Às vezes sonho com você. Não sei porquê, só sei que acordo com a estranha sensação de que algo vai acontecer... Como costumava acontecer naquele tempo, sempre que eu fechava meus olhos e sonhava com você.

A vida está normal, corre bem, os dias na verdade não são nem monótonos como costumavam ser, nem sempre repletos de alegria e efusão como foram. Há equilíbrio agora. As noites é que são intermináveis ou confusas, como só começaram a ser depois.

É verdade que amei-te. É também verdade que amei um ideal de ti, e talvez seja com este ideal que sonho frequentemente. Mas porque essa estranha influência sobre mim e minha vida? Porque sempre a nossa história, se já a fechamos? Já demos um fim digno, em que não há mais mágoa ou ilusão?

Não doeu descobrir. Isso impressionou-me. Não doeu descobrir que não éramos o que eu escrevia, ou que não fomos o que eu queria, que as duas partes tinham a responsabilidade pelo que não aconteceu, mas podia ter acontecido. E quer saber? Há duas possibilidades: ou teria sido a mais linda e heroica história de amor, ou simplesmente um breve affair. De toda forma marcante.

Não julgo que daria certo se tudo o que aconteceu houvesse esperado um pouco e nos ocorresse agora, nesta idade. A pureza do que foi, só poderia existir naquele tempo, conosco com aquela mentalidade, em que descobri amar-te no susto, e assustou-se ao descobrir amar-me.

Mas por quê? Por que sonho com você? Por que meu inconsciente lhe faz presente nos momentos mais diversos? Aliás, por que amei-lhe? Foi tão diferente do amor que sinto agora por outra pessoa. Por que conheci-lhe? A coincidência do destino fez com que eu conhecesse meu novo amor quando encerramos nossa história naquela fria noite. O clima estava bom, era final de setembro ou começo de outubro, mas para mim, acabou em frieza. Mais uma vez pergunto-lhe porquê, como fiz aquela tarde nublada , meio minuto após um silêncio constrangedor em que eu parecia explodir de alegria e medo. Mas você não vai responder, não é mesmo? Porque não conversamos há mais de um ano. Então pergunto ao meu íntimo porque me dou ao trabalho de escrever-lhe essas cartas que não terão respostas porque não serão enviadas, porque não há razões para tal, porque nós seguimos em frente com as nossas vidas, nossos amores, seguimos paralelamente após aquele estrondoso encontro no início da estrada.

Mas se um dia, após a vida que levamos, nos encontrarmos na rua, não se desvie de mim, nem deixe-me desviar de você e me responda porque, em nome de tudo o que é sagrado, nunca nos encontramos por acaso nessa cidade em que encontra-se um conhecido a cada esquina, um parente chato a cada loja ou um antigo amor em cada café, gerando desconfortáveis situações para todos os lados. Porque nós?Porque Por quê?