Wyrda escrita por Brisingrrr


Capítulo 24
Olhos que revelam


Notas iniciais do capítulo

Quem é vivo sempre aparece, já diziam por aí. Depois do que me parece uma eternidade eu estou de volta com mais um capítulo prontinho. Bom, sem enrolação aqui, espero que gostem desse capítulo que é bem esclarecedor, e eu amei escrevê-lo. Leiam, leiam, leiam, Cavaleiros e Cavaleiras!



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Os preparativos se mostraram mais complexos do que poderiam imaginar, e a partida de Eragon para Farthen Dûr só aconteceu doze dias após Arya anunciar que o acompanharia. A Rainha precisava deixar tudo definido para sua longa ausência, e nesse período participou de diversos encontros com membros importantes e representativos de sua raça, tratando de interesses e compromissos. Durante esse período Murtagh permaneceu em Wyrda, e quando a partida se mostrou próxima para Eragon, o Cavaleiro Vermelho deixou a Ilha em direção a Alagaësia, com o ovo de dragão e algo que Eragon tinha lhe instruído a trazer junto.

Nesse período, Arya passou a maior parte de seu tempo ocupada, Orik partiu com antecedência para Farthen Dûr e a cidade élfica foi lentamente se esvaziando e se tornando serena como sempre. Eragon não possuía muitas responsabilidades fora o contato constante com aqueles que estavam responsáveis pela Ordem em Wyrda e, quando era convidado, a participação em alguns dos encontros de Arya – na maioria das vezes refeições posteriores ao encontro em questão, quando todos os assuntos já haviam sido resolvidos e a relação era apenas de cortesia.

Com tanto tempo livre, Eragon podia colocar em prática alguns desejos que muitas vezes eram substituídos pelos afazeres. O Mestre escrevia e lia muito, saía com Saphira para sobrevoar a floresta, andava por entre os bosques e jardins da cidade élfica, conversava com os elfos que ali viviam e tinha preferência por aqueles que considerava peculiares. Foi um período calmo e sem novidades, e embora estivesse tranquilo e em paz, um pequeno zumbido de ansiedade o acompanhava constantemente. Algo ainda não estava esclarecido: o aparecimento do Cinto de Beloth, O Sábio. Embora possuísse um palpite que lhe parecia muito provável, ainda não era uma certeza.

Então, no dia que preparavam sua partida, Eragon e Arya foram interrompidos pelo anúncio de que elfos vindo do Novo Império estavam esperando para falar-lhes. Entreolharam-se, já com suspeitas formadas acerca do motivo daquilo, e se dirigiram ao aposento em que um elfo alto, esguio, com feições excepcionalmente angulosas e cabelos prateados, os esperava.

Possuía um rosto sereno e não demonstrava alarde. Depois de cumprimentar devidamente a sua Rainha e o Mestre dos Cavaleiros, ele anunciou que trazia notícias sobre aquilo que inquietava Eragon. Sua narrativa foi curta e sucinta, sem nenhuma demonstração de emoções ou preocupação.

Segundo ele, depois de instruídos, algumas dezenas de elfos se espalharam pelo Império com ordem de investigarem o que poderia ter sido responsável pelo aparecimento do artefato. A discrição era expressamente obrigatória, mas isso não tornou o trabalho mais difícil, muito pelo contrário, em nada interferira, pois alguns dias atrás a notícia de que algo estranho ocorrera em Dras-Leona chegara aos seus ouvidos.

Exatamente no dia em que o Cinto de Beloth aparecera em Ellesméra, uma mulher havia sido encontrada sem vida na cidade, aos pés de uma estátua parcialmente destruída em um recinto dedicado às honrarias aos nobres da cidade, na atual sede de governo. Uma das jóias que adornavam a estátua sumira, então consideraram que a mulher morrera na tentativa de proteger aquele bem, já que ele não estava mais ali, embora ela não possuísse nenhuma marca de violência em seu corpo. Aquilo os assustou, pois temeram que alguma magia obscura tivesse sido responsável por aquilo, mas não causaram alarde e apenas comunicaram seus superiores. Não foi reconhecida por ninguém, possuía um rosto maduro, mas não velho, e sua expressão era peculiar, como que feliz. Curiosos, os homens a levaram para um recinto fechado, esperando que alguém a procurasse nos próximos dias ou alguma notícia chegasse. Não se preocuparam em manter grande vigilância, pois apesar do mistério que a rondava, ela não significava nada grandioso até o momento.

