Em passos rápidos, Erii percorria todo o perímetro daquela enorme fortaleza. Parando por alguns segundos ele então ouviu vozes familiares.

― então achei vocês...

Erii dizia com seu sorriso sarcástico cotidiano no rosto, enquanto entrava no quarto de onde se originava o barulho.

― ninguém merece.

Mia resmungava.

― também te amo Mia.

Erii dizia com ironia.

― o que quer?

Mary estava com um semblante sério.

― pra que tanta hostilidade Mary minha querida?

Erii se sentava na mesma cama em que as duas garotas se encontravam. ― bom, chega de enrolação! O senhor tentáculos me pediu para ir atrás das prisioneiras e como somos um trio inseparável...

― nem pensar Erii! Cínico maldito!

Mia dizia com repulsa.

― ainda está com raiva Mia?

Erii estava com um falso sorriso.

― Erii, já entendeu o recado. Você está sozinho nessa!

Mary o tratava de forma ríspida.

― eu não me lembro de ter pedido a ajuda de vocês...

Erii se levantava da cama ― é uma ordem! Sairemos em busca daqui a alguns minutos, estejam preparadas.

O shikõ estava sério.

― não somos suas servas Erii, obedecemos apenas às ordens diretas do mestre Céverus!

Mia rebatia.

― vamos continuar nesse assunto? É tão simples...

Sem dizer mais nenhuma palavra, Mary se levantou, e se retirou do quarto. Alguns segundos depois, Mia a seguiu.

― tão complicadas...

Erii suspirava enquanto levava a mão aos cabelos.

**

O sol havia se escondido entre as nuvens acinzentadas daquele dia nublado. Em passos lentos o homem de cabelos negros e pele pálida, andava sem destino. Era fim de madrugada e o vento frio vindo do norte ecoava em seus ouvidos. Os olhos vermelhos de Jon, demonstravam suas longas horas de pranto. Mas naquele momento, ele não sentia mais tristeza, havia sido tomado pelo ódio. Mais uma vez tomado pelo ódio.

― Erii...

Jon sussurrava enquanto cerrava os dentes ― quando eu encontrá-lo...

Algumas pequenas pedras ao seu redor levitavam por conta da grande liberação de energia por parte do shikõ. Foi então que uma gota de chuva caiu em seu rosto, seguida por outra e mais várias delas. Em alguns segundos já havia iniciado uma grande chuva. Os cabelos molhados de Jon cobriam o seu rosto, tornando sua feição ainda mais sombria.

**

A forte chuva havia acordado o pequeno grupo perdido, inclusive os dois shikõs feridos.

― é, já que você já esta acordado... é hora de ir.

Lily dizia enquanto ajeitava sua roupa.

― não dá...

Cute retrucava com um semblante desanimado.

― por que?

Lucy perguntava.

― estou com fome.

Todos o olharam com desprezo.

― é gente... calma. Ele é um shikõ, mas também tem suas necessidades!

Raque tentava amenizar a situação.

― ele é Boris! E o Boris precisa morrer!

Bisco dizia seguindo com um bocejo.

― idiota.

Cute dizia irritado.

― ele nunca fala nada de útil?

Sayo perguntava com desdém.

― ela é tão fofinha...

Bisco dizia enquanto tocava o rosto de Raque, que corou ― aquela também é!

Apontou para Lily

― é melhor sairmos logo daqui, antes que o Frankenstein apareça...

Bisco agora assumia agora uma posição mais séria.

― de quem você está falando?

Cute perguntava.

― Erii...

O shikõ sussurrava. Lily o olhou assustada.

― por que o chama assim?

― pelo simples fato de ele ser uma grande experiência por parte dos inimigos.

Bisco respondia de forma tranquila.

― experiência?

Lily perguntava confusa.

―sim. Experiência! Tudo para o beneficio do grande exercito do “mal”, assim como foi a destruição da Hinan do sul.

Bisco explicava.

― como assim? Do que está falando? O que o acidente do Sul tem haver com isso?

Lily não conseguia compreender.

― acidente? Não. Plano de batalha! Você sabe como são feitos os shikõs não é mesmo? E como os corpos antigos dos habitantes mortos só produziam shikõs fracos, eles estavam à procura de sangue fresco! E aí entra a Hinan do Sul! Centenas de corpos recém-assassinados... praticamente quentinhos!

