Pensei que depois daquele olhar de Rafa, de puramente ira, nada pudesse piorar. Mas pode. Depois disso, vieram vários outros olhares dele. Na sala de aula e no intervalo. Pensei que talvez ele estivesse certo, e eu errada. E me perguntei por varias horas: Se eu estaria destruindo uma amizade ou um namoro? Só que não havia resposta, e agradeci por eu não ter uma. O dia na escola foi longo e tudo que eu queria era esquecer a conversa com Rafa.

E então Ethan apareceu em minha casa, ele e eu concordamos em uma coisa não tocar no assunto de Rafa. Ethan parecia bem abalado com essa história, eu estava mal por ser a culpada disso tudo, não tinha animo nem para dizer algo.

–Não dá, acho melhor a gente... –Eu digo, mas sou interrompida pelo celular, ou melhor dois celulares.

Mensagem...

EU SEI DE TUDO, AMIGA!

–O que? –Ethan praticamente grita quando lê a sua.

–O que está escrito? –Não sei por que mais eu não devia ter perguntado meu coração de uma hora para outra esta mais que acelerado.

–“Eu sei de tudo, Ethan José ninguém.” –Ethan faz uma voz de estranha imaginando quem seria.

–“Eu sei de tudo, amiga!” E o mesmo número? –Pergunto.

Ethan coloca seu celular do lado do meu, e esta lá o número idêntico. A primeira coisa que penso é ligar. E faço isso, mas é claro que não sou atendida. Ethan começa a estralar os dedos um atrás do outro, como uma espécie de mania de raiva, parecida com comer as unhas.

Penso que talvez ele pôde-se me dizer algo para que eu fique mal, do tipo: “A culpa é sua se agora o resto do mundo sabe. A culpa é sua se estou nesse maldito emprego. É sua culpa se Lis me odeia. A culpa é sua se Rafa nem olha na minha cara. E é sua culpa também se a escola pensa que sou um imbecil, por que estou aqui sendo pago para escutar suas idiotices”.

–Pode ter sido Rafa? –Ethan pergunta, parando de estralar os dedos e olhando para mim. Nesse momento até parece que estou vendo Lis, Ethan está calmo como ela. E me dói pensar que talvez ela saiba, e tudo entre eles esteja acabado.

Suspiro. A bomba esta prestes a explodir novamente:

–Ou pode ter sido qualquer um. A escola toda nesse momento agora esta debochando de você. De mim. Culpa de um maldito capricho meu. Rafa esta bravo, talvez Lisa. –Digo, enquanto Ethan me ouve sem nem uma expressão.

É assim que me sinto perto dele, horas acho que a qualquer momento ele dará uma risada, outra ficar irritado e brigar comigo. Às vezes fala algo, e não entendo se é ou não brincadeira.

–Se bem que para mim isso não importa me ignoraram até hoje. Não vai fazer diferença. –Continuo. –Você Ethan. Devo minhas sinceras desculpas a você, mas não fui eu quem entrou na sua vida. Eu só coloquei o emprego no jornal. Se for verdade... –Concluo: -Acho melhor par...

Ele não me interrompeu com palavras. E eu não acreditava no que estava acontecendo.

Seus lábios pressionavam os meus de começo com ferocidade, quase como se dissesse “se eu não fizer isso, talvez você me convencesse a parar antes mesmo que começasse”. E realmente hesitei no começo. E depois Ethan veio devagar, e pensei se era isso mesmo que ele queria, ou só era uma forma de me deixar calada? A resposta veio depois, Ethan segurou meu rosto e parou de me beijar. Olhou nos meus olhos, e não ousei desviar. Nossos corpos que estavam tão distantes no primeiro beijo, não estão mais.

Foi então que me lembrei de Lis. Lisa a garota mais legal do colégio, a sua namorada.

Quando tudo acabou sai correndo, e pedi a Deus que me levasse para meu quarto sem nenhum tombo, meus joelhos estavam fracos. E as lagrimas já brotavam em meus olhos.

Fechei a porta e chorei. Ethan com certeza entenderia que aquela seria a hora certa de ir embora.

Chorei. Chorei por vários motivos. Por mim, que estou me enganando com tantas coisas, a primeira por pensar que estaria menos sozinha pagando uma pessoa para me escutar. E olha eu aqui eu “sozinha” chorando.

Por Ethan, estraguei seu namoro e sua amizade.

Por Lis, acabei de beijar o namorado da pessoa mais legal que já conheci com a sua idade.

