Ascensão - Nobreza escrita por Nancy


Capítulo 4
Reencontros


Notas iniciais do capítulo

"O que gostaria de dizer ao leitos antes dele ler o capítulo?"

Por Eanna... eu nem sei por ponde começar. Pedir desculpas pelo total abandono é um bom começo, mas raramente eu serei perdoada, não é?
Bem, vou tentar compensar com o capítulo grandinho desta vez.
Não vou prometer que vou continuar logo mais, pois vocês me conhecem, ás vezes eu canso de escrever sobre o assunto e só volto depois de meses, mas quero terminar de escrever as três partes, sim.
Tenho uma pequena correção a fazer, mas antes: durante os capítulos anteriores da fic, meu me referi à gangue de Diego como "As Águias", em uma tradução literal do inglês do jogo, mas achei que soa mais bonito e combina mais com as frases quando se lê "Os Águias", então agora está no masculino!
Só mais uma coisinha: eu postei as imagens dos personagens (na primeira temporada, se não me engano) e quero postar novamente, porque é bom relembrar como eles são, mas vou ficar devendo essa para o próximo capítulo, porque ainda falta encontrar boas imagens para o Zander e o Faelern.
Espero que gostem!



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“A informação estava correta, Vossa Alteza. O primeiro portão foi aberto.”

“Lembro-me de dizer claramente para que não o abrisse até que eu ordenasse Synius.” A voz do jovem rei era ameaçadora.

“Não fomos nós, Majestade. Foi a garota, estava fora de nosso controle.” O outro Nobre parecia estar acostumado com o tom autoritário do rei e sabia lidar perfeitamente com ele.

“Aida...”

“Como quer que lidemos com ela, meu senhor?”

“Não será necessário, Diego é estúpido o suficiente para acabar com ela por nós.”

“Mas Diego é...”

“Eu sei o que Diego é.” Ele demonstrou seu tom arrogante mais uma vez “Irei assisti-los destruir um ao outro lentamente, e se um dos dois sobreviver lidarei pessoalmente com isso. Enquanto isso, deixe a Ordem preparada. Preciso chegar aos outros portões antes que ela descubra o que eles realmente são.”

“Farei isso agora mesmo, meu Senhor.”

“E Synius...” O Rei o chamou assim que o homem fez menção de sair da sala “Mantenha os olhos nela. Não queremos que Aida descubra quem realmente é.” Ele deixou um sorriso sádico transparecer.

x

– Não consigo ler isso – já estava ficando irritada com aqueles diários – Todos esses termos... “Eles partiam para Saan assim que terminaram com o Guia”. Esses diários são inúteis!

– É Kadan. – Faelern se intrometeu – Saan significa sul e Guia significa oeste. Deve ser algo referente aos portões.

– Espere... Você entende Kadan?

– Apenas um pouco. Aprendi quando ainda era uma criança.

– Consegue traduzir isso? – quem diria que o elfo seria de grande utilidade nessa viagem...

– Impossível sem ajuda... – não tão útil.

– As livrarias de Ildis têm muitas seções com livros sobre Kadan – Zander se juntou a nós.

– Precisamos avisar Sky e Tillie antes... – olhei para ele e sentada no chão me fazia perceber o quanto Zander era alto – Assim que eu colocar os pés em Ildis, elas estarão em perigo.

Em poucos minutos um dos tripulantes informou que estávamos atracando. Não sei se aquilo me deixava excitada ou nervosa. Provavelmente os dois.

x

– Gelo? Não parece ser frio aqui... – sim, Ildis era feita de gelo, foi isso o que mais me impressionou assim que saímos do porto e por um momento aquilo conseguiu até mesmo me distrair.

– Não é gelo, é cristal. O uso constante de magia faz com que isso aconteça. – Zander explicou, caminhando logo atrás de mim.

– Uau! – foi minha reação e da pequena Seena também. Ela começou a pular em volta de Zander como se aquilo fosse a coisa mais incrível que já havia visto. Devo admitir que para mim era.

– Imaginei que iria gostar. – ele falava com Seena agora. Por algum motivo eu sentia que estava recebendo o tratamento do silêncio e isso doía. – Seena pare de pular, você acabou de comer...

