Ascensão - Nobreza escrita por Nancy


Capítulo 6
Nobreza


Notas iniciais do capítulo

"Charlie, sua lazarenta..."
Eu sei, também amo vocês. E como sempre eu tenho uma desculpa, dessa vez eu trouxe duas!
1a desculpa: Eu estive sem computador por um bom tempo e isso dificultou (só um montão) a escrita do capítulo.
2a desculpa: Eu estava sem vontade de escrever. (Yep)
Bem, apesar disso tudo e da minha promessa de trazer esse último capítulo antes do ano novo (estamos em Fevereiro, lol), estou aqui e com um capítulo grandinho até.
É aqui que dizemos adeus à segunda temporada e entramos em hiatus oficial (pq os outros não eram oficiais, eram só vagabundagem da escritora.).
Well, vou deixar o link das imagens dos personagens, como eu já venho prometendo há sei lá quantos capítulos, lembrando que cada um imagina os personagens como bem entende, é claro, essa é apenas a versão que ilustra como eu os imagino. As imagens não são de minha autoria, por isso vou deixar o link na descrição das imagens.
http://hades-kami.tumblr.com/post/138828009066/na-ordem-aida-sky-jace-zander-tillie-faelern
Aproveitem o capítulo!
P.S.: Dessa vez eu trouxe uma coisa que já tinha pensado antes, mas me faltava coragem: a música de fundo do jogo de acordo com a cena (YAY), pq é super legal ir lendo enquanto ouve a música tema.



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Não consegui dormir durante aquela noite. O que não me surpreendia afinal eu evitaria fazer qualquer coisa me mostrasse aquele sonho novamente.

Estava na cozinha parcialmente escura, iluminada somente pela luz forte da lua do lado de fora. A brisa que entrava pela janela estava fria e me fazia ficar arrepiada, mas eu tentava me concentrar mais no pergaminho a minha frente.

“Na terra onde é sempre verão... será verão?” pensava enquanto rabiscava as palavras no papel “alguém voa...” por que não consigo me lembrar? Não sei por quanto tempo fiquei ali, mas quando notei o dia lá fora já estava começando a clarear. Ouvi os passos de alguém se aproximando, mas não desviei o olhar do papel.

— Bom dia. – era Zander.

— Bom dia. – respondi com um bocejo.

— Não dormiu a noite toda, hm? – ele puxou uma cadeira próxima e se sentou ao meu lado – Ainda não se lembra do enigma?

— Não e não. – passei a mão pelos cabelos, resolvendo prendê-los no alto da cabeça – Me lembro de todos os detalhes daquele sonho, menos desse enigma. ‘Segundo portão, onde é sempre verão...’ tenho quase certeza que era uma canção em algum lugar onde alguém voava... – me irritei de atirei o papel longe – Não consigo me lembrar!

— Hm... Segundo portão onde é sempre verão...

— Pode ter sido primavera também. – não olhei para ele.

— Em Adeshia é realmente muito quente, mas eles também têm um inverno terrível. – o ouvi suspirar – Bem, se é uma canção pode ser algo sobre os Kaleiks, mas eles não possuem uma terra.

— E alguém voa – completei, deixando a caneta em cima da bancada. Me levantei para pegar mais um copo de suco.

— Seena sabe! Seena sabe! – A lith entrou correndo na cozinha. Com certeza ela estava atrás da porta ouvindo o que eu Zander conversávamos, ela era terrivelmente curiosa. – Um lugar onde é sempre verão, não. Mas um lugar onde é sempre primavera! A Montanha de Valond! E uma música, as sacerdotisas de Valond cantam. E alguém voa... Ascensão! Na montanha de Valond!

— Faz todo sentido. – Zander sorriu e piscou para Seena. – Bem, precisamos ir para as docas o mais rápido possível. Airdan poderia cuidar de Seena enquanto estivermos fora.

— Airdan precisa voltar para Diego. – Tilie entrou na cozinha coçando os olhos – Ele precisa descobrir tudo o que puder para nós. Aida está de volta e eu tenho certeza que Diego sabe.

— Talvez devêssemos deixá-la na academia...

— Não seja absurdo, em querer ofender, mas seu povo trata os lith como lixo! Não vou deixar Seena com eles! – desta vez olhei para Zander que franziu a testa para mim.

