Uma Garota Especial escrita por Dream


Capítulo 5
Holly Terror


Notas iniciais do capítulo

“Eu sou assim mesmo, uma mistura de milagre com desastre. Amando tudo que posso, sendo amado por nada que quero. Vivendo de esperas, esperando a vida me dar o sorriso que mereço.”
— Caio Augusto Leite



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Holly prendeu a respiração quando Steve pa­rou o carro diante do Truro's, à espera do manobrista.

– Vamos esperar um segundo - sugeriu ele, girando a chave na ignição. - Parece que o estacionamento está lotado.

Normalmente, ela não julgaria que um segundo fosse tem­po demais. Porém, naquele momento, parecia ser uma eter­nidade. Toda aquela intimidade estava se tornando intole­rável.

Já foi obrigada a enfrentar a tentação que a simples presença daquele homem a seu lado provocara, sem contar o sorriso de satisfação que ele lhe endereçara ao vê-la pronta para encarar a noite.

Seu universo, centrado ao redor de uma vida sem Steve, tornara-se subitamente mais complexo, mais excitante... e mais assustador. Holly não tinha certeza que poderia parar o curso dos acontecimentos, e nem mesmo se era o que de­sejava.

Inquietou-se no assento, tomando a súbita consciência que seu vestido era curto demais, e estava tão justo que mal conseguia respirar.

Sem que notasse que ele havia saído, teve um sobressalto quando a porta se abriu. Steve tomou-lhe as mãos antes que ela pudesse objetar. Mesmo que quisesse, não teria nenhu­ma ação. Inebriada pelo perfume envolvente, des­lizou para fora do carro receando que suas pernas não con­seguissem suportá-la.

– Suas mãos estão melhores?

– Oh, sim! - Num impulso, escondeu as mãos atrás das costas, sentindo-se ridícula por ainda reagir como uma co­legial. - A pomada que você usou foi muito boa. Além disso, tomei uma aspirina.

– Ótimo! - Percebendo que ela estava pouco à vontade, Steve deteve-se e a fitou. - Se quiser ir embora, é só me avisar, está bem?

– Espero que você faça o mesmo.

– Combinado.

Holly ficou ainda mais apreensiva ao entrarem no im­ponente restaurante frequentado pela elite de Sandy Bend, onde nunca havia entrado antes. Sentiu-se congelar ao pen­sar que estava apenas na entrada... Lembrou-se de seus tempos de escola, quando teria dado tudo pela chance de estar lá.

Porém, baseada no que estava vendo, ficou feliz por nunca ter feito isto. Uma densa nuvem de fumaça preenchia o ar, irritando suas narinas. Cabeças de animais empalhados de­coravam as paredes, e se pôs a pensar como alguém poderia gostar daquela decoração. Os pobres animais, com os olhares vidrados, pareciam estarrecidos diante de tamanho mau gos­to. E a clientela...

Holly nunca teve a chance de contemplar de tão perto a estrutura social de sua cidade. Notou que as mulheres pareciam ser feitas de porcelana, vestidas com um luxo exa­gerado para a ocasião, e os rapazes ostentavam um ar de superioridade, comportando-se como os machos da espécie, prontos para abater a presa.

A breve análise a deixou um pouco mais relaxada, e res­pirou fundo para enfrentar o desafio dos rostos familiares que voltaram-se ao mesmo tempo para vê-la entrar.

Sentiu o braço de Steve em seus ombros, e agradeceu secretamente pelo ato solidário.

– Kiara reservou o salão privativo. Vamos até lá.

Enquanto ele a guiava pelo bar, retribuiu aos acenos e cumprimentos de pessoas que não via havia anos. Não podia se lembrar de serem amáveis na última vez em que as en­contrara... Certamente, tamanha gentileza devia-se à pre­sença de Steve. Não havia dúvida que ele continuava sendo o rapaz mais popular da cidade.

Olhou-o de lado. O poder e força que emanavam da­quele homem eram capazes de abrir caminho em uma mul­tidão. Suspirou fundo e o acompanhou, certa de que, enquan­to ele estivesse a seu lado, nenhum mal lhe aconteceria.

Atravessaram a porta que indicava o salão privativo. A decoração carregada chamou sua atenção. Desde que come­çou a estudar artes plásticas, Holly desenvolveu um senso estético aguçado, e mesmo que não quisesse, observar deta­lhes tornara-se um hábito. Porém, considerou que a sensa­ção de estar oprimida pelo ambiente talvez estivesse conta­minada por seu estado de espírito.