– Cristal! Cristal! – Seena não parecia muito disposta a obedecer Zander.

– Solyn, eu não me importo de esperar no navio. – Faelern me alcançou. Ele realmente parecia pouco confortável em aportar em Ildis.

– Não... Preciso que fique por perto, se formos atacados eu vou precisar de toda ajuda que tiver. – isso era fato, não estava tentando simplesmente irritar o elfo desta vez. Estar ali era perigoso demais.

Ouvi Seena quase vomitar e então veio aquele suspiro característico de Zander quando ele queria dizer “eu visei”.

– É melhor irmos andando antes que Seena vomite em nós. – voltei a caminhar.

Não demorou muito até que estivéssemos em um lugar movimentado de Ildis, passamos por praças e alguns comércios. A maioria de seus habitantes eram Elfos da lua e me impressionava ver o quanto eles eram diferentes de Zander. Suas expressões eram frias e cada movimento parecia ser calculado.

– Aida, preciso falar com você, é importante. – Oh, o que seria tão importe para que o senhor mago voltasse a falar comigo?

– Oh oh...

– Não faça “oh oh” para mim, escute...

Antes que ele pudesse falar, fomos interrompidos por uma elfa da minha altura. Apesar de eu considerar que ela era um tanto estranha, havia algo em sua aparência que a fazia ser bonita. Talvez fosse o cabelo azul escuro ou a pele também azulada ou os olhos lilases. Não sei dizer.

– Bem vindos à Ildis. Pedimos que tomem o devido cuidado para não danificar nenhuma estrutura pública, a cidade é protegida pelos guardas pessoais de Lorde Morthil. – ela se interrompeu abruptamente – Vejo que possuem um Lith... – eu pude ouvir a súbita mudança em seu tom de voz, como se ela tivesse avistado um animal peçonhento. – Por favor, considerem-se avisados de que nenhum Lith é permitido nas escolas ou nas livrarias.

– O quê? Por quê? – me exaltei. Como assim eles não são permitidos em escolas ou livrarias, os Lith são apenas outra raça e não animais que destroem tudo o que tocam.

– Essas são as leis da cidade, caso esteja descontente com elas, sugiro que leve suas reclamações à lorde Morthil. – aquela elfa acabara de perder toda a beleza que eu encontrei nela.

– Talvez eu devesse dar uma palavra com esse tal “Lorde Morthil”.

– Aida, não... – Zander se intrometeu.

– Que porcaria de lei é essa? Liths não são permitidos dentro de livrarias... Ela não é um doença contagiosa, sabia? – Zander seria ignorado exatamente como ele estava me ignorando.

– Aida, por favor...

– Onde está esse Lorde? Tenho algumas coisinhas para dizer a ele.

– Eu o conheço. – era a voz de Faelern.

– Conhece? – aquilo me surpreendeu.

– Ele foi o general responsável pela punição daqueles que tentaram ajudar os Lith durante o massacre. – Faelern estava realmente sério, diferente de todas as vezes em que eu tive o azar de estar perto dele – Solyn, eu gostaria de conhecê-lo também.

– Aida... – Zander tinha o tom de voz urgente, mas não parecia se atrever a falar a menos que eu o desse total atenção, o que não estava nos planos.

– Viu. Todos estão muito empolgados para conhecê-lo. – falei para a elfa que nos recebia.

– Certo. Sua mansão não fica longe daqui, mas devo avisar para que mantenham seu Lith fora do prédio. – eu queria matar aquela elfa.

– Isso não será necessário. Deixe-nos a sós. – ouvi uma voz imponente caminhar na nossa direção. Pertencia a um elfo alto, tão imponente quanto sua voz, e apesar de sua vestimenta simples, ele parecia alguém importante. Ele tinha os cabelos longos e grisalhos, os olhos eram azuis e o rosto lembrava muito o de Zander, assim como a cor de sua pele. – Eu sou Lorde Morthil. – será que ele...

– Ah, Zander. – ele olhou para o mago, fazendo eu me virar para que pudesse encarar os dois.

– Pai. – ele não parecia triste ou irritado por ver o Lorde, mas certamente não esboçava felicidade. Eu fiquei quieta, antes que falasse alguma merda que não devia, afinal já havia sido uma cena suficientemente chamativa.