— Tem alguma outra ideia? Deixá-la com meus pais talvez. – ele estava claramente irritado, mas não me interessava.

— Claro ou talvez com meus Nobres. – rosnei para ele.

— Vocês parecem marido e mulher – Sky entrou rindo. Claro que nenhum de nós dois disse mais uma palavra sequer.

— Não temos escolha, ela terá que vir conosco. Qualquer outra escolha a colocará em perigo pior. – Tillie deu um fim no assunto.

— Seena viajar!

Sim, muito sensato levar uma criança para um lugar onde podemos morrer.

x

— Já disse que não sei de nada e se soubesse eu não diria a vocês.

— Ora, é uma pena então. Teremos que levar seu navio.

Ao me aproximar das docas, reconheci a voz de Nina, a capitã que havia conhecido havia alguns dias. Logo pude ver um bando de homens vestidos em preto e tatuados com a típica águia que me seguia por todo lugar.

— É realmente uma pena que eu precise desse navio. – me aproximei com as adagas em punho.

— É ela, matem-na! – um dos homens gritou, apontando para mim.

Essa briga vai ser um prazer. Eles não fazem ideia do quanto eu preciso chutar a bunda de alguém depois de tanto tempo em uma ilhazinha pacífica.

— Segurem as mãos dela! – ouvi alguém gritar entre socos, chutes e cortes. Eram mais pessoas do que eu imaginava, a situação estava ficando complicada.

— Não tentem. – ouvi a voz calma de Zander por perto. Ele cuidou dos Águias que me pegariam pelas costas, mas eles pareciam brotar de todos os cantos como baratas.

— Peguem o mago!

— Isso! Venham pegar o mago! – Jace se meteu na frente dele, chutando um dos Águias.

— Matem-nos! – vociferou o que parecia ser o líder do bando.

Era uma bela de uma briga, socos, chutes, cortes, fogo... Tudo o que eu precisava para me sentir integrada ao mundo real novamente.

— Você está se divertindo mais do que deveria, Aida! – ouvi Sky dizer ao chegar perto de mim.

— E quanto é o normal de diversão para você, hm?

— ZERO!

Vi dois Águias correrem de Tillie e suas poções, outros dois tentarem se aproximar de Seena e acabando por levarem algumas flechadas de Faelern. Quando todos estavam caídos, impedi que o último fosse machucado. Apontei uma das adagas para ele e sorri com desdém.

— Está vivo, consegue andar? – esperei que ele acenasse com a cabeça – Ótimo, agora volte correndo para seu mestre e o diga que estou indo atrás da bunda dele. E quando eu o encontrar, vou lapidar seu coração, gentilmente.

Assim que o Águia saiu correndo, me virei para o resto do grupo. Talvez eu tenha falado algo que não devia? Todos me encaravam de forma estranha.

x

Já a bordo do navio de Nina e seguindo para Valond me aproximei de Jace e Seena.

— Príncipe? – ela parecia entusiasmada. Embora Jace pudesse ser comparado em beleza, ele não estava nem perto de ser algum tipo de príncipe.

— Não, sou um cavaleiro, Seena. – ele falava devagar.

— Príncipe!

— Cavaleiro.

— Jace príncipe.

— Já disse Seena, sou um cavaleiro. Príncipes são coisinhas inúteis.

— Ca... Cavaleiro.

— Isso mesmo!

— Jace cavaleiro príncipe!

— Não... – ele respirou fundo, o que me fez rir – Certo, certo, isso deve servir.

— Você está fazendo tudo errado, querida. – me aproximei de Seena – Não os chame de príncipe nem nada do tipo, aja como se não se importasse com eles, sabe... Deixe-os com vontade. Pisque e sorria e então vá embora, não olhe para trás nem volte, deixe-os confusos.

— Não importar. Confundir príncipe.

— Não dê ouvidos a ela Seena. Aida é a pior pessoa para dar conselhos amorosos. – Zander chegou para acabar com a minha alegria. Jace sabia que não estávamos nos melhores momentos, então apenas se afastou. – Apenas seja você mesma e isso deve ser o suficiente, se ele não estiver satisfeito, então não é merecedor. Você não precisa usar táticas ou nada do tipo.

— Blá blá blá... – revirei os olhos.

