La Princesse Perdue escrita por La Princesse Perdue
Notas iniciais do capítulo
- Primeiramente gostaria de pedir perdão pela demora, essas semanas foram bastante corridas e esse capítulo foi especialmente difícil de escrever.
— Espero que gostem. ♥
— Já está na mesa. – a voz da mãe ecoou escada acima.
O cheiro de waffles recém saídos do forno espalhava-se pelo ambiente em um aroma delicioso, como um convite batendo de porta em porta. Anya escutou as risadas das duas garotinhas atravessarem o corredor e não demorou para ser contagiada por sua energia. Não importava o dia ou a hora, aquelas duas eram capazes de iluminar seu dia.
Com uma última olhada para o espelho, a garota inspecionou a sua aparência. Os cachos loiros caíam com suavidade sobre seus ombros, o vestido verde florido realçava seus olhos e a bolsa estilo carteira sobre seu ombro dava um toque ainda mais vintage ao look. Anastasia sorriu para seu reflexo uma última vez antes de juntar-se à família.
A sala de jantar, onde faziam todas as refeições, estava silenciosa. Os sorrisos foram substituídos por uma expressão de choque e confusão. “As revoltas em Londres tomaram proporções inimagináveis. Praças foram incendiadas, transportes coletivos vandalizados e um hospital público invadido e destruído nessa madrugada de sexta feira. O número de vítimas chega a mais de sessenta pessoas, dentre feridos e mortos. O exército militar britânico foi incapaz de conter os rebeldes e a população está pagando o preço por sua ineficiência. O parlamento está reunido discutindo a respeito das medidas que serão tomadas e logo mais a rainha fará um pronunciamento.” – anunciou a jornalista da CBN.
A tensão suspensa no ar era palpável. Com uma troca de olhares os pais chegaram a um acordo silencioso. As circunstâncias eram drásticas e por isso exigiam medidas desesperadas.
Tão subitamente quanto havia sido formado, o gelo foi quebrado por um sorriso caloroso de Alícia.
— Vamos, meninas! Está na hora de ir à escola. Giuseppe já as espera. – falou bagunçando seus cabelos.
Ambas as garotinhas caíram na gargalhada, sendo envolvidas pela alegria da mãe. Anastasia assistia à cena estática, incapaz de absorver tantas informações. A transição tão súbita para um ambiente mais caloroso e aconchegante contribuiu para deixá-la ainda mais confusa. Ela poderia ter sido facilmente manipulada por aquelas emoções, se não estivesse tão chocada.
Dominique se aproximou sem que ela percebesse e pegou sua mão, no entanto, logo foi interceptada pela mãe.
— Não, meu amor. A Anya vai depois. Antes seu pai precisa conversar com ela. – disse em um tom de voz calmo que transmitia confiança.
Anastasia pôde ver a mistura de sentimentos que passaram sobre os olhos azuis de Nique. Dúvida quanto à resposta recebida, receio do porquê de sua irmã não poder acompanhá-la e, por último, conformação. De uma forma inédita, Dominique Vignerot du Plessis aceitara um não como resposta sem argumentar. Os olhos verdes da duquesa se arregalaram em surpresa.
A jovem permaneceu alguns segundos encarando a porta por onde as três haviam saído. Ao virar-se se deparou com a expressão nada alegre e amigável de Jean, contrastando-se com o sorriso estampado no rosto de Alícia, o qual ela tinha ainda mais certeza de que não passara de uma farsa.
— Anastasia... – ele murmurou como em um suspiro. As palavras pesavam em seus lábios, carregando uma responsabilidade grande demais para apenas um homem. — Sua mãe e eu precisaremos fazer uma viagem de emergência. E você será responsável por cuidar de suas irmãs durante o tempo que passarmos fora. Tentaremos manter contato... No entanto... Muito está em jogo e não podemos arriscar colocar a vida de vocês em perigo também. – continuou como se despejasse informações sobre um de seus companheiros diplomatas.
Anya o fitava boquiaberta. Seus neurônios pareciam ter parado de funcionar. Os músculos não obedeciam aos seus comandos. Muitos mistérios rondavam o ambiente, implorando para serem descobertos, mas sem se permitir serem encontrados. Eram muitas perguntas sem respostas. E Anya odiava não estar ciente da situação. O sentimento era semelhante ao vivido por uma vítima de um sequestro; ela estava imponente, sem reação, atordoada.
Seu pai percebeu que era muito para processar e por isso fez uma pausa. O homem aproximou-se lentamente e a envolveu em um abraço protetor, semelhante ao usado para ampará-la após um pesadelo, quando era menor.
— Continue com sua vida normalmente. Tente não chamar muita atenção. E, acima de tudo, prometa-me que vão se cuidar.
— Eu... Eu... Eu não posso. Eu não conseguiria. Vocês não podem ir. Não podem nos deixar sozinhas! – exclamou, surpreendendo-se com sua voz elevada.
— Anya... Você terá que confiar em mim. Prometa-me que ficarão a salvo. Prometa-me. – repetiu; dessa vez seu tom calmo fora substituído por um desesperado. — Uma última coisa: vocês não devem nos ligar. Esperem por nossa ligação.