– Eu deveria imaginar. Sempre te encontro em qualquer problema que essa cidade tem com os Liths. – O pai de Zander tinha o olhar frio e severo, mas seu tom de voz não indicava que aquilo era uma bronca. – Sendo um mago, meu filho tem o coração mais “amolecido”, como já devem saber. Um coração que é um problema para ele e todos ao seu redor.

Lorde Morthil era um Zander mais velho e com algumas rugas, nada mais. Eu devia ter notado a semelhança logo de cara.

– Amigo de um Elfo do sol, um anão, um Lith e agora uma Nobre. – ele correu o olhar por todos nós e especialmente por mim. Não fosse ele pai de Zander eu quebraria o ao meio. – Não confunda amizade com pena, isso vai acabar sendo o seu fim um dia. – a essa altura eu não consegui entender se a mensagem era para mim ou para seu filho, mas Zander certamente entendeu.

– Não ouse visitar sua mãe. Depois do último “pequeno” incidente ela ainda está adoecida. Você se mostra uma desgraça para nossa família.

Zander me segurou para que eu não voasse no pescoço daquele elfo. Quem ele pensa que é para falar dessa maneira na frente de todos? Nenhum pai faz isso! Eu acho...

Assim que ele saiu eu olhei para Zander. Sua expressão não era serena como sempre, mas ele não estava irado. Parecia chateado com ele mesmo.

– Desculpe. Não tinha que ver isso. – foi só o que ele disse depois de me soltar e sair caminhando.

Se eu tivesse calado a droga da boca, não teria constrangido ele. O vi parar de frente para alguém que acabou por cobrir completamente com sua altura, de longe eu podia jurar que era um anão.

– Ah... olá Zander e... – reconheci a voz imediatamente. Será que Tillie me transformaria em um sapo? – PELOS DEUSES! AIDA! – ela gritou e correu na minha direção, pulando em meu pescoço.

Tenho certeza de que sua intenção não era me matar. Bem... Talvez ela quisesse me afogar em suas lágrimas, mas eu não podia dizer que não estava feliz em vê-la, nos abraçamos por um bom tempo enquanto ela chorava e eu fingia que estava tudo bem. Tillie tentava dizer alguma coisa, mas podia ser a língua dos anões ou algo que eu jamais entendia por causa do choro. Mas então ela subitamente me soltou, enxugou o rosto e caminhou até Zander, lhe dando um tapa forte no rosto. Que eu aposto toda Ildis ouviu.

– Eu não acredito que você fez isso! – ela gritou para ele. Nunca havia visto Tillie realmente furiosa, mas aqui estava ela, vermelha e tudo o mais.

– Til... – ele tentou se explicar, mas Tillie não parecia realmente disposta a ouvir qualquer coisa vinda dele. O que aconteceu com esses dois enquanto eu brincava de morta?

– Me diga que você não se atreveu!

– Não fui eu! – Zander parou de fugir da resposta – Eu a encontrei em Taran, fiquei tão surpreso quanto você.

Finalmente a fúria de Tillie diminuiu e ela se deixou cair em lágrimas novamente.

– Graças aos antigos reis...

– Til, precisamos conversar. – ele estava sério. Tinha direito de estar, afinal eu tinha nos condenado, Os Águias provavelmente já sabiam sobre mim e Zander havia acabado de passar vergonha na frente de quem quer que passasse por perto. Eu estaria séria também.

– Com toda certeza, precisamos. – ela completou – Vamos, podemos nos reunir com Aird... Pelos deuses, fiquei tão empolgada quando vi vocês que deixei Airdan para trás...

– Estou aqui meu amor. – reconheci o elfo que nos ajudou com o episódio dos Águias alguns meses antes. Espere... “meu amor?”. Olhei para Tillie esperando uma resposta, mas nossos olhares não se cruzaram. – Olá novamente senhorita Aida. Zander. – Airdan nos cumprimentou e então demorou o olhar em Faelern e Seena.

x

– Bem, há muitos rumores sobre o que está por trás dos portões... – Tillie explicava com calma enquanto nos acomodávamos na casa de Airdan. Ela parecia realmente familiarizada com o lugar. – Mas o que me preocupa são seus pesadelos. Não acho que os portões guardem algum monstro gigante, isso foi só um boato espalhado para desencorajar os caçadores de recompensas ou piratas.