Apenas algumas horas depois de levada até lá, um agito ocorrera alguns corredores depois de onde ela estava. Alguns gatos raivosos atacaram um grupo de trabalhadores do lugar, sem nenhuma razão que pudesse tê-los irritado. Com o som dos gritos assustados, dos miados furiosos e da confusão, todos os outros que trabalhavam em algo próximo foram ver qual era a fonte de agito. Aquilo não durou mais que dois minutos, e os gatos logo se acalmaram, fugiram aos pulos e cada um voltou ao seu posto – exceto aqueles que tinham sido arranhados ou mordidos. Não muito mais tarde, quando um dos nobres da cidade se sentiu curioso pela mulher e pediu para vê-la, abriram a sala e... estava vazia. Apenas a cama coberta por um lençol branco permanecia ali, mais nada. O corpo sumira e não se viam sinais dele, nem de arrombamento do lugar. Aquilo gelou a espinha de todos, e movidos pelo mistério de tudo aquilo, uma busca foi iniciada.

Nesse ínterim, um burburinho se espalhava pela cidade: meninos-gatos! Pelo menos três deles haviam sido vistos em sua forma animal – notados por seu tamanho peculiar em relação aos gatos normais –, embora estivessem correndo ágeis e sorrateiros pelos telhados. As crianças foram as primeiras a notá-los, mas logo eles sumiram de vista. Mais tarde, um comerciante de uma rua próxima ao castelo sede dos governantes da cidade, saíra gritando na rua que tinha sido roubado e, pior, por uma criança! A pestinha cabeluda havia entrado em sua loja pelos fundos e lhe roubado roupas caríssimas! Ele só teve tempo de vê-la se esgueirando pelos fundos, com o embrulho nos braços finos e desatando a correr. Dizia que aquilo era um absurdo, e não ficaria no prejuízo, exigia que encontrassem aquele ser imundo e ousado.

E, ainda mais tarde, quando o agito já estava passando, uma criança saíra correndo de um beco aos berros. Ela jurava que três crianças estranhas e um adolescente também estranho passaram por ela, acompanhadas de um cavalo castanho que carregava algum adulto ainda mais estranho todo coberto por uma capa e capuz. O que assustara o pequeno foi o modo como as crianças o trataram: ele, curioso, se aproximou para olhar de perto e questioná-las. Ao fazer isso, o que parecia mais velho olhou e... soltou um rosnado! O som foi assustador para a criança, que se afastou aos tropeços, mas não foi só isso. Enquanto se afastava, uma das crianças, a que parecia mais nova, soluçou e, aterrorizando-o dessa vez, transformou-se numa figura preta que rapidamente pulou para as sombras. Foi aí que o menino desatou a correr e a berrar.

Os mais velhos compreenderam: eram meninos-gato, mas o que estariam fazendo ali? Raramente eram vistos em qualquer parte do Novo Império, e nunca em grupo. A curiosidade de todos ficara aguçada, ainda mais quando a descrição das vestimentas do adulto que montava o cavalo bateram perfeitamente com as roupas roubadas mais cedo. E, então, aqueles trabalhadores começaram a fazer perguntas estranhas, e eles tiveram a certeza que algo muito misterioso acontecera. Logo concluíram que os meninos-gato haviam levado a mulher, e quando isso chegou aos ouvidos do povo, tornou-se assunto amplamente discutido. O motivo os intrigava, mas depois daquilo nada mais aconteceu, e não obtiveram resposta que saciasse suas dúvidas, o que não impedia que comentassem exaustivamente o assunto e o espalhassem.

Assim, os elfos tomaram conhecimento suficiente para chegarem em uma conclusão, embora não pudessem ter encontrado nenhum menino-gato ou algum indício de que a tivessem sepultado. Definitivamente, a mulher por trás de toda essa história era Angela, a herbolária, mesmo depois de anos de sumiço e mistério, e ela tinha sido levada pelos meninos-gato – três deles com identidade ainda misteriosas, e o maior deles sendo seu fiel amigo Solembum.

