Hinan escrita por Hakiny


Capítulo 50
Baunilha


Notas iniciais do capítulo

Eu chorei escrevendo isso... SOCORRO



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/564592/chapter/50

Um silêncio tomou todo o campo de batalha, naquele momento os olhos de Céverus fitaram Cute.

— CORRE! — Jon usou toda a força de seus pulmões para alertar o companheiro.

Naquele momento as espadas de Jon e do miraniano se chocaram. Ele havia chegado até ali tão depressa que nem um piscar de olhos o superaria, se não fosse a lâmina do líder dos shikõs o teletransporte de Cute não seria rápido o suficiente para salvar sua pele.

— SAIA DO — Céverus deu seu primeiro golpe — CAMINHO! — Ao fim do segundo golpe, a lâmina de Jon se partiu e antes que ele pudesse tomar alguma atitude teve seu abdomem perfurado pela espada do inimigo. Céverus o empurrou por alguns metros até o chocar contra uma rocha gigante, o impacto foi tão grande que a rocha foi completamente destruída.

O filho mais novo se preparava para o segundo ataque quando sentiu um formigamento nas costas, Jack o havia acertado com a explosão de um de seus canhões.

Sem perder tempo, Céverus lançou uma pequena bola de energia na direção da shikõ, Raque tomou a frente de Jack com um escudo de energia e ambas foram arremessadas para longe com a explosão colossal do inimigo.

— Você está bem? — Raque perguntou preocupada.

— O que teria sobrado da gente sem esse escudo? — Jack estava atônita.

— Não muito.

Na sociedade dos shikõs, Andy caminhava pelos corredores, vazios do castelo. Um barulho vindo de uma das cozinha fez o mago ficar em alerta.

— Quem está ai? — Andy se preparava para atacar o possível inimigo.

— Eu to muito na merda, Andy! — Cute se revelou repentinamente.

— Cute? — O mago se assustou com a presença do amigo — O que você está fazendo aqui?

— Eu preciso de um lugar para me esconder… — Cute tremia enquanto enrolava a esfera em sua camisa.

— O que é isso? — Andy se atentou ao objeto brilhante que o companheiro guardava.

Cute não teve tempo e responder, pois uma densa nuvem de fumaça havia preenchido o cômodo.

— Ah caramba… ele se teletransporta também… — Cute estava apavorado.

— Ele? Ele quem? — Andy estava confuso.

Foi quando um par de olhos vermelhos se destacaram no meio da fumaça.

Naquele momento Andy sentiu uma intenção assassina tão poderosa que sentiu sua espinha tremer.

“Céverus”

Não podia ser outra coisa. Não poderia haver algo mais aterrorizante no universo.

Foi então que tudo havia ficado silencioso e Andy estava mais uma vez sozinho.

Na Hinan do Sul, Cute continuava a sua corrida pela vida.

— Mas o que é aquilo? — Lily observava a presença de duas nuvens de fumaça.

Foi quando uma intensa explosão fez com o que os dois caíssem de joelhos.

— Aquele é o Cute? — Lily podia ver o pequeno Shikõ se desviando das explosões com desespero.

— E aquele é o Céverus… — Erii tremeu.

Da mesma forma que havia aparecido, Cute também sumiu, restando apenas o miraniano.

Em silêncio, Lily e Erii sentiram os olhos de Céverus sobre eles.

— Tamo fodido… — Lily sussurrou.

Mas diferente do que a maga imaginava, o filho mais novo apenas desapareceu em uma nuvem de fumaça.

— MAS QUE MERDA FOI ESSA? — Erii entrou em total desespero.

Sem ter as suas dúvidas esclarecidas, Erii pôde ver Lily correndo em direção ao veículo que eles haviam usado para chegar ali.

— O que está fazendo, Lily?

— Ta rolando alguma treta tensa nos arredores do castelo do Taiko e eu preciso ajudar! — Lily dizia enquanto ligava o veículo.

— Não! Você não vai! — Erii se dirigiu até o veículo.