– Til, mesmo que sejam apenas rumores, eu não posso arriscar a sorte. Preciso ter certeza de que não há nada por trás daqueles portões quando eles se abrirem. – falei com calma, tentando não demonstrar o quão apavorada eu me sentia com a situação.

– Eu entendo... Deixe-me dar uma olhada nesses diários que mencionou. – entreguei a ela os diários de Seeru. Ela demorou alguns minutos os analisando, passando as páginas rapidamente, sem realmente ler detalhadamente. – Como eu imaginei... Não consigo lê-los. – aquilo me desapontou mais do que eu imaginei. – Vamos precisar traduzir tudo isso.

– Faelern diz que pode traduzir, só precisamos encontrar uma biblioteca.

– Certo. Bem, leve Zander com você, é bem mais fácil conseguir as coisas com ele por perto. – ela disse com certo humor, encarando um Zander não tão feliz ao ser mencionado como passe livre. – E antes que saia devo dizer que amo suas roupas novas, mas não estamos na praia, talvez devesse considerar trocá-las por algo mais “normal” em Ildis.

Só então notei que ainda usava as roupas de quando saí da ilha. Realmente não era nada “descente” comparado ao que se via as mulheres usarem. Estava praticamente de biquíni. Pude notar que Zander não achava ruim aquela vestimenta, afinal ele não desviava olhar enquanto deixava que Seena trançasse seu cabelo longo. Era uma visão interessante, me peguei pensando que ele seria um ótimo pai, o que me deixou completamente vermelha.

Depois de vestir a roupa que Tillie conseguiu para mim, me lembrei do fato de que estávamos na casa de Airdan e que ele havia chamado Tillie de “meu amor”, assim que nos encontramos. Minha curiosidade precisava ser sanada.

– Então... – perguntei quando consegui Tillie sozinha em um canto próximo a varanda – “meu amor” – sorri, sabendo que ela já esperava minha pergunta em algum momento. Ela riu.

– Bem, precisamos de toda ajuda que pudemos encontrar quando você morr... Quando você desapareceu. Airdan ajudou muito roubando informações dos Águias e não deixando que eles notassem que estávamos te procurando. Então... Bem... Você sabe... Nos tornamos próximos. – ela pareceu envergonhada por um momento, mas sabia disfarçar bem – Não se preocupe, ele está totalmente do nosso lado.

– Não me preocupo. – ri – Estava apenas curiosa.

– Bem, há salas de banho se quiser. E estaremos aqui se precisar de qualquer coisa... – Tillie sorria – E Aida, por favor... Não morra outra vez. Há pessoas que se importam muito com você e te amam, mesmo que você não se sinta merecedora disso. Os dias são sem graça sem você por perto. – ela me lançou um sorriso que fez eu me arrepender de tudo.

– Ora, me conhece... Sou um imã para problemas. – tentei descontrair.

Tillie se limitou a sorrir de forma doce e se aproximou de Faelern para tentar conversar, ele parecia mais amigável com ela do que comigo. Me aproveitei da brecha para ir me sentar ao lado de Zander assim que Seena saiu para ir se sentar com Faelern e tentar brincar com cabelos loiros dessa vez. A pequena Lith era boa com as mãos, Zander ganhou uma aparência diferente com os cabelos trançados daquela forma, ficou ainda mais atraente. Ele terminava de prender alguns fios soltos quando me sentei. Não disse nada, se ele não quisesse falar, eu entenderia, mas ao menos queria sua companhia.

– Ei, hm... – ele começou, me olhando pelo canto dos olhos. – Me desculpe pelo drama...

Eu não esperava que ele dissesse uma só palavra, mas já que o havia feito, eu não podia desperdiçar o esforço ficando calada como fiquei no dia em que nos encontramos no acampamento Lith.

– Por qual deles? – sorri, sempre caçoando da situação, mas era melhor do que ficar quieta, que era a outra opção – A situação realmente embaraçosa com seu pai ou a de quebrar o coração com Til e o tapa?

