Eve escrita por BibiBennett


Capítulo 16
Capítulo 16


Notas iniciais do capítulo

Cantem comigo! "Aaaleluia, aaaleluia, aleluia, aleluia, aleeeeluiaaaaa!"
*foge dos tomates.*
Eu sei, eu sei, eu demorei uma eternidade para postar esse capítulo! D:
Peço mil desculpas por isso, mas eu penei pra escrever esse, caramba... Passaram as férias, passaram semanas e lá estava eu, escrevendo e empacando, escrevendo e empacando, apagando, escrevendo e empacando... Mas aqui estamos, finalmente chegou o capítulo 16! *suspiro de alívio*
Espero que não tenham desistido de mim ainda ;-;
Anyway, vou deixar vocês lerem(já estava na hora, né?).
Vejo vocês lá no final! =D



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A névoa encobria parte da pequena cidade de St. Michaels naquela fria madrugada de outono, dando à simpática cidade um ar sombrio que nenhum de seus moradores estava acostumado. Parecia que, de alguma forma, o tempo antecipava os acontecimentos da fatídica noite.

Toda a cidade já havia ido dormir, esperando ansiosa a festa de Halloween que aconteceria no dia seguinte, e suas ruas estavam todas vazias, exceto por um específico ao norte da prefeitura. Nele, de frente para uma simples casa de interior, estava uma figura de preto, esperando seu sinal. Duas grandes e poderosas asas eram visíveis em suas costas.

— Pode entrar. — A voz de Teri de repente soou pelo comunicador em sua orelha.

Com passos rápidos e calculados, a figura loira se aproximou da porta, tirando um dispositivo de seu cinto e o posicionando na tranca. Após alguns barulhos metálicos, a porta se abriu com um barulho alto.

Xingando baixinho, a agente esperou por sinais de que os moradores da casa tivessem acordado. Ao não escutar nada, entrou na casa de forma silenciosa, olhando em volta em busca do seu alvo.

Ela já havia decorado o caminho durante a apresentação da missão, então ao visualizar a escada foi diretamente para o segundo andar, tomando cuidado para suas asas não esbarrarem em nenhum dos pomposos enfeites dos moradores do local.

O corredor do andar era longo e estreito, suas poucas portas fechadas com chave.

Indo rapidamente até o fim do corredor, mas a todo o momento checando por barulhos, a figura se aproximou do suposto escritório da casa. Ela pegou o mesmo objeto metálico que havia usado para entrar na casa e o colocou na fechadura, como havia feito antes, mas na hora de acioná-lo olhou para o lado, visualizando o pequeno porta-chaves na parede.

Revirando os olhos, a loira retirou o objeto da porta e foi até as chaves, rapidamente pegando a do escritório e continuando sua missão. A porta de abriu de forma surpreendentemente silenciosa, e ela logo entrou no cômodo, olhando em volta com suas duas pistolas em mãos.

— Eu não vejo cofre nenhum. — A mulher murmurou no comunicador.

— Hm... Vá até o armário da esquerda. — Teri respondeu segundos depois.

Acatando as ordens, ela foi até o escuro armário embutido e o abriu. Nele, somente papéis e roupas empoeiradas.

A agente acendeu sua lanterna, procurando pelo cofre, e logo achou um mal feito fundo falso na madeira.

Retirando as tábuas que estavam pelo caminho, ela chegou até o antigo cofre. Dessa vez, ela iria precisar mais do quê o simples dispositivo que carregava consigo para abrir a porta de metal maciço.

Colocando no chão a mochila que carregava em seu ombro, ela se agachou e pegou um pesado objeto, que havia sido construído exatamente para esse cofre. Ela posicionou o objeto quadrado na tranca e o acionou, vendo o metal se aquecer rapidamente.

— Mamãe? — Para o alarme da figura, uma voz soou de repente no corredor, fina e assustada.

Ficando em silêncio total ela pôde escutar os leves passos indo em direção ao escritório. O cômodo agora era parcialmente iluminado pelo dispositivo quente, que derretia rapidamente a tranca do cofre.

A porta logo foi aberta com um rangido esganiçado, e a agente pôde ver uma pequena menina entrando no escritório, bicho de pelúcia em mãos e um longo pijama cor de rosa.

Os olhos verdes da menininha se arregalaram assim que viu as asas da mulher, e brilharam em surpresa e admiração.

