La Princesse Perdue escrita por La Princesse Perdue


Capítulo 4
You Gotta Be Tough


Notas iniciais do capítulo

- Primeiramente gostaria de pedir perdão pela demora, essas semanas foram bastante corridas e esse capítulo foi especialmente difícil de escrever.
— Espero que gostem. ♥



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— Já está na mesa. – a voz da mãe ecoou escada acima.

O cheiro de waffles recém saídos do forno espalhava-se pelo ambiente em um aroma delicioso, como um convite batendo de porta em porta. Anya escutou as risadas das duas garotinhas atravessarem o corredor e não demorou para ser contagiada por sua energia. Não importava o dia ou a hora, aquelas duas eram capazes de iluminar seu dia.

Com uma última olhada para o espelho, a garota inspecionou a sua aparência. Os cachos loiros caíam com suavidade sobre seus ombros, o vestido verde florido realçava seus olhos e a bolsa estilo carteira sobre seu ombro dava um toque ainda mais vintage ao look. Anastasia sorriu para seu reflexo uma última vez antes de juntar-se à família.

A sala de jantar, onde faziam todas as refeições, estava silenciosa. Os sorrisos foram substituídos por uma expressão de choque e confusão. “As revoltas em Londres tomaram proporções inimagináveis. Praças foram incendiadas, transportes coletivos vandalizados e um hospital público invadido e destruído nessa madrugada de sexta feira. O número de vítimas chega a mais de sessenta pessoas, dentre feridos e mortos. O exército militar britânico foi incapaz de conter os rebeldes e a população está pagando o preço por sua ineficiência. O parlamento está reunido discutindo a respeito das medidas que serão tomadas e logo mais a rainha fará um pronunciamento.” – anunciou a jornalista da CBN.

A tensão suspensa no ar era palpável. Com uma troca de olhares os pais chegaram a um acordo silencioso. As circunstâncias eram drásticas e por isso exigiam medidas desesperadas.

Tão subitamente quanto havia sido formado, o gelo foi quebrado por um sorriso caloroso de Alícia.

— Vamos, meninas! Está na hora de ir à escola. Giuseppe já as espera. – falou bagunçando seus cabelos.

Ambas as garotinhas caíram na gargalhada, sendo envolvidas pela alegria da mãe. Anastasia assistia à cena estática, incapaz de absorver tantas informações. A transição tão súbita para um ambiente mais caloroso e aconchegante contribuiu para deixá-la ainda mais confusa. Ela poderia ter sido facilmente manipulada por aquelas emoções, se não estivesse tão chocada.

Dominique se aproximou sem que ela percebesse e pegou sua mão, no entanto, logo foi interceptada pela mãe.

— Não, meu amor. A Anya vai depois. Antes seu pai precisa conversar com ela. – disse em um tom de voz calmo que transmitia confiança.

Anastasia pôde ver a mistura de sentimentos que passaram sobre os olhos azuis de Nique. Dúvida quanto à resposta recebida, receio do porquê de sua irmã não poder acompanhá-la e, por último, conformação. De uma forma inédita, Dominique Vignerot du Plessis aceitara um não como resposta sem argumentar. Os olhos verdes da duquesa se arregalaram em surpresa.

A jovem permaneceu alguns segundos encarando a porta por onde as três haviam saído. Ao virar-se se deparou com a expressão nada alegre e amigável de Jean, contrastando-se com o sorriso estampado no rosto de Alícia, o qual ela tinha ainda mais certeza de que não passara de uma farsa.

— Anastasia... – ele murmurou como em um suspiro. As palavras pesavam em seus lábios, carregando uma responsabilidade grande demais para apenas um homem. — Sua mãe e eu precisaremos fazer uma viagem de emergência. E você será responsável por cuidar de suas irmãs durante o tempo que passarmos fora. Tentaremos manter contato... No entanto... Muito está em jogo e não podemos arriscar colocar a vida de vocês em perigo também. – continuou como se despejasse informações sobre um de seus companheiros diplomatas.

Anya o fitava boquiaberta. Seus neurônios pareciam ter parado de funcionar. Os músculos não obedeciam aos seus comandos. Muitos mistérios rondavam o ambiente, implorando para serem descobertos, mas sem se permitir serem encontrados. Eram muitas perguntas sem respostas. E Anya odiava não estar ciente da situação. O sentimento era semelhante ao vivido por uma vítima de um sequestro; ela estava imponente, sem reação, atordoada.

Seu pai percebeu que era muito para processar e por isso fez uma pausa. O homem aproximou-se lentamente e a envolveu em um abraço protetor, semelhante ao usado para ampará-la após um pesadelo, quando era menor.

— Continue com sua vida normalmente. Tente não chamar muita atenção. E, acima de tudo, prometa-me que vão se cuidar.

— Eu... Eu... Eu não posso. Eu não conseguiria. Vocês não podem ir. Não podem nos deixar sozinhas! – exclamou, surpreendendo-se com sua voz elevada.

— Anya... Você terá que confiar em mim. Prometa-me que ficarão a salvo. Prometa-me. – repetiu; dessa vez seu tom calmo fora substituído por um desesperado. — Uma última coisa: vocês não devem nos ligar. Esperem por nossa ligação.

