Para May.

“Ela é introvertida”, pensou Sasuke, enquanto via sua filha brincando, a alguns metros de distância, na caixa de areia do parquinho. Estava sentado em um banco, sob uma sombra, a mente passeando enquanto Sarada construía castelos com os baldes e pás que seus avós maternos deram-na, dias antes, como um mimo.
Sakura mostrara-se preocupada sua filha, e as coisas que dissera não deixavam sua mente. Sabia que a menina não era das mais sociáveis, e tinha medo que acabasse crescendo solitária. Frequentemente, ele saía em missões e chegava a passar semanas fora, e tão logo a menina entrasse na Academia Ninja, Sakura voltaria a trabalhar no hospital de Konoha, e seu horário poderia ser, por vezes, incerto. Sua esposa insistia em levar a filha deles para brincar com os filhos de Naruto, mas Sarada sempre voltava para casa reclamando sobre como Boruto era barulhento, e suas brincadeiras, espalhafatosas demais.
— Você sabe, mamãe — Sarada disse, certa vez, enquanto montava seus legos, — eu prefiro brincadeiras quietas. Posso ouvir o Doninha melhor assim.

—Doninha? - Sakura arqueou uma sobrancelha. —Quem é esse?

— Meu amigo. Ele disse que você não pode vê-lo.

E naquela noite, Sasuke ouviu a história de Sakura. Sua esposa concluiu que a filha deles sentia-se tão só e deslocada que criara um amigo imaginário, para suprir a falta que colegas reais, de carne e osso, lhe fazia.

Absorto em pensamentos, Sasuke demorou alguns segundos para perceber que Sarada estava ao seu lado. Provavelmente, a menina estava cansada, ou com fome, e queria ir para casa. Olhava-o com os olhos negros e expressivos, a armação de óculos coral contrastando com sua pele clara.

— Papai — disse, prendendo-lhe a atenção. —Doninha me pediu para te dar um recado.

Sasuke estava curioso. Fitava a filha, um meio sorriso percorrendo em seus lábios. Oras, se sua menina sentia-se bem com seu Amigo Imaginário, Sasuke não reclamaria com ela. Ele mesmo, quando criança, arrastava seu dinossauro de pelúcia por todos os cantos da casa, conversando com ele e imaginando respostas.

— Ele falou, — Sarada começou, pondo-se em pé no banco, para ficar mais alta que o pai, esticando os braços e os dedos — que sempre estará com a gente.

Sasuke gelou ao ver o dedo indicador e médio de Sarada contra sua testa, um gesto repetido tantas vezes por seu irmão, no passado, que ia além de um pedido de desculpas; o "eu te amo" silencioso de Itachi..

Um calafrio percorreu seu corpo.

E Sasuke lembrou-se que o nome “Itachi” queria dizer doninha.