— Você é um anjo? — A menina perguntou, cabelos lisos e ruivos caindo em seus olhos enquanto ela virava a cabeça em dúvida e passava as pequeninas mãos nos olhos.

A mulher se virou na direção da voz e sorriu abertamente.

Sim... Seu anjo da guarda. — Disse ela, sua voz completamente diferente dos minutos anteriores. Seu tom era calmo e confortador.

— Uau. — A menina se aproximou, estendendo as mãos para tocar nas brancas asas de seu anjo. Vendo de perto, dava para perceber que ela não tinha mais de 10 anos.

— Eu posso? — Perguntou, parando com as mãos estendidas no ar.

— É claro. — Assentiu o anjo, mas antes que as mãos da criança tocassem suas asas, outra voz soou pelo corredor.

— Marie? Com quem você está- — Logo uma mulher entrou de pijamas no escritório, seu cabelo era castanho e desgrenhado, e sua voz morreu assim que viu a desconhecida em seu escritório.

Marie se virou na direção de sua mãe assim que ouviu sua voz, com um grande sorriso no rosto.

— Saia de perto dela! — Gritou a morena, seus olhos antes sonolentos agora estavam mais arregalados do quê nunca, acentuando as pequenas rugas que marcavam o rosto de alguém que já tinha passado dos 40.

— Se vocês não tivessem acordado... — A agente balançou a cabeça, retirando a pistola de seu coldre.

Ouvindo o tumulto, um homem ruivo logo entrou no recinto. Esse a loira conhecia bem.

Doutor James McHill, ex-cientista da H.Y.D.R.A. Havia fugido com sua esposa e entregado informações valiosas à S.H.I.E.L.D., comprometendo completamente uma das mais importantes pesquisas da organização criminosa. Esse a agente teria prazer em matar.

— Está tudo bem, mamãe! É meu anjo da guarda. — Marie assentiu, logo antes de ver o pai entrar no quarto.

O homem ajeitou seus óculos para ver melhor o quê estava acontecendo, e seu rosto magro se contorceu em uma expressão de puro terror assim que reconheceu a mulher em sua casa.

— Por favor, não machuque minha filha! — Ele gritou, para a confusão de Marie.

— Por quê? — A loira levantou uma de suas sobrancelhas, apontando sua pistola para a menina.

— Ela é tudo o quê nós temos! Olhe, me desculpe! Eu não queria ter feito o quê fiz, se quiser eu volto com voccê, mas por favor, eu não posso ver minha filha morrer! — O cientista respondeu no mesmo segundo que o dispositivo no cofre apitou. Horrorizado, ele desviou o olhar da mulher para o cofre.

— Você não pode! — Disse ele.

McHill havia desistido de tanta coisa para manter aquele cofre a salvo, para manter sua família a salvo, e agora tudo estava indo por água abaixo. Sua única garantia de que a H.Y.D.R.A o manteria vivo estava indo direto para as mãos da mais eficiente arma da organização.

— Ah, mas eu posso. — Riu o anjo, pegando Marie no colo. — Não deem um passo. — Continou ela antes de se aproximar do cofre e retirar dele um frasco de líquido azul brilhante, guardando-o em seu bolso.

A menina olhou para seu anjo com lágrimas nos olhos, sem entender o porquê do desespero de seus pais. Ela não se contorceu, só ficou paralisada no colo da mulher enquanto observava as lágrimas de sua mãe.

— E você quer saber de uma coisa? — Eve inclinou levemente a cabeça, suas sobrancelhas unidas em uma expressão de falsa confusão. — Eu concordo, nenhum pai deveria ver a morte de um filho.

O suspiro de alívio que saiu da boca de McHill e sua esposa preencheu a sala no exato segundo em que tais palavras foram proferidas, mas a sensação não durou muito.

O cano da pistola de Eve, antes apontado para Marie, logo encontrou o olhar da esposa do traidor.

— Eu nã- — As palavras não puderam sair da boca da morena, pois antes que ela pudesse fazer qualquer outra coisa o barulho da pistola preencheu o escritório.

— Mamãe!

— Joanne!

O corpo da mãe de Marie caiu com toda a força no chão, um pequeno filete de sangue escorrendo pelo ferimento em sua testa. O tiro havia sido certeiro.

McHill foi o próximo, e antes mesmo que ele pudesse dar um passo em direção à esposa a pistola entrou em funcionamento novamente, seu barulho parcialmente contido pelo silenciador se misturou aos gritos de Marie, que agora tentava se desvencilhar da mulher que antes achou ser um anjo.

