Despertados escrita por kelvin william


Capítulo 7
A Invasora De Sonhos




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CAPÍTULO 07- A INVASORA DE SONHOS

Depois de trocar o uniforme por camiseta, jeans e tênis saí pela segunda porta do vestiário e segui por um corredor mal iluminado até o pátio citado pelo treinador. Os outros alunos estavam espalhados pelo local, a maioria sentada em bancos iguais aos de praça ou em murinhos que separavam a calçada das plantas ornamentais e pequenas árvores.
Comecei a perambular pelas passarelas entre os canteiros das plantas, pude ouvir alguns alunos conversando sobre o desempenho deles no teste, alguns se gabavam e outros lembravam dos próprios erros na arena.
Entrei por uma passarela menos convidativa, o caminho estava vazio e por alguns minutos aproveitei a paz que à tempos eu não curtia, ouvia-se até um canto de pássaro por perto.
Na última curva do caminho um banco de praça estava ocupado, tinha esquecido as coisas que devia fazer mas o acaso me fez lembrar, Cebola estava sentado olhando fixamente para o nada, quando me aproximei ele saiu do transe e esboçou um sorriso que realçou a inflamação no olho .
–Estava te esperando, senta aí!- se afastou e abriu espaço no banco.
–Ficou esse tempo todo aqui?- perguntei enquanto sentava.
–Sim, mas a atmosfera daqui é tão boa que eu nem notei o tempo passar!
–Lá na arena, parecia que você queria falar alguma coisa pra mim!
–É verdade, faz três dias que não nos falamos. Fiquei preocupado com você!
–Eu estou bem, mas e quanto a você? O seu olho...
–Antes que pergunte, sim, eu fiquei assim por causa daquele incidente! Mas o que eu queria falar pra você é que fique tranquila, não estou magoado ou coisa do tipo. Eu vi que você ainda não sabia bem como controlar sua força!
–Mesmo assim, desculpa! Eu me sinto em dívida com você!- eu senti que ele dizia a verdade, mas eu não estava tão desencanada quanto ele sobre aquele dia.
–Eu sei de um jeito pra nos deixar quites!
–Ah é? É que jeito é esse?
–Você vai ter que me deixar te ajudar!
–Como é que é?- fiquei surpresa, eu ainda não o conhecia bem o suficiente para levar aquela pergunta na esportiva.
–O que aconteceu com você naquele corredor três dias atrás também já aconteceu comigo, eu sei o que é perder o controle. Eu posso ajudar você!
–E o que você ganha fazendo isso?
–Eu ganho uma amiga!
Minha defesas desabaram, ele me olhava com um misto de solidariedade e carência, provavelmente ele estava enxergando o passado dele no meu presente, alguém que como eu não viu ainda o lado bom dos próprios dons.
–O que aconteceu com você?
Ele suspirou e começou a falar olhando para o mesmo ponto distante de antes.
–Eu descobri a minha invisibilidade à um mês atrás, eu estava na casa dos meus tios junto com quase todo mundo da família, a piscina estava cheia de gente e eu tinha o costume de mergulhar por baixo de todos tentando passar de uma borda a outra.
"Nesse dia eu passei horas fazendo isso até que num mergulho mais profundo o dreno da piscina me prendeu no fundo, ninguém tinha percebido, eu tentava de todo jeito escapar mas a sucção era forte demais, meu coração acelerou e depois... aconteceu!"
–O quê?- eu sabia que aquilo o machucava, ele olhou pra mim, desta vez demonstrando relutância.
–Eu fiz tudo desaparecer, as pessoas, a casa, os carros. Além de fazer aquilo eu ainda atravessei o fundo da piscina e ficou na escuridão até conseguir emergir. Quando voltei acima da terra eu não via nada além de um gramado onde antes estava tudo e todos!
–E depois?
–As pessoas começaram a gritar e pedir a minha ajuda porque não enxergavam nada exceto eu, mas eu não sabia como desfazer aquilo. Só depois de três horas tudo voltou ao normal, acho que porque eu não estava mais tão desesperado!
–Eu sei como você se sente!- minha vida parecia ter encontrado um ponto luminoso no qual se guiar, eu ia aceitar a proposta dele porque além de conseguir ajuda para o meu problema eu também encontrara alguém que poderia ser o meu primeiro amigo verdadeiro.
–TODOS OS ALUNOS NO CENTRO DO PÁTIO, IMEDIATAMENTE!- a voz do professor Rubens no mega fone interrompeu nossa conversa.
–Vamos!- Cebola e eu corremos pelas curvas da passarela até nos juntarmos ao semi círculo de alunos em volta do professor.
–Ótimo, os testes que vocês fizeram hoje serão avaliados e no fim das aulas de amanhã eu entregarei a todos os resultados. Como já é tarde vocês podem ir até o refeitório jantar e depois sigam até o saguão de entrada, as malas e as chaves dos quartos de cada um vão estar lá para que vocês recolham e levem até os dormitórios. Alguma dúvida?- um coro de alunos respondeu "não" -Bom, então até amanhã e durmam cedo!
Os alunos então se dispersaram e antes de partirmos para o refeitório uma pergunta precisava ser respondida, me virei para o meu novo amigo e falei:
–Sabe, acho que vou aceitar a sua ajudinha!