— Olha Erii, eu sei que você está preocupado e tudo mais… mas como você percebeu, diante de todo o trabalho pesado que eu fiz por aqui SOZINHA, eu já posso cuidar de mim mesma. — Lily dizia com desdém.

— Isso não significa que…

— Essa é a sua última chance de conseguir uma carona, porque eu vou de qualquer jeito! — A pequena maga interrompeu o companheiro de forma ríspida.

Em silêncio, Erii apenas entrou no carro.

— Acho que você já entendeu quem tá no comando. — A garota se vangloriava.

— Você vai se arrepender disso.

De volta para junto dos seus amigos, Cute ainda corria pela sua vida.

Céverus o atacava com uma infinidade de golpes explosivos enquanto o perseguia com uma velocidade impressionante.

De longe, Sayo arremessou sua shuriken, na tentativa de atrasar o inimigo, mas a arma se desintegrou antes mesmo de atingi-lo.

— Estou me sentindo inútil… — A guerreira resmungou diante de sua frustração.

— Agora Allk! — Do outro lado do campo de batalha, Butcher passava as informações.

Sem hesitação, Allk fez surgir algumas correntes do solo que agarram os dois braços de Céverus e o  pôs de joelhos. Por mais que ele as rompesse com facilidade, mais e mais correntes apareciam e o traziam de volta para o chão.

Mesmo com os braços imobilizados, o filho mais novo fez surgir um círculo no chão abaixo de Allk que o engoliu como um buraco negro. A liberdade do inimigo foi breve, pois ele foi repentinamente atingido por um raio que mais uma vez o pôs de joelhos.

Não muito distante, Butcher se esforçava para manter o inimigo sob controle, direcionando toda a sua energia para ele.

— É A SUA DEIXA VAL! — Sayo gritava o mais alto que podia.

Não era necessário o aviso, pois Vallery corria a toda velocidade em direção ao inimigo com a Masayoshi em punho.

— JÁ CHEGA!

Naquele momento Céverus liberou uma onda de energia tão intensa que fez todos serem lançados para longe e uma enorme cratera surgiu debaixo de seus pés. Apesar da intensa força do inimigo, Vallery penetrou a energia de Céverus com o preciso corte da espada da justiça.

— Hoje você morre, Demônio! — Vallery gritou a vitória de 300 anos sobre o mal, naquele momento.

A Masayoshi penetrou o abdômen de Céverus com brutalidade e o rasgou como papel, fazendo jorrar uma imensa quantidade de sangue.

— Ainda não, humana… — Tomado pelo desespero, o miraniano socou Vallery tão forte que a fez rolar pelo campo de batalha, parando apenas quando se chocou contra uma montanha e fez parte dela vir ao chão.

Do corpo ensanguentado do inimigo uma explosão ensurdecedora fez com que todos tampassem os ouvidos e quando tudo acabou, não havia restado mais nada.

— Acabou? — Jack parecia incrédula.

— Ainda bem, — Jon cambaleava até a sua companheira — Eu estava pronto para encher ele de pancadas.

— Claro que estava — Jack observava o estado deplorável de Jon — Deu para reparar o quanto ele estava em desvantagem.

— Val! — Sayo corria em direção a amiga que se levantava com dificuldades — Está tudo bem?

— Isso vai doer muito amanhã… — Vallery resmungou.

Em silêncio, a portadora observava a batalha entre os mortos vivos e os shikõs ressuscitados prosseguir sem interrupções:

— Ele ainda está vivo. É a energia vital dele que mantém os cadáveres de pé! — Vallery se manteve de pé se apoiando na espada sagrada — Preciso encontrá-lo.

— Agora você precisa respirar um pouco… você mal consegue ficar de pé! — Sayo a repreendia com a autoridade de uma mãe.

Não muito distante dali, um homem machucado cambaleava pelo deserto, em direção a um pequeno oásis.

Assim que tocou a grama, Céverus se arrastou para sombra de uma árvore e se encostou em seu tronco.