— Blá blá blá – Seena me imitou, fazendo-me rir.

— Sempre achei que devemos ser honestos sobre nossos sentimentos. – quando foi que Sky chegou? – Se sente algo por alguém, diga logo. Amanhã pode ser tarde demais.

Quando foi que eles resolveram se meter em tudo? Resolvi me afastar e ir falar com Tillie e sua convidativa garrafa de rum.

— Aida, Aida, venha cá! – me chamou assim que cheguei perto – Sky e eu estávamos falando dos seus garotos.

— O quê? – ela estava totalmente alterada, talvez não tivesse sobrado nenhum rum.

— Não se faça de desentendida. – ela me puxou para sentar ao seu lado – Sabe, eu voto no Faelern, ele é sério e maduro – ela não estava falando sério... – Mas Sky, ah bem você sabe, ela prefere músculos e flertes, então o voto dela vai para Jace.

— Tillie, devia parar de beber.

— Ah, não foi nada, apenas três canecas... – ela soluçou e riu em seguida – Mas vamos, me diga quem é o escolhido!

— Ah você sabe, sou toda a fim do Jace, ele é super sexy e todo idiota – falei ironicamente. Deixei Tillie com o que restou de sua garrafa e fui na direção das cabines. Minha intenção era ficar lá pelo resto da viagem sem ser importunada.

— Aida, preciso te contar uma coisa. – Sky me segurou antes que eu descesse as escadas.

— Não vou gostar disso, vou? – não poderia ser coisa boa, não com aquela cara de culpada que ela estava fazendo.

— Provavelmente não... Bem, cerca de um mês após você mo... Desaparecer, um homem de capuz me encontrou e me entregou uma caixa de madeira, me disse que era de um ‘amigo’, dentro da caixa estava do diário de minha mãe. Eu logo pensei que Airdan tivesse roubado e mandado me entregar, mas dentro da caixa havia uma carta de Diego.

— O quê? Por que não me disse isso antes? – arregalei os olhos para ela.

— Ele disse que minha mãe era um membro dos Águias. – Sky baixou o olhar.

— Sim, ele me disse a mesma coisa antes da torre cair sobre minha cabeça. Ele enviou mais alguma coisa depois disso?

— Não, mas naquela carta ele dizia que ficaria feliz em ‘me ter’ no grupo.

— POR CIMA DO MEU CORPO MORTO! – me irritei com a simples ideia daquele imbecil colocar as mãos em Sky.

— Não se preocupe, não tenho intenção de me juntar ao homem que assassinou meus pais. De início eu pensei bastante sobre o assunto, poderia usar isso como vantagem para conseguir minha vingança, mas depois me dei conta que seria burrice. Ele é forte e inteligente, com certeza teve um bom motivo para me mandar aquela mensagem.

— Sim. Ignorar isso é a melhor coisa a se fazer.

— Bem, eu só fiquei com o diário porque meu pai gostaria que eu fizesse isso. Mas tenho estado perturbada pela ideia de que minha mãe era uma criminosa.

— Você sempre soube que ela era uma ladra...

— Sim, mas os Águias...

— Sky, ela estava fugindo deles para proteger sua família.

— Sempre soube que havia algo de errado com a morte dela. – Sky respirou fundo – Quando encontrarmos Diego, eu quero que meu rosto seja a última coisa que ele veja, Aida. Falo sério.

— Nesse caso vou tentar fazer o meu melhor... – sorri – talvez eu garanta que ele te olhe enquanto acabo com ele.

— Parece bom. – Sky riu – Vá para sua cabine, antissocial... Sei que estava indo se enfurnar lá.

Eu ri e acenei com a cabeça, indo para o quarto. Assim que entrei ela porta, vi uma pilha de roupas dobradas e um cartão sobre a mesa.

“Obrigada por defender meu navio. Aqui vai um pequeno presente, espero que goste” – Nina

Sorri, desdobrando as roupas. Aquilo era milhões de vezes melhor do que as roupas esquisitas de Ildis. Não pensei duas vezes antes de trocar aquele vestido estranho pelo top branco, calças pretas e botas. Passei o resto da tarde lendo alguns livros velhos que estavam na cabine, mas nada que realmente chamasse minha atenção, estava extremamente entediada, mas voltar para o convés não estava nos planos, queria paz por algumas horas. Acabei dormindo do jeito que estava.

