COBRINA - songfic escrita por Gato Cinza, Amandy Peruzzo


Capítulo 3
I say a little prayer


Notas iniciais do capítulo

Musica: I Say A Little Prayer
Cantora: Aretha Franklyn



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Ela esta divina, o vestido branco acetinado com renda incrustada de pequenas perolas caem em seu corpo com tamanha perfeição que chego a sentir um louco impulso de pular sobre ela e rasga-lo aqui. Na frente de todos.

Este é o dia mais feliz da vida dela, e por que não seria?

Jade me olha nervosa e estende-me o buque de jasmins com torênias rosa. Controlo outro impulso de enforca-la e sorrio de volta. Olho para o noivo ao seu lado, ele me abre um sorriso enorme de nervosismo. Retribuo automaticamente.

– Irmãos e Irmãs – começa o padre – Estamos reunidos aqui hoje para unirmos em matrimonio este jovem casal...

Paro de ouvir, me desligo de vez desta realidade e me prendo ao passado. Quero poder estar em qualquer lugar, menos no casamento do meu melhor amigo.

No momento em que eu acordo

Antes de eu me maquiar

Eu faço uma pequena oração pra você

Enquanto eu penteio meu cabelo, agora

E penso no vestido que usar, agora

Eu faço uma pequena oração pra você

Conheci Cobra á quatro anos, quando cheguei á esta cidade. Eu estava no começo de minha carreira de modelo e ele já era o mais jovem campeão de muay thai do país.

Era um dia de chuva quando cheguei ao prédio residencial que havia acabado de alugar, a porta do elevador estava fechando quando ele entrou correndo com uma mochila de viagens totalmente molhado e aparentemente exausto. Ele apertou o numero do seu andar e se encostou no elevador mexendo no celular. Eu não queria ficar olhando, mas era impossível.

Ele usava uma blusa branca que estava quase invisível devida á chuva que ele havia tomado e era missão impossível tirar os olhos daquele físico perfeito. Quando o elevador parou eu dei um suspiro de decepção bem audível e sai levando minha mala pesada. Chego ao apartamento numero 98B e pego minha chave para abrir, então alguém atrás de mim pigarreia alto. Me viro e para meu encanto é o gato-de-branco-molhado.

– Esse apartamento é meu – disse ele me mostrando um molho de chave

– Não é não – retruquei mostrando minha chave – 98B, aluguei á uma semana, já até trouxe minhas coisas para cá.

Ele deu um riso irônico e me afastou da porta que abriu com sua chave.

– Moro aqui á anos loirinha – disse ele alargando o risinho irônico e entrando no apartamento

Eu coloquei meu pé para dentro antes que ele batesse a porta na minha cara.

– Este apartamento é meu, cara – disse apontando para as coisas – Aquela TV é minha, a almofada verde no sofá é meu, a geladeira esta abastecida com minha comida e o quarto tem...

– Entrou no meu quarto? – gritou ele indo para o quarto na qual eu não tinha mexido ainda.

Enquanto ele mexia no meu apartamento eu liguei para o porteiro, dez minutos depois o homem alto chamado Marcelo chegou. Ele me explicou que o Cobra morava no apartamento á mais de um ano e que eu devia ter sofrido um golpe imobiliário. Liguei para a corretora e o numero havia sido desativado.

Aquilo não podia estar acontecendo comigo. Eu Karina Duarte havia caído em um golpe, tinha alugado uma casa onde já morava uma pessoa. Cai no choro e peguei minha mala. Estava esperando o elevador chegar quando ele veio falar comigo.

– Ei garota – ele parecia tão sem jeito que seria engraçado se eu não estivesse chorando – Vai para onde na chuva? Digo tem algum lugar para ficar?

– Tenho... vou para... para... um hotel

Eu não tinha para onde ir, lugar algum. Ele pegou minha mala e estendeu a mão.

– Ricardo Cobreloa, pode me chamar de Cobra – disse – Venha para dentro.

Eu o segui e fiquei sentada olhando ele ligando e falando com mais de três pessoas. Depois veio até mim.

– Tenho um quarto livre que nunca é ocupado, quer dividir o apê?

– Com você?

– Sim comigo – respondeu ele – Nunca quase estou em casa, mas tem umas regras de convivência.

Eu podia ligar para meu pai e dizer que voltaria viver com ele e a nova família – Dandara minha boadrasta e João seu filho teimoso -, ou podia ligar para a Bianca e pedir para ir morar com ela e com as amigas do teatro, mas...

– Quais as regras?

Ele sorriu. Um mês depois já éramos amigos o bastante para a regra do “não trazer peguete para casa” ser ignorada de vez.

E corro pro ônibus, querido

Enquanto ando, penso em nós, querido

Eu faço uma pequena oração pra você

No trabalho, eu apenas faço hora

E durante a minha parada pro café

Eu faço uma pequena oração pra você

– Cobra! – gritei saindo do quarto – A Bianca está voltando.