Observou atentamente a trilha de sangue que ele havia deixado, o teletransporte só o afastou alguns metros dos escombros do castelo, eles o encontrariam rápido, isso era certo.

Ele queria morrer antes disso, não queria dar a eles o gostinho de vê-lo cair, não queria dar a Raque o gosto de ter suas palavras cumpridas.

“Sinto pena de alguém que nunca conheceu afeto, carinho. Que trilhará seu caminho só e quando cair ninguém vai ajudar. Provável que façam fila para cuspir no que sobrar de sua existência que você julga tão colossal.”

As palavras da garota ecoavam na cabeça de Céverus, fazendo seu peito doer, seu orgulho rasgar e seu ódio explodir… explodir em lágrimas.

— ONDE ESTÁ A MALDITA FILA DE DESGRAÇADOS! — Céverus berrava com o pouco de força que ainda lhe restavam — Eu não vejo a fila… Porque eu ainda sou o mais poderoso… eu sou o maior de todos… eu sou o melhor…

— É mesmo.

A voz familiar de Raque fez o miraniano se assustar.

— Sabia que esse cheiro horrível de baunilha, não era coisa da minha cabeça… — Céverus resmungou em voz baixa.

— Você tem certeza que quer ficar aqui sozinha? — Cute, que havia trazido Raque até ali com seu teletransporte, perguntou um pouco receoso.

— Tenho sim, Cute. — Raque respondeu com um sorriso.

Depois de ver que seu amigo havia desaparecido, Raque se sentou ao lado de Céverus.

— Eu ainda posso quebrar o seu pescoço com mais facilidade do que um galho seco. — O miraniano dizia com desdém diante da atitude da garota.

— Desde que eu me lembro, você vive dizendo o quanto odeia o meu cheiro de “baunilha”. — Raque deu uma pausa e também se encostou na árvore —  Nunca entendi o porquê.

— Porque você fede a algo que enjoa. — Céverus dizia de forma ríspida seguindo com algumas tossidas.

— Quando eu e o Ally éramos pequenos, eu vivia dizendo o quanto você era assustador, mas ele sempre dizia que, apesar de sempre parecer de mau humor, você tinha um bom coração. — Os olhos da garota fitavam o céu, que aos poucos dava os primeiro sinais do entardecer.

— Tenho certeza que ele mudou de ideia depois de alguns anos de tortura. — O homem sorriu de forma irônica.

— O meu pai também dizia a mesma coisa sobre o seu coração…

— E eu o esfaqueei pelas costas! No fim a criança presunçosa foi a única que saiu viva não é mesmo Raque? — Céverus estava visivelmente irritado com a conversa da garota.

— Você é o fim da maldição, Céverus! — Apesar de magoada, Raque permaneceu firme.

— Não Raque, eu sou o mal! A prova viva que a maldição é real! Eu sou o demônio que assombra os sonhos das criancinhas e as pune por serem mal criadas! — Céverus gargalhou de forma sarcástica — Lembro que o seu pai proibiu a sua mãe de contar a vocês essa história! Mas todas as crianças de Miran a ouviam de seus pais para serem comportadas.

— Eu não acredito que os filhos mais novos nasçam maus! Ninguém nasce mal de verdade.

— Eu não acredito que você está dizendo isso depois de tudo o que…

— Depois de tudo o que você fez? — Raque interrompeu a fala de Céverus — Eu fui uma criança presunçosa, cercada de pessoas presunçosas e por muitas vezes eu questionei o que eu era de verdade.

— Você é um demônio, igual a mim! — Céverus sorriu um pouco sem forças — Você não teve sorte de ter nascido primeiro… assim como eu.

— Meu pai, escolheu não seguir a profecia, por julgá-la cruel e sem sentido. — Raque carregava perseverança em suas palavras — Por que a sorte deveria julgar o coração de alguém?

— E ele errou! — Céverus se mostrava abalado — Se tivesse cumprido estaria vivo e todos os que ele amam também!

