Eternamente escrita por Mayara


Capítulo 30
Capítulo 30




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Eu abri os olhos, mas a única coisa que eu conseguia compreender eram as luzes de alguma coisa e vários sons. Tentei abrir mais os olhos para poder verificar de onde vinham aqueles barulhos. Tentei olhar para o lado, mas algo me impedia. Consegui perceber que o barulho era da sirene de ambulância. Ambulância? Mas como... Ah, claro, o acidente. Agora eu me lembrei do carro vindo à nossa direção e batendo com toda força. Mas eu não estava sozinha, eu estava com... Gabe, cadê o Gabe? Eu quero saber como ele está! Quero ficar com ele, quero... Ah, droga, eu quero sair daqui e ir atrás dele!

– Gabe – minha voz saiu como um sussurro, e eu rezei para que ouvissem e me desse uma resposta.

– Srta, você está bem. Estamos te levando para o hospital. – algum médico ou enfermeiro falou, mas nem conseguia distinguir quem era quem.

Hospital? Eu não quero ir para o hospital, eu quero só saber onde está o Gabe e como ele está.

– Não! O Gabe... - droga de voz que não saia direito.

– Primeiro nós vamos levar a Srta, mas você tem que se acalmar.

Mas que saco! Será que é tão difícil me escutarem e me falarem onde ele está? E ainda me pedem para me acalmar? Estão de brincadeira comigo? Eu quero é me levantar disso aqui e dar um soco na cara desse homem. Custa me falar?

Eu não sei o que eles fizeram comigo, mas eu só senti aquela escuridão novamente e dormi, sem saber onde e como o Gabe está?

***

Sempre tive medo desse negócio de morte, mesmo sabendo que isso fazia parte da vida, mas saber que alguém que você ama; a pessoa que você convive todos os dias... A morte é algo que não deveria existir para as pessoas boas. O sentimento, a dor... Tudo isso acaba com a gente todos os dias, porque mesmo quando alguém que a gente não conhece e morre, sentimos a dor pela família. Eu não queria sentir isso, mas, infelizmente estava inevitável. Era como se meu coração estivesse fora de mim, e sendo enterrado nesse momento. Não quero sentir isso nunca mais, nunca mesmo!

Mamãe chorava por causa do meu avô que estava ali, sendo enterrado naquele momento. Ele lutou tanto contra o câncer, mas a doença foi mais forte. Maldita doença! Eu o vi passar de um estágio da alegria a decadência. Em poucos meses, o meu querido avô estava fraco, com os olhos fundos e tristes. Eu sabia que ele iria embora, mas não queria aceitar Agora? Bem, agora eu não posso mais fazer nada. Vou rezar por ele, para que ele descanse em paz, e que vá de encontro a Deus e aos anjos. Mas eu nunca iria superar a morte do meu avô. Nunca!

Acordei com aquele bip chato, que insistia em martelar sob a minha cabeça. Não sei por que, mas eu sonhei com o enterro do meu querido avô, e isso tinha acontecido há um tempo já. Sempre sonhava com ele, mas fazia um tempo que tinha parado. Esse sonho veio como um flashback na minha cabeça, porque eu lembrei-me muito bem daquele dia. Da dor que eu senti ao vê-lo tão frágil, sendo que ele sempre foi esperto e forte. A doença o destruiu, e o levou de mim.

Afastei esse pensamento ruim, e tentei abrir mais os olhos, e não ouvi nada, apenas o bip que continuava ali. Olhei para o lado, e avistei minha mãe. Ela estava com a cabeça sob a cama, e parecia estar dormindo. Olhei para o resto do lugar, e percebi que eu estava em um quarto de hospital. Tudo claro e tranquilo. Tinha algumas flores que perfumavam o quarto, e o deixava menos... Entediante.

Olhei novamente para a minha mãe, e fiquei com dó de acordá-la, mas se ficasse daquele jeito ela iria sentir a dor nas costas. Coloquei a minha mão sobre a dela, e comecei a acariciar com todo o cuidado.