Eu já morava com Cobra á quase dois anos. Ele já conhecia minha família toda – aos domingos ele me arrastava para casa de meu pai apenas para que ele e o velho Gael pudessem ficar falando de artes marciais e lutas – o João sempre aparecia para perturbar a paz e Cobra se dava bem com Dandara.

– Voltando de onde desta vez?

– Temporada na Broadway. Ela e as amigas farão uma festa de retorno ao Brasil para comemorar o sucesso da peça e me convidaram.

– Legal – Cobra sempre se entediava quando o assunto era Bianca ou teatro.

Eu me sentei na frente dele e fiquei o encarando fixamente até ele se dar conta do por que eu tinha comentado sobre a festa de Bianca.

– Ah não. Desculpe K, mas a ultima festinha que sua irmã e as amigas delas deram eu briguei com aquele namorado idiota dela, o Duca.

Foi a melhor discussão terminada em socos que eu já tinha visto em minha vida.

– Desta vez vai ser diferente Cobra, Bi nem namora mais o Duca e faz seis meses que não vejo minha irmã.

Cobra me olhou de modo preguiçoso e suspirou, alisando meus cabelos com a mão.

– Se ficar chato eu venho embora.

A festa foi incrível, na verdade uma festinha comum, mas pelo menos eu estava me divertindo. Estava até ir ao banheiro e ver Cobra com uma das amigas da Bianca em um canto se beijando. Senti uma onda de raiva e desprezo tão grande que sai sem nem mesmo dizer tchau para minha irmã.

Pra sempre e sempre, você ficará no meu coração

E eu te amarei

Para sempre e sempre, nós nunca nos separaremos

Oh, como eu te amo

Juntos, pra sempre, é como tem que ser

Viver sem você

Só partiria meu coração

– Acho que estou completamente apaixonado – Cobra me disse de repente na metade de um filme em uma segunda feira.

Eu o olhei. Por um segundo achei que tinha ouvido errado, mas então ele disse de novo:

– Estou realmente apaixonado.

– Não exagere, o filme nem é tão bom assim e as atrizes nem são um espetáculo grego – respondi ao comentário achando que ele falava do filme

– Não K, não é sobre o filme que, aliás, eu nem sei o nome. Estou falando da Jade.

Meu coração parou de bater por um compasso, engoli em seco e aguardei ele continuar a falar, mas ele não fez e depois de muito silêncio tive que perguntar:

– Tem certeza? Achei que vocês só estivessem se aproveitando.

“ Não é nada sério, só estamos nos aproveitando” – disse ele quando começou a sair com a Jade... um ano antes.

– Ninguém mantém um relacionamento baseado em sexo por tanto tempo sem se envolver emocionalmente K. Eu me apaixonei pela Jade.

– E ela? – perguntei com voz trêmula

– Ela sente o mesmo, na verdade ela disse que me amava uma noite dessas. Eu não disse nada, mas agora tenho certeza...

Comecei a chorar, ele estava mesmo me dizendo que amava outra. Ele e Jade estavam juntos á um ano, eu tinha começado a sair com Pedro, um cantor que morava em nosso prédio, para causar ciúmes. Mas Cobra não reagira como eu esperava, ele foi procurar Pedro um dia para dizer que se me magoasse ele o mataria. Mas era apenas proteção fraternal.

– Está chorando K?

– Claro que estou – respondi, mas engoli minhas respostas verdadeiras e improvisei – Você não esta mesmo prestando atenção ao filme, né Cobra?

Ele se calou e olhou para o filme, por favor, quem iria chorar com aquele filme? Estávamos assistindo Espelho, espelho meu. Me levante desligando a TV antes que ele notasse que o filme era bobo demais para me fazer chorar. Naquela noite cobri meu rosto co o travesseiro e chorei tanto que achei que nunca mais iria derramar uma lagrima. Como eu estava enganada.

Quatro meses depois Cobra me pediu para ser sua madrinha de casamento.

Meu querido, acredite em mim

Pra mim, não há mais ninguém além de você

Por favor, me ame também

E estou apaixonada por você

Responda minha oração, amor

Diga que me ama também

Responda minha oração, amor

– Eu os declaro marido e mulher. O noivo pode beijar a noiva.

Saio do meu devaneio á tempo de meu coração ser partido de vez pelo beijo do casal. Devolvo o buque de Jade e a abraço desejando que ela seja muito feliz, depois abraço Cobra sentindo seu perfume me envolver.

– Seja muito feliz meu amigo – desejei.

Ele não respondeu. Meia hora depois quando se livraram dos abraços e felicitações entraram no carro que os levariam para um hotel... um menino me chamou quando o carro se afastava e me entregou um papel dobrado. Era um bilhete escrito á mão, dizia:

Se me amasse por um minuto – Cobra.


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Notas finais do capítulo

Capitulo totalmente inspirado em O Casamento de Meu Melhor Amigo.