso em Ino, ambas então olharam pra Sakura.

– O que você tinha pra nos falar testuda? – Ino colocou o filho no carrinho e olhou a amiga.

O rosto de Sakura ficou rubro, queria socar a face de Ino, mas não ousaria tocar em uma mulher que tinha ganhado um bebê a pouco tempo, mesmo que fosse a Yamanaka que tanto lhe irritava as vezes.

– Eu estou grávida. – Sakura encheu as bochechas e esvaziou-as vendo as caras de surpresa das amigas.

– Sasuke foi rápido ein, não mais que o Naruto. – Ino soltou sem vergonha nenhuma, Hinata corou tanto que teve esconder o rosto entre as mãos.

Sakura bateu de leve no ombro da loira que deixou uma risada fraca escapar, o garotinho fez um barulho, Sakura e Ino olharam juntas pro pequeno Inojin, ele parecia quieto.

– Meu pequeno Inojin agora tem duas namoradinhas. – A Yamanaka falou com um grande sorriso, Sakura balançou a cabeça negativamente.

Antes que qualquer uma delas pudesse falar algo uma nova silhueta entrou no campo de visão delas, era masculina, na sal face estava estampada a confusão para com as palavras da Yamanaka.

– Primeiro, você vai deixar esse seu moleque longe da minha menininha, se for uma, e segundo, duas? Hina-chan são gêmeos? – Naruto coçou a cabeça, era compreensível sua confusão perante a aquela conversa.

– Não, a Sakura está grávida. – Ino falou como se aquilo não fosse algo que Sakura estivesse guardando a um mês.

Se pudesse a Haruno tinha esmagado o crânio de Ino ali, com as suas mãos, mas ela só respirou fundo, para sua sorte Hinata se levantou, ainda rubra, e foi até o marido, segurou as mãos dele entre as dela o que o fez olhá-la em seus olhos perolados e rir um pouco da face avermelhada dela.

– É um segredo. – A Hyuuga disse, o Uzumaki sentiu seu queixo cair, ele não entendia o motivo de tanto segredo.

– Como assim? Para que segredo se a criança é filho do meu melhor amigo? – Ele cruzou os braços enchendo os pulmões, até que a ficha pareceu cair para Naruto. – A criança não é filha da Sasuke?

Os olhos de Sakura se arregalaram, ela levou as mãos a barriga particularmente ofendida, Inojin chorou alto, Naruto tapou um dos ouvidos, ele tinha um choro bem agudo, Ino pegou o bebê nos braços.

– Apesar de me sentir ofendida eu não vou bater em você baka, claro que é do Sasuke. – Ela suspirou tirando parte do cabelo da frente do rosto. – Ele só não precisa saber ainda.

– Vai fazer uma surpresa a ele? Amo surpresas. – Naruto sorriu grandemente, Ino olhou Sakura enquanto balançava o filho, Hinata também a olhou.

– Na verdade ... – Ela hesitou em falar. – Não tive coragem e modo de falar.

Até mesmo o Uzumaki percebeu aquilo, todos se calaram, então Inojin chorou baixo e Ino o balançou fazendo se calar, Naruto abraçou Sakura, coisa que quase nunca fazia, mas naquele momento a amiga precisava.

– Vamos guardar o seu segredo sim. – Ele disse se separando dela e se agachando para a altura da barriga dela, também de Hinata. – Meu meninão vai proteger a sua garotinha, Sakura-chan, principalmente de certos filhos de certas pessoas.

Ino mostrou a língua para Naruto, Sakura e Hinata riram da cena, a rosada cruzou os braços, olhou o loiro com um semblante um pouco convencido.

– Minha menina não precisará de um protetor baka. – Ela riu no final tocando a barriga que logo seria enorme.

– Dattebayo! Se você diz. – Ele completou coçando a cabeça.

Os meses se passaram, a árvore tinha cada vez mesmo folhas, a barriga de Sakura tinha ficado enorme, ela passava algumas dificuldades, Naruto por sua vez se dividia entre sua mulher e a amiga rosada, não podia contar a Sasuke do segredo, mas sabia uma forma de trazê-lo de volta, então o convite para apadrinhas sua criança surgiu, e o Uchiha aceitara.

A porta da casa se abriu naquela noite, Sakura olhou algumas últimas flores na árvore, ela já sabia, estava grávida de uma menina, seu nome seria Sarada, ela olhava a barriga grande e sorria, pois a menininha acabara de chutar.

– Seu pai vai amar você, do jeito estranho dele, mas vai. – Ela cutucou a barriga de leve, quando ouviu um barulho perto da porta.

– Espero que ele ame mesmo. – Então Sakura o viu, o seu Sasuke estava de volta.

Sakura tentou se levantar, mas a barriga pesava, então ela apenas sentou-se na cama, esticou o braço para que ele visse a seu encontro, mas quando as rosas foram colocadas sobre o móvel perto da porta ela percebeu que tinha algo errado.

– Sasuke espera! – Ela falou em um tom normal, mas ele sumira de seu campo de visão, ela se apoiou no portal. – Sasuke Uchiha, apareça!

Nada, nenhum sinal, seja lá onde ele tivesse ido, ela não tinha entendido essa reação. Passou a mão pelos cabelos róseos, queria descansar, suas pernas já doíam, mas não podia ir sem achá-lo.

– Eu sei que você está me ouvindo, por favor Sasuke, apareça, estou com saudades do amor da minha vida. – Ela mais murmurou do que falou em si. Seus pulmões doeram, ela saiu da parede, caminhou devagar pelo corredor até a sala e lá estava ele. – Vamos pra cama.

Ele riu baixo, uma risada seca, mas que Sakura conhecia, algo estava o incomodando, ele se virou pra Sakura, agora mais sério, totalmente, o olhar dele estava dando arrepios a Haruno.

– Quem é ele? Melhor falar agora Sakura. – Ele se virou olhando pela janela lá fora, ela não entendeu, repousou a mão sobre a barriga, foi quando percebeu do que ele falara.

– O que? É seu. – Ela não alterou a voz, estava cansada demais.

Uma hora ele estava sentado sobre o sofá, na outra ele já estava prensando Sakura contra a parede, as costas dela doeram, ela sentiu Sarada mexer dentro de sua barriga, talvez incomodada com a brutalidade do baque.

– Eu vou perguntar de novo, de quem é essa criança. – Os olhos dele estavam rubros, o sharingan encarava as esmeraldas de Sakura que tremulavam.

– É seu, eu disse, de quem mais seria? – Ela sentiu um pouco de vento passar perto de sua orelha direita, então havia um buraco na parede e os olhos de Sakura marejaram.

– Sa-a-asuke, para por favor. – A voz rouca de Sakura se misturava as suas lágrimas, Sasuke se afastou, não conseguia vê-la chorar.

Ele se afastou, mas Sakura segurou sua destra, mesmo ele puxando a mão ela foi mais forte e o fez tocar sua barriga, Sarada de mexia um pouco.

– Sinta sua filha, e você Sarada, conheça seu pai, ela estava ansiosa para te conhecer. – A Haruno o olhava sentir a garota se mexer dentro da barriga, foi então que surgiu-lhe no rosto um sorriso.

Os joelhos de Sasuke tocaram o chão, ele segurou a barriga de Sakura e a olhou maravilhado, era sua filha, continuação dos seus genes. Ele tocou a barriga dela com o indicador, como Itachi fazia com sua testa.

– Olá querida, papai está te esperando aqui fora. – Ele disse baixo beijando a barriga da esposa.