Os olhos de Lily se encheram de lágrimas. Bisco continuou.

― e como se já não bastasse o exercito ter soldados poderosos, eles queriam lideres mais fortes ainda! Eles então capturaram pessoas ainda vivas, levaram para o cativeiro e iniciaram as experiências... de inicio, o resultado não foi muito satisfatório. Shikõ feitos de humanos vivos causavam problemas, tinham lembranças e consciência, no geral desobedeciam toda e qualquer ordem, logo eram eliminados. Foi então que o cabeça de lula teve uma ideia! Mandou todos os humanos restantes para as arenas. Lá eles enfrentavam tudo quanto é tipo de aberração. Ao fim dos testes que foram no decorrer de dois anos, os sobreviventes foram levados para o laboratório. Foram sedados e sabe-se lá quais experiências horríveis fizeram com eles... tudo o que sei é que foram levados até a beira da morte e ai então foram transformados em shikõs. A experiência maluca deu certo no final. Shikõs originais, feitos em laboratório!

Lily levava a mão aos lábios, tentava conter seu espanto.

― então o Erii está vivo?

Raque perguntava.

― não, não está!

Lily estava de cabeça baixa ― eu vi... VI COM OS MEUS OLHOS!

A maga chorava desesperada ― eu toquei... toquei o peito dele! O coração não batia...

Sem hesitar, Raque a abraçou.

―ei bolacha, como sabe de tudo isso?

Sayo perguntava.

―bolacha?

Lucy perguntava confusa.

― Bisco = biscoito= bolacha.

Sayo explicava com um sorriso no rosto.

― eu fiquei confinado, por quatro anos em uma masmorra... as paredes tem ouvidos.

Bisco tirava uma mecha de cabelo do rosto.

**

― e ai? Achou alguma coisa?

Jack se aproximava de Andy.

― quase...

Andy mantinha total concentração, em seu feitiço de localização.

―eu sei que a Raque não ta morta! Todo mundo sabe que vaso ruim não quebra... não é mesmo? NÃO É MESMO?

Jack chacoalhava Nael que estava do seu lado.

― é! E sim...

O garoto respondia assustado.

― ACHEI!

Andy gritou.

― ótimo, agora vamos atrás dela! Nós quatro! Allk permanecerá aqui, assumindo a liderança na minha ausência.

Butcher que a pouco havia chegado, ditava as ordens.

― não sei por quê...

Jack se aproximava do shikõ ― depois que você perdeu os poderes, parece menor.

Butcher cerrava os olhos, não escondendo sua raiva.

― e não inspira nenhum respeito.

Andy completava.

― CALADOS!

**

Os raios de sol penetravam a janela do quarto aonde Dragon se encontrava, usando o travesseiro ele tapava a visão. Um ronco de motor, fez com que ele se levantasse depressa.

― Vallery...

O shikõ resmungava.

**

― nossa! Isso aqui ta muito bom!

Cute devorava um pedaço de carne assada que Sayo havia lhe entregado ― o que é?

― eu matei um kotonaru que encontrei aqui por perto!

Sayo dizia com orgulho. Naquele mesmo momento o pequeno shikõ arregalou os olhos e começou a cuspir.

― eii! Não desperdice comida!

Sayo batia com força na cabeça do garoto.

― QUE NOJO!

Cute estava vermelho.

― tem gosto de porco.

Bisco dizia com um sorriso no rosto.

― VOCÊS SÃO MALUCOS!

Cute gritava indignado.

― você que é fresco.

Sayo debatia. De forma carinhosa Lucy se aproximava de Cute.

― está saciado?

― sim.

Cute respondia com um sorriso.

― você é bonitinho...

Lucy sorria.

― obrigado.

Cute respondia um pouco sem graça. Lucy permaneceu parada diante do garoto por alguns minutos. Cute já estava assustado.

― posso atirar em você com uma flecha?

A garota perguntava em um tom de voz carinhoso.

― o que? Porque quer fazer isso?

Cute perguntava assustado. A garota deu de ombros.

― é melhor não, a Raque já me usou como alvo algumas vezes e não foi legal!

Cute tentava fugir.

― eii! São águas passadas ok? Supera!

Raque gritava um pouco distante dos dois.

