Durante os dois primeiros dias Emma e Regina não saíram de casa. Cersei e Jaime ficavam o tempo todo por perto, conversando e querendo saber até os detalhes da vida da filha longe, essa era a segunda vez desde que se mudou que ia pra casa dos pais.

Regina havia superado sua timidez, o que era encantador aos olhos da namorada. Sem ver o tempo passar, havia passado uma tarde conversando com Jaime em sua oficina de brinquedos, um velho hobby que o homem tinha. Dos assuntos mais banais até mesmo politica. Com a sogra, se entenderam ainda mais na cozinha. A morena tentava aprender as receitas, mais uma única tentativa de fazer o bolo a fez desistir, o mesmo ocorreu com a mais velha. Cersei tentou aprender uma receita de torta de maça da nora, uma tragédia. Regina fez a sua que todos comeram até lamber os dedos.

Passado dois dias, Emma chamou a namorada para conhecer a cidade, que por sua vez adorou a ideia. Caminharam na manhã pela praia. Emma apresentou seu “forte”, uma casa de madeira na areia que brincava quando criança. Na hora do almoço decidiu apresentar a melhor lanchonete do mundo. Regina não poderia nunca ir embora sem conhecer aquele lugar.

– Granny! – Emma correu até o balcão puxando Regina pelas mãos.

– Achei que não ia vir me ver. – Fingia num tom bravo. – Achei que não traria minha nova neta para conhecer.

Regina sorriu, pouco sem graça e já imaginando que aquela seria a lanchonete de Ruby e a senhora ali, sua avó.

– Nunca viria pra cá e deixaria de te ver. – Disse Emma no seu tom mais doce. – É que a senhora sabe, dona Cersei quase não deixa os filhos saírem. – Brincou, mas era um fato. Todos conheciam a imensa proteção da mãe. – Mais então a fofoqueira já te contou?

A senhora deu uma risada. – Eu reconheço seu tom de voz, Emma querida. E antes de vocês virem, já tinha perguntado pra Ruby.

– Essa é Widow, conhecida como Granny. Avó daquela tagarela. – Brincou a loira. – Essa é Regina, minha namorada – Abriu um largo sorriso.

– É um prazer conhecer a senhora. – Disse Regina. – Ruby não se cansa de falar das suas comidas e o quanto a senhora é especial.

– Oh querida, aquela menina é exagerada. – A mulher sorriu. – Sentem-se e fiquem a vontade. Vou trazer o especial da casa pra vocês. – Se quer a mulher esperou resposta e já foi pra dentro.

Regina e Emma conversavam enquanto esperavam seus pratos. Uma estava de um lado da mesa, e a outra do outro lado, mas tinham os dedos entrelaçados em cima da mesma.

– Então quando a minha avó morreu, minha mãe foi morar com Widow que é sua madrinha. Ela cresceu como se fosse filha mesmo e isso só aumentou quando a mãe de Ruby morreu, logo no nascimento dela. – A loira explicava a confusão da família. – E Ruby foi criada muito pela minha mãe, tínhamos a mesma idade e resumindo, somos uma família só.

– Entendi querida. – Levou as mãos até os lábios, beijando a pele branca da loira. – Estou feliz em você partilhar suas histórias comigo.

– Eu compartilho tudo que você quiser. – A loira sorriu, mas isso logo se desfez ao ver o grupo de pessoas que entravam na lanchonete. – Se bem que algumas histórias não seriam tão legais.

– E por que diz isso? - A morena observou os olhos verdes que seguiam o grupo que acabara de entrar.

– Hum, posso dizer que boa parte dessa cidade me odeia. – Forçou uma risada, agradecendo de ser poupada de contar tal história quando Ruby sentou-se ao seu lado na mesa.

– Como as bonitas estão passando?

– Estamos ótimas, muito sexo! – Regina abriu um largo sorriso.

– Estamos ótimas bastava. – Brincou Ruby.

– E o que aconteceu? – Emma olhou pra Ruby, por tantos anos, era fácil conhecer a expressão de zangada da amiga.

– Ah Emma, estou com ódio que você nem imagina. – Antes que pudesse terminar, Granny se aproximou trazendo o especial para dois.

– Ei Ruby, era pra você ta aqui bem mais cedo.

– Desculpa vó? - Bastava aquele olhar do Gato de Botas que a mais velha não ficava brava. – Perdi noção enquanto dormia.

–Vou mandar trazer algo pra você comer também. – Disse a mais velha, já deixando as jovens a sós.

– Agora continua. – Regina perguntou toda curiosa.

– Você não vai entender muito bem, mas é assim, quando me mudei pra Los Angeles, terminei meu relacionamento de cinco anos. E hoje acabo de descobrir que em menos de uma semana que mudamos, Neal estava saindo com a filha de uma puta da Alice Land e atualmente namoram.