Novamente estava naquele túnel estranho. Minha vista estava manchada por sangue e aquela luz branca me cegava, mas eu não tinha outra opção a não ser andar naquela direção. Mesmo sabendo que aquilo já havia acontecido, eu tinha medo. Medo do que poderia acontecer desta vez.

“Jace” ouvi uma voz chamar baixo.

“Jace” chamou novamente, mais alto dessa vez e assim continuou até se tornar gritos altos que me fizeram acordar com o coração acelerado.

— O que foi? – Jace entrou correndo pela porta, brandindo a espada e me olhado de forma estranha. – Você está bem? O que aconteceu?

— O quê? – os gritos eram meus? Mas porque eu chamaria Jace? – Ahm... Não foi nada – me sentei na cama e soltei o resto dos cabelos que ainda estavam presos, passando a mão entre os fios – Estava apenas testando sua velocidade sabe... Em caso de um ataque real. – Sorri torto, obviamente mentindo. Não consegui mentir de verdade, estava atordoada.

— Está brincando?! Quase me matou do coração, mulher! – ele me olhou de cima abaixo. Ao menos Jace era péssimo para perceber quando eu estava mentindo. – Está mesmo bem? Parece pálida. Bem... Mais pálida.

— Estou bem, não foi nada. Não precisa se preocupar. – soltei um sorriso um tanto forçado.

— Bem, estarei de guarda do lado de fora do quarto. Não vou deixar nada nem ninguém te machucar. Tente dormir. – ele sorriu.

— Jace... – voltou a me olhar, soltando a maçaneta da porta. Por que mesmo eu o chamei? – Desculpe. Ah, não é nada. – o olhei.

— Aida... – ele se aproximou, me encurralando contra a parede da cabine. – Não me olhe desse jeito.

— Que jeito? – senti meu coração disparar à medida que ele chegava o rosto mais perto. Ele era alto e forte, eu não sairia dali se ele não quisesse, mas eu não ia tentar, não queria.

— Séria... Triste... – Podia sentir a respiração quente dele sobre meu rosto, os lábios perto dos meus... e então a porta se abrindo.

— Aida! Você não vai acr... Whoa... – Nós dois pulamos, nos separando imediatamente assim que Tillie apareceu no quarto. Ela deu uma risadinha sem graça. – Não se preocupem, finjam que eu não estava aqui. Não vi nada. Volto depois. Ou não...

— Tillie... – eu nem sabia direito o que dizer. Olhei para Jace, ele estava vermelho.

— Não se preocupe... – ele soltou um riso sem graça, coçando a cabeça como sempre fazia – Não foi nada. Eu volto pra consertar a janela quebrada mais tarde...

Tive uma boa noite de sono depois daquela cena estupidamente constrangedora. Onde eu estava com a cabeça ao deixar a situação acontecer?

Subi para o convés, o sol já estava forte apesar de ainda ser cedo. Tillie conversava com Seena no canto, ela não sabia não ensinar alquimia para alguém, talvez por isso Sky tenha escolhido magia, a coisa é realmente chata.

— Bom dia, gracinha. – Jace parou ao meu lado. Ele parecia tão envergonhado quanto na noite seguinte. Senti meu rosto arder também. Que situação...

— Ei... – sorri – Oi!

— Como se sente?

— Ah, muito melhor...

— Certo, hm... Então eu vou pegar alguma coisa para comer. – ele sorriu sem graça.

— Claro. Comida é ótimo... Eu sempre como.

Ele se foi.

“Eu sempre como?” Que diabos eu disse? Que ridículo Aida... Que ridículo.

— Esse foi o melhor momento da minha vida – Sky se aproximou rindo.

— Ah cai fora Sky...

— Okay, acho que vou comer algo antes que você comece a comer pelo resto de sua vida. – a filha da mãe ainda ria.

— Que inferno...

“Senhoras e senhores, estamos aportando em Valond, não esqueçam seus pertences no navio, se o fizerem será sua responsabilidade, não empurrem os outros passageiros no desembarque. Obrigado por viajarem conosco!”

— Finalmente...

x

— Certo, devemos ir antes que os Águias nos encontrem. – Falou Tillie.