– Ambas... – ele estava sério, então me obriguei a não fazer gracinha, afinal não podia afastá-lo ainda mais de mim, já havia feito o suficiente e era muito gentil da parte dele ainda falar comigo.

Fiquei apenas olhando-o por um momento, apreciando seu rosto e o quão bonito ele ficava de cabelos presos, só então notei o quanto seu cabelo havia crescido desde a última vez em que nos vimos, ele se parecia com um príncipe.

– O que foi? – ele perguntou após um longo tempo.

– Então... – me trouxe de volta para a realidade – Qual o motivo do tapa?

Zander desviou o olhar e ele nunca faz isso, foi então que eu soube que ele não diria nada bom.

– Bem... hm, nós não nos separamos nos melhores termos. – ele não falaria nada a menos que eu insistisse no assunto e para seu azar, eu realmente queria saber o que aconteceu.

– Vá em frente... – olhei em seus olhos. Ele suspirou, mas continuou em silêncio – Ora vamos, não pode ser pior do que condenar todo o mundo...

– É um ponto válido... – consegui fazê-lo sorri por um breve instante – Bem, quando nós decidimos que você havia realmente morrido e que não havia nada mais para procurar, fiz algo do qual não tenho muito orgulho... Mas era o único jeito de te trazer de volta. – ele mordeu os lábios, como se sentisse extrema vergonha do que estava prestes a dizer – Comecei a mergulhar um pouco em Necromancia...

– Zander... – não sabia se estava irada com ele ou comigo mesma por fazê-lo sofrer por minha causa. – O que diabos estava pensando?

– É... Tillie reagiu exatamente da mesma forma. Mas chegou uma hora que eu já não me importava mais com as consequências. Eu fui para Taran, para praticar Necromancia sem ser pego, Tillie tentou me impedir e nós tivemos uma conversa não muito agradável. – ele parou por um momento. Eu podia ver a culpa em seus olhos, podia ver que ele não queria realmente fazer aquilo, admitia seu erro, mas não via nenhuma saída para se livrar daquela dor. Nunca me senti tão terrível, tão culpada. – Eu... Aida me perdoe, eu queria te ver outra vez, mas... – ele respirou fundo, olhando em meus olhos.

– Idiota... – foi a primeira coisa que saiu de minha boca, mas apesar da raiva momentânea, eu sabia que não conseguiria ficar zangada com ele por muito tempo. – Ainda que conseguisse me trazer de volta dos mortos, eu não seria eu mesma! Zander vou ficar realmente muito surpresa se conseguirmos sobreviver ao que está para acontecer. Você tem que jurar que nunca vai tentar isso novamente. NUNCA!

– Não vou prometer nada. Certamente não preciso da sua permissão para te trazer dos mortos. – isso soou como a coisa mais imbecil que eu já ouvi. Para não acabar fazendo como Tillie, resolvi me levantar e sair de perto de Zander.

Faelern estava novamente sozinho e não havia sinal de Tillie e Seena. Por um momento pude jurar que o elfo parecia triste. E realmente devia estar. Ele parecia completamente deslocado, a paisagem não combinava com ele, as pessoas eram totalmente diferentes do que ele estava acostumado na ilha. Me senti na obrigação de perguntar ao menos se ele estava bem, afinal era minha culpa ele ter que me escoltar até tão longe.

– Está bem, Faelern? Parece triste...

– Solyn... – já havia desistido de tentar fazê-lo entender que meu nome era Aida – esse Zander... A quem ele é realmente leal?

– O que quer dizer?

– O pai dele... Eu o conheço. Se alguém neste mundo merece morrer, esse alguém é ele. A hora está chegando e quando isso acontecer, Eanna me ajude, eu não vou hesitar. Tenha certeza de que seu amigo não estará em meu caminho.

– O que ele fez par te deixar tão irado? – além de ser um completo idiota é claro... Não importa o que Zander fez, ele não tinha o direito de constrangê-lo daquela forma na frente de ninguém.

