Blind escrita por Valentinna Louise, Komorebi


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Olá, vocês!
Finalmente dando uma folga à Louise. Espero que gostem :)



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Quinn

Com Beth eu me tornava uma pessoa flexível, não seria surpresa a sensação única ao abraça-la outra vez. Se eu pudesse, ficaria assim, todos os dias com ela.

Ela me apertava com força, como se estivesse com medo de outra separação. Devolvi o aperto.

“Oi filha...” Falei baixinho, dando um beijo na testa dela.

“Oi mãe...” A voz dela saiu abafada contra a minha barriga e eu gargalhei.

Afastei Beth um pouco e vi que ela parecia tensa.

“O que foi Beth?”

“Hum... Mãe, tem uma coisa que você não vai gostar...”

“Você foi expulsa Beth? É por isso que está aqui agora?” Perguntei, ficando nervosa.

“Não mãe, mas eles mandaram uma avaliadora.”

Uma avaliadora? O que havia acontecido a ponto de mandarem alguém avaliar a vida de Beth profundamente?

Respirei não tão fundo quanto precisava, mas suficiente para voltar à expressão imparcial. Isso não deveria me abalar.

“Quanto tempo ela vai ficar Beth?”

“Um mês.”

Um mês com uma maldita avaliadora.

Os passos no cascalho da entrada da casa ficaram mais próximos. Era Santana e a tal avaliadora. Só com os passos eu não conseguia distinguir o rosto dela. Então Santana nos apresentou. A mulher estava nervosa, com os batimentos acelerados. Eu estendi a mão e ela apertou. Falei sobre conversarmos depois e entrei.

Logo em seguida Beth veio atrás de mim. Eu ia a passos lentos para o quintal, por causa do pé machucado.

“Mãe!”

“Oi querida... vem cá...” Beth agarrou minha mão e sentamos em um banco no quintal.

“O que aconteceu com seu pé?” Demorou mais alguns segundos, porém nada disse enquanto percebi que havia outra pergunta se formando na garganta dela. “Onde está a tia Britt?”.

Não decidi ignorar, mas realmente pensei que ela melhor não responder. Beth sempre adorou Brittany e era uma menina muito esperta, se eu apenas deixasse vago ou contasse ela receberia certo impacto. Optei por deixar a resposta para um momento mais calmo, haviam outros assuntos para focar.

“Pisei em um caco de vidro hoje de manhã. O que aconteceu no instituto Beth?”

Senti ela se remexer incomodada e sussurrar alguma coisa.

“Eu não entendi, repete.”

“Me envolvi em algumas brigas.” Seu tom não aumentou muito, mas estava claro.

“Elizabeth!” Falei alto. Ao vê-la se encolher amenizei o tom: “por que brigou?”

“Eu só me defendi, mãe! Eles não me queriam lá e deixavam isso bem claro. Até os professores! A única pessoa que me defendia era Rachel Berry e agora ela aparece como uma avaliadora... nunca foi minha amiga.”

A voz de Beth saiu amargurada, decepcionada. Nunca a ouvi falar dessa maneira.

“Rachel Berry, a sua professora de música, te defendia?” perguntei, cautelosamente.

“Sim. Ela disse comigo, pela primeira vez na vida, ela não se sentia sozinha.”

Não esperava sentimentalismos por parte de uma avaliadora do instituto, mas ela parecia gostar da Beth. Não sabia se ficava feliz com isso ou com raiva por ela ter magoado minha filha.

“Beth, essa mulher é uma boa pessoa?”

“Ela é legal, mas eu não sei se era fingimento... não sei ler as pessoas.”

“Entendo. Bem, vou ver o que posso fazer assim que for conversar com ela.”

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Depois de passar um tempo, Beth cochilou no meu colo e eu chamei Santana.

“Acorde Beth e a leve para o quarto dela. Onde a avaliadora está?”

“No quarto ao lado de Marley. Quer que eu vá lá com você?”

“Não precisa.”

Me levantei e subi as escadas. Fui tateando a parede. Havia cinco quartos no piso superior da casa. O de Marley era o primeiro à esquerda. Segui em direção ao próximo e senti a porta fechada.

Dei três batidas e me afastei ao ouvir o trinco da porta.

“Oh... olá Senhora Fabray.” Senhora Fabray? Eu parecia tão velha assim a ponto de ser chamada de senhora? Devo ter demonstrado esse pensamento, pois logo ela tratou de se corrigir. “Me desculpe, senhorita fica melhor certo?”

“Hum...” Não respondi. “Posso entrar?”

“Sim claro.” Ouvi os passos dela se distanciarem então entrei no quarto. “Por favor, sente-se.”

Ouvi um arrastar de cadeira.

“Não precisa. Serei breve. Quero saber o que vai acontecer durante esse mês.”

Ouvi um murmúrio, como se ela encontrasse a maneira certa de começar para soar confiante.

“Fui mandada pelo Instituto Pillsbury para avaliar o ambiente no qual Beth... digo, Elizabeth vive. Caso ela tenha uma avaliação positiva retornará ao Instituto e consequentemente receberá uma ajuda de custo do governo.”

“E se a avaliação for negativa?”

Ouvi ela se remexer inquieta na cama.

“Você perderá a guarda sobre a sua filha e correrá o risco de ser presa por permitir que Elizabeth viva em um ambiente hostil.”

Senti uma um arrepio na espinha. Perderia Beth para alguma instituição podre do governo. Perderia Beth. Assumi minha pose mais firme e disse:

“Então, Srta. Berry, confiaram a minha vida e a vida da minha filha a uma professora de música.”

“Me descul-” Eu a interrompi.