— Deixe que venham. Vou ajudá-los a passar o tempo com prazer. – rosnei.

— Não temos tempo para isso, temos que chegar até a montanha o mais rápido possível.

— Fica me devendo uma luta.

— Não se preocupe, sei que vai encontrar uma logo.

— “Sempre primavera” a minha bunda... Estou congelando!

— Nisso que dá andar por aí seminua. – Tillie rebateu.

— Me poupe Tillie, vai dizer que está calor?!

— Está. Sou uma anã, posso tomar banho de mar nessa água.

Revirei os olhos e apenas continuei andando. Andamos por um bom tempo até que Jace finalmente falou o que, provavelmente, a maioria de nós pensava.

— Alguém mais tem a sensação de estarmos andando em círculos?

— Sim, tenho. – Sky foi a única que respondeu.

— Seena tem que ir ao banheiro. – ela começou a reclamar.

— Seena, eu avisei para você ir antes de sairmos do navio... – Zander estava se tornando praticamente uma mãe.

— Engraçado... Com todas as suas emoções à flor da pele, como conseguiu se manter vivo até hoje? – Faelern estava brincando com fogo, literalmente. Zander ia se irritar com ele a qualquer hora.

— Eu coloco fogo em quem faz perguntas idiotas. – ele respondeu já sem paciência.

— Isso faz você soar como um simples assassino.

— Me irrite um pouco mais e vou te mostrar o quão simples eu sou.

Dei uma risadinha e entrei no meio dos dois. – Não briguem por mim rapazes... Aprendam a dividir... Dividir. – Nenhum dos dois falou nada. Faelern saiu andando e Zander me olhou como se fosse me queimar no lugar do Elfo.

Andamos por mais um bom tempo antes de conseguirmos avistar o templo escondido entre árvores e rochas. Foi uma longa caminhada que eu não esperava repetir a menos que fosse para voltar para o porto e dar o fora dali.

Entramos no templo sem problema algum. O lugar estava completamente vazio, dava arrepios.

— Isso é muito estranho... Sempre existiram sacerdotisas aqui. – Tillie se aproximou de mim.

— Sim, é estranho. Parece uma armadil... – não tive tempo de terminar de falar, ouvi o som de uma flecha na minha direção. Empurrei Tillie com tanta força para o lado que a derrubei, mas não havia tempo para me desculpar. Havia um bando de Águias nos atacando.

Por mais estranho que fosse, eles não estavam me atacando, apenas se defendendo de meus golpes e levando a luta para longe de mim. Enfim eu o vi. Diego.

— Veja se não é meu filho da puta preferido... – rosnei para ele, as adagas em punho prontas para rasgar sua garganta.

— Gosto de saber que está feliz em me ver, Aida. – Ele soltou aquele sorrisinho irônico que eu ia arrancar da cara dele na porrada.

— Feliz em te ver, feliz em te matar... É a mesma coisa.

Parti para cima dele sem fazer mais cena. Ele era bom em revidar tanto quanto em desviar dos golpes e virar a situação contra mim, mas independente do quanto eu já estivesse ferida, não ia parar até que aquele desgraçado estivesse no chão. Por um descuido ridículo, dei a chance de ele agarrar meus cabelos, Diego os puxava com força. Uma das minhas adagas havia voado longe em uma investida e ele segurava um de meus punhos, mas a outra arma ainda estava em minhas mãos e apesar da dor que o puxão dele me causava, tentei mirar seu pulso e desferi o golpe. O filho da puta me soltou, mas isso custou mais da metade de meu cabelo, eu não sentia o cumprimento em minhas costas, o que significava que ele havia feito com que eu os cortasse com a lâmina. Esse desgraçado ia morrer!

Desferi um golpe que teria sido perfeito, não fosse sua força para segurar sua própria adaga e amortecer minha força, ele teria saído dali sem um braço. Minha raiva só aumentava.

— Não podemos conversar como duas pessoas civilizadas? – O desgraçado estava calmo. CALMO!

— Vá pro inferno! – Gritei, finalmente acertando-o no ombro, mas não suficientemente forte para fazê-lo parar a luta.

— Ora Aida, eu não sou nada além de adaptável...

— Se adapte ao inferno!

