No Limite do Amor escrita por J N Taylor


Capítulo 4
Capítulo 4 - As Regras do Combate




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–Deus, eu vou morrer. - disse Ethan, se jogando na cama.

–Não, você não vai. Você já serviu no exército. Você tem habilidade com armas.

–Por que, exatamente, você acha que não sou um soldado, Eric?

–Ethan! Vamos. Você precisa vencer, pela Helena.

–Eu não posso matar o Arthur!

–E você não pode ser morto por ele.

–Eric, não! Eu vou desistir. - disse ele, levantando com um pulo.

–Se você tentar sair daqui, eu vou te impedir.

–Eric, meu amigo. Arthur Caldwell, o empresário poderoso e influente, está com sede. E ele quer beber o meu sangue. Então, meu amigo, não me impeça de sobreviver.

–Ethan, não posso deixar você desistir da Helena. Ela precisa de você.

–Ela precisa de mim, mas eu preciso estar vivo.

–Ethan! - Melissa disse, entrando correndo.

–Melissa. - Eric a recebeu com um abraço. Mas ela se virou para Ethan.

–O que deu em você, homem? - e deu um tapa no rosto dele.

–Acho que isso foi desnecessário, meu amor.

–Não, Eric. Esse homem acabou de assinar a sentença de morte dele. Isso é suicídio.

–Como está a Helena? - ele perguntou, ignorando todo o desespero.

–A Helena? Ethan, a Helena estava chorando no quarto. Ela não dormiu desde que vocês saíram. Ela está inconsolável.

–O que ela quer eu faça?

–Agora? Você me pergunta isso agora? Por que aceitou?

–Eu queria, Melissa, mostrar para ela que eu não desistiria dela.

–Se matando? - ela retrucou, um pouco seca.

–Eu não pensei na hora. Eu acho que devo sumir da cidade.

–Você não vai. - disse Eric – Melissa, posso falar com você? Sozinhos?

–Eric, essa não é a melhor hora.

–Por favor, não se preocupem comigo. Não vou fazer nada.

–Melissa, me perdoe. - ele disse quando se afastaram.

–Não tenho o que perdoar, Eric.

–Temos que nos afastar. - ele foi direto.

–Como, meu amor?

–Melissa, isso tudo está me incomodando. Não vejo qual o problema de assumirmos o nosso namoro. Você tem vergonha de mim?

–Não, Eric. Nunca mais repita isso. Eu te amo.

–Melissa. Eu quero dar um tempo.

–Eu entendo. Se você quer, tudo bem. Cadê o Ethan? - ele não estava mais lá.

***

Arthur deu um sorriso triunfante para Edmund, que estava sentado em uma cadeira lendo um Penny Dreadful. Ele apertou o jornal nas mãos e o jogou na lareira.

–Gastei meu dinheiro nesse lixo! - ele gritou.

–Que? - disse Arthur, confuso.

–Eu não falei com você, Arthur! Você realmente vai duelar com o Ethan?

–Sim. E vou vencer ele.

–Não, não vai. Você vai morrer.

–Cale a boca, Edmund.

–Não mande eu me calar! - ele se levantou e se aproximou do rosto de Arthur. Ele passou a mão gentilmente no corte no rosto dele – Acontecem coisas ruins quando me sinto ameaçado. Não queremos outro mal entendido, certo?

–Quieto! E não me encoste.

–Arthur, meu querido, você não pode me evitar para sempre. - ele olhou para a lareira, vendo as páginas se queimando lentamente por causa do fogo quase se apagando. Ele correu e pegou a página, apagando o fogo da borda.

–O que houve dessa vez, Blake?

–Acho que sei o que pode te ajudar a vencer essa luta. - e entregou o papel para ele.

–O que é isso?

–Um Penny Dreadful. Leia. Agora!

Ele leu em silêncio.

–Deveria significar algo?

–Você não leu? Essa frase. Venenos.

