Broken Doll escrita por Yuu-Chan-Br


Capítulo 1
Broken Doll




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Crepúsculo.

Crepúsculo era a única coisa que via, um misto de pontos brilhantes em meio à escuridão aterradora - embora para si ela não fosse mais aterradora já há anos. Seus sentimentos eram exatamente o mesmo que o crepúsculo, que não era nem claro nem escuro, mas algo no meio, uma intercessão. Justamente por estar no meio sentia-se como nada, coisa alguma, apenas um resquício de consciência vagando algures no universo.

Não se reconhecia, era esta a - verdadeiramente aterradora - realidade.

Enxergava sim seu quarto, o aglomerado e amontoado de animais de pelúcia e presentes, tudo emoldurado por uma decoração demasiadamente infantil. Ao centro, num trono dourado e vermelho, encontrava-se seu corpo. Imóvel, inexpressivo e desprovido de vida, enxergava-se de cima.

Era irônico como todas as cores do cenário contrastavam imensamente com a figura monocromática localizada no eixo do cômodo. Irônico, aliás - e não haveria palavra mais perfeita para descrevê-la - era a existência de um pássaro engaiolado em frente a si, sua simples existência sendo o bastante para esfregar-lhe na cara que ele também estava preso. Não um, mas dois pássaros engaiolados. Noutra situação talvez estranhasse, mas o ato era apenas esperado de seus "tratadores", dado o senso de humor duvidoso que possuíam. Foram-nos também, aliás, responsáveis pelos demais objetos ao seu redor. Reviraria os olhos em angústia, mas perdia gradativamente a conexão - e consequentemente o controle - com o próprio corpo.

Muito mais do que um humano, era uma boneca quebrada. Não que um dia houvesse realmente se considerado humano, todos ao seu redor fizeram e ainda faziam-lhe o gigantesco favor de lembrá-lo do fato a cada instante, cada milésimo de segundo, sempre. Mesmo assim, se um dia possuíra a capacidade de assemelhar-se à mera sombra de um humano, agora esta possibilidade era simples e completamente nula. Sabia-o e sabê-lo por si só já era uma tortura.

Mais do que os responsáveis pelo feito, odiava a si mesmo. Odiava o fato de não conseguir sentir como os outros sentiam, como sabia ser o ideal - mesmo que aqueles com quem possuía maior contato não fossem exatamente um exemplo de sentimentos saudáveis. Uma boneca quebrada, sem sentimentos, sem nada, completamente oca por dentro. Sequer possuía a ambição se preencher a lacuna dentro de si com o que fosse, seria simplesmente impossível. Tudo o que poderia fazer era acabar com aquela patética existência que apenas causava calamidade: a sua própria. Infelizmente não conseguia matar-se sozinho - não possuía força o bastante para tal. Havia, contudo, um pequeno raio de esperança em seus planos: seu irmão.

Lembrava-se, quando criança, de ouvir cientistas comentarem sobre como a perda de um espécime tão importante era um grande infortúnio, mas apenas recentemente fora descoberto o fato de seu gêmeo estar, na verdade, vivo.

Chamá-lo-ia.

Chamá-lo-ia e faria com que o matasse.

Ajudá-lo-ia a destruir Platinum Jail junto com tudo que significava e, em troca, seria morto, finalmente liberto de suas amarras.

Era uma troca de interesses justa, não?

Fá-lo-ia o mais breve possível.

O mais breve possível, mas não agora.

Ouvia passos.

Passos calmos, lentos e ritmados, como se dançassem no caminho à sua porta. Passos conhecidos seus, passos que, noutras vezes, teriam-no feito pular da cadeira e correr por sua vida, fugir, tentar espremer-se pelas frestas de porta, tamanho seu desespero. Há tempos não o fazia mais, estava cansado. Talvez fosse melhor, pois sentia que sua falta de reação lentamente os desinteressava.

Um passo. Outro passo. E assim gradualmente até que os pares de pés parassem, um segundo de suspense antes de a porta se abrir num barulho eletrônico.

Ali, prostradas sob o batente, as duas figuras encontravam-se em forma de silhuetas negras, a luz do corredor se contrapondo ao cômodo escuro onde entrariam. Os contornos, todavia, eram o bastante para reconhecê-los. Reconhecê-los-ia mesmo sem uma única palavra, mas o mais velho de ambos fez questão de dizer:

– Boa noite, Sei-San - conseguia enxergar perfeitamente o sorriso em seus lábios ao acomodar melhor os óculos sobre o nariz.

– Vamos brincar? - O outro completou, um bocado de sacolas de presente sendo jogado no chão.

Entraram calmamente e fecharam a porta atrás de si, no mesmo barulho de quando fora aberta.

Quando o visitavam, e apenas então, agradecia por sua desconexão com o próprio corpo.


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Notas finais do capítulo

[Yuu-Chan-Br]: GEEEEEEEEEEENTE~~ Quantas histórias de DMMd eu já escrevi? Nem sei mais, sinceramente. De qualquer forma esse foi um request da Mari, minha beta. ♥ E, como ela está sempre correndo pra corrigir meus erros idiotas, nada mais digno do que ceder a este singelo pedido. Na verdade eu não tenho nada contra o Sei e sinto muito dó de tudo que ele passou, mas, como apareceu quase nada na história (até menos que o Mizuki. Impressionante, não?), acho difícil me apegar tanto a ele. De qualquer forma, espero ter conseguido captar pelo menos um pouquinho o personagem e não ter feito muita besteira. Obrigada por lerem!