— Sempre tão hostil. – Desta vez ele desviou do segundo golpe que o acertaria. Enquanto isso, eu precisava trabalhar melhor na minha defesa, já estava sangrando. – Lamento Aida, não vou deixar a Ordem Prateada e nem ninguém obter o que está atrás dos portões.

— “Obter”? Do que está falando seu idiota? – Minha fúria foi acalmada momentaneamente pela curiosidade. O que ele sabia sobre o que estava atrás dos portões?

— Você não terá o mais forte dos exércitos ao seu lado, Nobre.

O quê?

— Aquelas coisas estão aqui para matar o que vier pela frente e eu não vim aqui para dar as calorosas boas vindas. Qual é o seu problema?

— O quê? – ele parou, abaixando a arma antes apontada para meu peito. Mas eu não baixei a guarda, ele era traiçoeiro. – Você não quer controlar o Exército Prateado?

— Ninguém além dos reis pode controlá-los. – Talvez tivesse sido uma informação desnecessária a ser dada, mas eu não estava com a cabeça no lugar.

— Parem o ataque! – ele gritou para seu bando. – Você não sabe? – voltou a atenção para mim.

— Não sei o quê?

— Puta mer...

O chão começou a tremer e, novamente, eu não podia me mover. Senti o chão longe dos meus pés e uma luz estranha em volta de mim.

— Não... Não de novo não! – Eu estava brilhando outra vez, tinha certeza disso.

— AIDA! – ouvi Jace gritar.

Tudo ficou escuro por algum tempo, não conseguia ouvir ou sentir nada. Então senti alguém encostando em meu rosto, abri os olhos assustada, segurei firme o punho da adaga e não pensei duas vezes em atacar quem quer que fosse. Graças à Eanna eu não acertei. Era Zander se certificando de que eu estava bem.

— Levante-se depressa! – Ele puxou minha mão e me entregou a outra adaga. Todos nós estávamos cercados pelo exército de pessoas prateadas, inclusive os Águias que lutavam no mesmo círculo que nós.

Eram muitos deles. Demais para contar, estávamos cercados e sem espaço para nos mover direito, qualquer movimento em falso e um aliado perderia a cabeça. Se bem que um Águia perder a cabeça não seria de todo ruim. Meus pensamentos se voltaram para Seena, onde ela estava? Pelos deuses, se alguma coisa acontecer àquela criança eu me culparei pelo resto da vida. Ouvi um grito desesperado e só podia ser o de Seena.

— Aida, foco na luta, inferno! – Diego estava ao meu lado. Então o inimigo do meu inimigo é meu amigo? O cacete! Não pensei duas vezes antes de esmurrar a cara dele, não me interessava se ele perdeu o foco ou não.

Consegui abrir um minúsculo espaço entre os seres prateados e corri na direção dos gritos, não sem ser arranhada várias vezes. Atirei uma das adagas na direção de um soldado que se aproximava de Seena. Mas havia mais dezenas deles se aproximando. O grupo ainda estava cercado pelas centenas de soldados, impossibilitados de matar todos eles, provavelmente feridos pela luta com os Águias. Estávamos mortos.

— PAREM! – Gritei sem esperança, em desespero, apenas rezando para sobrevivermos àquilo tudo. Mas então o exército parou. Eles não marcharam em minha direção ou atacaram o grupo. Aquilo me assustou.

“Uma nova ordem foi dada.” A multidão de prateados falou junta. Eles abriram espaço para que meus amigos caminhassem na minha direção.

— Por que eles pararam? – Tillie parecia aterrorizada.

— Não sei... Talvez “parem” seja uma palavra mágica ou algo do tipo...

— Pelos deuses, você é burra ou o que, Aida? – Diego veio ao meu encontro, esfregando o queixo onde havia tomado meu soco.

— Eu vou arrebentar você se não me disser o que sabe. AGORA!

— Achei que soubesse... – ele franziu a testa para mim. Todos o observavam sem falar nada, apenas esperando por uma resposta ou a oportunidade de acabar com ele. – Você é a princesa de Valond. Filha do Rei Adrian e da Rainha Kathleen... Irmã do Rei Kael... – ele parecia querer que eu, subitamente, me lembrasse de alguma coisa que se parecesse com aquilo.

Não consegui conter a risada que acabou por contagiar a todos.