A garota apenas concordou com a cabeça, ainda sem entender o que estava acontecendo. Uma lágrima solitária escorreu por sua face. Nela estavam contidas todas as emoções acumuladas em suas entranhas: medo, devastação, desespero, aflição, nervosismo...
Jean aproximou-se e depositou um beijo carinhoso no topo de sua cabeça, lançando-lhe um último olhar compreensivo antes de sua expressão transformar-se em uma máscara sem emoções.
— Lady Vignerot Du Plessis? A senhorita está atrasada. – chamou Giuseppe da porta.
— Sim, sim, Giuseppe. Estou indo. – gaguejou limpando a lágrima de seu rosto.
∞
Já era metade do dia e Anastasia não se sentia bem. As primeiras aulas passaram sem que ela sequer notasse. Os professores falavam, mas ela não era capaz de ouvi-los, era como se nem estivessem no mesmo local. A garota fora chamada duas vezes e em ambas Sophie respondera por ela. Anya recebera queixas inclusive de sua melhor amiga, a qual costumava ser bastante compreensiva em situações atípicas; no entanto, ao deixá-la sem respostas, a duquesa despertara o seu pior lado. Mas como ela a explicaria?
Desamparo. Era esse o sentimento que lhe perseguia em meio aos corredores tumultuados. O prédio antes visto como uma estrutura arquitetônica imensurável, agora lhe provocava claustrofobia. As paredes brancas pareciam se fechar a sua volta. A luminosidade intensa tirava-lhe a visão. Gotículas de suor acumulavam-se em sua testa, dando-lhe uma aparência apática. A cabeça começava a girar tornando tudo um borrão.
Anastasia deu alguns passos para trás e apoiou-se contra seu armário, tentando se equilibrar. Sua pele encontrou o metal frio, fazendo um calafrio percorrer a sua espinha. O som metálico produzido pelo sinal da escola parecia ser capaz de estourar seus tímpanos. Os passos e murmúrios tornaram-se mais altos, abafando seus sentidos e pensamentos.
Aaron a avistou de longe e sorriu ao se encaminhar até onde a garota se encontrava, no entanto, o sorriso presunçoso se desfez ao vê-la mais de perto. Os fios loiros estavam pregados à testa devido ao suor, as olheiras profundas abaixo de seus olhos estavam realçadas em contraste com sua pele ainda mais branca do que o normal e a boca seca em nada se assemelhava aos lábios rosados que ele tanto desejava. O coração do rapaz saltou dentro de seu peito, fazendo seu sangue ferver.
— Anya? – chamou, apressando seu passo.
O corpo de Anastasia pendeu sem força para o lado, quase encontrando o chão. Todavia, ela foi amparada pelos braços fortes de Aaron, o qual evitou que os estragos fossem maiores.
— Anastasia, acorde! Anastasia! – pediu com mais urgência, mas a loira jazia inconsciente em seus braços.
Em um movimento ágil, Aaron a pegou no colo e foi até a enfermaria, abrindo espaço por entre os olhares curiosos.
∞
À medida que Anastasia recuperava a consciência, os sons à sua volta tornavam-se mais nítidos. O bip produzido pelo ar condicionado, o dedilhar das teclas de piano da sala de música ao lado, o clic do mouse do computador da enfermeira e, o que mais lhe chamava atenção, a respiração descompassada de alguém ao seu lado.
Anya permanecia com os olhos fechados, as pálpebras pesadas demais para que pudesse erguê-las, contudo, seus outros sentidos pareciam aguçados. Um toque em sua mão fez seu corpo relaxar. O tilintar dos saltos altos contra o chão também tiveram o mesmo efeito calmante. Lentamente seus olhos começaram a se abrir, levando sua pupila a ser contraída devido à claridade das luzes brancas que iluminavam o ambiente.
— Bom dia, bela adormecida. Achei que não acordaria mais. – Aaron provocou e soltou sua mão discretamente, tentando esconder a vergonha.
Anastasia fitou-o por alguns instantes. Os cabelos negros estavam bagunçados, mas não da forma charmosa como ele usava todas as manhãs, estava mais para descabelado; os olhos azuis tinham um brilho apagado repleto de preocupação; e a camisa amassada escapava da calça, como se ele tivesse participado de uma corrida trajando vestes sociais. Tudo em sua aparência gritava que algo estava errado, mas Anya não teve a oportunidade de indagar o que era.
— Como ela está? – a enfermeira questionou, tirando o aferidor de pressão da caixa.
— Acabou de despertar, ainda está um pouco pálida, mas parece melhor. E creio que não faça ideia do que ocorreu. – respondeu Aaron, o tom brincalhão substituído por um sério e controlado.
Nesse momento Anya caiu por si e foi varrida por milhões de dúvidas. O que Aaron estava fazendo ali? O que havia acontecido? Por que ele parecia tão preocupado? Logo ele dentre tantos outros. A garota queria responder por si mesma, dizer que podia cuidar-se sem a ajuda dele, mas parecia que um gato havia comido sua língua, como diria Nique.