– Solyn, nem sempre eu vivi na Ilha do Solstício. Eu costumava viver em Odarga, no Acampamento do Fogo, assim como meus irmãos e irmãs. Eu tinha uma noiva, Laela. Ela era uma elfa da lua, mas tinha o coração mais bondoso que eu já tive o prazer de conhecer. – eu jamais imaginei ver Faelern tão abatido, nunca o vi como alguém com sentimentos, novamente eu me senti péssima. – Quando os elfos da lua começaram a guerrear contra os Lith, ela estava tão envergonhada... Tão triste. Ela decidiu voltar para Ildis e ajudar os Lith a escapar. Eu implorei que ela não fizesse isso, temia por sua segurança, mas ela era teimosa... – ele perdeu a fala por um instante. Eu não sabia o que dizer. – Um dia ela... Ela ajudou um grupo de Liths a escapar da cidade, mas os elfos a encontraram e o homem que ordenou sua execução foi Lorde Morthil. Então Solyn, eu não me importo a quem seu amigo é leal, mas o pai dele vai pagar pelo que fez.

Me senti um monstro por sempre gritar com ele.

– Me desculpe por sempre ser rude com você... Eu nunca imaginei que tinha razões para ser tão sério...

– Não se preocupe com isso, além do mais isso aconteceu há muito tempo.

Foi então que me veio à mente – Espere... O massacre dos Lith aconteceu há mais de um século... Quantos anos exatamente você tem?

– Trezentos e setenta e três. – ele respondeu calmamente.

– Whoa... Isso é equivalente a quantos anos humanos?

– Cerca de 37 eu imagino.

Tive que segurar o riso, mas no final das contas eu simplesmente não consigo deixar de importunar o elfo.

– Precisa de algum remédio para suas costas, vovô? Tem certeza que vai conseguir acompanhar nosso passo?

– É impossível conversar com você, Solyn. – ele se afastou, parecendo ao menos mais animado por ter desabafado.

Resolvi dar uma volta no comércio próximo, Tillie já havia me garantido que aquela região era totalmente segura e que eu não seria vista por pessoas indesejadas, o que eu achava ótimo. Tinha que encontrar uma biblioteca e pegar alguns livros para que Faelern pudesse traduzir os diários.

Entrei em um bar que parecia bastante animado. Quão boas serão as bebidas de Ildis? Talvez eu devesse provar.

Mas é claro que em qualquer lugar que eu vá, está acontecendo alguma confusão...

– Ora vamos, tio... Só uma! – um jovem parecia bastante determinado a conseguir que o atendente do bar o ouvisse.

– Desculpe garoto, são ordens do seu capitão. Nada de bebida para os filhotes.

Eu conhecia aquele modo padrão de se vestir de algum lugar... Sentei-me a poucos bancos de distância do garoto, ele não parecia ter mais de dezessete anos.

– Oh, e você quem é? – ouvi ele se virar para mim quando sentei. Essa criança vai mesmo dar em cima de mim? – Sabe doçura, podíamos ir para a minha casa e você sabe... – ele se levantou e se aproximou. Se não estava bêbado e já agia assim, que os deuses me livrem de ter que dar uma surra nele depois de encher o caneco, mas não foi preciso, alguém se encarregou de fazer isso quando ele se aproximou demais.

– Vai precisar melhorar muito suas habilidades antes de conseguir algo com alguém como ela... – eu conhecia aquela voz e por algum motivo estranho, senti que éramos melhores amigos, irmãos. Me virei para ver aquela cabeleira desajeitada e loira.

– Jace! – pulei nele, recebendo um abraço apertado de volta. Ele se demorou um pouco olhando para minhas roupas típicas de Ildis, sorriu em seguida e balançou a cabeça bagunçando ainda mais os cabelos.

– Eu deveria saber que seria necessário mais do que um bandido famoso, a queda de uma torre e um ritual de necromancia para matar você... – ele tinha certo humor na voz. – Na verdade isso me deixa com um pouco de medo de você...

– Estou me acostumando a quase morrer, sabe como é... – respondi rindo.

– Não... Não se acostume com isso gracinha, não podemos nos acostumar a perder você. – ele tinha um jeito terrivelmente encantador de falar e se mover, não lembrava muito o idiota que conheci no bar há um ano.

– Então... Aquele garoto? – perguntei curiosa para saber mais sobre o jovem que ele estapeou.

– Bem, estou revivendo a ordem dos cavaleiros... Acho que já está na hora, sabe. – ele sorriu orgulhoso – E me desculpe pelo fedelho... Ele pode ser um idiota ás vezes, mas tem boas intenções.