Por Rafa, que tem toda razão.

Por Edgar, que nesse momento esta pensando por que não atendo a droga do celular. E é assim que respondo para ele:

–Estou ocupada chorando, querido Edgar. –Digo meia ao soluço.

Enquanto o celular toca mais uma vez e Edgar desiste de me ligar.

Choro acima de tudo porque gostei. Eu gostei do beijo. E isso não é bom. Paro de chorar, porque não sou a coitadinha da história com um amor impossível, alias do que estou falando? Não amo Ethan, foi só um beijo. Só um.

Suspiro, e então retorno a ligação para Edgar. Peço desculpas por não atender e por todos esses dias em que não falo com ele. Como sempre ele é perfeito, sua voz e sua risada me fazem esquecer um pouco que a poucos minutos atrás eu estava chorando.

–Clara, que tal a gente sair no sábado? –Edgar me pergunta, depois de quase dez minutos no celular.

–Deixe-me ver...? –Brinco.

–Essa semana eu vou viajar a trabalho, se não poderia ser hoje e vai ter a inauguração de uma nova lanchonete...

–Já topei. –Digo rindo.

* * *

O mais doloroso é que hoje ainda era segunda-feira, o que significa que amanhã é terça-feira que por isso amanhã haverá aula. Tendo aula, terei que ver Ethan, vendo Ethan me lembrará do beijo. Do beijo me lembrarei de Lis, que por isso será uma semana dolorosa.

TERÇA:

Procuro não olhar para Ethan, Rafa e Lis. Apenas para o caderno. E um pouco para Rebeca e Beatriz.

QUARTA:

Ethan não vai para escola. Fico aliviada.

QUINTA:

Rebeca diz que também vai para a inauguração da lanchonete.

SEXTA:

Beatriz diz que foi convidada por Rafa. Acho isso muito estranho, esse namoro não deveria durar tanto. Não quando Rafa nem gosta muito dela. Arrisco que Ethan e Lis também estarão lá.

Finalmente sábado... E então eu já estava quase esquecida do-que-aconteceu-na-segunda. Quase, eu me sentia melhor.

Edgar veio me buscar as nove. E eu estava pronta desde sete, por um motivo: Ansiedade. Não que eu tivesse realmente gostando de Edgar, mas eu queria gostar, na verdade amar. Estando com Edgar eu me obrigaria a não pensar em Ethan e Lis, a menos que eles tivessem lá. A cada vez que eu fechava meus olhos, o beijo se repetia em minha mente. Por isso eu não estava dormindo.

–Oi. –Edgar disse logo quando fiz questão de abrir a porta. O garoto que me beijou mais de uma vez, me fazia ficar boba com tanta beleza e tonta com seu sorriso.

–Oi. –Digo sem graça por ficar tanto tempo longe.

–Vamos? –Ele estica seu braço e entrego minha mão. Edgar passa meu braço no seu e lá vamos nós. Posso sentir o cheiro do seu perfume enquanto andamos para fora do condomínio. –Clara? –Edgar para de andar me chamando.

–Sim? –Respondo.

–Eu posso sentir seu perfume? Não estou aguentando o sentir de longe... –Edgar me olha profundamente, o sorriso não deixa seu rosto.

Com um gesto digo sim: Apenas coloco meu cabelo para trás. Enquanto penso, Minha nossa! É você quem está tão cheiroso. Edgar alarga o sorriso e consigo ver um pouco de vergonha em seu rosto. Ele se aproxima e então há uma troca de perfumes, pois aproveito para senti o seu.

–Agora, acho que podemos ir. –Ele diz em quanto percebo que meus olhos estão fechados, o cheiro parece que nunca mais vai sair do meu nariz, e nem quero que saia. O cheiro de uma colônia masculina, mas suave que misturada com o cheiro de sua pele ganhou seu próprio perfume, algo que nem sei descrever.

A lanchonete que estava sendo inaugurada não parecia muito diferente das outras, exceto que parecia mais uma boate: as luzes, a pista de dança e todas essas coisas.

A primeira pessoa que vi foram Rafa e Beatriz, que por incrível que pareça vieram nos cumprimentar. Talvez Rafa estivesse bêbado de mais para mágoas.

–Oi. –Beatriz diz enquanto beija meu rosto e cochicha no meu ouvido: –A mensagem era minha. Sei de tudo...

Pronto! Aquilo foi o bastante, dessa vez Beatriz realmente sabia de tudo.