A garota apenas concordou com a cabeça, ainda sem entender o que estava acontecendo. Uma lágrima solitária escorreu por sua face. Nela estavam contidas todas as emoções acumuladas em suas entranhas: medo, devastação, desespero, aflição, nervosismo...

Jean aproximou-se e depositou um beijo carinhoso no topo de sua cabeça, lançando-lhe um último olhar compreensivo antes de sua expressão transformar-se em uma máscara sem emoções.

— Lady Vignerot Du Plessis? A senhorita está atrasada. – chamou Giuseppe da porta.

— Sim, sim, Giuseppe. Estou indo. – gaguejou limpando a lágrima de seu rosto.

Já era metade do dia e Anastasia não se sentia bem. As primeiras aulas passaram sem que ela sequer notasse. Os professores falavam, mas ela não era capaz de ouvi-los, era como se nem estivessem no mesmo local. A garota fora chamada duas vezes e em ambas Sophie respondera por ela. Anya recebera queixas inclusive de sua melhor amiga, a qual costumava ser bastante compreensiva em situações atípicas; no entanto, ao deixá-la sem respostas, a duquesa despertara o seu pior lado. Mas como ela a explicaria?

Desamparo. Era esse o sentimento que lhe perseguia em meio aos corredores tumultuados. O prédio antes visto como uma estrutura arquitetônica imensurável, agora lhe provocava claustrofobia. As paredes brancas pareciam se fechar a sua volta. A luminosidade intensa tirava-lhe a visão. Gotículas de suor acumulavam-se em sua testa, dando-lhe uma aparência apática. A cabeça começava a girar tornando tudo um borrão.

Anastasia deu alguns passos para trás e apoiou-se contra seu armário, tentando se equilibrar. Sua pele encontrou o metal frio, fazendo um calafrio percorrer a sua espinha. O som metálico produzido pelo sinal da escola parecia ser capaz de estourar seus tímpanos. Os passos e murmúrios tornaram-se mais altos, abafando seus sentidos e pensamentos.

Aaron a avistou de longe e sorriu ao se encaminhar até onde a garota se encontrava, no entanto, o sorriso presunçoso se desfez ao vê-la mais de perto. Os fios loiros estavam pregados à testa devido ao suor, as olheiras profundas abaixo de seus olhos estavam realçadas em contraste com sua pele ainda mais branca do que o normal e a boca seca em nada se assemelhava aos lábios rosados que ele tanto desejava. O coração do rapaz saltou dentro de seu peito, fazendo seu sangue ferver.

— Anya? – chamou, apressando seu passo.

O corpo de Anastasia pendeu sem força para o lado, quase encontrando o chão. Todavia, ela foi amparada pelos braços fortes de Aaron, o qual evitou que os estragos fossem maiores.

— Anastasia, acorde! Anastasia! – pediu com mais urgência, mas a loira jazia inconsciente em seus braços.

Em um movimento ágil, Aaron a pegou no colo e foi até a enfermaria, abrindo espaço por entre os olhares curiosos.

À medida que Anastasia recuperava a consciência, os sons à sua volta tornavam-se mais nítidos. O bip produzido pelo ar condicionado, o dedilhar das teclas de piano da sala de música ao lado, o clic do mouse do computador da enfermeira e, o que mais lhe chamava atenção, a respiração descompassada de alguém ao seu lado.

Anya permanecia com os olhos fechados, as pálpebras pesadas demais para que pudesse erguê-las, contudo, seus outros sentidos pareciam aguçados. Um toque em sua mão fez seu corpo relaxar. O tilintar dos saltos altos contra o chão também tiveram o mesmo efeito calmante. Lentamente seus olhos começaram a se abrir, levando sua pupila a ser contraída devido à claridade das luzes brancas que iluminavam o ambiente.

— Bom dia, bela adormecida. Achei que não acordaria mais. – Aaron provocou e soltou sua mão discretamente, tentando esconder a vergonha.

Anastasia fitou-o por alguns instantes. Os cabelos negros estavam bagunçados, mas não da forma charmosa como ele usava todas as manhãs, estava mais para descabelado; os olhos azuis tinham um brilho apagado repleto de preocupação; e a camisa amassada escapava da calça, como se ele tivesse participado de uma corrida trajando vestes sociais. Tudo em sua aparência gritava que algo estava errado, mas Anya não teve a oportunidade de indagar o que era.

— Como ela está? – a enfermeira questionou, tirando o aferidor de pressão da caixa.

— Acabou de despertar, ainda está um pouco pálida, mas parece melhor. E creio que não faça ideia do que ocorreu. – respondeu Aaron, o tom brincalhão substituído por um sério e controlado.

Nesse momento Anya caiu por si e foi varrida por milhões de dúvidas. O que Aaron estava fazendo ali? O que havia acontecido? Por que ele parecia tão preocupado? Logo ele dentre tantos outros. A garota queria responder por si mesma, dizer que podia cuidar-se sem a ajuda dele, mas parecia que um gato havia comido sua língua, como diria Nique.