– Mãe? – minha voz ainda saia como um sussurro, porém parecia estar mais forte do que antes. – Acorde, mamãe!

Ela sentiu o meu toque, e levantou a cabeça rapidamente.

– Filha? Ô, minha filhinha linda! Mamãe ficou tão preocupada com você. Meu Deus, eu quase morri só de imaginar o que poderia ter acontecido... Seu pai, seus tios...

Então eu me dei conta o que realmente tinha acontecido. Eu lembro bem do acidente, do Gabe colocando seu corpo sobre o meu e depois de ter acordado por alguns minutos. Eles não me falaram nada do Gabe, apenas desconversaram sobre o assunto.

– Mãe, cadê o Gabe? Porque ele não está aqui? Ele está bem? Eu preciso vê-lo! Eu preciso...

– Calma, meu amor! Daqui a pouco o médico estará aqui para ver como você está.

– Eu não quero médico, eu quero o Gabe. Quero saber como ele está. Mãe, por favor, só me fale onde ele está? Ele está lá fora?

Ela suspirou, e eu imaginei que ele iria aparecer por aquela porta, mas nada disso aconteceu.

– Mãe, por favor!

– Filha, o Gabe se machucou muito, então...

Não! Ele não poderia ter morrido! Eu não aceitava isso! O Gabe não! Deus, por quê? Eu não aceito a morte dele, nem hoje e nem nunca! A dor da perda estava de volta!

– Mãe, O Gabe não pode ter morrido! Mãe, ele não...

– Calma! O Gabe não morreu! Eu não sei como ele está agora, mas me falaram que ele está bem machucado, e está nesse mesmo hospital.

Vivo! Ah, meu Deus, o Gabe está vivo! O alívio tomou conta de mim nesse momento.

– Eu preciso vê-lo, por favor, mãe. Eu preciso saber como ele está.

– Eu sei que você está preocupada, querida, mas não posso te deixar ir até lá. Você também sofreu o acidente, e deve ficar de repouso.

– Não quero repouso nenhum, eu quero é ficar com o Gabe. Eu o amor, mãe, e quero saber como ele está.

– Filha, eu vou chamar o médico, daí poderemos ver se você está liberada para fazer uma visita ao Gabe, ok?

Apenas concordei e pedi para o médico viesse logo. Quanto mais rápido ele me atender, mais rápido poderei ver o meu amor.

O médico entrou, fez todos os procedimentos e pôde ver que eu estava bem. Meus tios e meu pai entraram, eles estavam mais loucos de preocupação do que minha mãe. Meu pai chegou até chorar, coisa que eu nunca achei que iria acontecer. Pedi desesperadamente para ir ao quarto do Gabe, e depois de tanto insistir, o médico liberou a minha saída, e me liberou alguns minutos para eu ver o meu amor.

***

Aquele corredor de hospital nunca pareceu tão longo e distante. Parece que quando mais a minha mãe me leve até o quarto, mais longe ele ficava. Eu estava em uma cadeira de rodas, já que sentia dor nas pernas por casa da batida.

– Esse é o quarto do Gabe. Filha, eu estarei aqui fora, ok? Se você passar mal, é só me chamar.

Concordei e sorri. Abri a porta, e me deparei com o amor da minha vida. Gabe estava ali, todo frágil e longe de ser aquele Gabe que todos conheciam. Seu corpo naquela cama, todo enfaixado e com marcas. Isso doeu em mim, como uma facada em meu peito. Eu não podia fazer nada, absolutamente nada. Seu rosto tinha alguns machucados, tinha faixas pelos braços e alguns machucados. Ele parecia estar em um sono profundo.