Ao observar os trajes ostensivos das mulheres, concluiu que precisaria economizar por um ano para comprar roupas como aquelas. Kiara, vestida de preto da cabeça aos pés, fingia estar muito interessada no que um rapaz loiro lhe dizia, e suspeitou que tratava-se de um pretexto para não cumprimentá-la.

Surpresa, descobriu que Mitch também estava lá. Acenou para ele, sem deixar de notar que estava muito elegante sem o uniforme habitual. Steve continuou com o braço sobre seus ombros, e apresentou-a para algumas pessoas, embora fosse evidente que estava evitando Susan e o rapaz que a acom­panhava.

Com um gesto decidido, ela tomou-o pela mão e o conduziu através do salão, plantando-se diante de Susan, que parecia ainda mais bonita do que se lembrava. Já que não havia como escapar daquele desafio, o melhor seria enfrentá-lo de uma vez por todas, concluiu. Buscando dentro de si todo estoque de autoconfiança que pode recrutar, tocou-a de leve no ombro e sorriu.

– Olá, Susan. Você provavelmente não se lembra de mim, mas...

– Claro que me lembro, Holly. Você está tão... - Sua expressão transformou-se de cordialidade em confusão em um segundo, chocada ao vê-la com Steve.

Sentindo uma ponta de culpa que preferiu não considerar naquele momento, Holly escondeu as mãos nas costas, o mesmo gesto que costumavam fazer quando era adolescente.

– ...adorável - terminou ela, como se não tivesse feito uma pausa.

– Obrigada. E você continua linda.

Susan sustentou o sorriso afetado, evitando olhar para Steve.

– Quero que conheça meu noivo, Julio Vargas. Julio é advogado do setor internacional na mesma firma em que trabalho.

Enquanto o cumprimentava com um aperto de mão, ela olhou de relance para Steve. Ele parecia tenso e pouco à vontade, embora sustentasse um sorriso discreto nos lábios. Julgando que seria melhor assumir o comando da situação, dirigiu a atenção para Julio, indagando-lhe sua opinião so­bre Sandy Bend. Porém, sua atenção mantinha-se focalizada em Steve. Ele e Susan estavam envolvidos em uma conversa que era quase um sussurro, de forma que ela não pôde ouvir uma só palavra.

– Detesto interromper, mas Steve prometeu jantar co­migo.

Assustada com a própria ousadia, Holly deteve-se à fren­te dos dois. Ao ver a expressão dele, desejou que o chão se abrisse e a tragasse para as profundezas da terra. Naquele momento, teve certeza que ele se esquecera que ela estava lá, e só não tinha certeza se era pior a mágoa ou o constran­gimento que sentia com a situação.

Mortificada, ajeitou a alça da bolsa no ombro, disposta a sair dali o quanto antes. Então, como se tivesse sido presen­teada pelos deuses, um herói inesperado se aproximou. Es­tampou um sorriso de alívio para seu salvador quando ele parou na sua frente.

– Olá. Meu nome é Travis Owen.

– Olá, Travis. Sou Holly Adams.

– Por acaso está pensando em ir embora?

– Bem, na verdade eu...

Holly calou-se de súbito. Já que chegara até ali, por que não tentar se divertir em vez de ir para casa, trancar-se no seu quarto e encharcar o travesseiro com lágrimas de humi­lhação e dor?, pensou para si. Notou que, a um canto, algu­mas pessoas se reuniam ao redor de uma mesa de bilhar.

– Você gostaria de jogar uma partida de bilhar?

Ela não tinha a menor ideia de como jogar, mas não dei­xaria que aquele simples detalhe a impedisse. Ao vê-lo con­cordar, aceitou o braço que ele lhe oferecia e estavam a ca­minho quando Kiara se interpôs, bloqueando a passagem.

– Aqui está você! Estou curiosa para que você me expli­que por que está usando esparadrapos nos dedos...

Rejeitada, humilhada e sentindo-se a pior das mulheres do planeta, ela escondeu as mãos atrás das costas, arrepen­dida por não ter tirado o curativo que protegia as bolhas que adquirira naquela manhã.

– Bem, costumo usar estes anéis na temporada da Super Bowl.

Kiara franziu a testa, sem entender, mas o comentário es­pirituoso não passou desapercebido para Travis, que deu uma gostosa gargalhada.

– Como você sabe sobre a proteção que os atletas usam?

– Thor Bonkowski é marido de uma prima de papai.

