"Srta. Smoak, por favor, tem como vir até o meu escritório?"
A voz de Ray soava entusiasmada e ansiosa pelo telefone, o que é bem normal para ele, que está sempre sorrindo, feliz com tudo e de muito bom humor.
Eu ainda não entendia o por quê que meu escritório não ficava ao lado do seu, mas confesso que seria muito estranho se fosse o escritório do Ray, depois o meu e seguido do pequeno espaço que antes me pertencia e que hoje é de Jerry. Peguei as pastas sobre o projeto de eletricidade de Star City e fui em direção ao seu escritório, que não ficava assim tão longe do meu, mas que felizmente era no mesmo andar.
"Ray, andei fazendo umas pesquisas e acho que temos queeeee..."
Calei-me assim que percebi que Ray não estava sozinho. Oh não, ele estava acompanhado da pessoa que eu tentava ao máximo ignorar nesses últimos dias. Oliver Queen estava vestindo mais um dos seus elegantes e sofisticados ternos, sentado em uma das cadeiras disponíveis em frente à mesa do CEO. Ele se levantou assim que eu entrei no cômodo, lançando-me um daqueles seus olhares penetrantes.
"Srta Smoak."
Ah, não. Não aquela voz.
"Oliver. Quer dizer-r, Senhor Oliver. Não. Oliver Queen." Embaralhei-me e tentei respirar fundo discretamente. "Senhor Queen."
E uma tensão se instalou no ar, mas não que Ray tivesse percebido. Ele já estava me explicando o motivo da presença de Oliver.
"Srta. Smoak, chamei o Sr. Queen para uma visita. Acredito que ele, como um dos antigos donos da Queen Consolidated, deva também fazer parte do nosso grande projeto." Ray estava muito animado com essa ideia, mas ele já havia convidado certa de 30 grandes empresários da cidade e mais os acionistas da QC para fazerem parte e o apoiarem. Por que diabos ele precisava de Oliver?
"Ah sim, claro." Desviei meus olhos dos de Oliver e tentei focar em Ray, que gesticulava as maõs para lados enquanto retomou sua fala.
Confesso que não escutei mais nada do que saiu de sua boca. Eu estava nervosa em estar em uma mesma sala com Oliver (coisa que fazia tempo que não acontecia), ainda mais com ele fitando-me da forma que estava. Seus olhos cor de céu estavam tristes e angustiados, marcados por grandes olheiras arroxeadas, indicando possíveis noites mal dormidas e de sonambulismo. O nervosismo que até agora subia pela minha espinha se desfez, assim como foi no início da nossa relação. Ele estava triste, isso estava tão certo que chegava a se tornar palpável no ar.
"Sr. Palmer." Cortei Ray bem no meio de uma frase. "Acredito que não há necessidade do envolvimento do Sr. Queen nesse projeto. Mas claro, o Sr. é o CEO da QC e a decisão é sua." Ele fitou-me, intrigado com o que eu tinha acabado de falar. Continuei. "Mas é que eu já recebi todas cartas de aprovação dos membros do concelho e dos outros empresários que o senhor chamou para os fins financeiros e de alta ajuda. Ter mais uma pessoa seria algo...desvantajoso e desnecessário."
Oliver podia estar triste, mas eu também estava. Me afastei das tarefas do Arqueiro por que precisava ficar longe por um tempo, e se ele começasse a aparecer por aqui com mais frequêcia, nada disso ia fazer sentido.
Pude ver a sombra que se instalou em seus olhos depois que terminei de falar. Sua boca ficou rígida e em linha fina, mas sua expressão não era de raiva ou algo do gênero, mas sim de dor. Ótimo, agora ele está sentindo um pouco do que eu sentia durante esses três anos.
"Srta. Smoak, ainda acho que Oliver seria de grande ajuda." Ray sentou-se na cadeira e pediu-me para me aproximar.