– Gabe meu amor... Ah, meu príncipe, eu estou aqui!Eu sempre estarei aqui! Como eu queria te tirar dessa cama. Queria que você estivesse aqui, rindo de tudo isso, fazendo as suas piadas, e marcando território sobre mim. Eu não sei por que aconteceu isso com a gente, mas eu não vou deixar você ir embora. Você é meu! Se você morrer, eu morro junto! Minha alma se perde por ai. Por favor, Gabe, volta pra mim! – disse, chorando desesperadamente por aquele homem.

Passei as minhas mãos sobre o rosto dele. Aquele rosto que eu amava observar, o rosto do meu homem.

– Eu não trouxe filme de princesas para você. Lembra quando você fazia isso quando eu ficava doente. Você fazia uma maratona de desenhos, fazia pipoca e ficávamos horas na frente da TV. E eu também não trouxe meus CDs do Justin Timberlake. Tenho certeza de que, se eu colocasse você levantaria correndo dessa cama, claro, para desligar o rádio. Eu te amo, eu te amo e eu te amo!

Fiquei ali, sozinha naquele silêncio, apenas contemplando o Gabe. Ele estava sério, e não parecia nada com o homem que eu conhecia. O meu melhor amigo, meu namorado, noivo e amante. Deitei a minha cabeça na cama por alguns minutos, mas um barulho tirou o meu sossego.

– Mas que... O que é isso?

O barulho de alguma daquelas máquinas começou a disparar. Não sabia como agir, e nem sabia como manusear aquela cadeira. Eu comecei a gritar ajuda, e logo um médico apareceu, junto com a minha mãe.

– Tire ela daqui! – o médico gritou, olhando desesperado para o corpo do Gabe.

– Não! Eu não vou sair daqui! Eu quero ficar com o Gabe! Eu não vou! – gritei desesperada.

– Ela precisa sair! Por favor! Eu preciso ajudá-lo.

Minha mãe arrastou a cadeira para fora do quarto, e eu me desabei em lágrimas.

– Por favor, meu Deus! Eu não posso perdê-lo! Eu não vou suportar viver em um mundo sem ele! – sussurrei, pedindo para Deus me ajudar nesse momento.

Gabe

Meu Deus, que escuridão é essa? Onde eu estou? Não me lembro de nada, ah, espera ai. Vamos recapitular desde o começo. Eu estava no carro indo a uma festa com os amigos e a Emy, paramos no sinal, ela me beijou e... Claro, a batida. Um carro veio à nossa direção e bateu com toda força. Eu coloquei meu corpo sobre o da princesa e depois não senti mais nada. Agora estou aqui, nesta escuridão sem fim e com esse barulho chato. Caramba, dá para desligar isso?! Não? Que saco, onde raios eu estou? Espera ai, onde a Emy está? Onde a levaram? Eu quero a minha mulher aqui! Eu quero sentir o seu cheiro, seu beijo e o seu corpo. Tragam a princesa aqui, por favor. Alguém ai? Pelo amor de Deus, me escutem!

Parece que se passaram horas, porque eu ainda estava naquela escuridão. Nem meu corpo reagia os meus estímulos. Tentei levantar meus braços, mexer as minhas pernas e abrir os meus olhos, mas nada estava acontecendo comigo. Será que eu estava morto, e já estava enterrado? Caramba, eu já assisti um filme desse jeito. O cara foi enterrado vivo, e me deu pavor só de ver. Será que estava acontecendo comigo? Não, eles não iriam fazer isso! Ou será que eu estava morto, mas meu subconsciente está vivo?Droga, eu só quero uma resposta para isso tudo! Eu só quero acordar dessa profundidade escura e silenciosa. Quero ouvir a voz da minha Emy. Será que ela... Não, ela não pode ter morrido. Se isso acontecesse com ela, eu morreria. Não sei viver em um mundo sem Emy! Ela é o meu mundo!

***

Eu estava ficando desesperado. Não saber sobre a minha princesa estava e deixando angustiado e louco. Comecei a rezar para que ela estivesse bem, mas para a minha surpresa, eu senti o cheiro do seu perfume, e isso acalmou a minha alma.