— Me desculpe, não é nada pessoal. — A mulher assentiu, nem um pingo de arrependimento em seu olhar.

Marie parou, lentamente se virando em direção à loira, seus olhos cheios de medo.

Pela terceira e última vez, o barulho da pistola preencheu a noite.

***

Eve sentou-se no sofá, ofegante. Seus olhos marejados vasculhavam a escuridão à procura de qualquer coisa que a mostrasse onde estava. Um suspiro de alívio escapou por sua boca assim que ela se lembrou do dia anterior, e de como agora ela e Steve tinham ido morar na Torre Stark, mas ainda assim o desespero rondava sua mente.

Ela havia matado aquela criança.

Ela havia matado Marie.

Balançando a cabeça e passando as mãos trêmulas pelos cabelos bagunçados, ela respirou fundo tentando em vão se acalmar.

Foi só um sonho, foi só um sonho. Ela repetiu em sua mente diversas vezes, mentindo para si mesma.

Não era um sonho, tudo havia sido real demais, e Eve sabia muito bem disso.

Ela fechou os olhos, em uma tola tentativa de esquecer tudo aquilo, se arrependendo no mesmo instante. Na escuridão, tudo o quê ela via era o olhar aterrorizado da criança que havia matado, o detalhe impressionante da memória fazendo-a perder o ar.

Como ela pôde?

Tropeçando no cobertor que não se lembrava de ter pegado na noite passada, Eve se levantou mais rápido do quê deveria, tendo que se apoiar na mesa de centro para não cair no chão. Ela xingou baixinho, piscando algumas vezes enquanto tentava se acostumar com a baixa luminosidade da sala, e logo foi até a janela, onde pôde encarar a imensidão de prédios da cidade de Manhattan, boa parte com suas luzes desligadas naquela madrugada.

Eve sabia, já havia adivinhado que havia trabalhado para a HYDRA, mas saber é muito diferente de ver, e ela nunca estaria preparada para as terríveis memórias que reviveu naquela noite. A loira havia sido tão fria, tão cruel, tão diferente de como ela era agora.

Naquele momento, Eve se perguntou se perder suas memórias havia sido tão ruim assim.

Ela passou a mão pelo rosto, suspirando e fechando os olhos novamente enquanto tentava ignorar a dor de cabeça que começava a surgir. Ela não podia pensar assim, não enquanto ainda não sabia o contexto de suas ações, enquanto não sabia o porquê da HYDRA a querer, não enquanto não sabia seu próprio nome.

— Jarvis, quê horas são? — Perguntou abrindo os olhos rapidamente. Ela não sabia se havia falado corretamente o nome do AI, nem se ele a responderia ali, mas não custava tentar.

“Bom dia, senhorita Eve. No momento são 5:35 da manhã.” A resposta do veio quase que imediatamente dos autofalantes da casa, apesar de mais baixo quê o normal devido ao horário.

Assentindo e agradecendo baixinho, Eve lentamente se virou e andou até o sofá, sentando-se em cima do cobertor.

Ela sabia que não conseguiria dormir tão cedo, com medo dos pesadelos que com o passar dos dias só ficavam piores, mas o quê ela poderia fazer? A loira não queria pensar no quê havia feito, e no quê aquilo significava para ela.

Eve precisava de uma distração, algo para tirar de sua mente o fato de que ela era uma assassina, do fato de quê Marie provavelmente era só mais uma das incontáveis mortes que havia causado – a menina e seus pais não poderiam ser os primeiros, não, em suas memórias ela parecia acostumada demais com aquilo, com as mortes, com o gatilho. – e de quê ela contaria tudo para Steve ainda naquele dia. Ela precisava de-

Com um barulho alto, Steve esbarrou em um dos vasos decorativos logo na saída do corredor, tendo que pegá-lo no meio do ar para que o objeto não se espatifasse no chão. Ele xingou baixinho, olhando imediatamente para o sofá para ver os olhos arregalados de Eve, que havia pulado de susto no sofá com a repentina chegada do super soldado.

Steve suspirou, passando uma das mãos pelo rosto de forma cansada assim que colocou o vaso no lugar.

— Bom dia. — Ele disse, voltando seu olhar para a loira novamente, uma expressão exasperada em seu rosto.

— Bom dia. — Eve riu baixinho, o quê fez o super soldado sorrir de lado e coçar a cabeça, seu olhar ainda sonolento.