Eragon ouviu a história atento, a cada palavra ficando mais convencido de suas suspeitas, até que estivesse com plena certeza – não demorou muito. Seu coração pesou com tristeza, mas logo se rejubilou pelo orgulho e gratidão que sentia. Sem Angela e seu sacrifício, agora ele poderia estar morto, assim como muitos outros. Ela o salvara, e ele se sentiu honrado por isso.

Não exigiu que aquela história fosse mantida em sigilo, e até pediu que ela fosse espalhada, para que o nome apagado pelo tempo da herbolária fosse novamente lembrado, e com louvor. Arya, ao seu lado, ouvindo a tudo atenta, concordou e disse palavras belas sobre a misteriosa mulher que também a salvara.

— Essa sede de governo em Dras-Leona se localiza onde? — questionou Eragon ao elfo, que permanecia à sua frente, ereto e sério.

— Foi construída sobre a antiga catedral da cidade que o dragão Saphira destruiu.

Eragon ficou ainda mais curioso, pois fora ali que ele perdera o Cinto de Beloth, O Sábio, e era o lugar mais óbvio para se procurar, coisa que já havia sido feita — mais de uma vez.

— Como o Cinto foi parar ali? Depois de tanta busca, como um artefato de tamanha importância pode ser colocado no interior de uma estátua? — Eragon estava um pouco consternado, mas não queria parecer rude.

— Mestre, nós descobrimos que quem o colocou lá foi o próprio Lorde Trisan de Basan, que teve papéis importantes em decisões políticas da cidade, e por isso foi homenageado no Salão dos Grandes. Ele solicitou que a peça fosse introduzida em sua estátua por capricho, alegando que o ganhara de seu pai. De fato, Lorde Trisan viveu há um século, portanto não esteve vivo no tempo em que o Cinto sumiu. Com mais uma pesquisa, descobrimos que seu pai, Lorde Aldgard de Basan, recebera o Cinto de seu pai, Lorde Beolaf de Basan, um nobre da cidade à época da Queda de Galbatorix, um comerciante de jóias. O homem não era mau, e pelo o que a família da esposa de Lorde Trisan soube, adquiriu o tesouro através de um cliente simplório, um homem que trabalhava para a manutenção da cidade e que alegava tê-lo encontrado em um aterro para onde os destroços da catedral eram levados e jogados ao fogo – as pedras passaram a ser consideradas como agourentas e amaldiçoadas. Ele comprou a peça por valores generosos, e se afeiçoou a ela com o tempo. Desejou que ela se tornasse um tesouro de família, mas o seu neto não deu continuidade à linhagem e por isso fez com que a jóia lhe fosse restrita à estátua — o elfo dizia com calma, mas sem pausas, prendendo a atenção e o olhar de Eragon.

— E em nenhum momento eles tomaram conhecimento da verdadeira natureza da jóia?

— Pelo o que soubemos através da família de Lorde Trisan, não. O homem se orgulhava em contar sobre como o tesouro entrara na família, pois o considerava uma relíquia de algum tempo antigo que fora conquistada por aqueles que habitavam a catedral, e isso o fazia se sentir parte de algo importante. Tivemos de escutá-los com atenção, pois os que sabem da história já estão velhos e facilmente divagavam em suas memórias, mas foi isso que descobrimos.

— A história é de todo misteriosa, mas não há nada que possa ser feito agora. Agradeço a você, Dhelrond, o Veloz, por me trazer tais notícias em tempo. Agradeço também aos demais elfos que fizeram parte dessa busca, leve a eles minha gratidão.

Depois de se despedirem com as cortesias que cabiam à situação, Arya e Eragon puderam voltar aos preparativos finais de sua partida. Saphira estivera presente na mente de Eragon durante toda a conversa, e seus sentimentos eram muito semelhantes ao do Cavaleiro, mas ela nada disse além de “Angela foi uma de minhas humanas favoritas”.