— Sério esse cara merece um prêmio por dizer isso sem um pingo de sarcasmo. – Jace disse.

— Talvez ele tenha bebido alguma coisa... – Sky ria.

— Talvez tenha sido acertado por alguma coisa durante a luta. – Tillie tentava se controlar.

— Ora vamos, pode ser verdade... – eu ria mais que meus pulmões podiam aguentar – Talvez eu seja uma princesa...

— Pense Aida. É possível para os Nobres conceber uma criança com um humano. Você é apenas metade Nobre. – Diego falou com a voz mais alta que nossa algazarra. – Eu descobri o diário de uma das empregadas do rei, ele mencionava um Necromante visitando o castelo todos os dias após a meia-noite e eu tenho quase certeza de que o ritual de Fahrana estava envolvido em seu nascimento.

Fui obrigada a parar de rir. Aquelas informações estavam muito bem inventadas ou eram verdade.

— Fahrana? O que é isso? – Olhei para Zander na expectativa de reposta, mas ela veio do próprio Diego.

— “Fahrana”, ou melhor, “A queda” é um ritual de ascensão. Seu nascimento e o de seu irmão foi realizado através dele. Você tem o sangue os antigos reis em suas veias. É por isso que pode abrir os portões sem morrer. Não consegue ver, Aida? Você é a proprietária do Reino Antigo. Eu sempre soube que você era a princesa, no momento em que nos conhecemos. Roubei os pergaminhos que falavam sobre uma princesa escondida, mas não achei que fosse real até te encontrar e agora vendo o modo como controlou o exército...

Aquilo não era verdade...

— O Rei Adrian e a Rainha Kathleen decidiram que uma velha empregada deveria cuidar da princesa para que a Ordem Prateada jamais descobrisse sobre ela. Porque se isso acontecesse, os membros da Ordem fariam qualquer coisa para matar você.

— Por quê? Qual o motivo deles tentarem me matar? Se é que o que você diz é verdade.

— Porque quando uma asa está quebrada, a outra voa melhor. Assim funcionam os Nobres. Nunca se perguntou por que os Nobres nunca têm gêmeos? Assim que os dois nascem, um é morto para que o outro tenha o poder do irmão, assim eles se tornam mais fortes do que os Nobres comuns. Consegue imaginar o quanto de poder um Nobre pode ter ao adquirir o sangue de outro que possui o sangue dos antigos reis?

— Isso soa loucura, mas é possível. – Tillie finalmente conseguiu fôlego para dizer algo. – Na verdade faz todo o sentido. O nobre que tentou te matar pode ser seu irmão, assim tudo se encaixa.

— O exército parou no instante em que você quis, porque você ordenou Aida. – Diego parecia feliz com a situação. – Eles não teriam feito isso se você não tivesse o sangue dos reis.

— Vamos dizer que isso tudo seja verdade. – Eu ainda estava muito puta com ele. Diego não ia se safar de mim. – O que quer que eu faça? Ainda sou uma rebelde que deve ficar longe da Ordem Prateada.

— Sei que é muito para absorver, mas o Rei Kael está planejando uma guerra. Pode soar ridiculamente clichê, mas ele quer reinar sobre todos os países de Arunia e vai usar o exército para conseguir isso. A Ordem Prateada está ajudando-o, sei disso. No minuto em que eu soube disso comecei a tramar contra eles. Ele irá matar qualquer um que se opuser a ele, no minuto em que o fizerem serão esmagados por seu exército. Eu... Eu pensei que seu objetivo era controlar o exército também.

— Foi por isso que esteve lutando contra mim todo esse tempo? Mesmo sem saber minhas intenções? – Comecei a gritar com ele e não me importava. Ele ia tomar outra surra. – Por causa do meu cabelo branco eu sou, automaticamente, uma maníaca por poder e dominação?! Por que me induziu a abrir o primeiro portão se é contra os ideais deles afinal de contas?

— Porque Kael ia fazer isso se eu não fizesse. Eu só tinha que garantir que seria em um momento em que ele não estivesse pronto. Eu sei que fiz muitas coisas ruins e que sou um criminoso e estou pronto para minha punição quando a hora chegar, mas antes disso eu vou impedir Kael. Adashia será o primeiro país a se opor a esse domínio, eu conheço meu povo. Não vou deixar isso acontecer. Se me deixar ir eu irei lutar contra Kael de todas formas que eu puder. – Só então eu notei que ele estava em menor número agora e se eu quisesse, ele seria levado á justiça. – Ou me deixe ajudá-la se decidir se opor a ele.

