Você morreu.

Há mais ou menos 3 semanas.

Mas eu só soube hoje. Me desculpe.

Soube através do Bruno.

Estranho ter sido ele quem me contou, porque vocês nunca se conheceram. Porque ele sabe de tudo o que passamos. Porque ele achava legal as coisas que você postava. Porque ele se desligou do fato de quem você era até eu mencionar seu nome em outra conversa.

Sim, uma conversa sobre o João,  em que eu disse não estar preparada para passar por tudo de novo como passei com você. Não que tenha sido ruim, mas foi um desgaste emocional e não estou tão disposta a perdoá-lo como perdoei você.

A verdade é que existe mais uma carta, que nunca cheguei a "postar", pensei em realmete enviá-la a você. Há muito tempo atrás,  cerca de três a cinco anos, não sei em que momento foi. Devia ter mandado. Não é um arrependimento. Mas devia ter enviado. Há muito tempo não sonho com você. Há muito tempo não penso em você como a solução dos meus problemas. Aprendi a lidar com a vida . Levei você para a terapia diversas vezes, inclusive hoje, antes de saber que você foi embora e que nunca vai haver um "reencontro inesperado" onde vamos conversar.

Eu não mandei parabéns no seu último aniversário.  De propósito. Uma decisão consciente pensando no melhor para você,  mesmo embora tenha me lembrado e nutrido carinho pela data. Mas agora me parece tão estranho que não existe mais essa possibilidade.

Essa carta está mais sem sentido que as outras, mas eu não tenho absolutamente mais nenhum lugar em que eu possa manifestar essa estranheza de sentimento e não sentimento ao mesmo tempo. E talvez, MUITO talvez, exista a mínima chance de haver um outro lado e você tomar consciência destas cartas e entender o tanto que eu te amei e o carinho enorme e gratuito que tenho por você.  Não sei explicar o porquê e quando tento parece egoísta até pra mim,  mas ele existe. E eu gostaria que nesta mínima chance de haver outro lado, você esteja bem. De verdade. Tomara que pelo menos parte do que acreditei por muito tempo na minha vida seja verdade.  Pelo menos a parte boa. Que você enconte paz e que faça sentido esse despropósito que vivemos nesse um ano de pandemia, 3 anos de governo Bolsonaro, 6 anos de calamidade pública desde o golpe.

Eu sei, é estranho misturar política com uma carta de despedida,  mas se não fosse você, eu provavelmente estaria do lado errado nessa luta,  ou teria demorado muito mais para entender que o mundo é plural e que as pessoas se apaixonam sim à primeira vista, mesmo sem saberem que estão apaixonadas.

Como sinto que em breve (ou algum momento) vou voltar a escrever uma missiva para você, deixo um até logo.