– Ahhhhhhhhhh! – Emma obteve uma expressão assustada. – Alice Land? Oh Ruby, eu sinto muito. – Virou-se pra namorada. – Alice é uma loira que desde sempre fez tudo para atrapalhar o namoro dos dois.

– Pois é. – Resmungou Ruby. – E eu tentando me comportar em Los Angeles.

– Exceto com Killian né? – Emma falou segurando a vontade de rir.

– Eu não namorava Emma, não precisava ficar na seca pra sempre e nós não temos nada. – Falou Ruby, cruzando os braços;

Depois de um mês se comportando em Los Angeles, Ruby havia se rendido aos encantos do cunhado da amiga, porém nenhum dos dois queria algum tipo de relacionamento, fazendo então um trato de amizade colorida.

Após uma tarde sentada e conversando, combinaram de a noite irem ao bar mais gostoso para se passar as noites na cidade. Habbit Hole possuía som ao vivo, mesas de sinuca e alguns jogos quais não prestavam atenção. Um bom banho e trocaram de roupa, comeram a janta que Cersei havia feito e então o casal junto de David foram buscar Ruby e seguiram para o bar.

O local estava bastante movimentado para uma cidade pequena, a música era suave e o ambiente agradável. Colocaram suas coisas e pediram bebidas em uma mesa ao lado da grande mesa de bilhar, logo formaram pares e iniciaram a partida. Emma e Regina formaram uma dupla, enquanto David se juntou a Ruby.

– Agora é sério, isso se torna injusto por que eu não sei jogar. – Regina dizia pela décima vez.

– Ok, Regina. – Ruby voltou os olhos para David. – O motivo de você ser a dupla da Emma é justamente isso, você tem cara de que não joga e sua namorada é fera em bilhar.

– Fera? – Então a morena observou a loira que passava giz em seu taco. Aproximou com um sorriso nos lábios, ao ver que Ruby e David caminhavam até a mesa para preparar o jogo. – Então minha namorada é fera no bilhar? – Sorriu com malicia.

– Esteja pronta pra todas as vitórias essa noite meu amor. – Respondeu a loira, depositando um beijo demorado nos lábios da morena.

– Emma! – O tom era baixo mais como quem repreende.

– Querida, todos aqui sabem do que eu gosto. –Abriu um largo sorriso. – Já sacaram que você tá comigo. – Piscou indo até a mesa, seguida pela morena.

O jogo começou e a primeira partida foi pouco difícil, pois realmente Regina não tinha conhecimento sobre bilhar, pouco sabia segurar no taco e menos ainda conseguia acertar as bolas na caçapa. David e Ruby iniciaram a partida muito bem, mas como já dito, Emma era incrível nesse jogo e o virou, ganhando. Depois veio a segunda partida e mais bebidas.

– Ah meu amor! – Regina quase pulou no colo da loira e beijou seus lábios. – Nunca imaginei que eu pudesse ganhar tanto nesse jogo. – Brincou a morena. – Mas realmente, preciso me sentar. – Sua voz pareceu cansada.

– Mais uma Regina. – Pediu Ruby.

–É sério gente. – Um breve suspiro. – Eu não estou acostumada a jogar isso, não tenho o dom. – Seus olhos pareciam suplicar para os três. – Arrumem outra pessoa, por favor? – Pediu, já na mesa bebendo um gole do seu drink.

Antes que algum dos três tentasse algo, o silêncio predominou o local com o grupo que se aproximou. Dois homens e duas mulheres que todos ali conheciam bem, se não Regina.

– Talvez vocês devessem concordar com que ela sente e aceitar um desafio para relembrar os velhos tempos. – Uma loira extremamente linda disse.

Os olhares de David e Ruby eram apreensivos, observando Emma e qualquer reação que a mesma pudesse ter.

Emma tentou ter o melhor dos sorrisos, que fosse menos forçado. – Acho que não, Elsa.

– Você não negava antes, Emma. – Disse um dos rapazes, o loiro.

– Devo concordar. – Disse Ruby, se arrependendo ao ver o olhar da amiga. – Mas o tempo passa. – Tentou consertar, já percebendo o “cale a boca” nos olhos de Emma.

– Passa sim, mas a vontade de ganhar qualquer desafio passou? – A loira recém-chegada se aproximou de Emma com um sorriso nos lábios.

– Não. – Disse a loira, se afastando e indo até Regina.

– Se eu fosse você, voltaria para lá agora e ganharia deles Swan. – Regina disse no tom mais baixo, para que só Emma escutasse. – Te recompenso a noite. – Selou os lábios rosa claro.

– Isso é demais! – Uma voz baixa e repugnante veio do grupo, porém ninguém deu importância, enquanto os dois meninos arrumavam a mesa.

– Aquela loira é Elsa, a morena ao lado é Tiana. Aqueles são Kristoff e Hans. – Emma apresentava de longe os conhecidos pra namorada. – Provavelmente Elsa jogara com Kristoff, como sempre.