*

Arya estava elegante em uma vestimenta verde e prata, que lançava pontinhos de luz clara à medida que ela se movimentava, fazendo com que ela parecesse uma jóia ambulante. Um cinto de prata no formato de ramos lhe apertava a cintura e carregava Támerlein como se ela nada pesasse. O seu diadema reluzia, e seu cabelo estava trançado de lado, cheio de minúsculas florzinhas brancas. Sua beleza estava ainda mais acentuada, e Eragon não pode evitar de admirá-la. Ele, por sua vez, vestia uma túnica élfica simples, de cores claras, com Brisingr atada à cintura por um cinto de couro adornado por pequenas gemas azuladas – presente de um dos elfos em sua estadia em Ellesméra. Ainda sim, sua aparência demonstrava importância.

Depois que tudo estava organizado, e tanto Saphira como Fírnen tinham atados às suas selas alguns sacos com o que fosse necessário aos seus Cavaleiros – o peso era insignificante para a grandiosidade dos dragões. O Cinto d Beloth ia guardado em sua caixa de madeira, protegido e seguro em uma pequena bolsa que Eragon amarrou na parte da frente da sela de Saphira.

Alguns elfos se reuniram ali, nas sombras das árvores, para vê-los partir. Se despediram rapidamente, agradeceram todas as bençãos e desejos de boa aventura e subiram em seus respectivos dragões. Quando seus parceiros de corpo e alma suspenderam o enorme corpanzil da grama verde e fresca, eles se entreolharam no mesmo instante. Pela segunda vez sustentaram o olhar um do outro por longos instantes, até que Fírnen e Saphira tomassem impulso e subissem no céu sincronizados.

Quando já iam alto no céu azul e imaculado, Eragon voltou a olhá-la. A elfa sentiu seu olhar, e voltou seus olhos cor de oliva para fitá-lo. O momento durou pouco segundos, até que Arya sorriu com felicidade e fechou os olhos, e o som de seu riso preencheu os ouvidos e o coração de Eragon, que sentiu-se feliz também. Quando a elfa tornou a abri-los, Eragon ainda a observava de longe, separados pela distância dos dragões em vôo, e então ele pôde enxergar. Ele pôde verdadeiramente enxergar os belos olhos e, através deles, a alma de Arya e toda sua essência. Eragon não apenas enxergou, como compreendeu, sem nenhum dúvida ou receio, a elfa. E ali, naqueles olhos que tantas vezes lhe surgiram em sonho e em pensamento ele viu o que procurava desde a primeira vez que se encontraram.


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Notas finais do capítulo

Hm, e aí, o que me dizem? O QUE ACHARAM DESSE FINAL, HEIN? O que concluíram disso? *por favor captem a mensagem, por favor* (perdoem o título do capítulo, eu fiquei no mínimo duas horas pensando nele e isso foi o melhor que encontrei)

Esse foi o penúltimo capítulo de Wyrda. Mal posso acreditar. Ela já existe há mais de dois anos, nunca poderia imaginar que me enrolaria tanto nela ahahah mas o final está próximo, posso garantir.
Explicando meu sumiço: final do 3º ano, vestibulares, correrias... agora tudo já acabou, e estou extremamente feliz com tudo. Estou formada e passei em uma universidade pública, e a que eu desejei! Logo serei uma universitária hahaha bom, já tem mais de dois meses que estou à toa em casa, finalmente aproveitando minhas férias, depois de passar 3 anos estudando sem parar, praticamente. Porém, mesmo de férias, eu não conseguia me dedicar aqui (muitas séries, muitos filmes hehehe, brincadeira), eu tive um pequeno bloqueio e escrevi esse capítulo 583497358953 vezes, mas finalmente fiquei feliz com o resultado e aqui está.
Como sempre, espero que ele os agrade também, e espero com ansiedade o retorno de vocês, seja por comentário ou MP. Saber o que vocês acham de Wyrda me alegra e motiva, seja um parecer positivo ou negativo, pois tiro proveito de ambos.
Sinto que estou distraída nesse comentário, mas acho que se deve à euforia.
Ah, se tiver algum erro aí na história, seja de roteiro ou português, me corrijam, por favor.
É isso, não se esqueçam de Wyrda, e ela logo terminará. *lágrimas*
Até mais, Cavaleiros! ♥



*Acabo de lembrar, o processo de reescrita da fic começou, mas vai bem lento... vou atualizar o prólogo dela de um jeito mais bem estruturado, na minha opinião. Passem por lá e me digam o que acharam também*



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