– Thor Bonkowski, o maior mito do futebol americano?!

– O próprio - ela admitiu com orgulho.

– O que ele anda fazendo hoje em dia?

– Neste exato momento, está em repouso com um mau jeito nas costas.

Perplexa por ter ficado fora da conversa, Kiara saiu tão furiosa que quase trombou em Steve, que se aproximava do casal.

– Você não estava dizendo alguma coisa a respeito do jantar?

Ignorando a presença do rapaz, ele a tomou pelo braço, num gesto possessivo.

– Oh, o jantar? - Sem tirar os olhos de Travis, ela o repeliu e fez um gesto vago com a mão. - Estou ocupada agora. O jantar pode esperar.

E esperaria um longo tempo, se dependesse de sua von­tade. Ela também tinha sua dignidade. Não pretendia sair correndo simplesmente porque Steve Morettin havia cha­mado! Dando-lhe as costas, voltou sua atenção para Travis.

– Estávamos falando de Thor, não é?

– Sim. Ele está na cidade?

– Está hospedado na casa de meu pai.

– Puxa, é incrível! Ele sempre foi meu ídolo! Você acha que há alguma chance de que eu possa encontrá-lo?

– Claro, por que não? Ele deve estar jogando pôquer agora.

– O que pode haver de melhor do que um jogo de cartas em uma noite quente de verão? - Excitado, Travis tocou-a no braço. - Mas, antes de ligar para ele, que tal uma partida de bilhar?

Ela ergueu as mãos, mostrando as bandagens.

– Não sei se vou conseguir com as mãos neste estado, mas vamos tentar.

Deixando Steve para trás, seguiram até a mesa de bilhar, enquanto crescia dentro de Holly um delicioso sentimento de vitória. Afinal, conseguira sobreviver a mais uma rejeição de Steve Morettin...

Steve não saberia precisar o momento daquela noite que ele começara a suar frio. Sentou-se em uma mesa, acompa­nhado apenas de uma garrafa de vinho branco gelado.

Rever Susan era como voltar no tempo, e não estava pre­parado para aquela viagem. Como se não bastasse o cons­trangimento pelo convite que ela sussurrara ao seu ouvido para que almoçassem juntos no dia seguinte, via Holly ocu­pada em encantar um rapaz que havia conhecido naquela noite...

Sem ação, aceitara o convite para se ver livre da sedução afetada de sua ex-noiva. Sentia os músculos do rosto dolo­ridos por tentar sustentar o sorriso nos lábios. Para piorar, o rapaz que havia se aproximado de Holly a cortejava es­candalosamente. Kiara, por sua vez, não demonstrava a me­nor disposição em ajudá-lo.

– Ela está fazendo um papel ridículo! - sua irmã esbra­vejou, sentando-se a seu lado.

– Quem, Susan? - Distraído, Steve sorveu um gole de vinho. - O noivo dela parece ser um tanto medíocre, mas não me pareceu ser um mau rapaz.

– Estou me referindo a Holly, seu tolo! - Indignada, apontou na direção da mesa de bilhar. - Por que você a trouxe?

– Eu precisava de algum suporte moral, já que não posso contar com nenhum membro de minha própria família.

Sentindo-se como um perfeito idiota, encheu a taça e vi­rou-a em um só gole. A questão era que não sabia o que Holly significava para ele, e naquele momento, não estava com disposição para refletir a respeito.

– Você notou como Susan não para de olhar para você?

– Provavelmente, ela deve estar tentando entender o que viu em mim para ter pensado em se casar um dia...

– Não creio, maninho. Acredito que você ainda tem chan­ce com ela. Papai ficaria tão feliz!

– E vivo apenas para fazer papai feliz, não é? - comen­tou ele, com ironia cortante.

– Você podia tentar, ao menos uma vez - Kiara disse com desgosto. - Ele está envelhecendo, você sabe. Se você e Susan apenas...

– Ouça, não há nada entre nós. O rapaz que está ao lado dela é seu noivo, lembra-se? Ouça, se você está entediada e pretende se divertir me aborrecendo, trate de procurar outra ocupação.

– Não seja tão rabugento! Se eu fosse você...

– Mas você não é.

Ignorando o que sua irmã estava por dizer, Steve levan­tou-se e caminhou com passos decididos até a mesa de bi­lhar. Todos os músculos de seu corpo se contraíram ao ver Travis com os braços ao redor da cintura de Holly, ajudan­do-a com o taco de bilhar. Uma corrente de alta voltagem atravessou seu corpo, e resistiu bravamente ao impulso de nocautear o rapaz.