– E qual é o lance? – Regina encarou os olhos verdes.

Emma sabia que não tinha uma namorada boba e com certeza já havia percebido o clima estranho no ar. Não que fosse um estranho ruim, era apenas um desconforto visível.

– Que lance? – Perguntou Emma, rindo da expressão contorcida de Regina. – Não é nada, é passado. – Deu um sorriso, transparecendo segurança. Me deseja boa sorte? – Perguntou.

Regina sentiu seu coração derreter com os olhos doces de Emma. – Você não precisa, mas boa sorte amor. – Sorriu e em seguida depositou um suave beijo na bochecha da loira. – Por mim.

– E pra você, querida.

Emma se afastou da morena e aproximou do irmão. David tinha um sorriso nos lábios, sabia que seria um bom jogo. Tanto Elsa como Emma jogavam incrivelmente bem, foi isso que as uniu e as separou. Kristoff e ele também levariam os créditos por ótimas jogadas.

A partida foi iniciada enquanto a tensão no ar aumentava ainda mais. Regina podia ver bem que o nervosismo existia entre os quatro. Havia mais que uma rivalidade no jogo? Sim, havia, porém naquele momento era apenas o jogo que falava, cada tacada era uma emoção narrada por Ruby.

A partida era finalizada com uma tacada de Emma, que facilmente encaçapou a última bola.

– Arrasou! – Gritou Ruby, que vinha se aproximando ao lado de Regina.

Até chegarem, Elsa aproximou antes. – Parabéns Emma.

– Obrigada. – Deu um sorriso pouco tímido.

– É bom ver que você tá feliz com alguém, acho que fui a única a não te desejar o mal.

– Você era igual a mim, Elsa. Por isso me entendeu quando te larguei. – Emma observou os olhos azuis parados a sua frente e se recordou das breves semanas que esteve com a loira. Uma partida de bilhar e começou um relacionamento que poderia ter dado certo se não fosse o medo de Emma com coisas que significasse se privar um pouco. Era jovem, rebelde, fez coisas das quais não tinha orgulho. Relacionamento e sentimento não existiam, era uma jovem fria com medo do calor. Naquela cidade, entre várias histórias, Elsa foi o mais perto do quente que Emma esteve e sem explicação parou de falar com a garota. Só se encontravam nas mesas de bilhares do bar, jogavam mais nunca conversavam. Elsa entendia Emma, pois igualmente a loira, estava prestes a pular do barco. Ambas tinham o mesmo gênio e não combinariam num relacionamento.

– Exato! – Ela abriu um largo sorriso ao ver Regina e Ruby ao lado da loira. Revirou sua bolsa atrás de um papel, anotou alguma coisa, dobrou ao meio e entregou para Emma. – Se quiser, me liga. – Observou a reação de Regina e antes de se afastar completou para a morena. – Você tem sorte. – Se afastou, seguida dos companheiros.

– Será que vou ter que pedir ou você vai me explicar que cena foi essa? - Os olhos chocolates pareciam fuzilar a loira.

– Elsa é extremamente sem noção. – A loira amaçou o papel jogando na lata de lixo ao lado. – Eu te amo. – Puxou a namorada para um beijo.

– Eu vi como ela te olhou! – Disse a morena, empurrando Emma.

– Você fica linda com ciúme. – A loira falou enquanto traçava uma linha com o dedo no cenho da namorada. – Fica enrugado aqui. Te deixa com cara de menina brava.

– Para Swan! – Esbravejou.

– Fala de novo. – Emma mordeu o lábio inferior.

– Idiota!

Então sem se importar por estarem em um bar, Regina se deixou levar ao sentir os lábios de Emma invadindo os seus.

– Não estamos num motel. – Pigarreou David, fazendo as três mulheres rirem. – Por sinal, acho que devemos ir embora. – Disse com a cara de preguiçoso. David nunca foi um rapaz de ficar na rua até tarde, era sossegado e caseiro.

Então os quatro pagaram a conta e saíram cantando alegremente “YMCA”. Deixaram Ruby e seguiram os próximos quarteirões.

Ao chegar em casa, Cersei e Jaime estavam assistindo televisão, como sempre não iam dormir até os dois filhos estarem em casa. Conversaram sobre o bar e logo cada um estava em seus quartos.

Após um bom banho, Emma e Regina estavam deitadas, a loira aninhada nos braços da morena.

– Quer perguntar algo? – Acariciou o ombro da namorada, sentindo uma leve inquietação.

– Qualquer coisa faça você se mover daqui pode ficar pra amanhã. – Regina sorriu enquanto beijou delicadamente o topo da cabeça de Emma. - Boa noite meu amor.

– Boa noite. - Emma resmungou, cheirando carinhosamente o pescoço da namorada.