A enfermeira deve ter notado a expressão confusa emoldurada por seus cabelos claros, pois soltou um risinho abafado e apressou-se em explicar o que havia acontecido.

— Srta. Vignerot du Plessis, não se preocupe, não foi grande coisa, apenas uma queda de pressão. Sorte a nossa o Sr. Vermont estar por perto no momento em que desmaiou. Os estragos poderiam ter sido muito maiores. – comentou, virando-se para o rapaz e o olhando com admiração.

Aaron não pareceu sequer notar o olhar que lhe fora direcionado, estava concentrado demais na garota deitada à sua frente. Seus olhos azuis capturavam cada movimento e detalhe de suas feições angelicais, procurando um sinalizador de que algo continuava errado.

Anastasia segurou o olhar por alguns instantes, atordoada por seus olhos azuis de uma profundidade até então desconhecida.

Uma garota de cabelos castanhos entrou correndo pela enfermaria, interrompendo a conexão que se formava entre os dois jovens ao atrair a atenção daqueles presentes.

— Anastasia! Como você pôde? Eu passei a manhã toda reclamando da sua falta de atenção e diversas vezes lhe perguntei se havia algo errado e você disse que não! Você sabe como eu fiquei quando me avisaram que você havia sido carregada pelo Aaron até a enfermaria? Não acreditei, é claro! Minha amiga jamais aceitaria ajuda daquele arrogante e... – Sophie começou a tagarelar, até o momento não parecendo estar ciente da presença do rapaz ao lado da cama onde Anya se encontrava. Ao notá-lo ela deu um sorrisinho amarelo. — Er... Oi, Aaron. – murmurou com as feições tão vermelhas quanto a blusa de cetim que usava.

— Pelo que posso ver, sua pressão já se regularizou. A situação não passou de um susto. Eu vou preencher algumas prescrições e logo trarei a autorização para que ambos possam voltar à aula. – disse a enfermeira, a qual parecia estar se divertindo bastante com a situação.

Sophie fuzilou Anya com o olhar, enquanto a loira apenas encolheu os ombros em um sinal de inocência.

— Acho que essa é a minha deixa. Até mais, gatinha. Quando estiver precisando de um super herói para lhe salvar novamente, sabe onde me encontrar.

Aaron lançou-lhe um sorriso deslumbrante e uma piscadinha que seria capaz de tirar qualquer outra aluna de seu estado de sanidade. Anya corou e revirou os olhos, vendo-o ir embora.

— Dá para acreditar nele? Super herói? – bufou — Quem ele acha que eu sou? Uma dama indefesa que precisa de resgate?

Sophie não pôde evitar rir.

— É, claro... Também vai dizer que aqueles olhos azuis e sorriso branco não produzem nenhum efeito em você, Anya? Você deveria ver seu rosto nesse instante, parece sua irmã quando tenta se maquiar sozinha.

O comentário contribuiu para esquentar ainda mais seu rosto, em uma mistura de raiva e embaraço.

— Muito engraçado, Sophie. – bufou cruzando os braços a frente do peito.

A morena caiu na gargalhada. Seu riso era acolhedor e seguro, logo envolvendo a loira também em seu bom humor.

— Prometa-me nunca mais me dar um susto como esse. – disse por fim, suas feições rígidas, sem nenhum traço do divertimento compartilhado há pouco.

Anastasia assentiu, mas seus pensamentos estavam muito longes dali.

Um suspiro cansado escapou da boca de Anya. A garota se jogou no sofá após um exaustivo dia de estudos. Já passava das 23:00 quando ela chegou em casa e por esse motivo encontrou suas duas irmãs dormindo. A loira se sentiu mal, afinal, havia prometido brincar com elas e ainda não tivera tempo. Contudo, no momento tinha problemas mais importantes com que se preocupar.

Ao ligar a televisão, a manchete da CBN chamou-lhe a atenção. “Tentativa de assassinato da rainha da Inglaterra inicia uma nova onda de medo em meio à população britânica.” Seu primeiro reflexo foi alcançar o telefone e discar o número de seu pai. Contudo, suas ordens foram muito claras. Nada de ligações.

Com outro suspiro escapando por entre os lábios ela jogou o telefone para longe e voltou a encarar a reportagem. As cenas de fundo eram catastróficas: um prédio incendiado; um dos típicos ônibus de Londres estava jogado no chão com os vidros destroçados e o motor fumegando; pessoas correndo em direção às construções mais próximas em busca de um abrigo seguro, à medida que rebeldes que usavam roupas pretas e máscaras para cobrir seus rostos avançavam com placas e objetos domésticos usados como armas.

Anastasia desviou o olhar, incapaz de suportar o sentimento de ansiedade e desespero que acompanhavam tais imagens. “Já foi um dia longo o suficiente.” – ela pensou ao desligar a televisão.

Já deitada em sua cama, a garota deixou o zumbido do ar condicionado preencher sua mente até cair em um sono profundo.


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Notas finais do capítulo

- O que acharam? Alguma ideia do que pode ter acontecido? Comentem. ♥