–Como eu vou fazer ele beber veneno? Vai ser um duelo de espadas.

–Você vai envenenar sua lâmina.

–Isso seria trapaça.

–E desde quando você se preocupa em jogar limpo?

–Desde que a Helena quer que eu jogue limpo.

–Que adorável. A Helena. Você tem que matar aquele garoto.

–Eu vou, Edmund.

–Não jogando limpo. Você deseja a Helena ou não? Não foi você quem disse que faria qualquer coisa por ela? Qualquer coisa. - enfatizou.

–Sim. Mas não posso.

–Você vai, seu desgraçado! Eu estou mandando!

–Você não manda em mim, Blake!

–Não? - ele deu um tapa em Arthur – Você vai matar o garoto e… - Arthur respondeu com um tapa, com a mesma força.

–Faça o que você quiser. Envenene a minha espada.

–Faça você mesmo. - e saiu.

***

O horário do duelo chegou. A notícia se espalhou rapidamente, ninguém sabe como. Todos sabem que Arthur e um médico duelariam pela doce filha do duque, Helena. Algumas pessoas se juntaram na praça para assistir ao duelo. Então os dois combatentes chegaram. Helena se recusara a ir, mas foi obrigada por Melissa.

–As regras são simples. - anunciou o duque. Ele tinha os cabelos negros, ficando grisalhos, e lisos. Ele era um pouco gordo. Tinha uma barba e um bigode, com um leve sotaque sulista – O duelo é até um dos combatentes não conseguir continuar de pé. As espadas são iguais e ninguém pode interferir, além de mim. O vencedor recebera a mão da minha filha, Helena. - e ele a indicou. Ela estava maravilhosamente linda com um vestido rosa e usava uma maquiagem leve.

Ethan e Arthur pegaram suas espadas. O duque deu a ordem para começarem.

–Só não morra, Ethan! - riu, atacando ele com um golpe no braço. Ethan aparou e respondeu com um golpe na perna de Arthur, que bloqueou e girou, desferindo um golpe contra o rosto do desafiado, que recuou alguns passos.

–Arthur, não precisa ser assim! - ele disse, desviando de uma estocada e saltando para cima de um banco, sendo acompanhado pelo outro, que ensaiou uma girada, mas atingiu a lâmina de Ethan, travando as duas no banco.

–Precisa! - e acertou um soco no rosto do médico, que se desequilibrou discretamente. Ao tentar soltar a espada, Arthur o empurrou. Ele perdeu o equilíbrio e caiu no chão, deixando a espada escapar de sua mão, caindo a um metro de distância.

–Arthur, não! Por Deus, não!

–Não envolva Deus nas suas guerras, Ethan. Você se envolveu com minha esposa.

–Ela não é sua esposa, seja razoável. - ele tremeu quando Arthur ergueu a espada.

–Eu estou sendo prático. O que vem além dos resultados é consequência!

–Espera, Arthur! - ele viu que o adversário parou. Aproveitou a dúvida, rodou para o lado e agarrou a espada, girando em um semicírculo e traçando um oito no ar com a lâmina. Arthur pulou para trás, tropeçando no banco e caindo sentado. Ele armou a defesa, mas o ataque não veio. Ethan estava de pé, com a espada apontada para ele.

–O que está esperando, Cole?

–Eu não vou te matar.

–Então eu mato você! - ele saltou e atacou de cima pra baixo. Seu golpe foi bloqueado.

–Parem! - todos se viraram para o pequeno palco onde estava o duque no início da luta. Edmund estava ali, de pé – Vocês dois! Parem! Ninguém vai morrer hoje.

–Edmund? - Melissa ficou tão pálida que Eric achou que ela desmaiaria, o que não houve.

–Vocês dois. Soltem as espadas. - ele andou com confiança até eles, que mantinham ainda a pose dos seus últimos movimentos. Eles se encararam e se apontaram a espada. Edmund caminhou tranquilamente até eles e segurou as lâminas das armas. Eles soltaram quase que automaticamente.