– Importam-se se eu interromper? - perguntou com iro­nia, colocando a mão possessiva no braço dela.

Travis afastou-se de imediato, intimidado pelo porte alti­vo de seu oponente.

– Steve, não quero parar. Estou começando a me divertir com o jogo.

– Neste caso, eu a ensino.

O tom autoritário e possessivo desestimulou qualquer pos­sibilidade de reação, e Travis afastou-se depois de fazer uma inclinação respeitosa com a cabeça.

Steve moveu-se para trás dela.

– Posicione o taco assim... - instruiu, segurando-a com gentileza enquanto alinhava os ombros delicados.

Era como brincar com fogo. Inalou o perfume suave e fe­minino que a envolvia, perturbando os seus sentidos.

– Como estou me saindo?

Steve não pôde deixar de notar o tremor discreto na voz, embora ele próprio estivesse suando frio.

– Você está ótima.

Resistindo ao impulso de afastar os cabelos sedosos e aca­riciar com os lábios a pele macia do pescoço, ele tentou se concentrar no jogo, afastando do pensamento aquele lapso de insanidade.

– Ei, vocês dois, é mais fácil fazer a jogada se mantive­rem os olhos abertos!

Mitch os fitava do outro extremo da mesa, com um sorriso divertido nos lábios.

Sentindo-se corar até a alma, Holly deu um impulso no taco e arremessou a bola com força, jogando-a para fora da mesa. Sentiu o sangue congelar ao ouvir o grito de Kiara.

– Meu olho! Está doendo, o taco me atingiu! - gritou ela, cobrindo o rosto com as mãos.

Ela soltou o taco e prendeu a respiração, voltando-se para encarar sua vítima, sentada em uma cadeira às suas costas.

Não havia qualquer vestígio de sangue, mas o escândalo que Kiara fazia havia chamado a atenção de todos, que for­maram uma multidão ao redor dela. Não seria possível uma viagem a Sandy Bend sem uma dose de humilhação pública, Holly pensou para si.

– Deixe-me olhar, Kiara - Steve correu para o lado da irmã e tentou retirar as mãos de seu rosto. - Holly, vá até o bar e apanhe um pouco de gelo.

– Espere aqui, Hal. Já estou indo - Mitch prontificou-se, com uma piscadela de cumplicidade.

Mortificada, Holly tocou-a de leve no ombro.

– Kiara, sinto muito. Minhas mãos estão machucadas, e acho que não percebi a força da tacada.

Kiara abriu os dedos o bastante para lançar-lhe um olhar fulminante.

– Não precisa se desculpar, basta que financie uma ci­rurgia plástica para corrigir meu rosto.

– Pare de agir como criança - Steve ordenou em tom autoritário. - O taco nem encostou em você!

– Diz isso porque não é você que está sentindo esta dor horrível! No mínimo, vou ficar com um olho preto!

Mitch retornou com o gelo e parou ao lado da irmã, colo­cando o braço sobre seu ombro. Ela agradeceu secretamente o gesto protetor, mas nem aquilo a fez sentir-se melhor.

– Foi estúpido colocar a cadeira tão próxima à mesa, como você fez - Mitch censurou Kiara. - Qualquer idiota poderia perceber que...

Ela descobriu o rosto e levantou-se de um pulo, aparen­temente se esquecendo do olho machucado.

– Qualquer idiota? Agora, eu sou a idiota?

– Eu quis dizer que você poderia ter evitado este acidente se fosse um pouco mais cuidadosa - ele corrigiu, conciliador.

– Não sou eu quem precisa ser cuidadosa - ela contra­-atacou.

Holly deu um passo para trás, em um gesto de defesa, enquanto Mitch colocava-se a sua frente, pronto para de­fendê-la.

– A culpa foi de sua irmã. Ela sempre provoca algum dano. - Num ímpeto, ela se pôs a gritar: - Cuidado, cida­dãos de Sandy Bend! Holly Terror está na cidade! Holly Terror é letal!

Subitamente, Holly sentiu o peso de um taco de bilhar sobre a mão.

– Eu faço pontaria para você dar o tiro. Por favor, pou­pe-nos deste sofrimento! - Travis Owen disse em voz baixa, mas não o bastante para não ser ouvido.

Furiosa, Kiara abriu caminho por entre a multidão e de­sapareceu.