— Eu te acordei? — Steve perguntou, se aproximando. Ele ainda vestia seu pijama cinza, e seu cabelo estava mais desgrenhado do quê nunca.

— Não, eu... — A moça limpou a garganta, balançando a cabeça em negação. — Eu já estava acordada há algum tempo. — Completou em seguida, o riso ausente de sua voz enquanto desviava o olhar do Capitão.

Steve franziu o cenho, notando a mudança de expressão de Eve e sentando-se ao lado dela no sofá.

— Alguma coisa errada? — Perguntou ele, preocupação visível em sua voz.

Levantando o olhar, a loira lhe lançou um fraco sorriso.

— Não, eu só... Tive um pesadelo. — Respondeu ela o mais honestamente que pôde, enquanto tentava bloquear as terríveis memórias de sua mente.

Steve assentiu, olhando para frente sem ter ideia do turbilhão de pensamentos que confundiam a cabeça da mulher ao seu lado.

— Quer falar sobre ele? — Perguntou depois de longos segundos de silêncio, analisando a expressão cansada de Eve com um olhar ansioso.

Não.

A resposta veio imediatamente na mente de Eve, enquanto ela encarava os olhos azuis do super soldado. Ela não queria falar sobre isso, não queria reviver novamente o pesadelo e principalmente não queria ver a expressão horrorizada no rosto de Steve.

A loira franziu o cenho.

Mas se ela estava tão certa de quê não queria falar, por que estava hesitando tanto?

Eve se lembrou do dia anterior, e da conversa que teve com Steve. Lembrou-se dos olhos cheios de receio do super soldado, que temia sua reação, e da vulnerabilidade que ele expôs ao contar tudo a ela, mas acima de tudo se lembrou de sua expressão aliviada, do sorriso que ele deu assim que lhe contou tudo.

Ela queria isso, ela queria tirar todo esse peso que tinha nas costas.

Algo em sua mente dizia que Steve não teria a reação que imaginava.

Vendo a demora de Eve como uma negação, o super soldado desviou o olhar.

— Não precisa se não quiser, é só que... Eu li em algum lugar que ajuda... Falar sobre. — Disse ele enrolado. Seu olhar encontrou o de Eve novamente assim que ela colocou uma de suas mãos sobre a sua.

— Não, eu quero contar. — Assentiu ela, surpresa com o tom seguro de sua voz. — Mas primeiro você tem quê saber de tudo.

Ao ver a expressão surpresa de Steve, Eve levantou-se do sofá e continuou.

— Eu ia te contar ontem, mas aí Tony chamou por você e...— Ela deu um sorriso nervoso, se afastando alguns passos do sofá.

— Eu só preciso que me prometa uma coisa. — Ela parou de costas para a janela, diretamente contra a luz do sol quê começava a nascer em Manhattan.

Steve se levantou e assentiu, incentivando-a a continuar.

— Independentemente do quê você descobrir hoje, por favor, não se assuste. — Ela sabia que ele não poderia pedir isso a ele, mas mesmo assim continuou. — Por favor, me deixe terminar de explicar.

— Eu prometo. — Respondeu ele confuso.

— Ok. — Eve assentiu, nervosa. — Preciso que feche os olhos.

Uma sobrancelha de Steve se arqueou imediatamente, mas ainda assim, mesmo que um pouco relutante, ele fechou os olhos.

— Não abra os olhos até eu dizer que pode.

— Sim senhora. — Steve respondeu, o quê fez um pequeno sorriso surgir nos lábios da loira.

De olhos fechados, cada segundo parecia durar uma eternidade, mas mesmo curioso como estava, o super soldado fez como lhe foi pedido. Se fechar os olhos a ajudaria de alguma forma, ele estava mais do quê feliz em obedecer.

Durante aqueles poucos segundos, várias possibilidades não deixaram de passar por sua cabeça.

Eve havia lhe dito no dia anterior algo sobre Fyres, sobre ter uma pista. O quê isso teria a ver com seu pesadelo? Ao se lembrar de sua conversa com Tony no dia anterior, ele rapidamente decidiu que talvez tivesse tudo a ver.

— Pronto. — Ele escutou a loira respirar fundo, sua voz trêmula. — Pode abrir os olhos.

E mesmo imaginando, mesmo se lembrando da primeira noite em que a viu, Steve não poderia estar preparado para visão que teve assim que pôs seus olhos em Eve.