–Melissa? Tudo bem? - Eric apoiou a cabeça dela em seu ombro.

O coração de Helena falhou uma batida.

Blake tirou as armas e as jogou em um canto.

–Como vocês podem ver, eu não estou morto! É muito bom voltar para a minha cidade. E para meus amigos. Não é, Arthur?

–Edmund! - Melissa atravessou a pouca distância que os separava e o abraçou.

–Melissa, minha querida. - ele alisou o rosto dela e a beijou na testa.

–Edmund? Você está vivo? - disse Arthur, tentando disfarçar. Ethan e Eric não o conheciam, mas sentiram que algo estava pra acontecer.

–Helena, minha querida, como você está? - ele se virou para ela.

–Estou bem, mas e você? Como? - ela dissimulou.

–Depois conversamos.

–Acho que não teremos uma morte aqui, agora, certo? - disse o duque, se recompondo.

–Esperava por uma, duque? - retrucou Edmund, com uma ponta de arrogância.

–Não, não. - ele respondeu, um pouco relutante – Vamos, não temos mais o que fazer hoje! Para suas casas e trabalhos, todos. - a multidão se dispersou quase que na mesma hora. Ele seguiu para casa com a esposa, a filha, Melissa e Edmund.

Ethan seguiu para sua casa, acompanhado de Eric. Ao chegarem, o médico se jogou na cama, sem ar.

–Eu quase morri! E quem é aquele Edmund?

–Não sei, Ethan. Queria saber.

–O que houve, Eric? - perguntou ao perceber o amigo disperso.

–Senti algo estranho nele. Acho que o jeito que ele olhou ou falou com a Melissa.

–Senti um leve tom de ciúmes na sua voz, meu amigo?

–Não. Sentiu um tom de preocupação. Tem algo de errado. Não confio nele. Vou caminhar um pouco, para pensar. - ele saiu.

***

Arthur estava confuso em sua casa. Ele se sentou na ponta de sua cama e passou a mão nos cabelos, úmidos de suor. Se levantou tranquilamente e pegou uma pequena garrafa de vinho em uma pequena adega em seu quarto. Ele levou o vinho até a boca, estava quente, mas bebeu do mesmo modo.

–Senhor Caldwell, devo servir o jantar? - disse uma empregada, entrando.

–Sim, por favor. Obrigado.

–Claro, senhor. Se precisar, estarei na cozinha. - e ela saiu. Ele estava sozinho de novo.

–Tão perto. - murmurou para si mesmo – O que, em nome de Deus, Edmund está planejando dessa vez? Ele vai me ruir. - e deitou na cama. Ficou quieto por alguns minutos, encarando o teto. A empregada voltou, tirando-o do transe.

–Senhor Caldwell, o senhor não desceu e vim chamá-lo. O jantar está servido.

–Obrigado

***

Edmund estava sentado na mesa de jantar dos Hawthorne. Ele olhou para Melissa e sorriu, a garota era tratada como um parente, não como uma empregada. Helena estava quieta diante dos últimos acontecimentos. Seu pai quebrou o silêncio.

–Bom, Edmund. Quando chegou na cidade?

–Cheguei hoje, pela manhã. - disse, após engolir a comida que tinha na boca.

–Sim, sim. Onde esteve nos últimos anos?

–Vivendo da misericórdia de algumas poucas com princípios o suficiente para ajudar um homem necessitado.

–Como sobreviveu? O enterramos do jeito certo! E você estava morto, de fato.

–Eu conhecia o coveiro de onde me jogaram. Ele viu que eu não estava morto e armei minha fuga para quando me deixassem. Ele me desenterrou e o ajudei a colocar o caixão de volta. E fugi, mesmo ferido. Por Deus eu não morri no caminho. Um homem me achou alguns metros após a saída da cidade e me levou para sua casa e me ajudou. Depois eu vim apanhando um pouco da vida, mas aqui estou, não?