“Não se desculpe. Primeiro, acho que devemos deixar algumas coisas claras aqui. Eu vou continuar agindo normalmente, independentemente da sua presença. Se considerar isso algo hostil, é problema seu. Segundo, existem certas coisas como a existência de Marley, que deve ser mantida em segredo então peço que não acrescente isso ao seu relatório ou causará um transtorno de proporções inimagináveis. Terceiro, creio eu que em algum momento você deve ter ouvido falar de mim por conta do incidente no centro de suprimentos-”

“Não precisa se incomodar quanto a isso, não dou muito ouvidos às fofocas” Arqueei a sobrancelha, a voz dela aumentou tão firme nesse momento que não lembro qual a última vez alguém me interrompei assim.

Entretanto sua voz voltou a ficar insegura quando continuou:

“Sobre Marley, a senhorita Lopez já me explicou mais ou menos”.

“É livre para ir aonde quiser, Srta. Berry, só não entre no meu quarto ou na biblioteca. Qualquer dúvida, fale com Marley, ela vai saber responder melhor do que eu ou Santana. Está claro?” Continuei como se não tivesse sido cortada.

Ela pigarreou nervosa.

“Sim, está muito claro. E, por favor, me chame de Rachel, prefiro assim.”

“E eu prefiro Srta. Berry. Primeiros nomes podem dar uma intimidade desnecessária.”

“Ok.” Ela respondeu de forma vaga.

“E, ah... eu espero que respeite o espaço de Beth. Pelo que ela me contou, me pareceu que a Srta. tinha uma boa relação com ela, mas agora ela está terrivelmente magoada. Caso algo aconteça com ela, não hesitarei em defendê-la pelos meus métodos. E eu espero sinceramente não precisar fazer isso.”

Saí do quarto deixando Rachel Berry com seus pensamentos.

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Desci e chamei Sirius para dar uma volta. Santana reclamou dizendo que era quase noite e eu iria acabar com meu pé, mas ignorei.

Sirius era um ótimo cachorro. Quando ele apareceu na porta da mansão, duas semanas depois da minha exoneração, era um filhote. Foi aceito depois de muita insistência de Brittany. Ela o treinou. Disse que ele era para mim, para me ajudar. Mas um pastor belga não era exatamente um ótimo cão-guia. Porém ele era um ótimo cão de guarda e me acompanhava nas caminhadas.

Andei, mancando levemente, em silêncio até chegar à praça que tinha próxima a mansão. Eu me lembrava daquela praça toda bem cuidada e cheia de crianças. San me falou que hoje ela estava destruída, com o mato alto e não havia mais ninguém passeando por ela.

Sentei em um dos poucos bancos restantes e Sirius deitou ao meus pés. Alguns minutos em silêncio me fizeram refletir.

Eu não poderia, de maneira nenhuma, perder a guarda de Beth. Nós nos reencontramos há apenas dois anos. Depois de quase dez anos afastadas, perder minha filha por idiotice seria demais para mim. A contragosto eu deveria me esforçar pela boa avaliação do meu querido governo.

Ouvi passos atrás de mim e Sirius se pôs em alerta. Me xinguei mentalmente por ter saído desarmada e à noite.

“Curtindo o silêncio Fabray? Achei que isso limitasse ainda mais seus sentidos.”

Suspirei aliviada ao perceber quem era. Cassandra logo se sentou ao meu lado.

“O que faz andando sozinha à noite, Cassandra?”

“Estava entediada... decidi dar uma volta assim que vi você passar. Ah, oi Sirius.”

Sirius deu um latido em resposta e voltou a deitar no chão.

“O que faz aqui sozinha Quinn? Como eu disse, achei que o silêncio limitasse seus sentidos.”

“Limita meu ‘radar’. Vim para pensar um pouco. Muita informação para um dia só.”

“O que houve?” Estranhei a pergunta de Cassandra. Ela não fazia o tipo que se importava.

“Beth foi mandada pra casa, junto com uma avaliadora do Pillsbury. Um deslize e eu perco a guarda dela. E Brittany saiu em uma missão em Washington D.C.”.

Ouvi Cassandra se remexer no banco. Acho que foi por causa da história de Washington D.C. Me arrependi de ter falado.

“Desculpe, Cassandra. Eu me esqueci.”

“Tudo bem Quinn, reparei que não foi intencional. Como Santana está?”

“Ela está se segurando. Ela é forte, mas quando se trata de Brittany, Santana perde a cabeça. Sempre foi assim.”

“Hum. Ela vai voltar.” Não foi uma pergunta ou algo dito para me animar. Foi uma afirmação muito segura da parte de Cassandra. Ela tinha isso de vez em quando. Era como se previsse as coisas, e isso me dava medo. Não que eu acreditasse, mas nunca houve quem desencorajasse ela para que parasse de dizer essas coisas. Cassandra era geralmente muito avoada. Isso começou com a morte do marido dela em uma explosão na National Gallery of Art, onde trabalhava.

Cassandra contou que naquele dia, ela iria vê-lo em Washington, porém algo a impediu, uma sensação de algo ruim. Horas depois viu na televisão sobre a explosão. Fora um ataque terrorista. Depois desse dia, largou o emprego e ficou vagando por NY até ser recolhida por uma equipe de buscadores, antes do ataque massivo que houve lá.

Foi deixada em Lima e isso já fazia quase cinco anos.

“O céu está diferente hoje Quinn.”

“Como assim?”

“Não sei, só parece mais claro. Queria que pudesse vê-lo.”

Suspirei pesadamente e senti um nó se formando na minha garganta.

“Acho melhor ir pra casa.” Me levantei e Sirius também.

“Acompanho você.” Cassandra então se levantou. E seguimos de volta para nossas casas.


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Notas finais do capítulo

Deixem uma avaliação, qualquer comentário vale :)
Até o próximo!



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