— Não Céverus, você errou! — Raque também se alterou, mas logo voltou ao seu tom calmo característico —  Mais eu não te culpo. Mesmo sendo muito jovem, por muito tempo eu cansei de lutar pelo que eu sou e quase aceitei o que diziam que eu deveria ser.

Um breve silêncio tornou o ambiente um pouco mais acolhedor.

— E o que você fez?

A pergunta de Céverus foi inesperada, por isso Raque o observou calada, com uma expressão de dúvida no rosto.

— O que você fez para não… para não se tornar… o demônio das lendas? — Céverus especificou a sua pergunta com dificuldade.

— Bom… eu… — Raque hesitou por alguns momentos mas continuou — Eu fui esfaqueada pela minha tia e depois cai com uma aeronave em um planeta desconhecido e acabei perdendo a memória!

— Nossa! — Céverus arqueou uma das sobrancelhas — Como eu não pensei nisso antes?

Os dois riram por alguns momentos.

— Um velho muito bonzinho me disse uma vez, que não importava de onde eu tinha vindo, que daquele dia em diante eu seria parte da família. — Raque sorriu ao ter na mente as velhas lembranças — E daquele momento em diante eu entendi que realmente não importava de onde eu vim e sim o que eu sou. Eu sou a Raque e sempre choro de noite depois de matar um kotonaru… mesmo que seja para salvar a minha própria vida…

— Queria eu ter uma bom recomeço como esse. — Céverus suspirou.

— Você acredita em vida depois da morte?

— Eu acho que apodrecemos e desaparecemos. — O homem respondeu de forma simplória.

— Eu acredito que haja mais que isso! — Raque se mostrava inspirada — Que em algum lugar no infinito nós temos uma chance de recomeçar, que somos parte desse infinito e somos infinitos…

A fala da garota foi interrompida por um gemido baixinho, voltando a sua atenção, novamente para Céverus, Raque pôde ver a enorme quantidade de sangue que ele havia perdido. O líquido escorreu em direção ao pequeno lago do Oasis e o que antes era cristalino, agora estava escuro e vermelho.

— Baunilha… — Céverus sussurrou com um sorriso nostálgico em seu rosto — Era o biscoito que nossa mãe fazia para mim e para o Richard todos os domingos no café da manhã… Eu era feliz… Tem cheiro de esperança…

Os olhos cheios de Raque transbordaram em lágrimas incessantes:

— Eu passei os últimos meses desejando a sua morte mais que tudo na vida… — Raque se engasgava em meio a soluços — Por que isso está doendo agora?

— Porque você é uma idiota… assim como eu… — Céverus também estava chorando.

— Tio Céverus… — A garota se debruçou sobre o corpo ensanguentado do miraniano.

Céverus sentiu em seu peito sentimentos confusos. A primeira e única vez que ele havia sido tocado de forma carinhosa por sua sobrinha, ela devia ter por volta de um ano e treinava seus primeiros passos. Ele se lembra de ela se apoiar em suas pernas e sorrir para ele quando conseguiu ficar em pé. Foi a primeira vez que ele sentiu aquele cheiro de baunilha exalando no ar, saindo daqueles pequenos olhos castanhos brilhantes. E chamá-lo de tio… A última vez que ela fez isso, estava tão assustada… uma criança encolhida no canto do quarto, pedindo desculpas por quebrar uma peça de porcelana, ignorada como se fosse nada.

— Eu espero que nesse tal infinito de que você tanto falou… — Céverus respirou fundo — Eu tenha a oportunidade de ser diferente…

— Você vai… Desde que você queira com muita força! — Raque sorriu para Céverus com lágrimas nos olhos.

O seu tio sorriu de volta e logo em seguida desapareceu em uma pequena explosão de luzes azuis, que subiram aos céus e sumiram diante dos olhos da garota… sumiram no infinito.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu senti dózinha do Céverus vê se pode ;-;



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Hinan" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.