Sem ter outra escolha, fiz minhas pernas se moverem em direção aos dois, que me acompanharam com o olhar. Entreguei as pastas para Ray, que as abriu uma por uma e começou a colocar todos os papéis em frente de Oliver.
"Sr. Queen, acredito que começamos nossa relação com o pé esquerdo." Ray olhou para Oliver. "Sinto muito por ter roubado sua empresa, mas sinto que posso fazer o bem aqui na Queen Consolidated e acredito que é exatamente isso que o senhor deseja."
Oliver estava agindo de forma estranha, isso eu percebi. Para uma pessoa que tem uma grande autonomia e que gosta de dar suas opiniões e ideias, ele estava incrivelmente silencioso naquela manhã.
"Sim, claro, Sr. Palmer."
Essa foi a frase mais grande que Oliver disse em toda a sua reunião com Ray. Este, que diferentemente, não percebeu a mudança nas atitudes de Oliver como eu, falou sem parar sobre como teve essa ideia de "dar" a energia não ulitizada pela empresa para os moradores da cidade, descrevendo exatamente como tinha chegado os cálculos e convencido grande parte do concelho da QC.
Mesmo eu tendo expondo a minha opinião, Oliver e Ray decidiram ser parceiros nesse projeto, colocando o rosto de Oliver como a campanha à ser divulgada para a impresa e a população de Starling City, tentando de alguma forma, "apagar" toda aquela imagem ruim que a família Queen trouxe para a Queen Consolidated.
Assim que a reunião acabou e eu já estava de partida para o meu escritório, senti alguém atrás de mim. Oliver me seguiu até o seu antigo escritório, parando na porta como se esperasse que eu o convidasse para entrar.
"Então é aqui que você está se escondendo agora?"
Virei-me para ele.
"Eu não estou me escondendo." Talvez um pouco.
"Então por que não atende minhas ligações?"
Oliver caminhou até parar bem na minha frente, não respeitando de forma alguma meu espaço pessoal. Eu fitei seus olhos profundamente antes de dar três passos para trás.
"Por que eu lhe disse que precisava de espaço. Atender seus telefonemas seria contra isso."
Voltei-me para a mesa e sentei na cadeira, já correndo com os dedos pelo teclado do computador.
"Felicity, por favor, nós precisamos de você. Sei que tem se metido em nossas pesquisas e invadido o computador da Arrowcave. Sei que você não é assim e que quer nos ajudar, então, por favor, não há uma forma de você...reconsiderar e voltar para nós?"
Percebi que havia algo mais no "nós" que ele desejava demonstrar, mas decidi ignorar. Suspirei e voltei meus olhos para ele.
"Sim, eu fiz isso. E claro, quero ajudar." Voltei novamente minha atenção para a tela do computador. "Mas não vou. Já mandei tudo o que descobri para vocês naquele dia mesmo. Além do mais, prometi para o John que não ia mais me envolver e estou cumprido com a promessa."
Escutei Oliver soltar o ar e respirar fundo novamente.
"Nós sabemos que isso é coisa de questão de tempo para acontecer. Não pode antecipar?"
Agora ele estava com as duas mãos espalmadas na minha mesa, com a cabeça baixa para nivelar-se com a minha. Nossos olhos um de encontro com o outro.
"Não. Eu sei que você deve achar que eu estou sendo muito teimosa e até errada. Talvez eu esteja mesmo, exagerando e estendendo isso mais do que deveria. Mas eu preciso ficar longe de você. Não entendeu isso? Nós nos beijamos e depois você disse que não conseguia viver como Oliver Queen e o Arqueiro ao mesmo tempo. Que não ia conseguir ficar com ninguém enquanto vivesse dessa forma. Você escolheu isso Oliver, não eu." Desfiz a conexão que tinha começado a se instalar por meio dos nossos olhares e tentei esconder as lágrimas que começavam a escorrer pelo meu rosto. "Por favor, vá embora."
Oliver sumiu antes mesmo que eu voltasse a levantar a cabeça.
Eu estava sozinha.