Esse maldito...

— Vocês aí! Prateados! – O exército se virou na minha direção com uma marcha assustadora, mas valeu a pena ao ver que Diego borrou as calças ao achar que eu ordenaria que o matassem. – Voltem para o buraco de onde vieram e jamais coloquem os pés nesse mundo novamente. Se alguém vir um de vocês seguindo ordens de Kael, façam o que for necessário para pará-los.

“Uma nova ordem foi dada.”

— Exatamente... Xô, xô.

— Podia usá-los para lutar contra Kael. – A cara de desapontamento de Diego foi a melhor coisa que aconteceu naquele dia.

— Se temos o mesmo sangue, ele também poderia controlá-los.

— E o que vai fazer agora?

— E eu tenho alguma opção? Aparentemente sou eu quem vai ter que parar meu gêmeo clichê do mal, afinal não existe uma pessoa que possa simplesmente se contentar em reinar sobre um lago. Por que não? Por que não pode se contentar em comer todos os peixes do lago? Tem que ser o mundo... – Um pouco de ironia ia bem naquela hora.

— Hm... “Vossa Majestade”, o que pretende fazer comigo?

— Eu quero que você vá se matar. – falei ainda irritada – Mas eu preciso da ajuda dos Águias, então isso não é uma opção agora. Você é bom em conseguir informações e eu precisarei estar sempre um passo á frente de meu irmão... Meu irmão gêmeo... Meu irmão gêmeo do mal. Pelos deuses... Mas antes eu preciso da permissão de Sky. Afinal você foi gentil a ponto de matar toda sua família e atentar contra sua melhor amiga, que no caso sou eu.

— Está tudo bem Aida. Eu entendo que não está na hora da minha vingança e que iremos precisar de ajuda. Mas não sou idiota Diego, quando chegar a hora, você vai morrer pelas minhas mãos. – Sky parecia tão irritada quanto eu.

— Eu entendo. – Diego se dirigiu a ela.

— Enquanto isso, apenas mantenha distância de mim.

— Diego seu primeiro trabalho é me manter informada sobre os passos da Ordem Prateada e de Meu irmão, eu quero relatórios regulares.

— Sim Majestade.

— E pare de me chamar desse jeito. Estava me xingando há minutos atrás. E soa realmente muito sarcástico quando diz isso.

Pelos deuses... Isso tudo começou por causa de um diário. Eu só queria ter um dia normal.


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Notas finais do capítulo

"OMG CHARLIE CADÊ ZANDER E AIDA???"
Yay, acabei com o shipp de vocês nesse capítulo, não foi? Motivo: atualmente eu shippo mais a Aida com o Jace do que com o Zander, maaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaas... como eu comecei a história com esse shipp e sei que é o preferido da maioria, eu vou continuar com ele, então não se preocupem, foi só uma escorregada da mente confusa e carente da Aida, mas tudo volta ao normal na terceira temporada.
Yay (2), eu cortei o cabelo dela! Porque eu acho que ela fica mais adulta e é a ideia que eu quero passar na próxima temporada... Espero que não fiquem bravos.
Gente, a próxima temporada vai ser bem difícil de escrever, especialmente pq é MUITO FUCKING GRANDE!! Jogando direto, eu geralmente demoro de 2 à 4 horas pra terminar... Jogar e escrever vai ser demorado. Mas vai sair, nem que demore 2 anos.
Estou aceitando todo tipo de sugestão e eu realmente gostaria muito que vocês comentassem sobre o que acharam. Esse capítulo teve que sair na base da paulada pq minha inspiração tava fazendo reunião com a Samara de tão no fundo do poço que estava. Comentar realmente ajuda muito.
Bem, espero que tenham se divertido.
Feliz hiatus (Sherlock fan feelings).
Beijos da Charlie.
P.S.: Digam que gostaram das músicas pfvr, pq são 3:15 da manhã, eu já nem sei mais oq to escrevendo de tanto tempo que fiquei só gravando/editando/convertendo/fazendo upload dessas músicas. Obrigada, amo vcs.



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