A enfermeira deve ter notado a expressão confusa emoldurada por seus cabelos claros, pois soltou um risinho abafado e apressou-se em explicar o que havia acontecido.
— Srta. Vignerot du Plessis, não se preocupe, não foi grande coisa, apenas uma queda de pressão. Sorte a nossa o Sr. Vermont estar por perto no momento em que desmaiou. Os estragos poderiam ter sido muito maiores. – comentou, virando-se para o rapaz e o olhando com admiração.
Aaron não pareceu sequer notar o olhar que lhe fora direcionado, estava concentrado demais na garota deitada à sua frente. Seus olhos azuis capturavam cada movimento e detalhe de suas feições angelicais, procurando um sinalizador de que algo continuava errado.
Anastasia segurou o olhar por alguns instantes, atordoada por seus olhos azuis de uma profundidade até então desconhecida.
Uma garota de cabelos castanhos entrou correndo pela enfermaria, interrompendo a conexão que se formava entre os dois jovens ao atrair a atenção daqueles presentes.
— Anastasia! Como você pôde? Eu passei a manhã toda reclamando da sua falta de atenção e diversas vezes lhe perguntei se havia algo errado e você disse que não! Você sabe como eu fiquei quando me avisaram que você havia sido carregada pelo Aaron até a enfermaria? Não acreditei, é claro! Minha amiga jamais aceitaria ajuda daquele arrogante e... – Sophie começou a tagarelar, até o momento não parecendo estar ciente da presença do rapaz ao lado da cama onde Anya se encontrava. Ao notá-lo ela deu um sorrisinho amarelo. — Er... Oi, Aaron. – murmurou com as feições tão vermelhas quanto a blusa de cetim que usava.
— Pelo que posso ver, sua pressão já se regularizou. A situação não passou de um susto. Eu vou preencher algumas prescrições e logo trarei a autorização para que ambos possam voltar à aula. – disse a enfermeira, a qual parecia estar se divertindo bastante com a situação.
Sophie fuzilou Anya com o olhar, enquanto a loira apenas encolheu os ombros em um sinal de inocência.
— Acho que essa é a minha deixa. Até mais, gatinha. Quando estiver precisando de um super herói para lhe salvar novamente, sabe onde me encontrar.
Aaron lançou-lhe um sorriso deslumbrante e uma piscadinha que seria capaz de tirar qualquer outra aluna de seu estado de sanidade. Anya corou e revirou os olhos, vendo-o ir embora.
— Dá para acreditar nele? Super herói? – bufou — Quem ele acha que eu sou? Uma dama indefesa que precisa de resgate?
Sophie não pôde evitar rir.
— É, claro... Também vai dizer que aqueles olhos azuis e sorriso branco não produzem nenhum efeito em você, Anya? Você deveria ver seu rosto nesse instante, parece sua irmã quando tenta se maquiar sozinha.
O comentário contribuiu para esquentar ainda mais seu rosto, em uma mistura de raiva e embaraço.
— Muito engraçado, Sophie. – bufou cruzando os braços a frente do peito.
A morena caiu na gargalhada. Seu riso era acolhedor e seguro, logo envolvendo a loira também em seu bom humor.
— Prometa-me nunca mais me dar um susto como esse. – disse por fim, suas feições rígidas, sem nenhum traço do divertimento compartilhado há pouco.
Anastasia assentiu, mas seus pensamentos estavam muito longes dali.
∞
Um suspiro cansado escapou da boca de Anya. A garota se jogou no sofá após um exaustivo dia de estudos. Já passava das 23:00 quando ela chegou em casa e por esse motivo encontrou suas duas irmãs dormindo. A loira se sentiu mal, afinal, havia prometido brincar com elas e ainda não tivera tempo. Contudo, no momento tinha problemas mais importantes com que se preocupar.
Ao ligar a televisão, a manchete da CBN chamou-lhe a atenção. “Tentativa de assassinato da rainha da Inglaterra inicia uma nova onda de medo em meio à população britânica.” Seu primeiro reflexo foi alcançar o telefone e discar o número de seu pai. Contudo, suas ordens foram muito claras. Nada de ligações.
Com outro suspiro escapando por entre os lábios ela jogou o telefone para longe e voltou a encarar a reportagem. As cenas de fundo eram catastróficas: um prédio incendiado; um dos típicos ônibus de Londres estava jogado no chão com os vidros destroçados e o motor fumegando; pessoas correndo em direção às construções mais próximas em busca de um abrigo seguro, à medida que rebeldes que usavam roupas pretas e máscaras para cobrir seus rostos avançavam com placas e objetos domésticos usados como armas.
Anastasia desviou o olhar, incapaz de suportar o sentimento de ansiedade e desespero que acompanhavam tais imagens. “Já foi um dia longo o suficiente.” – ela pensou ao desligar a televisão.
Já deitada em sua cama, a garota deixou o zumbido do ar condicionado preencher sua mente até cair em um sono profundo.
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- O que acharam? Alguma ideia do que pode ter acontecido? Comentem. ♥