–Com licença, estou sem fome, pai. - disse Helena. E saiu sem esperar uma resposta.

–Eu vou ver se está tudo bem com ela. - disse Melissa, se levantando e seguindo a amiga até o quarto. Chegando lá, fechou a porta a chave – O que houve, Helena?

–O Edmund… - ela teve impulsos de falar sobre aquela noite do festival, mas isso pioraria mais a situação. Odiava mentir para a amiga, mas era necessário – Acho que ele mente.

–Sobre?

–Sobre tudo! - disse, tentando manter-se firme.

–O que você está escondendo de mim, amiga?

–Nada, Melissa. - disse se levantando e indo para a bancada da janela.

–Você acha que sou burra, Helena? - embora a frase parecesse agressiva, seu tom de voz era calmo e conciliador. Ela se aproximou da amiga e alisou seus cabelos.

–Desculpe, minha irmã. Não posso dizer.

–Como quiser. - disse após um momento de silêncio – Se precisar, sua amiga estará aqui.

–Obrigado, Melissa. - e se jogou sobre a amiga, a abraçando. A garota se surpreendeu com aquele gesto. Helena não costumava fazer isso.

–Disponha, Helena. - e retribuiu o abraço, um pouco sem jeito.

–Vamos voltar, então?

–Sim, vamos. - e desceram a escada. Seu pai e sua mãe estavam se despedindo de Edmund. As duas garotas aproveitaram e se despediram.

–O que deu em você, Helena? - seu pai resmungou quando o visitante saiu.

–Eu não me senti bem.

–E os seus bons modos? O que eu te ensinei? - disparou sua mãe.

–Mãe, deveria eu continuar não estando bem?

–Bom, de certa forma, você está certa. Mas deixe. Não é importante.

–Não é importante? Como não é importante? - rosnou o pai da garota.

–Nossa filha se comportou como uma dama, devidamente. Ela se retirou por não estar bem, não por algum capricho ou futilidade.

–Certo, certo. Se você diz.

***

Edmund caminhou pelas ruas. Ele chegou em um beco onde Eric passava. Ele seguiu o jovem e, quando o alcançou, em um canto escuro, Blake o segurou pelo ombro.

–Não tenho dinheiro. - e se virou. E reconheceu o homem – Perdão, senhor. Edmund?

–Sim, Edmund Blake. E você é Eric Baker?

–Sim, eu mesmo.

–Que bom, então. Acho que o destino nos trouxe aqui.

–Como? Desculpe, não entendi.

–Desculpe-me. Me deixe ser mais objetivo. Você, alguma vez, cortejou a Melissa?

–Eu? Não. - um frio subiu pela sua coluna.

–Sinto a mentira na sua voz. Diga logo. Eu já vi os dois juntos.

–Talvez, mas não passamos disso.

–Eu vi como se trataram na praça.

–Espere, você está se exaltando.

–Não estou, Eric! - Edmund olhou para os lados.

–Vamos conversar! - disse, ao perceber as intenções dele.

–Vamos. - em um movimento rápido, Blake saltou sobre um pedaço de madeira no chão.

Eric saltou para trás e começou uma corrida. Edmund cobriu a curta distância que os separava e o atingiu pelas costas. O amigo de Ethan se levantou para atacar. Com um soco, ele tropeçou de novo e ouviu seu nariz estalar dolorosamente no segundo golpe. Então os golpes passaram a ser com a madeira. O primeiro foi na sua perna. O segundo e o terceiro nas costas. O quarto, quinto e sexto, que seriam na cabeça, foram protegidos pelos braços dele. Os outros foram aleatórios. Uma enorme sequência de golpes depois, Edmund parou e olhou para ele, caído e encolhido como um animal abatido.

–Isso é pra que se lembre de nunca mais se aproximar da Melissa. - ele fez que sim com a cabeça – E não fale que fui eu. Senão será pior. - virou as costas e saiu.

Eric desmaiou.


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