– Gabe meu amor... Ah, meu príncipe, eu estou aqui!Eu sempre estarei aqui! Como eu queria te tirar dessa cama. Queria que você estivesse aqui, rindo de tudo isso, fazendo as suas piadas, e marcando território sobre mim. Eu não sei por que aconteceu isso com a gente, mas eu não vou deixar você ir embora. Você é meu! Se você morrer, eu morro junto! Minha alma se perde por ai. Por favor, Gabe, volta pra mim! – ela estava chorando, e eu não suportava aquilo. Não queria que ela estivesse triste desse jeito. Quero vê-la sorrindo, brava, tímida, sexy... Quero tirar essa tristeza dela. Mas o que me acalmou foi saber que ela está bem, e eu faria de tudo para voltar para ela.

O toque da sua delicada mão me fez sentir seguro, e ter certeza que ela estava aqui comigo, e não era um sonho.

– Eu não trouxe filme de princesas para você. Lembra quando você fazia isso quando eu ficava doente. Você fazia uma maratona de desenhos, fazia pipoca e ficávamos horas na frente da TV. E eu também não trouxe meus CDs do Justin Timberlake. Tenho certeza de que, se eu colocasse você levantaria correndo dessa cama, claro, para desligar o rádio. Eu te amo, eu te amo e eu te amo!

Claro que eu me lembrava! O que eu não fazia por ela! Decorei as falas desses desenhos, as músicas do Justin e até os passinhos as coreografias. Se ela queria me ensinar, eu não iria dizer não.

Deixei me levar por esse toque, e adormeci novamente, sonhando com ela.

– Gabe, esse lugar é lindo! Olha essas flores, as frutas, o lago...

– É realmente lindo, só não ganha de você. Minha princesa, meu amor, minha noiva é a mais linda do mundo! – gritei.

– Seu bobo! Eu te amo muito! – falou me beijando do jeito que só ela sabia fazer.

Deitamo-nos no lindo gramado verde, e ficamos contemplando a paisagem daquele lugar.

– Você acha que estamos no paraíso?

– Paraíso?

– Sim! Você sabe, quando a gente morre, podemos vir para o paraíso. Esse lugar é lindo, e se parece com um.

– Mas nós não morremos, princesa, então não pode ser.

– Eu sinto que eu morri. Talvez isso seja um sonho, e eu esteja morta.

– Não brinque com isso! Nunca mais diga isso! Você não está morta, e eu não vou deixar isso acontecer!

– Gabe, eu te amo...

– Não! Não quero despedidas, porque isso não é verdade. Isso é coisa da minha cabeça! Você está viva, está bem e nós vamos nos casar. – falei, olhando para os olhos dela.

Emy me olhava com lágrimas nos olhos, e, de repente, seu rosto mudou de fisionomia, e apareceu o rosto de outra pessoa. Era um homem estranho. Seu rosto se alargou com um sorriso sarcástico, e um medo de apoderou de mim.

– Olá, Gabe.

– Cadê a Emy? Eu preciso...

– Ela morreu, Gabe! Ela não está mais aqui!

– Não! – gritei.

– Aceita, Gabe. Você a perdeu.

– Nunca! Ela estava aqui...

– Eu a matei, por sua causa. Você é o culpado de tudo isso!

– Não! Não é verdade! Eu a protegi, eu sempre a protegi de tudo que fizesse mal a ela.

– Mas não a protegeu de você. Você é o mal, Gabe!

– Não! Não! – gritei, tentando acordar daquele pesadelo.

Voltei à escuridão novamente, mas o barulho começou disparar. Não estava sentindo o toque da Emy, e um frio se apoderou do meu corpo. Eu não poderia estar morrendo, não agora, não nunca!

– Meu Deus, me ajuda! Eu não quero morrer! Eu preciso da Emy, eu preciso dela, urgentemente!


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