Duas asas enormes, banhadas pelo amanhecer rosa e laranja de Manhattan, saíam pelas costas dela, contrastando com o curto vestido preto da moça. Seus cabelos loiros e levemente bagunçados caíam por seus ombros e penas, que balançavam levemente com a corrente de ar que vinha do corredor. Ela estava mais bonita do quê nunca.

Sem perceber, Steve se aproximou.

— É lindo. — Ele se pegou dizendo, para a confusão da loira.

— O quê? — Eve perguntou, piscando atordoada.

Aquela reação era totalmente diferente do quê ela esperava.

— Você estava lá. — O super soldado balançou a cabeça sem acreditar, ignorando a pergunta. — Na base da HYDRA, você estava lá. — Completou ele, sua voz sem um pingo de raiva, mas cheia de curiosidade e admiração.

Eve desviou o olhar, confusa.

Você estava lá? — Perguntou ela, imagens do dia em que acordou no prédio em chamas passando por sua mente enquanto ela tentava se lembrar de tê-lo visto por lá.

Então realmente era uma base da HYDRA.

— Não acho que você tenha me visto. — Steve adivinhou os pensamentos dela. — Eu só te vi de longe, voando.

Com isso, Eve voltou o olhar para ele novamente.

— Eu não... — Ela engoliu em seco. — Eu não sabia como te contar.

— Você não precisa se desculpar. — Steve assegurou, balançando a cabeça em negação.

— Não, não diga isso. — Eve retrucou, dor evidente em seus olhos. — Eu ainda não te contei tudo.

Antes que ela se arrependesse, antes que o Capitão pudesse interferir, Eve começou a contar tudo. Ela estava nervosa, isso era mais do quê visível em sua expressão, pois em sua concepção o pior ainda estava por vir.

Steve ainda não sabia de suas lembranças, não sabia de suas suspeitas, e por mais que ele tivesse prometido não se assustar, prometido deixá-la terminar de explicar, a loira ainda tinha medo de sua reação. Ela não queria se deixar levar pelo olhar de admiração que tomou o rosto de Steve assim que ele pôs os olhos em suas asas, para depois ter seu coração quebrado pelo olhar de repúdio que a maior parte dela temia estar vindo.

Começando a explicar pelo momento em que acordou, semanas atrás, na base da HYDRA, ela observou cada expressão do super soldado. A testa franzida, enquanto ele escutava atentamente suas palavras, o olhar distante enquanto escutava sua versão dos fatos, ela não queria perder nada.

Em algum momento da explicação, os dois se sentaram novamente, dessa vez em sofás diferentes, um de frente um para o outro.

— Eu acordei lá, mas eu não acho que... Eu não acho que eu era uma prisioneira. — Eve disse relutantemente, assim que terminou sua versão do dia em que acordou no prédio em chamas.

A expressão de Steve, antes séria, se suavizou imediatamente. Aos poucos, ele começava a entender o medo por trás dos olhos castanhos de Eve.

— Por quê? — Ele perguntou, incentivando-a a continuar.

— Eu tenho tido sonhos, memórias. — A loira continuou a explicar. — A maioria delas é... bem ruim.

Assim, ela explicou suas suspeitas, e pôde ver a surpresa no rosto de Steve a cada palavra que saía por sua boca.

O Capitão havia cogitado a possibilidade. Ele não diria, mas parte do motivo pelo qual havia passado boa parte da noite acordado, e pelo qual havia se levantado tão cedo, se devia aos pensamentos e suspeitas que não paravam de rodear sua mente. Ele não era bobo, já havia presenciado tantos feitos da HYDRA, uns piores que os outros, que parte dele já não duvidava de mais nada relacionado à agência, principalmente depois de Bucky.

Só que, mesmo o super soldado cogitando a possibilidade de Eve ser, não, ter sido, do lado inimigo, pensar era diferente de ouvi-la confirmando suas suspeitas.

Eve não contou seus sonhos em detalhes, não se permitiu reviver tudo de novo, e Steve não a culpou por isso. Ela não precisava de muitas palavras para expressar o medo e horror que sentia com sua descoberta.

Um sonho após o outro, ela finalmente conseguiu colocar tudo para fora, todas as suspeitas, tudo o quê havia escondido de Steve havia finalmente deixado seus ombros.

— Eu sou um monstro. — Ela disse mais para si mesmo do quê para Steve, o pensamento a atingindo em cheio. Seus olhos estavam cheios de lágrimas, nenhuma ousando escapar.

O coração de Steve se acelerou em seu peito.