– Ora, me lembra alguém que eu conheço. – ri.

– Ah é mesmo? E quem seria?

– Bem, um idiota por aí... Da última vez que o vi, ele estava protegendo minhas costas numa luta para chegar ao topo de uma torre.

– Oh... E o que aconteceu com ele? – Jace devolveu com humor.

– Ora, me diga você...

– Você é boa nesse jogo, gracinha... Diga-me o que quer saber, sabe que gosto de conversar com você.

– Vamos, me diga mais sobre reviver a ordem dos cavaleiros. – ele se sentou ao meu lado, pedindo duas cervejas.

– Bem, estou reunindo órfãos e crianças que não tem onde ficar. Os ensino a lutar e algumas coisas básicas como ler e escrever, lhes dou comida e abrigo. É o mínimo que alguém pode fazer pelo próximo e posso lhe dizer que esses elfos não gostam muito dos humanos.

– Ah, eles não gostam de ninguém... Nem deles mesmos. – falei sério desta vez. Jace riu.

– Não posso voltar para Valond depois do ocorrido com Diego e os Águias, sendo assim me resta aguardar em Ildis até que as coisas se acalmem. E com você por perto, duvido que qualquer coisa vá se acalmar. – ele riu novamente, provavelmente da cara que eu fiz para ele. – Vamos, pode me xingar.

– Você gosta quando sou má com você. – devolvi a resposta bem afiada para ele. Infelizmente eu tinha essa terrível mania de flertar com quase todo mundo, mesmo que não fizesse de propósito, quando via, já tinha feito. Ríamos enquanto trocávamos farpas e flertes. Não me lembrava de me divertir conversando com Jace, mas ele parecia a melhor companhia de todas agora.

– Ah claro, seja muito mais malvada, terrível pequena mulher!

– Não zombe da minha altura só porque você é maior!

Conversamos um bom tempo e nos divertirmos, mas reconhecemos que não era sensato ficarmos bêbados agora, afinal ele tinha um acampamento cheio de garotos para serem treinados e eu ainda tinha que encontrar os livros para Faelern. Nos despedimos e então eu segui para encontrar uma livraria mais á frente.

Entrei sem hesitar, mas logo fui barrada por uma elfa que cuidava do lugar.

– Desculpe, essa biblioteca é exclusiva para moradores de Ildis e estudantes... – ela começou, mas logo senti alguém maior que eu atrás de mim.

– Ela está comigo. – era a voz de Zander.

– Mestre Zander! – a mulher parecia feliz em vê-lo – Ouvimos que você...

– Sim, eu sei. – ele foi rápido em acabar com a conversa, provavelmente porque já tinha ouvido todo o tipo de coisa em poucas horas.

“Mestre Zander” e eu pensando que ele era apenas o filho de um Lorde... Ele se limitou a me ajudar a entrar na biblioteca, mas em seguida seguiu para o corredor com seus próprios interesses.

Não foi fácil achar livros sobre Kadan em uma biblioteca tão enorme. Confesso que passei boa parte do tempo observando o quão maravilhoso era aquele lugar. O teto era de gesso e totalmente coberto por pinturas de eras atrás, as prateleiras com livros eram enormes e os corredores pareciam infinitos. Finalmente encontrei a seção sobre línguas antigas e a prateira com inúmeros livros em Kadan, como escrever e ler em Kadan, um livro para traduções, dicionários e todo o tipo de coisa sobre a língua.

Passei mais um bom tempo selecionando alguns livros para Faelern e quando voltei para a recepção, ouvi a voz de Zander. Era bom que ele ainda estivesse ali, afinal seria difícil sair com o livro se ele não estivesse, mas então ouvi uma voz que me paralisou completamente.

– É tão bom te ver... Não sabe o quanto fiquei preocupada com você, Zander. Tillie também, embora eu duvide que ela tenha dito isso...

Sky...


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam do capítulo? Grandinho em comparação ao último, não é? hehehehe
Bem, eu espero de coração que tenham gostado... se é que meus leitores ainda estão em algum lugar por aí... perdoem-me o abandono (mais um vez).
Charlie ama vocês! Beijos, até mais!



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