Depois de jantar com Cebola e conversar sobre coisas leves como filme favorito e viagens nós nos despedimos, os quartos feminino e masculino ficavam em alas diferentes do colégio. Procurei pelo quarto cinquenta e cinco por alguns minutos até encontrá-lo, destranquei a porta e entrei.
Quatro camas, quatro armários, uma mesa e uma cômoda com espelho compunham o quarto, além de uma porta que provavelmente levava ao banheiro. Três das camas estavam ocupadas, uma pela Magali e as outras por garotas desconhecidas.
–Olha quem chegou! A última integrante do quarto 55! Demorou hein gata, eu estava quase jogando fora a sua cama pra dar mais espaço para as minhas roupas!
–Ahn, oi!- não foi a melhor das recepções, tenho que dizer. A garota espaçosa tinha duas maria chiquinhas e uma franja, usava roupas que pareciam ter sido escolhidas no escuro e estava comendo uma barrinha de cereal.
–Me chamo Denise, essa é a Magali e aquela ali é a Dora!- disse apontando para as duas. Dora era o oposto de Denise, usava roupas sofisticadas e um óculos escuros bonito mas totalmente inútil já que estávamos num quarto, tinha um cabelo channel e postura elegante.
–Eu já conheço a Mônica, nós estamos na mesma turma! Você pode colocar suas coisas naquele armário e a sua cama é aquela perto da janela!- Magali apontou os móveis que me pertenciam. Era um alívio a Magali estar lá, garanto que existem poucas coisas que eu tenho em comum com as outras garotas, além disso eu não sou o tipo de pessoa que muda o jeito de ser para conseguir novos amigos.
–Gente, não estou querendo ser chata mas eu vou dormir agora, é que eu sempre acordo mais cedo pra fazer um cooper!- Denise falava enquanto tirava o uniforme e colocava o pijama. -Mônica, não quer ir comigo amanhã?
–Desculpa, mas cooper não é muito a minha praia!
–Ah, que pena!- tive a impressão que a pena que ela estava sentindo era de mim.
Fomos dormir logo depois, acho que todas nós estávamos cansadas do primeiro dia de aulas do colégio Hector, e por mais que eu tivesse algumas preocupações sobre o resultado do teste e das próximas aulas práticas eu iria dormir bem, tive sorte em encontrar o Cebola para equilibrar essa fase nova da minha vida.


Eu me enxergava em pé no vazio, o sonho começou a ganhar território, apareceram casas e uma rua as separando, era um lugar familiar. Andei alguns metros até chegar à minha casa, na soleira da porta uma menina estava sentada escrevendo em um caderno, ela olhou pra mim, fechou as páginas, guardou a caneta e se levantou.
Era Dora, os olhos dela eram completamente negros. Ela andou lentamente até estar a três passos de mim.
–Oi Mônica!
–Oi, ahn... acho que estou sonhando!
–Está mesmo! Desculpe aparecer assim, até agora você só sabe o meu nome, mas eu precisava falar com você o quanto antes!
–Não sei se vai adiantar, costumamos esquecer os sonhos um pouco depois de acordar!
–Não se preocupe, este sonho você não vai esquecer! Garanto!
–Espera! É esse o seu dom? Você entra nos sonhos das pessoas?
–Em parte sim, mas preste atenção porque é um assunto sério! Além de interferir em sonhos eu também posso atravessar pensamentos, um tempo depois do fim dos testes eu percebi uma perturbação no colégio.
–Perturbação?
–Vários pensamentos, tanto de pessoas do Hector Freire quanto de estranhos, mencionavam você!
–Mas o que isso tem de mais?
–Os pensamentos também transmitem emoções Mônica, e essas pessoas estão em dúvida sobre você, estão com medo do que você pode fazer!
–Eu não sei...
–Amanhã eles vão adiantar uma avaliação prática, só pra saber como você vai se sair. Você vai precisar tomar cuidado, a qualquer sinal de descontrole eles vão te tirar do colégio.
–Obrigada por avisar, mesmo sem me conhecer!
–Não precisa agradecer! Eu precisava fazer isso!
–Por quê?
–Porque um dia eu tive a ideia estúpida de observar os pensamentos de um antigo amigo meu que reprovou em todos os testes de medição e foi expulso do colégio, até hoje eu ouço a voz dele implorando pra que alguém o tire da clínica onde ele foi parar, ou que alguém o mate.


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Notas finais do capítulo

Sim, a história ficou um pouco mais obscura, mas a vida não é fácil né gente!
Espero que tenha gostado.
Também quero dizer que tem outra fanfic minha sobre TMJ no site, se chama "Secret Letters". Confere lá. Obrigado.
hugs :)



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