Holly olhou ao redor, surpresa ao perceber que os pre­sentes pareciam estar se divertindo com a humilhação de Kiara.

Receando já ter provocado problemas suficientes por uma noite, Holly apanhou a bolsa e endireitou os ombros, cami­nhando para a saída sem olhar para trás.

– O show acabou - ouviu Steve anunciando enquanto escapava do salão privativo.

Deteve-se na calçada, e só então lembrou-se de respirar. Havia se esquecido de como anoitecia tarde no verão em Sandy Bend. Passava das nove horas, e o sol apenas come­çara a tingir o céu com os raios avermelhados do entardecer.

Havia se esquecido também que estava sem carro. Teria que esperar Mitch para levá-la para casa. Sem alternativa, atravessou a rua e caminhou a passos largos, feliz por estar livre da fumaça de cigarros, do barulho ensurdecedor e da horrível sensação de que não pertencia àquele lugar.

Lutando bravamente para conter as lágrimas, sentou-se em um banco sob a frondosa copa da amendoeira que subira mais de uma vez quando era criança.

– Ei, esqueceu-se de mim?

A voz grave e profunda a sobressaltou. Steve se aproxi­mou e sentou-se a seu lado, perto o bastante para que ela sentisse o hálito doce acariciando sua pele.

– Sinto muito - desculpou-se ela, apavorada diante da tentação de buscar conforto no peito largo.

– Não se preocupe. Sou eu quem sente muito pela cena que minha irmã provocou.

– Oh, você não pode controlá-la! Eu havia me esquecido de como ela pode ser dramática.

Steve estendeu as pernas e apoiou os cotovelos no encosto do banco.

– Ela está aprimorando a técnica a cada dia.

– Bem, todos nós temos que encontrar nossa vocação na vida.

– Este é o problema. Acho que Kiara nunca encontrou a dela. Ela não consegue manter um trabalho por mais de uma semana, enquanto assiste a todos os amigos seguindo seu rumo na vida, como você fez.

– Eu chamaria o que fiz de fuga desesperada! - comen­tou ela, com um toque de humor.

– É mesmo? Seu caminho sempre pareceu muito claro para mim.

– Não é bem assim. Fui embora porque estava cansada de ser de motivo de chacota na cidade.

– Curioso... Para mim, você sempre foi Holly, a artista, mesmo quando você era uma criança pintando seu cachorro.

Ela pestanejou. Sempre levara a arte a sério, mas não havia percebido que Steve ou alguém mais houvesse notado.

– Sabe, não é fácil para Kiara revê-la, especialmente agora que você é uma mulher bonita, independente e equilibrada.

– Equilibrada?

– Sim, equilibrada. Veja como conseguiu jogar bilhar, mesmo com as mãos machucadas.

Ele voltou a palma da mão delicada e acariciou-a com a ponta dos dedos. Era um ato amigável, sem intenção erótica, mas provocou uma verdadeira cascata de arrepios em Holly.

O último vestígio de sensatez se evaporou quando os de­dos experientes deslizaram por seu braço, deixando um ras­tro de fogo por onde passavam. Ela prendeu a respiração quando ele a puxou para si, procurando sua boca com uma urgência quase selvagem.

Aninhando-se no peito largo, Holly perdeu-se no calor da boca exigente. Mergulhada em um sonho, correspondeu ao beijo com toda sua alma, entreabrindo os lábios enquanto as línguas ávidas moviam-se em uma dança.

– Ei, aquele não é Steve?

O som da voz esganiçada, sobressaindo-se por entre o bur­burinho de um grupo de pessoas que passava na calçada, quebrou a mágica do momento. Assustada, Holly se afastou, sem fôlego.

– Holly está com ele... - uma voz feminina se fez ouvir.

Receando estar se tornando especialista em fiascos, ela se pôs de pé, tentando resgatar a dignidade que lhe restava. Passeando o olhar de Steve para o grupo de pessoas que os observava de longe, levantou uma muralha de defesa e as­sumiu o ar frio de indiferença que costumava usar naquelas ocasiões.

– Vou pedir que Mitch me leve para casa - avisou, apa­nhando a bolsa com um gesto decidido. - Vamos deixar o jantar para outro dia.

Sem dizer uma palavra, seguiu para o interior do restau­rante, ignorando o chamado de Steve bem atrás de si.


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Notas finais do capítulo

Oi amores, como estão... e como prometido está aí mais um capítulo da história... espero que gostem e me digam o que estão achando... mil beijos amores e até a próxima.