― hey Lucy! Você não vai conquistar o boy desse jeito!

Sayo comentava em voz alta.

― conquistar o boy? Pera ai... eu sou o boy?

Cute estava confuso.

― o que foi ta assustado viadinho?

Bisco gargalhava. Cute corou.

― na minha cabeça a ideia parecia genial.

Lucy parecia decepcionada.

― não entendo essa sua paixão por shikõs, eu nunca vou me atrair por nenhum desses zumbis.

Sayo dizia orgulhosa de si.

― não fale assim Sayo, eles pensam, falam e agem como qualquer humano!

Raque defendia ― e você ainda pode pagar por suas palavras.

― acho meio difícil Raque.

Sayo rebatia.

Naquele momento um som foi ouvido por todos. Sons de passos, passos gigantes, que se aproximavam.

Erguendo sua shuriken, Sayo se preparava para a batalha. Foi então que um enorme tacape foi lançado na direção dos guerreiros. Uma explosão foi causada devido ao impacto do mesmo. Antes que eles tivessem tempo de reagir, um monstro gigantesco veio em direção aos guerreiros. Mas antes que se aproximasse mais, caiu sem vida no chão, com uma flecha cravada no crânio. Do lado oposto do demônio caído, a arqueira estava posicionada.

― estão vindo mais!

Sayo gritava enquanto avançava para a batalha.

―eles nos acharam...

Raque dizia com os olhos cheios de temor.

― então agora é hora da batalha!

Lily comentou. O vento forte fazia com que os cabelos da pequena maga voassem, seu olhar demonstrava confiança.

― eu só volto para aquele inferno morto!

Bisco dizia em um tom de voz sério.

― então lute por sua liberdade.

Lily dizia com um sorriso.

― é exatamente isso que eu pretendo fazer!

O shikõ dizia enquanto fazia surgir uma copia de si mesmo.

― esses shikõs me assustam cada dia mais.

Lily observava a façanha de Bisco.

Naquele momento mais uma grande quantidade de Kotonarus de pequeno porte apareceu. Sem perder tempo, Raque fez surgir seu bastão e avançou para batalha. Um a um ela despedaçava aquele exercito de bestas.

Seguindo o embalo da companheira, Lily também lutava pra valer contra os monstros. Várias explosões surgiam de acordo com os seus ataques.

Uma grande energia se aproximava de Raque, antes que pudesse alcança-la foi detida por uma parede de gelo.

― Nael...

A garota sussurrava.

― UHUUUUUUUU!

Um grito feminino fez Raque sorrir.

― JACK!

A menina gritava animada ao ver seus amigos em um carro da I.O.S.

― Esse carro...

― peguei emprestado há uns meses.

Jack interrompia Lily com um sorriso.

A porta do carro se abriu rapidamente e fechou com brutalidade.

― VOCÊ!

Um homem de aparentemente dois metros e massa corpórea considerável, avançava em direção a Lily. Assustada a garota se afastava. Antes que Butcher pudesse alcançar a maga foi atingido por um soco no estômago, o golpe havia sido desferido com tanta rapidez, que o shikõ nem havia visto a origem do ataque. Caído, Butcher gemia de dor.

― por que você não meche com alguém do seu tamanho?

Sayo dizia em alto e bom som.

― maldita.

Butcher se contorcia.

― Butcher!

Raque se aproximava do shikõ ― você está bem?!

A jovem maga tentava conter o riso.

― não Raque, eu não estou bem!

Butcher se levantava com dificuldades ― esse corpo frágil de humano, que não aguenta o soco de uma garota!

― a Sayo bate como um menino!

Lily comentava.

― QUERO MEUS PODERES DE VOLTA!

Butcher gritava para Lily.

― não mesmo!

Lily retrucava.

― DEVOLVA MEUS PODERES!

― nem pensar!

A maga sorria.

― VOCÊ NÃO TEM O DIREITO...

Antes que Butcher pudesse dar fim a sua frase, Lily se virou e voltou para a batalha.

―MALDITA!

Butcher gritava.

Do alto de uma grande arvore, Lucy controlava bem a situação. Foi então que a jovem arqueira pode avistar a aproximação de alguns shikõs.

―PREPAREM-SE PESSOAL! Tem peixe grande chegando...