— Você não sabe disso. — Ele balançou a cabeça em negação.

Naquele momento, o olhar perdido de Eve despertou lembranças que, de certa maneira, estavam conectadas a tudo o quê ela havia lhe contado naquela manhã. O olhar assustado de seu melhor amigo, que muitas vezes fazia parte de seus sonhos, preencheu a mente do Capitão.

Mas eu sei.— Ela desviou os olhos determinada, balançando a cabeça.

— Aquela máquina... Aquela máquina de metal que citou, eu já a vi antes, eu sei o quê ela faz. — Steve assentiu. — Eles a usaram em Bucky, foi assim que eles tiraram suas memórias, e provavelmente assim que arrancaram as suas. Você pode ser como ele.

Por um instante, Eve quis acreditar no Capitão. O jeito que ele havia falado sobre Bucky no dia anterior, tudo o quê ele havia explicado sobre seu melhor amigo... Eve se recusava a acreditar que a culpa havia sido do moreno. Bucky havia sido usado pela HYDRA, e mesmo tendo feito atrocidades, ela não o considerava um monstro.

Mas com ela era diferente, ela ainda podia sentir o frio em suas veias, a sensação horrível da indiferença junto da adrenalina prazerosa de sua missão. Eve não era como Bucky, em seus sonhos ela sabia o quê estava fazendo, e adorava cada momento. O fato da organização ter apagado suas memórias não apagava isso.

— Não importa. O quê eu fiz, o quê eu me vi fazer...

Steve se levantou do sofá e se ajoelhou na frente da loira.

— Você não é um monstro.

— Eu matei uma criança. — Ela olhou diretamente nos olhos dele, pronta para receber todo o repúdio que sabia que viria mais cedo ou mais tarde.

Steve a encarou, e por algum tempo os dois não disseram nada, cada um absorto em seus próprios pensamentos.

— Você ainda quer suas memórias de volta? — Ele perguntou de repente, nenhum traço da repulsa que Eve previu em seu olhar.

Ela respirou fundo antes de responder.

— Sim.

— Então eu vou te ajudar. — Steve disse determinado. — Mas agora é a minha vez de pedir que prometa uma coisa.

Eve assentiu, de testa franzida, incentivando-o a continuar.

— Enquanto não descobrirmos tudo, enquanto não soubermos o quê te levou até a HYDRA, não se torture mais com isso. — Começou ele. — Nós ainda não sabemos de nada, e até encontrarmos todas as respostas, eu preciso que você não tire conclusões precipitadas, que não se martirize com memórias das quais não sabe o contexto.

— Você consegue fazer isso por mim? — Steve perguntou, sua voz séria.

Eve o encarou por um momento, tentando entender como ela havia sido tão sortuda a ponto de parar bem na casa do super soldado, no quê parecia uma eternidade atrás. Uma rua de diferença, alguns minutos de atraso e ela nunca teria conhecido Steve, e naquele momento ela não conseguia imaginar outra pessoa se dispondo à ajudá-la daquela maneira, sem julgamentos ou interesses.

— Eve?

— Sim, sim.— Ela assentiu assim que o escutou chamar seu nome, olhando para ele com olhos brilhando e um sorriso no rosto. — Eu prometo.


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Notas finais do capítulo

E aí? Gostaram?
Se não me engano, acho que esse é o capítulo mais longo da fic até agora. =D
Eu sei que não compensa a demora, mas... :x
Enfim, espero que tenham gostado! O próximo deve sair mais rápido, mas eu nunca mais vou prometer nada pq parece que quanto mais eu falo que vai sair rápido, mais demora pra sair u.ú... Esses bloqueios criativos parecem que fazem de propósito.
Só quero que saibam que mesmo com essa demora absurda, não abandonei a fic e não planejo abandonar, ta? Eu estou muito empolgada com o rumo que vou dar pra história, e ansiosa pra ver as reações de vocês. =3
Não tenho muito pra falar dessa vez, então vou terminar por aqui agradecendo todos os reviews lindos que vocês tem deixado na fic! s2 Obrigada mesmo, eles me incentivam bastante e fazem o meu dia! s2
Vejo vocês no próximo capítulo! Assim que tiver tempo eu respondo os comentários do capítulo anterior. ^-^
Beijos e queijos! :*
Se você ainda não viu o trailer da fic, aqui está: https://www.youtube.com/watch?v=nWWxC3me5j4
E o tumblr da fic: http://evefanfiction.tumblr.com/