Paternidade

Paternidade?

❝Eu, que era imortal.

Ora, ser pai é morrer,

Aos poucos, de amor❞.

Francismar Prestes Leal.

❄

I

— Eu estou grávida — Sakura anuncia de forma inopinada e inesperada durante o jantar.

Sasuke a olha em silêncio; demora a assimilar as palavras da esposa. De repente, ele não sabe mais o que fazer com ambas as mãos, então as deixa imóveis e vazias sobre a mesa.

O entusiasmo de Sakura, aos poucos, transpassa o choque de Sasuke por ouvir as boas novas. Ela tem as bochechas rosadas e seus olhos clareiam a cada segundo. Ele está só no começo de lhe formular uma pergunta quando é interrompido:

— Fiz o exame hoje para confirmar, mas já vinha suspeitando há alguns dias.

Quando a luz na face dela é ameaçada pela sombra da incerteza, ele só deseja abraçá-la e escondê-la em seu peito.

— Sei que nunca conversamos a respeito disso, mas eu estou muito feliz, Sasuke-kun.

Eu também, ele sente vontade de dizer, mas permanece calado. O pomo de adão desce e sobe quando engole em seco.

— Seremos pais, Sasuke-kun — Sakura lhe reafirma com um sorriso arrebatador e se levanta para retirar a louça.

Quando passa por ele, toca-o de leve no ombro. Mas o esposo permanece imóvel, petrificado em seu lugar; mal respira.

Só mais tarde, já deitado na cama e ao lado da única mulher que amou em toda a vida, ele se vira para poder observá-la ressonar imperturbavelmente. Mesmo na escuridão, ela reluz.

Sasuke delicadamente estende a mão enfaixada, sua prótese, em direção ao ventre da esposa. Seus dedos mal o tocam, estão receosos e inseguros a princípio, mas não demoram a afagá-lo por sobre o tecido fino da camisola que ela usa.

— Obrigado — seus lábios movem-se docemente para formar uma única palavra que se torna um sussurro indistinguível na calada da noite.

Ela também não vê seu sorriso, mas suspira, perdida em sonhos.

Sasuke será pai. Por fim, sua felicidade está completa.